Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Napoleon Hill teve uma classificação pouco elogiosa pelos seus discursos, entretanto, sabia muito de “Opiniões Prontas‘ e vazias.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Napoleon Hill
Em primeiro lugar, escrever sobre frases e pensamentos daqueles que ganharam dinheiro com livros de autoajuda é terrível. Em outras palavras, se criticamos um Napoleon Hill, os que não vivem sem autoajuda, se transformam em nossos haters. Por outro lado, se concordamos, passamos por enganadores de palanque ou de púlpito. Enfim, Napoleon Hill é um destes propagadores do sucesso que vendem muitos livros, enganando as pessoas com opiniões falsas(1).
Oliver Napoleon Hill (26 de outubro de 1883 – 8 de novembro de 1970) foi um autor e vigarista americano de autoajuda. Ele é mais conhecido por seu livro Pense e Enriqueça (1937), que está entre os livros de autoajuda mais vendidos de todos os tempos. Os trabalhos de Hill insistiam que expectativas fervorosas são essenciais para melhorar a vida de alguém. A maioria de seus livros foram promovidos como expondo princípios para alcançar o “sucesso“. Hill é uma figura controversa, sofreu acusações de fraude e alguns historiadores modernos também duvidam de muitas de suas afirmações, como a de que conheceu Andrew Carnegie e de que era advogado. O portal Gizmodo o chamou de “o vigarista mais famoso do qual você provavelmente nunca ouviu falar”.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
Opiniões Prontas
Se por um lado quando falamos sobre pensamentos de um palestrante que vive de vender livros de autoajuda é complexo, por outro, é instigante. Por exemplo, ao citá-lo como “o vigarista mais famoso…” o portal Gizmodo abre a caixa de ferramentas e podemos nos deleitar.
Assim sendo, além do pensamento-chave deste texto, abordaremos outros pensamentos de Napoleon Hill, igualmente falaciosos.
Limitações
“Nossas únicas limitações são aquelas que estabelecemos em nossas próprias mentes”
O pensamento de que “nossas únicas limitações são as de nossas próprias mentes” pode parecer inspirador e motivador. Contudo, nos dias atuais, essa afirmação muitas vezes carece de realismo, e é falaciosa. Vivemos em um mundo complexo, onde as limitações surgem de fatores externos, estruturais e sistêmicos, que vão além do nosso controle.
Certamente, os obstáculos como desigualdades sociais, econômicas e institucionais, restringem as oportunidades para a maioria das pessoas. Assim sendo, a ausência de recursos básicos, educação e oportunidades igualitárias são barreiras que ultrapassam o desejo da mente do indivíduo. As questões de saúde como pandemias e desastres naturais, impõem limitações gerais, afetando amplamente a sociedade.
Além disso, o contexto cultural e as normas sociais também desempenham um papel fundamental na criação de limitações e barreiras. As expectativas e os estereótipos moldam as escolhas e oportunidades disponíveis para as pessoas, restringindo-as a papéis predefinidos e menores.
Embora o poder do pensamento positivo e da superação pessoal seja uma hipótese, ela não é para todos que leem livros de autoajuda. É crucial reconhecer que superar as limitações individuais nem sempre é suficiente em um mundo de barreiras estruturais perversas.
Inquestionavelmente, reconhecer essas limitações sistêmicas é essencial para promover uma sociedade mais justa e igualitária. Imaginar que todos tenham oportunidades iguais para atingir o sucesso e seu potencial máximo é engodo de parlapatões(2).
365 Dias
“Você pode se machucar se amar demais, mas viverá na miséria se amar de menos.”
Plano de ação positiva de Napoleon Hill: 365 meditações para tornar cada dia um sucesso”
Ah, a sabedoria profunda e penetrante das frases de autoajuda contemporâneas.
Como não amar um conselho “brilhante” de que podemos nos machucar se amarmos demais, e estaremos na miséria se amarmos de menos?
É quase como se estivéssemos diante de um dilema filosófico digno de Platão, caso o grego frequentasse os workshops de autoajuda no século XXI.
Fala Sério !!!
Certamente, o equilíbrio emocional resultante do jogo entre o amor excessivo(3) e o amor insuficiente é tão estapafúrdio quanto um unicórnio a cores.
Afinal, quem precisa de relacionamentos saudáveis quando podemos viver na perene incerteza de saber se estamos amando na medida certa?
Deve ser fascinante viver no limbo emocional, equilibrando-se na tênue linha entre o amor excessivo e a miséria mental, material e humana.
Talvez, quando estivermos prestes a expressar nosso afeto, devêssemos consultar um manual de autoajuda. Desse modo, garantimos que não ultrapassaremos a cota de amor aconselhável.
Em outras palavras, não queremos correr o risco de nos machucar ao atravessarmos a linha que limita o amor, certo?
Melhor vivermos uma existência fria dos calculistas, onde o amor se mede em miligramas para evitar overdoses emocionais.
Enfim, a profundidade dessa fórmula de autoajuda é tão surpreendente quanto um poço raso.
Quem poderia imaginar que a chave para a felicidade estava na angústia constante de se preocupar se estamos amando o suficiente ou demais?
Certamente não precisamos de algo tão simples como comunicação e empatia.
Obrigado, sábios gurus do amor moderno e da autoajuda, por iluminar nossos caminhos tortuosos com sua sabedoria simplista.
Este Napoleon Hill é um fanfarrão ao dispor de 365 pensamentos para iludir as pessoas o ano inteiro, e vender livros.
Pequenas Coisas
“Se você não pode fazer grandes coisas, faça pequenas coisas de uma maneira excelente.”
Surpreendentemente, a busca incessante por grandes realizações e reconhecimento instantâneo, assumiu sua relevância atualmente.
Em meio à frenética dança das redes sociais, de coreografia fugaz que visa a grandiosidade efêmera, a maioria sucumbe às opiniões prontas. Relega-se a um segundo plano a força transformadora das pequenas ações, desde que atinjam a excelência.
A ideia fundamental por trás desse pensamento é que a grandeza não é exclusiva das realizações monumentais e bombásticas. Por outro lado, grandes ações residem também nas nuances das tarefas cotidianas.
Ao adotar essa abordagem da pirotecnia, deixamos de lado o caminho de autenticidade e comprometimento. Abandonamos a atenção aos detalhes e a busca pela perfeição em cada ação que seriam as pedras fundamentais do nosso sucesso(4).
Ao invés de sucumbir à pressão avassaladora por feitos extraordinários a todo custo, realizar pequenas coisas com excelência oferece um refúgio. Isso nos permite cultivar a paciência, aprender com cada experiência e construir uma base sólida para o sucesso duradouro.
No tecido complexo das redes sociais, onde a comparação constante é inerente, concordo com a ideia de Napoleon Hill, somente nesta oportunidade.
Certamente, a prática de se destacar nas pequenas tarefas oferece não apenas uma alternativa inteligente, mas uma estratégia de sobrevivência. Ao abraçar a simplicidade e investir na excelência cotidiana, encontramos uma bússola confiável para navegar por mares bravios.
Nem tudo está perdido nas ideias dos profissionais de autoajuda e vendedores de livros de ilusionismo.
Mercadorias Baratas
“As opiniões são as mercadorias mais baratas do planeta. Todo mundo tem um monte de opiniões prontas para serem desejadas por qualquer um que as aceite. Se você for influenciado por “opiniões” ao tomar decisões, não terá sucesso em nenhum empreendimento.”
–Pense e Enriqueça”
A principio, as opiniões são commodities, e compra-se, vende-se ou troca-se, em qualquer lugar.
No mundo digital, as opiniões prontas estão mais baratas do que nunca, embora muitas sejam falsificações ou inúteis.
Por isso, elas estão disponíveis nas redes sociais de graça, e qualquer idiota da aldeia pode expressá-las. Decerto, não é necessário qualquer conhecimento ou experiência sobre o assunto em pauta, basta escrever 280 caracteres.
Desta forma, o cenário é preocupante, pois as opiniões prontas e de segunda mão impactam negativamente grandes grupos sociais e culturais.
Em primeiro lugar, elas podem levar à desinformação e ao extremismo. Quando as pessoas se baseiam em opiniões sem fundamento tomam decisões que podem prejudicar a si mesmas ou a outras pessoas.
Em segundo lugar, as opiniões prontas podem levar ao conformismo (amígdalas cerebelosas(5) nulas), à ausência de reflexão e à intolerância. Quando as pessoas se deixam influenciar por opiniões populares, elas deixam de pensar por si mesmas e se tornam mais propensas a seguir a manada.
Isso pode levar a uma sociedade menos tolerante, inflexível, irracional e com polarização constante.
Em terceiro lugar, as opiniões prontas podem levar à perda da autonomia individual. Quando as pessoas se deixam influenciar por opiniões de terceiros, elas podem perder a capacidade de formar suas próprias opiniões. Isso pode levar a uma sociedade mais dependente e menos crítica.
Não tem relação com o sucesso que Napoleon Hill sugere, e sim com a capacidade das pessoas pensarem per si.
O Poder da Enganação
Alguns casos concretos dos perigos destas opiniões estão no cotidiano do mundo da política. Por exemplo, nos últimos anos, a filosofia do ódio(6) e a polarização política cresceram vertiginosamente. Isso deve-se ao fato de que as pessoas baseiam-se em opiniões sem fundamento para formar suas crenças políticas.
Outro exemplo, surpreendentemente claro, vivenciamos no mundo da saúde, com a pandemia e as vacinas. Nos últimos anos, temos visto um aumento da disseminação de informações falsas sobre saúde nas redes sociais. Isso pode levar as pessoas a tomar decisões de saúde equivocadas, que podem prejudicar sua saúde.
É importante estarmos cientes dos perigos das opiniões de autoajuda e de manipuladores. Devemos nos esforçar para formar nossas próprias opiniões, com base em informações confiáveis. Devemos também ser críticos das opiniões que ouvimos, e questionar suas fontes e fundamentos.
Desse modo, algumas dicas são necessárias para evitar os perigos destas opiniões de autoajuda:
- Sempre verifique as fontes das informações que você recebe.
- Pesquise sobre o assunto antes de formar sua opinião.
- Seja crítico das opiniões que você ouve, e questione suas fontes e fundamentos.
- Não tenha medo de formar sua própria opinião, mesmo que ela seja diferente da opinião popular.
E, enfim, estejam sempre certos de que Napoleon Hill enganou muita gente, aceitar e desejar opiniões prontas é sua responsabilidade.
“Amanhã tem mais …”
(1) ” Entre sem bater – Joseph de Maistre – Opiniões Falsas”
(2) “Entre sem bater – Evandro Oliveira – O Parlapatão”
(3) “Entre sem bater – Nina Simone – O Amor”
(4) “Entre sem bater – Bill Gates – O Sucesso”
(5) “Entre sem bater – Amit Ray – As Amígdalas”
(6) “Entre sem bater – Mary Heaton Vorse – Filosofia do Ódio”
Imagem: Entre sem Bater – Napoleon Hill – Opiniões Prontas
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
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