Tapume da Discórdia
Publiquei texto falando do tapume da discórdia(1) o que causou grandes controvérsias. Entretanto, continuo a ver o mundo (na realidade, o Brasil) com um olhar diferente e crítico. Com toda a certeza, os indiferentes constroem tapumes e consolidam a hipocrisia como modo de vida. Como se não bastasse, são estes bárbaros e cheios de “civilidade” que constroem seus muros e comemoram suas Vitórias de Pirro.
Hipócritas e Indiferentes
Continuaremos, desse modo, em guerra e vivenciando muitas mortes, balas “perdidas” e assassinatos impunes. Política, religião e até futebol são motivos para guerras e paz. Este negócio de ficar em cima do muro é para gente canalha e covarde. Estes “isentões” não prosperam e são, na quase totalidade, massa de manobra em todas as guerras. A terceira via tem que ter uma construção pelas mãos das partes ativas, que se posicionam, e não pelos “isentões” e crápulas.
Como em toda guerra, a estratégia é a vitória ao final de todas as batalhas. Perder ou ganhar uma batalha pode significar muito mas não é o fim. Depois do primeiro e segundo turnos eleitorais, em 2014, vivemos o terceiro turno ontem e preparamos para o quarto turno daqui alguns dias. Alguns entendem que o processo começou ontem, ledo engano. Começou na derrota do segundo turno.
Derrotados desrespeitando vencedores… ali começou a guerra.
Indiferentes de “bem”
Outrossim, existem dois lados, e ainda um terceiro não-confiável, que é aquele que vende as armas para os dois lados se matarem. Como se não bastasse, no caso brasileiro, aqueles que se locupletam desde 1808, colocam irmão contra irmão. Os dois lados da guerra político-partidária-eleitoral do Brasil não tem, como muitos propagam, dois partidos ou dois lados.
Existem duas trincheiras, de um lado os que defenderam e conquistaram a abertura de processo do impeachment da presidente Dilma. E, certamente, de outro lado, os que eram contra a abertura do processo e manutenção do status quo. São, em suma, duas trincheiras que precisam de boas definições e entendimentos precisos das pessoas e seus posicionamentos.
Por exemplo, se estou na trincheira ao lado do Chico Buarque, do outro lado está, sem dúvida, o cantor Lobão. Se estou na trincheira ao lado da presidente Dilma, do outro lado está o vice-presidente Temer e seus correligionários.
Trincheira
Portanto, numa guerra ou impeachment, mais do que saber ou debater sobre os motivos, é vital saber de qual lado está. Não é possível você estar numa trincheira(*) dormindo com inimigos. Por isso, guerras e batalhas, quase nunca apresentam vencedores, e mesmo quem vence sofre derrotas terríveis. Analogamente, não saber quem é amigo ou inimigo ou pior, não saber identificar o fogo amigo, é mortal.

Trincheira Ernest_Hemingway
Por isso, com todo respeito a todos que estão nos meus círculos de amizade e conhecimento, eu escolhi um lado da trincheira, para assuntos político-eleitorais-partidários.
Se não querem assumir um lado, não me venham com postura de “isentões” pois isto não existe e é típico de canalhas. A democracia não prevê gente amorfa mandando, não prevê um quarto poder orientando as pessoas. Não me importo qual trincheira cada pessoa escolhe, que seja feliz ao escolher.
Enfim, não escolher um lado, com todos os prós e contras, é mais covarde do que dizer que “… eu não votei em nenhum destes …”
Em outras palavras, sou como Gramsci e Hemingway, sem ter a competência deles, escrevo o que penso e não para agradar as pessoas. Desta forma, me preocupo com os indiferentes, falsos ou verdadeiros, e com quem está ao meu lado nas trincheiras.
Indiferentes do Mal
Antonio Gramsci teceu uma crítica contundente à postura apática diante dos rumos da sociedade da sua época. Para ele, a indiferença não é mera neutralidade, mas sim uma perigosa forma de cumplicidade com a ordem vigente. E, atualmente, à indiferença somou-se a hipocrisia dos que não são indiferentes a nada, mas buscam suas vantagens.
Ao se omitirem de debates e decisões que impactam a vida coletiva, os indiferentes reforçam as estruturas de poder existentes. Dessa forma, toda e qualquer transformação social e política deixam de existir. A passividade, com ou sem intenção e premeditação, abre caminho para a perpetuação de injustiças e desigualdades. Assim sendo, permite-se que grupos dominantes imponham seus interesses sem contestação.
A omissão da ação é, em si mesma, uma ação, e uma ação com consequências negativas. Ao se absterem de participar da vida pública, os indiferentes condenam a sociedade à estagnação e à perpetuação do status quo.
Covardia Moderna
Gramsci argumentava que a indiferença é, na verdade, uma forma de covardia, que prevalece e amplia-se atualmente. É mais fácil se esquivar das responsabilidades e desafios do que se engajar na luta por um mundo melhor. No entanto, essa atitude tem um custo alto para toda a sociedade.
Os indiferentes são como “carne morta” no corpo social, não contribuindo para o seu desenvolvimento e bem-estar. Eles se tornam espectadores passivos de um espetáculo que não controlam, enquanto outros decidem seus destinos. Desta forma, a crítica de Gramsci à indiferença vai além da esfera política eleitoral. Ele também condena a apatia no campo cultural, intelectual e moral, criando o analfabeto político. Inquestionavelmente, a indiferença é um sintoma da decadência de uma sociedade, que se torna incapaz de questionar, criar e transformar.
O combate aos indiferentes deve se dar no debate público, e na educação crítica, fomentando a participação social em todos os níveis. Assim sendo cria-se uma cultura de engajamento e responsabilidade, onde cada indivíduo se sinta parte ativa da construção de melhorias.
A indiferença, como diz Gramsci, é “o ódio ao movimento, ao trabalho, à vida“. É o ódio dos incompetentes, que nos impede de crescer, de nos desenvolver e de transformar o mundo ao nosso redor.
Desta forma, cabe a cada um de nós escolher de qual lado queremos estar:
a) do lado da apatia e da inércia;
b) do lado da ação e da transformação.
A escolha é sua, sirva-se, mas escolha o seu lado e assuma sua posição.
P. S.
(*) A frase sobre a preocupação de quem estará ao nosso lado na trincheira, não tem confirmação de autoria para Hemingway.
(1) “O Tapume da Discórdia”
Imagem: Reprodução Internet
Nota do Autor
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