Entre sem bater - James Weinstein - Nesses Tempos

Entre sem bater – James Weinstein – Nesses Tempos

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. “Nesses tempos” estranhos, até o papel da mídia está em contextos com desvios, como devia imaginar James Weinstein.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

James Weinstein

James Weinstein é, por assim dizer, um contemporâneo. Sua morte, recente, interrompeu sua profícua atividade que deixou como legado o posicionamento crítico de “In These Times“. Numa livre e peculiar tradução (Nesses Tempos), oferece a temática para este texto. É provável que o historiador nem aprovasse a tradução ou ampliação da temática para além dos EUA. Contudo, a ideia da publicação alinha-se com a ideia do “Entre sem Bater“, #IMHO, nestes tempos estranhos.

James Weinstein (17 de julho de 1926 – 16 de junho de 2005) foi um historiador e editor americano. Era mais conhecido como o fundador e editor da “In These Times, uma revista progressista iniciada em 1976 em Chicago. James Weinstein nasceu em Manhattan, em uma família rica cujo dinheiro vinha de imóveis. Ele serviu na Marinha dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Logo após, obteve um diploma de bacharel especialista no setor público, pela Cornell University em 1949. Posteriormente, obteve graduação de mestre em história pela Columbia University (1956). Weinstein viveu e trabalhou em San Francisco, Madison, Wisconsin e Coventry (ING), lecionando no Centro de Estudos de História Social da Universidade de Warwick. Tornou-se uma figura central entre os democratas de esquerda em sua casa adotiva de Chicago, onde fundou “In These Times” em 1976.

Fonte: Wikipedia (Inglês)

Nesses Tempos

Existe uma frase que não sei a autoria, mas que aplica-se a estes tempos estranhos que estão ficando mais esquisitos. Vimos, por exemplo, o jornalismo investigativo, mudar muito desde o “Caso Watergate(1). Certamente, o mundo não assimilou as mudanças e quem se aproximou, atualmente, de Julian Assange(2), teve problemas na política.

É provável que James Weinstein, quando cunhou a frase-enredo deste texto, não imaginaria a situação que atingimos com as redes sociais. “Nesses tempos” é, com toda a certeza, um espaço que sempre estes adiante de qualquer tempo e que custa caro manter uma atualização.

Brasil hoje

A história dos movimentos políticos no Brasil tem certas perversidades dignas de Goebbels e assemelhados. A manipulação das massas(3) age de maneira furtiva e criminosa. O jornalismo investigativo passa por etapas que envolvem corrupção e pouca transparência.

Caso Lista de Furnas

Alguns anos atrás, teve ampla divulgação e o “furo” coube a uma revista impressa de circulação semanal. A “Lista de Furnas(4) foi,  certamente, a indicação de que a mídia não tinha interesse em investigar e informar.

Na condição de profissional de TI, especialista em segurança da informação, tive acesso a tal lista para validar sua autenticidade. Recebi uma cópia da lista e a atribuição de verificar se as condições de tecnologia permitiam dar alguma credibilidade ao documento. Outrossim, a informação era de que a lista estava de posse de órgãos da mídia e partidos políticos, quase de domínio público. A narrativa da época era de que quem pagasse mais ficaria com os originais.

Atestei, assim como a Polícia Federal, que a lista era verossímil e factual (mesmo a partir de cópias reprográficas). Entretanto, uma CPMI determinou que a lista era falsa e encobriu o grave caso, provocando um final incorreto.

Em suma, a CPMI só validou o interesse das corporações e da mídia que não tinha interesse em informar, educar e orientar de forma transparente. Desse modo, os que eram alvo de investigação tiveram absolvição judicial e da opinião pública. Como se não bastasse, ainda seriam e são algozes de outros políticos, com ajuda obsequiosa de grande parte da mídia.

O “Mensalinho” serviu somente para alavancar o próximo escândalo, se bem que os resultados e apurações nunca foram iguais.

Mensalão e Petrolão

Mensalão e Petrolão foram os nomes que a imprensa deu para os escândalos que envolviam corrupção, governo, e eram pauta diária da mídia. Decerto, os que não prezam movimentos e ambientes político e econômico saudáveis, adoram estas pautas panfletárias. E, como se não bastasse, a cada eleição geral (Presidencial, Congresso e estaduais) brotam estes escândalos.

Desse modo, o eleitor brasileiro tornou-se um dos mais desinformados do planeta. Surpreendentemente, em plena era da informação, ele não sabe o que fazer com tanta informação e se perde numa avalanche de opiniões e fake news. É gravíssima a situação dos brasileiros, especialmente após os movimentos políticos ocorridos a partir de 2013.

A situação parece ser mais grave no Brasil, entretanto, pode ter semelhança com o que acontece em alguns outros países. Por exemplo, o escândalo “Cambridge Analýtica” provocou efeitos malignos no Brasil (eleições), nos EUA (Eleições) e no Reino Unido (Brexit). Sem dúvida, estes movimentos políticos sofrem influência das redes sociais, que são alvo de manipulação sistêmica insidiosa.

O Petrolão teve, como poucos movimentos que a mídia disseminou, efeitos e ações do Poder Judiciário. O nome do processo foi “Operação Lava-Jato” que tirou um candidato das eleições em 2018. Com efeitos mais perversos, mudou a rota da democracia no Brasil, proporcionando a elevação da extrema-direita.

Nesses tempos recentes

Nos últimos dez anos, testemunhamos cenários políticos (no Brasil e no mundo) em constante e turbulenta transformação. Nossa sociedade sofre com uma inundação de eventos e movimentos políticos que desafiam nossa compreensão e percepção. Assim sendo, deveríamos ter uma análise criteriosa para compreendermos melhor o passado e o presente. No entanto, em meio a essa efervescência política, a mídia, que deveria atuar como um farol informativo, não exerce seu papel.

Em um mundo onde a informação está ao alcance de todos com apenas alguns cliques, seria de se esperar que a mídia tradicional fosse protagonista. Em outras palavras, a mídia deveria mostrar transparência e fazer análises aprofundadas sobre os movimentos políticos que moldam nosso presente e futuro. Contudo, o que temos visto é um cenário em que os interesses comerciais e políticos muitas vezes se sobrepõem à responsabilidade de informar.

Análises vs. Opiniões

Ao invés de uma análise com profundidade e imparcial dos eventos políticos, recebemos o sensacionalismo e notícias superficiais. Desta forma, o único objetivo parece ser gerar audiência e aumentar os lucros das empresas de mídia. A busca pela primazia na cobertura instantânea de fatos deixa pouco espaço para a reflexão. Como se não bastasse, além da mídia tradicional, surgem os malditos influencers sem conteúdo, que buscam likes e receita financeira. A contextualização necessária para uma compreensão mais profunda dos movimentos políticos em cada situação, inexiste.

Além disso, a polarização política influencia de forma significativa a maneira como a mídia e influencers abordam os acontecimentos. Em vez de buscar um equilíbrio entre diferentes perspectivas (ouvir os dois lados), muitos veículos de comunicação têm se alinhado a determinadas ideologias e partidarismo. Enfim, isso compromete mortalmente a credibilidade da informação e mina a confiança do público mais crítico.

Transformação

Nesses tempos de transformação acelerada, é crucial que a mídia exerça sua função de informar e esclarecer os cidadãos. A análise dos movimentos políticos requer uma abordagem holística, que leve em consideração os diferentes fatores e atores envolvidos. A mídia deveria ser capaz de fornecer informações contextuais, explicando as raízes dos problemas e as consequências de determinadas políticas.

Uma vez que muitos influencers tomam os lugares de jornalistas profissionais, por vários motivos e circunstâncias, a comunicação está sem controle. O Poder Judiciário tem limites sérios para enquadrar os desvios juridicamente e canais de comunicação via Internet viraram “terra sem lei”. E, não apenas é sem lei, mas sem a mínima possibilidade de regulação. Até mesmo que legislações como LGPD, GDPR, LAI tenham aplicação rígida e punições exemplares, os efeitos são quase insignificantes para o cidadão. Após uma fake news se espalhar, não tem multa ou punição que reverta o estrago que amplia-se a cada segundo ou compartilhamento.

Além disso, a mídia também deveria ter a responsabilidade de atuar como um contraponto ao poder político. Em certa medida, deveria inclusive fiscalizar as ações dos governantes e denunciar eventuais abusos. No entanto, nos últimos anos, temos observado uma crescente relação de dependência entre a mídia e o poder político. Surpreendentemente, alguns veículos de comunicação se tornaram meros porta-vozes de determinados déspotas, em detrimento do interesse público.

A falta de transparência na relação entre a mídia e os políticos também tem sido uma preocupação constante. Muitas vezes, a informação recebe filtros e manipulação, de acordo com os interesses de determinados grupos. Isso deixa os cidadãos em uma posição vulnerável, sem acesso ao relato de fatos e versões das partes.

Transparência

É fundamental que a mídia retome seu imaginário papel de quarto poder, atuando como uma voz independente e crítica. Entretanto, este poder diluiu-se e a mídia não podendo competir com as redes sociais, aderiu a ela.

Desta forma, temos o que seria o quinto, sexto poder que mais desinforma do que esclarece ou educa. Montesquieu era, teoricamente, contrário ao terceiro Poder (Judiciário) e nem podia imaginar um quarto poder, imaginem Montesquieu revisitando o Século XXI(5). Certamente, ele que escreveu a base de todas as leis democráticas do planeta, ficaria catatônico.

Os jornalistas devem ter coragem para fazer perguntas difíceis e incômodas, investigar profundamente e trazer à tona informações relevantes. Este comportamento, mesmo que isso possa desagradar a alguns políticos e autoridades, além de setores da sociedade, deve prevalecer.

Parafraseando

Em suma, a análise dos movimentos políticos requer que todos os canais de comunicação tenham pessoas transparentes, imparciais e em busca da verdade. Nos últimos dez anos, inegavelmente, observamos uma queda vertiginosa nesses padrões. É urgente que a mídia retome sua responsabilidade e contribua para uma sociedade mais informada e engajada. Além disso, a mídia deve ser capaz de compreender e enfrentar os desafios políticos e tecnológicos que enfrenta.

Somente com profissionalismo e ética, daqueles que exercem atividade de comunicação, teremos a possibilidade de avançarmos politicamente. Parafraseando James Weinstein, “… nesses tempos estranhos, nenhum movimento político, social e coletivo, pode ser saudável sem a mídia e perfis de redes sociais com objetivo de informar, educar e orientar a todos de forma transparente…”.

 

(1) “Wikipedia – Caso Watergate” (em Português)

(2) “Democracia, Assange, Sanders, Hilary etc.

(3) “Senso comum e a manipulação de massas

(4) “Wikipedia – Lista de Furnas” (em Português)

(5) “Revistando Montesquieu no Século XXI

 

Imagem: Entre sem bater – James Weinstein – Nesses Tempos

Nota do Autor

Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.

  • Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
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Agradeço a todos e compreendo os que acham que escrevo coisas difíceis de entender, é parte do “jogo”.

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