Manipulação de Massas – A Série

Verdades e Mentiras

Frases como: “… os fins justificam os meios …” erroneamente atribuídas às obras de Maquiavel (O Príncipe) e Sun Tzu (A Arte da Guerra), tornaram-se práxis de muita gente. Desse modo, em tempos de redes sociais ágeis e superficiais, tudo fica fácil e possibilita a manipulação de massas até por déspotas pouco esclarecidos.

É histórico, tradicional e cultural, frases de efeito terem seu uso no cotidiano, sem muita preocupação, mas para manipular mentes e corações. Maquiavel, Sun Tzu, Goebbels, e muita gente mais, têm suas teorias e ideias com aplicação na vida real há muitos séculos. Repetir uma mentira para que se torne verdade, especialmente em propagandas pegajosas, virou modo de vida.

Somente aqueles que conseguem identificar sofismas e falácias podem entender os perversos efeitos das ações de muita gente que age, deliberadamente, usando essas táticas. Por isso, a cada texto sobre estratégia e táticas de manipulação tentaremos desmistificar muita mentira.

Mentira e enganação são comportamentos presentes e crescentes nos manipuladores digitais e seus vassalos, os influencers.

Portanto, com este panorama, escreverei uma série de textos relativos à manipulação de massas. Desta forma, vou associar conceitos de pensadores e filósofos, além de ideias do ativista político Noam Chomsky. Anteriormente, a manipulação tinha na mídia ( rádio, TV e jornais ) seu principal canal. Atualmente, após a criação da Internet e das redes sociais as formas e técnicas de manipulação ganharam  eficiência e agilidade.

Manipulação de Massas

Por volta de 2002, o ensaísta francês Sylvain Timsit escreveu ” Stratégies de manipulation “ sobre como é possível manipular as massas. Após algum tempo, como o texto fazia referência a Noam Chomsky, ainda vivo, recebeu o seguinte reparo do filósofo ” … Não tenho ideia de onde vem este texto. Quem quer que tenha escrito isso pode ser tomado como uma interpretação do que eu escrevi, mas certamente não neste formato nem como uma lista ”.

Certamente, pelo que depreendi da manifestação de Chomsky, ele concordava com a ” tradução ” de Timsit para suas ideias. Entretanto, pareceu-me lacônico no contexto de ” lista Top 10 ” conforme textos mundo afora.

Assim sendo, pelo fascínio que o tema enseja, optei por criar uma trilha denominada Manipulação de Massas. Este texto contém elementos para tentar mostrar que tudo se inicia numa manipulação em pequenos grupos de interesse. Portanto, não se trata, obrigatoriamente, de  manipular a massa ignara como um todo desde o início.

Em outras palavras, a manipulação de massas começa com a influência de uma pessoa sobre outra. Adicionalmente, o pagamento para que alguém comece a manipular sua ” mailing list ” de seguidores, tem crescimento vertiginoso. Por outro lado, não nos limitaremos a nenhum “top 10” ou equivalente. Escreveremos à medida que forem surgindo abordagens específicas ao contexto do Brasil. Desse modo o tema principal terá a inserção de muitos outros, com ou sem autorização do Chomsky.

Diversionismo

Diversionismo é uma estratégia utilizada por quem deseja atingir um objetivo numa assembleia, sessão plenária, audiência de júri e outros espaços. Consiste em desviar o debate ou pauta do assunto principal com curiosidades e assuntos secundários. Timsit⁽¹⁾ simplifica usando a palavra distração, prefiro diversionismo pois aplica-se perfeitamente às práticas de déspotas e da mídia tabajara. Como se não bastasse, este comportamento impede  o debate ou detalhamento de qualquer assunto, esvaziando ainda a questão principal..

Distração

Além disso, existe a distração, que é uma especialização de diversionismo com aplicação direta no controle social. Consiste no desvio da atenção do público ( massa de manobra ) dos problemas importantes.  Desse modo, praticam as distrações com informações pouco relevantes. Em tempos de blogueiros e veiculadores de “notícias” de 280 caracteres, isto tem sido um prato cheio para termos muita gente desinformada.

A distração é indispensável para bloquear qualquer usuário de redes sociais de conhecimentos essenciais em todas as áreas do saber. Uma vez que estas áreas exigem conhecimento mínimo das pessoas, toda distração é prejudicial e manchetes falsas é uma cilada. Assim sendo, o debate e apresentação de soluções fica prejudicado e as pessoas preferem ser ignorantes. É comum, nas redes sociais, estes ignorantes só “curtirem”, “compartilharem” ou usarem o emoticon de OK.

Manipulação de Massas Digital

A inclusão digital, ao invés de ajudar a evitar diversionismos e distrações, tem crescido na linha oposta.

Falácias e Sofismas

Numa escala hipotética de graduação, existe, por exemplo, o sofisma, que tem a falácia como um subconjunto e a corruptela que denomino paralogismo. Alguns filólogos amenizam a crítica aos paralogistas dizendo que estes utilizam da figura de “boa fé”. Costumo desqualificar os  paralogistas e afirmo que são ignorantes; que não assumem a sua linguagem ilógica e desprovida de sentido, comportamento típico de doentes mentais. Cada vez que publica-se nestas redes sociais rasteiras, repletas de compartilhadores de mentiras, a massa de manipulação aumenta. E, certamente, faz com que o  “povão” pense que tem razão nas suas sandices e paralogismos repetidas mil vezes.

Redes Sociais

Os pretensos debates, em todas as redes sociais, privilegiam a discussão rasteira e superficial. O surgimento de boatos e as notícias falsas ( fake news ) têm poucos adversários (por exemplo, E-farsas, Boatos.Org)⁽²⁾. Este tipo de contrainformação, ou deformação da realidade, toma tempo das pessoas, que poderiam ajudar na evolução do conhecimento mas preferem compartilhar mentiras.

É muito fácil, portanto, fazer a manipulação de massas e hordas de seres imediatistas e seguidores de farsantes de púlpito e de palanque.

Portanto, a série serve de alerta e, ao mesmo tempo, de explicação das coisas como elas são na realidade. Tentamos separar sofismas, falácias e paralogismos. Dessa forma, fugimos da acusação de fazer o que apontamos como incorreto.

Seja cuidadoso sempre, separe informação de distração e diversionismo, entenda o discurso e saiba identificar paralogistas e enganadores.

Enfim, se você não estiver sempre alerta e vigilante, a vítima, certamente, será você !

Ascensão

Em suma, o advento das redes sociais e a adoração a influenciadores digitais está moldando a sociedade preconizada por Umberto Eco. É provável que o sociólogo italiano tenha se inspirado na obra de Aldous Huxley. Nosso “admirável mundo novo” não tem nada de admirável e o “novo” é somente o velho com uma roupagem nova e muito apertada.

Tudo aquilo que podia caracterizar um grupo de massa de manobra, expandiu-se como um gás sem válvula de retenção. Com toda a certeza, é só o começo e se as pessoas acham que vai melhorar. Enfim, esta ilusão na qual insistem alguns otimistas, não trará melhoria tão cedo.

#FicaaDICA.

 

⁽¹⁾ “Ten media manipulation strategies”

⁽²⁾ Recentemente, grandes portais da mídia criaram seções mambembes do tipo “é fato ou fake”

 

(*) Atualizado em novembro de 2020.