Erros e acertos
A expressão “virei estatística” diz respeito quando deixamos a condição de espectadores de determinadas análises. Por exemplo, numa pesquisa de opinião, ficamos incrédulos com os resultados, até nos vermos na pesquisa. Desse modo, podemos pagar até um preço alto pela incredulidade.
Existem algumas coisas que, na maioria dos casos, não damos importância ou até ignoramos, enquanto está longe da gente. Doença, preconceito, segregação, e estatísticas. Ninguém gosta de ser rotulado como estatística, embora todos reclamem, por exemplo, quando não se veem inseridos em alguma pesquisa eleitoral.
Eu estou na dúvida, virei ou não virei estatística?
Acidente
Exatamente quatro anos atrás, sofri um acidente de moto, poupar-lhes-ei dos detalhes mórbidos e sórdidos. Nem citarei as agruras e o calvário do tratamento. Nem relatarei todas as questões do âmbito sociocomportamental que envolvem alguém em recuperação de um acidente. Acidentados precisam da ajuda de várias pessoas para se locomover, alimentar, fazer tratamentos e outras carências.
Com toda a certeza, trata-se de uma epidemia que assola o país que cresce com os acidentes de moto. As estatísticas são mais do que assustadoras. Saúde pública.
Epidemia global
Em novembro de 2015 aconteceu no Brasil a “Conferência Global de Alto Nível sobre Segurança no Trânsito” que corroborou a tragédia das estatísticas no país.
Segundo o Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes, o perfil das vítimas (condutores e garupas) de acidentes atendidas pelo SUS tem o seguinte quadro:
a) 78,76% das vítimas de acidente de transporte terrestre envolvendo motociclista são homens,
b) faixa etária de 20 a 39 anos;
c) 19,6% informaram o uso de bebida alcoólica antes do acidente e;
d) 19,7% estavam sem capacete.
Neste quadro, não sou estatística. Entretanto, estão excluídos destes números os acidentes não atendidos nos ambulatórios e pronto-socorros e nem nas cidades do interior)
Motivos
Outros estudos buscam prováveis causas para que os acidentes ocorram e estejam crescendo.
No exterior:
- 75% dos acidentes com motos são colisões com outro veículo, na maior parte das vezes um carro, enquanto apenas 25% são quedas ou colisões contra objetos fixos como muros, proteções e postes (Fonte: Hurt Report);
- Em 31,9% dos casos, destaca-se a total ausência de reação do motorista para evitar o acidente, denunciando inexperiência e o treinamento inadequado para enfrentar situações de emergência (Fonte: Maids);
- Em 70% dos acidentes que envolvem motos com outros veículos, o motorista declara não ter visto/percebido o motociclista, assumindo a responsabilidade pelo acidente (Fonte: Maids);
- Mais de 50% dos acidentes analisados ocorrem com motociclistas que tinham pouco tempo de experiência, em média, 5 meses (Fonte: Hurt Report);
- Em 70% dos casos analisados, os acidentes ocorreram quando o motociclista trafegava abaixo dos 50 km/h (Fonte: Maids);
- O fator predominante dos acidentes envolvendo motoristas e motociclistas decorre do fato do motorista não ter visto ou ter visto tardiamente o motociclista, tornando assim impossível evitar a colisão (Fonte: Hurt Report);
- Os cruzamentos são os locais mais frequentes para colisões, assim como a falta de concentração/atenção na tarefa de conduzir veículos é um fator comum à maioria dos acidentes (Fonte: Hurt Report)
No Brasil:
- Apenas 8% dos acidentes referem-se a fatores do equipamento (motocicleta), como pneu furado e problemas nos freios. Já 18% dos acidentes têm origem em problemas na via como buracos, óleo na pista ou falta de sinalização em cruzamentos (Fonte: Universidade de São Paulo);
- A velocidade excessiva foi causa direta ou indireta do acidente em apenas 13% dos casos (Fonte: Universidade de São Paulo);
- Em acidentes entre motos e outros veículos, em 49% deles o causador do acidente foi o motociclista enquanto nos 51% restantes a culpa foi atribuída ao motorista (Fonte: Universidade de São Paulo);
No caso do meu acidente, rigorosamente falando, não estou incluído em nenhum dos itens indicados acima. Certamente, estou incluído nas estatísticas nacionais e internacionais, após meu acidente.
Virei Estatística
Mesmo que, hipoteticamente, eu não me encaixe, literalmente e especificamente, nas estatísticas, virei uma.
As sequelas e problemas que vivi, nos últimos quatro anos, me colocaram nas estatísticas dos prejuízos que a saúde pública. O SUS, a Previdência Social tem que cobrir, sem contar o problema da ausência total de produtividade. Como se não bastasse, tem o subemprego, a mutilação, as aposentadorias por invalidez, que colocam todo o sistema de saúde e previdenciário em alerta.
O Brasil, que não tem maior volume de motos, e muitos os acidentes não virem estatística, tem o segundo maior índice de acidentes.
Verdadeira calamidade pública.

Mapa Mundi Motos e Acidentes
Infelizmente eu virei estatística e tremo de medo quando vejo alguns motoqueiros(*) fazerem certas coisas à minha frente quando dirijo o carro. Chega ao ponto de sentir um “choque” elétrico na perna que quase perdi.
Enfim, dedico este post a todos motociclistas que são ciosos na condução de suas bikes.
(*) Existe uma grande diferença entre motociclista e motoqueiro. Quem é adulto e não sabe, surpreendentemente, terá dificuldade para entender; motociclistas e motoqueiros entenderão.
Foto: Suzuki Marauder – Arquivo Evandro Oliveira
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Observações, sugestões, indicações de erro e outros, uma vez que tenham o propósito de melhorar o conteúdo, são bem vindos.
- Coloquem aqui, nos comentários ou na página do Facebook, associada a este Blog, certamente serão todos lidos e avaliados.
- Alguns textos são revisados, outros apresentam erros (inclusive ortográficos) e que vão sendo corrigidos à medida que tornam-se erros graves (inclusive históricos).
- Algumas passagens e citações podem parecer estranhas mas fazem parte ou referem-se a textos ainda inéditos.
- Caso queira fazer comentários no texto, clique aqui e envie mensagem para pyxis at gmail.com e, certamente, faremos a autorização.
Agradeço a compreensão de todos e compreendo os que acham que escrevo coisas difíceis de entender, é parte do “jogo”.