a dor dói muito

Uma dor estranha que nunca se acaba

Dor estranha

Este texto foi inspirado em comentário de outro sobre ” O Fim do Mundo “. Contudo, aqui, neste pequeno lamento, mostrar que a dor de um pode nem passar perto da dor sentida pelo outro, e nem a proximidade de pessoas, como familiares e amigos, muda esta compreensão. Por isso, defino a minha dor estranha como algo que outros não sentem.

Seja a dor como sentimento íntimo ou a dor física, ambas atacam o sistema nervoso cruelmente, e certamente nunca se acaba.

O motivo

Anteriormente, comecei uma série que tratava dos sinais de que o fim do mundo aconteceu, ignorar a dor dos outros é um dos sinais.

Naquele texto, falei de uma médica que negou tratamento ao filho de uma outra pessoa, a princípio, porque a mãe da criança manifestou sua preferência partidária ou ideologia política. Isto num dos estados da união em que se diz avançado em relação à politização, e também com preconceito e reacionarismo latentes.

O Sindicato dos profissionais, arguindo Código de Ética, abonou a posição do presidente em defesa da médica que recusou o atendimento, buscando a legalidade na letra de um código corporativo. O Conselho Profissional tem a prerrogativa de tratar tudo intramuros, a categoria tem a prerrogativa de  arguir o Código de Ética. Entretanto, para não entrar mais profundamente no assunto, digo somente que a mídia vai utilizar do silêncio obsequioso.

E cada um que fique com a sua dor, ninguém tem nada a ver com isto e os hipócritas estão à solta.

Minha Dor Estranha

Em julho de 2012 tive um acidente motociclístico muito grave, alguns amigos ainda têm dúvidas sobre as sequelas que restaram. Desde então, passei por uma dúzia de intervenções cirúrgicas, algumas internações, vários meses em cima de uma cama com fixação na perna, tratamento que exigiu a presença de enfermeira em minha casa.

Surpreendentemente, não para mim, mas para todas as pessoas que souberam do meu acidente e tratamento, tudo pelo SUS.

O mais interessante é que o médico responsável pela maioria das cirurgias, e um dos médicos ortopedistas que fez duas das principais cirurgias, estão na linha ideológica político-partidária e na preferência futebolística, em campos opostos ao que eu estou.

Mais do que não ver neles nenhum ranço sobre as minhas preferências, tivemos até momentos engraçados. Por exemplo, tive que fazer uma intervenção, no bloco cirúrgico, sem anestesia (um dia relato porque a anestesista me deixou na mão!). Naquele momento crítico, o cirurgião tirando onda da minha preferência clubística enquanto eu gritava de dor. Como se não bastasse, referia-se às minhas preferências futebolísticas e dizia que eu estava pagando os pecados pelas opções políticas.

Com toda a certeza é porque eu estava me tratando pelo SUS, fosse pelo “plano de saúde”, ficaria calado e teria a proteção do “Conselho Profissional”.

Bem que uma enfermeira vaticinou certa feita pra mim: “… Ainda bem que você não tinha plano de saúde, senão estaria mutilado, só no SUS é possível entender as dores de muitas pessoas…”

O Mundo acabou

Até para não ser incoerente, não cometer uma falácia, não estou dizendo e nem generalizando o meu caso específico de uma dor estranha, como modelo. E não estou generalizando, por exemplo, o caso da médica do Rio Grande do Sul começa a ser visto como regra geral.

A trilha sobre o fim do mundo pega exemplos que são indefensáveis para qualquer sociedade. Mesmo que casos isolados não podemos correr o risco deles se repetirem e virarem “normais” ao senso comum.

É somente um alerta.

Enfim, é como disse o poeta, ” uma dor assim pungente, não há de ser inutilmente …”, entretanto é uma dor que nunca se acaba.

 

Charge: Ivan Cabral

Nota do Autor

Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.

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Agradeço a compreensão de todos e compreendo os que acham que escrevo coisas difíceis de entender, é parte do “jogo”.

 

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