Pecados – As origens e o mundo digital.

A origem

Se tomarmos a Bíblia como referência, está em Gênesis 2:17, a primeira referência ao que denomina-se como pecados. Por outro lado, muitos se surpreendem por eu escrever coisas relacionadas a esta ou aquela religião sem que eu me manifeste desta ou daquela. Assim sendo, venho observando o comportamento das pessoas, mesmo não sendo sociólogo ou antropólogo e constato que o mundo mudou.

Em outras palavras, o mundo não mudou, desde que os meteoros deram chance para humanos prosperarem, o Éden é aqui. Os humanos interpretam suas ações de acordo com sua conveniência. Desse modo, desembocamos, em tempos de redes sociais, apps e assemelhados explodindo a cada verão. Portanto, interpretações diferentes de pecado, sejam eles mortais, capitais ou desvios de conduta são compreensíveis.

Pecados Capitais

Sou do tempo em que numa novela “global” era o furor da patuleia. Pecado Capital ganhou novos contornos além daqueles vistos pelos fiéis pentecostais e ganhou a telinha. A produção de 1975 da Rede Globo trazia um drama de consciência e personagens que, atualmente, seriam ingênuos e tolos.

Com toda a certeza, os pecados não mudaram, mudaram as pessoas e a relação com a sociedade.

Dessa forma, este texto é a base para mostrar como cada rede social da atualidade expõe nossa versão de pecadores originais.

Utilizando de algumas leituras e interpretações que fiz, separei associações aos setes pecados capitais. Cada um com uma rede social que vejo como mais convergente ao pecado. Cada um dos pecados aqui citados, e outros com interpretações diferentes, serão objeto de textos específicos

Os Pecados

Segundo uma interpretação da Bíblia, os pecados podem ter associação ou transliteração com provérbios, salmos etc.

Por exemplo:

Ira – “Evite a ira e rejeite a fúria; não se irrite, Isto só leva ao mal“. Salmos 37:8.

Soberba – “O orgulho do homem o humilha, mas o de espírito humilde obtém honra“. Provérbios 29:23.

Inveja – “O coração em paz dá vida ao corpo, mas a inveja apodrece os ossos“. Provérbios 14:30.

Luxúria – “Entre vocês não deve haver nem sequer menção de imoralidade sexual; como também nenhuma espécie de impureza e cobiça. Estas coisas não são próprias para os santos“. Efésios 5:3.

Preguiça – “As mãos preguiçosas empobrecem o homem, porém as mãos diligentes lhe trazem riqueza“. Provérbios 10:4.

Avareza – “Pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos”. Timóteo 6:10.

Gula – “Não ande com os que se encharcam de vinho, nem com os que se empanturram de carne. Pois os bêbados e os glutões se empobrecerão, e a sonolência os vestirá de trapos“. Provérbios 23:20-21.

Decerto, qualquer leitor da Bíblia vai questionar as frases acima indicadas. Declaro, outrossim, que não fui eu que traduzi. Pesquisei até citações em outros idiomas, e resolvi manter uma tradução mais conveniente.

A história vai longe

Citei, anteriormente, que este texto vai gerar outros tantos. O assunto é muito interessante se houver um debate racional e filosófico. Certamente, se houver intromissão de dogmas e radicalismo, nem vale a pena.

Por exemplo, o início da Reforma Protestante deu-se sobre a natureza e extensão do pecado original. O Pelagianismo é um conceito teológico que assusta aos seguidores de orador de púlpito. A ideia era negar o “pecado original”, entender a corrupção humana e prescindir da graça divina para a salvação.

Interessante, não é?

Enfim, este assunto, assim como futebol e política, deveriam estar na pauta de muitos debates. Não estão, e nós é que temos “culpa” por misturar as coisas e querer fazer prevalecer nossas “verdades”.

Pecados modernos

Desse modo, chegamos ao Século XXI. As redes sociais estão apenas mostrando sua face perversa e pecaminosa. Assim sendo, relacionamos a seguir as redes sociais e alguns pecados típicos. Lembrando que, oportunamente, teremos mais pecados e mais redes sociais sendo abordadas.

• Ira – Twitter.
• Soberba – LinkedIn.
• Inveja – Facebook.
• Luxúria – Tinder.
• Preguiça – Netflix.
• Avareza – Tik Tok.
• Gula – iFood.

O Twitter e a Ira

O Twitter é uma rede social que permite aos usuários expressarem suas opiniões, sentimentos e ideias em até 280 caracteres.

No entanto, essa pretensa liberdade de expressão se transforma em uma fonte de ira. A maioria das pessoas usa o Twitter, para atacar, ofender, xingar e provocar outras pessoas que discordam delas.

Desse modo, a ira é um pecado que leva à violência, à intolerância e à falta de diálogo que encontra campo fértil no Twitter. Entretanto, o Twitter é, ao mesmo tempo, um espaço de informação rápida, mas também pode ser um palco de brigas e agressões verbais.

O LinkedIn e a Soberba⁽¹⁾

O LinkedIn é uma rede social, a princípio, para uso de pessoas e empresas, para que os usuários criem seus perfis e atividades profissionais. Desse modo, deveriam compartilhar suas experiências, habilidades e se conectarem com outros profissionais e empresas.

Contudo, essa plataforma desviou-se dos propósitos e se tornou uma vitrine de soberba de pessoas e até empresas. Inquestionavelmente, as pessoas usam o LinkedIn para se gabarem, se exibirem, se compararem e se vangloriarem de seus feitos e méritos. Como se não bastasse, a plataforma passou a ter uso distinto de seus propósitos, com a cumplicidade dos gestores do aplicativo.

A soberba é um pecado que leva ao orgulho excessivo, à arrogância e à falta de humildade em todos os aspectos pessoais e profissionais. O LinkedIn, que deveria ser um espaço de networking e troca de conhecimento, não passa de uma vitrine de egocêntricos exibicionistas.

O Facebook e a Inveja

A evolução do Facebook foi muito além do nome inicial “The Facebook” e de sua finalidade. Anteriormente, na criação, era uma rede social para aproximar as pessoas com as mesmas afinidades. Atualmente, é uma plataforma que se chama Meta e permite aos usuários fazerem quase tudo com os conteúdos sobre suas vidas, interesses e atividades.

Assim sendo, essa plataforma é o suprassumo da fonte de inveja, cobiça e fome das pessoas serem o que realmente não são. Sem dúvida, as pessoas usam o Facebook para invejarem, copiarem e desejarem o que os outros mostram que têm.

A inveja é um pecado que leva à cobiça, à insatisfação, ao despeito, desrespeito e à falta de gratidão. O Facebook (atual Meta) deveria ser para compartilhamento e integração, mas transformou-se no espaço de falsidade e competição entre pessoas.

O Tinder e a Luxúria

Surpreendentemente, muitas pessoas que utilizam as redes sociais não conhecem o verdadeiro Tinder. O aplicativo de relacionamento seria, a princípio, para seus usuários indicarem se gostam ou não de outros usuários, a partir de fotos e informações.

Contudo, esse aplicativo tornou-se o mais famoso instrumento de luxúria. Desde que os/as usuários/as passaram a buscar somente sexo, sem compromisso, respeito ou amor o paraíso pecaminoso instalou-se.

A luxúria é um pecado que leva à imoralidade, à infidelidade e à falta de dignidade, mas com muito prazer e satisfação. O Tinder até apresenta casos (tenho provas !) de encontros de um parceiro afetivo e casamento. Por outro lado, a maioria das pessoas, indubitavelmente, só quer saber de satisfação a desejos reprimidos e/ou impublicáveis.

O Netflix e a Preguiça

O Netflix é um serviço de streaming que oferece aos usuários uma variedade de filmes, séries, documentários e outros conteúdos audiovisuais. Como tantos outros streamings que surgiram depois, serviu para exterminar os aparelhos de videocassete e de DVD.

Esse tipo de serviço tornou-se um estímulo à preguiça, pois os assinantes nem precisam sair de casa para fazer locação de um DVD ou fita. Como se não bastasse, atualmente as pessoas usam o Netflix praticando o ócio inútil, improdutivo e alienante.

A preguiça é um pecado que leva, com toda a certeza, à procrastinação e outras mazelas do mundo moderno. Mesmo com a infinidade de opções de gênero e formatos, poucos se aventuram em produções que levem ao conhecimento. Ainda que alguma produção tenha algum cunho político ou sociocomportamental, a maioria dos assinantes prefere ver, sempre, como entretenimento.

O Netflix é, certamente, uma forma de entretenimento, conhecimento e cultura. Contudo, transformou-se numa fuga da realidade e das responsabilidades que as pessoas utilizam para se esconder atrás.

O Tik Tok e a Avareza

Em primeiro lugar, este aplicativo ( Tik Tok ) é um dentre centenas que fazem a mesma coisa. Em suma, são plataformas com vídeos curtos onde se cria, edita e compartilha conteúdos que se tornam virais. Traduzindo, em outras palavras, conteúdos de baixa qualidade em que milhões de pessoas permitem que o autor ganhe centavos que se tornam milhões.

Em suma, esse aplicativo é a própria avareza, pois as pessoas usam o Tik Tok para ganharem dinheiro, fama, seguidores e likes, sem retribuição. Os autores não se importam com a qualidade, a originalidade ou a ética de seus vídeos, é o verdadeiro vale-tudo.

A avareza leva, indiscutivelmente, à ganância, à ambição e à falta de generosidade e empatia com os seres humanos. O Tik Tok, que deveria ser uma plataforma de expressão e diversão, é somente uma das fontes máximas de vaidade e materialismo.

O iFood e a Gula

É provável que algum tipo de injustiça esteja se consumando ao escolhermos o iFood como representação de um pecado. Contudo, por impingir uma derrota à maioria dos concorrentes, merece de certa forma, este título. O iFood é um aplicativo de delivery de comida e bebida que leva aos usuários os produtos de diversos restaurantes, lanchonetes e afins.

Em suma, falou que é algum tipo de comida, que une a preguiça e a gula, o iFood é imbatível. Embora alguns poucos donos de restaurantes e até mesmo plataformas alternativas tentem ser menos opressoras, o iFood não deixa. A coisa é tão perversa que o iFood pratica um outro pecado, ou melhor, um crime, a exploração do homem pelo homem. É claro que eles usam a máquina (app) para explorar os entregadores e saciar a gula das pessoas.

Desse modo, esse aplicativo reúne a gula, pois as pessoas usam o iFood para comerem demais, sem moderação, critério ou necessidade. Além disso, aliado à glutonaria, à obesidade e à falta de saúde, surgem outros vícios e maus hábitos que simbolizam uma sociedade em vertigem.

O iFood, com toda a certeza, é uma facilidade que todos devem aproveitar, caso precisem, mas também devem refletir sobre excessos e desperdícios.

Tempos Modernos

Em suma, cada frequentador de rede social tem suas preferências e seus pecados de estimação, a maioria sem mea culpa. E, inquestionavelmente, cada um vai procurar defeito nos relacionamentos e analogias que aqui apresentamos.

É provável que poucos concordem com a lista de sete pecados e plataformas nas versões do pecado digital. Ademais, os pecados capitais e outros nem tanto, são muito mais do que os que indiquei ou do que alguns livros religiosos preconizam. A exploração do homem pelo homem, por exemplo, que aparece na maioria das plataformas é um crime.

Enfim, as redes sociais tornaram todos estes pecados somente “pequenos” desvios e, dependendo do praticante, nem desvios são.

Vivemos num mundo que tudo ficou “normal”, e é da conveniência da “tribo” que alguma situação é normal e aceitável..

Enfim, o mundo acabou em 2012 e o Orkut nem existe mais. #MAKTUB !

P. S.

As diferenças dos conceitos e dogmas são tão díspares que até fieis seguidores da Bíblia não entendem o básico. Por exemplo, ódio e ira podem parecer a mesma coisa mas não são. Escrevi sobre ódio⁽²⁾, uma palavra que não pronuncio, foi em vão, e os haters nem se deram conta do quanto são estultos.

 

(*) Revisado e atualizado em dezembro de 2023

Todos os pecados com associação a plataformas e aplicativos terão seu texto específico e, eventualmente, com alguma associação a mais plataformas.

 

⁽¹⁾ “Pecados Digitais – A Soberba”

⁽²⁾ “Ódio – Um sentimento mesquinho”

 

Imagem: Reprodução Automotive Pirate Bay.

Nota do Autor

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