Príncipe Azul Filósofo
Em primeiro lugar, cabem algumas palavras em caráter de esclarecimento. Este texto é destinado, principalmente, aos torcedores do Cruzeiro, o que não quer dizer que não seja muito útil para todos outros que gostam de futebol. Comecei a publicar uma série de textos relacionados à trilha “Príncipe Azul” no site www.cruzeiro.org onde relaciono questões políticas às do futebol.
Logo após a eleição da diretoria em 2017, passei a pensar na proposta e, eventualmente, reproduzi textos aqui neste espaço. O tamanho dos textos aqui são diferentes dos textos no site, e a adequação nem sempre é compreensível e adaptada aos leitores contumazes de cada um dos espaços virtuais.
Dessa forma, este texto aqui será extenso para os padrões que a maioria dos leitores de redes sociais está acostumada. O assunto assim o exige pois a torcida do Cruzeiro está perdida com a crise que vivemos, e o Príncipe Azul ainda não se deu conta que algo de muito grave esta em curso. Portanto, este é um textão que exige leitura e reflexão, mas ajudará a todos na compreensão da frase “muito além do futebol”
Eu avisei (*)
A princípio, temos que estar conscientes de que, não somente os cruzeirenses de coração, estamos vivendo várias crises. Crises locais, estaduais, federais, na educação, na cultura, nos esportes, na política, sejam elas individuais ou coletivas. Alguns sobrevivem, por intuição, outros peleiam pagando caro pelos erros próprios e dos outros. Assim sendo, aproprio-me de um gráfico (exibido adiante) apresentado, anteriormente, em outro contexto (política e tecnologia), para dizer aos cruzeirenses, e todos brasileiros e brasileiras, sobre o nosso momento.
Não começou a partir de duas derrotas, inquestionáveis sob todos os aspectos, para times gaúchos, o Príncipe Azul vem sendo avisado desde antes da sua posse. Esta situação existe desde o milênio passado, agrava-se, estabiliza, recupera, recrudesce. Alguns procuram crises nos quintais dos vizinhos, ou buscam culpados e ´bodes expiatórios` mas, por outro lado, títulos apagam muitas mazelas.
Venho escrevendo sobre estas situações de crise há muito tempo, desde quando comecei a escrever sobre o Cruzeiro na Internet. Talvez eu tenha errado muito mais do que acertado. Tentei, afinal, escrever por metáforas e de forma filosófica. Amealhei poucos seguidores pois, IMHO, propostas deste tipo de abordagem, não são compatíveis com redes sociais rasteiras e limitadas nas ideias.
Cheguei até a ser acusado de não ser cruzeirense ou de torcer contra o Cruzeiro. O que, certamente, faz parte da sandice coletiva e interesses individuais que assolam a nossa sociedade que tem pressa e dedinhos ágeis.
Príncipe Azul “moderno”
Mais recentemente, a partir da eleição da atual diretoria, adotei analogias com a obra de Maquiavel. Metaforicamente, imaginei sensibilizaria os oriundi que, na condição de conselheiros do Cruzeiro, entenderiam as analogias d´O Príncipe Azul. Foi em vão e fiquei decepcionado quando vários deles afastaram-se ou deram de ombros aos meus textos. Em outras palavras, alguns classificaram os textos como utopias e ´viagens`, decerto, preferem acreditar em suas próprias convicções.
Cada texto publicado anteriormente tem muita história, muita opinião sobre fatos e até sobre versões. Contudo, a história não tem volta ou revisionismos e está sendo contada sempre pelos ´vencedores`. Agora, tenho a necessidade de publicar um ´resumo` que fundamenta-se numa figura simples, mas lapidar para uma discussão que se pretenda séria. E não vemos discussões sérias sendo praticadas atualmente, tudo está contaminado por ´influencers`, desejos individualistas e rufiões de estimação.
Retiro, mais uma vez, de ´O Príncipe`, Capítulo XXVI (´Exortação ao Príncipe para livrar a Itália dos Bárbaros`) uma passagem sobre o ponto em que se encontrava a Itália, para que houvesse uma revolução. Diz Maquiavel: ´… que estivesse mais escravizada do que os hebreus, mais oprimida do que os persas, mais desunida do que os atenienses, sem chefe, sem ordem, batida, espoliada, lacerada, invadida, e que houvesse, enfim, suportado toda sorte de calamidades`.
Crise Azul
Como toda crise, em qualquer setor do envolvimento humano, tem início, meio e fim, piora, melhora, estabiliza, piora e por aí vai. Sou administrador e tratamos disso com algumas ferramentas muito simples. Avaliar o ciclo daquilo que denominamos PDCA (do inglês, Plan, Do, Check, Action – Planejar, Executar, Verificar, Agir) é uma das atividades normais e aplicáveis.
Entretanto, futebol é uma coisa que não tem muito de normal e, portanto fica muito pior quando torcedores misturam paixão com razão. O “Principe azul” era um alerta para o torcedor que é só paixão. Este torcedor deveria tentar entender como as coisas funcionam, ir além do “menos importante” e evitar reações sem fundamento e tresloucadas. Afinal, irracionalidade tem sido muito comum no mundo pós-apocalíptico dessas redes sociais de apaixonado sem noção.
A crise no Cruzeiro, na cidade, no estado, no país e no mundo pode ser avaliada a partir do gráfico a seguir.

Imagem adaptada de Cliodynamics (https://escholarship.org/uc/irows_cliodynamics)
Tentando traduzir de maneira didática, direta e aplicável ao Cruzeiro – não me responsabilizo por transliterações e ilações para as editorias de política, empresarial, religião e muito menos para outros ambientes e clubes que não sejam o CRUZEIRO ESPORTE CLUBE. Com certeza, admito que outras ´editorias` são fatores de provocação da instabilidade e elevação de crises. Mas também são determinantes para estabilização ou até mesmo ocultação de efeitos indesejados.
Bem-Estar
O bem-estar para a maioria dos cruzeirense é sinônimo de TÍTULOS, e este é o desejo de todos. Entretanto, existem torcedores que não são sócios do clube e nem aderiram ao programa ´Sócio do Futebol` ou qualquer outro nome atualizado. É certo que somos milhões e o bem-estar de milhões tem que ter a participação de milhões. Alguns destes cruzeirenses tem objetivos e percepções de bem-estar diferentes do restante, alguns dos sócios do clube e até diretores torcem para outros clubes, inclusive rivais no esporte. Dessa forma, num clube social com time esportivo, a ´curva` do bem-estar começa e termina em pontos diferentes.
Causas de Crise
Se temos o bem-estar coletivo no ponto máximo, a crise fica contida ao ponto mínimo. Por outro lado, se o ponto inicial da crise é diferente, causas de crises ficam latentes ou vão evoluindo como uma bola de neve. Não existe, pelo menos eu não conheço, segmento da sociedade, com altíssima heterogeneidade, como é um clube social, que tenha pleno bem-estar e nenhum foco de crise ou descontentamento.
Pré-Crise
A trajetória da pré-crise é simples de entender, basta não ganhar títulos. Nas últimas décadas, desde que passei a entender um pouco mais das coisas do Cruzeiro e do futebol, vejo que a maioria dos torcedores tem um gatilho em especial. Para iniciar uma crise, no âmbito de uma rivalidade que sustenta muita gente, perder para o rival citadino é o bastante para colocar fogo no rastilho. Em outras palavras, um título rural esconde crises projetando-as para mais adiante e a derrota para o rival, aciona o gatilho.
Situação Revolucionária
A palavra revolução, adjetivada no ponto crucial de ruptura indicado na figura, não é compreendida pela maioria das pessoas. Certamente, falta-lhes a compreensão necessária para sair da confusão em que vivemos. A perda de um título, uma eliminação, uma derrota para o adversário, qualquer coisa, é motivo para uns se revoltarem e outros tirarem lições. E não é por um motivo, uma eliminação, na maioria das vezes, é o acúmulo de erros e problemas que provoca a crise exposta e o “Príncipe Azul” tem que ter a noção exata destes contextos.
Perder títulos, como aconteceu em 2009, dispara grandes crises que afetam o clube e o futebol. Naquele momento, fez com que perdéssemos a oportunidade de título do Brasileiro e Libertadores em 2010. Durante décadas, perda de títulos e eliminações provocaram demissões de técnicos e ações sem planejamento.
Assim sendo, a crise de 2009 perdurou até quase o colapso em 2011, quando nos salvamos do rebaixamento. Portanto, aquilo foi o prenúncio de que uma grave crise estava em andamento. Naquele momento, nos salvamos e a criação de ´ídolos de barro` escondeu as várias crises que vivíamos, dentro e fora do campo.
Portanto, uma situação revolucionária exige ações diferentes a partir de causas analisadas de maneira inteligente. Outra ferramenta da administração (modelo de Causa-Efeito) explicaria isto de maneira bem didática, mas limito-me a referenciar o modelo.
Trajetórias para o Príncipe Azul
Considerando uma eliminação; um mau resultado; uma péssima apresentação; como situações revolucionárias, temos diversas opções de trajetórias a serem seguidas, a partir do ponto de ruptura da normalidade.
Conforme já demonstrado, são várias as causas e interesses envolvidos pelo coletivo. O ponto de eclosão (situação revolucionária) demanda análise global e atuação local nas causas e não nos efeitos. Exige, outrossim, pensamento nos possíveis efeitos indesejados que a mudança provoca nos sistemas adjacentes.
Por exemplo, a troca de técnico numa eliminação resolve algumas coisas e causa alguns desvios em muitas outras. Num ambiente de interesses diferentes, atuar numa causa ou efeito isoladamente, tira muitos de sua ´zona de conforto`. Jogadores de futebol, orientados por agentes e empresários que não são torcedores do Cruzeiro, são um perigo quando saem de sua ´zona de conforto`. O “Príncipe Azul” que tem assessores despreparados e desqualificados, estará à mercê de solucionadores de crise que prometem muito e entregam pouco, como os coaches de rede social no Brasil. Influencers são, igualmente, péssimos conselheiros e assessores sabem muito pouco de história e realidade. E a situação agrava-se pois a revolução pode desaguar em processos de recuperação, instabilidade contínua ou colapso.
Recuperação
Se a crise é pontual ou de causas não-estruturais, a recuperação permite a retomada da normalidade. Os prejuízos da crise podem ser revertidos rapidamente. Entretanto, alguns dos efeitos colaterais podem ser a germinar e transformar-se em crises maiores e graves.
Instabilidade Contínua
A cessação de efeitos indesejados, feita de maneira pontual, provoca instabilidade, manutenção e até recrudescimento de causas não tratadas adequadamente. Assim sendo, efeitos não adequadamente dimensionados na solução da crise, podem sobreviver ao rescaldo. O exemplo de 2011 mostra, claramente, isto quando foram criados vários ´ídolos de barro` pelos ´6a1`. O próprio resultado alimentou um paralogismo da torcida para si mesma, como em muitos outros momentos. Este tipo de falácia alimenta-se de rivalidades regionais e de apontar o dedinho para o problema dos outros esquecendo-se das próprias instabilidades.
Colapso
Assim como numa obra de engenharia, numa cirurgia médica ou em situações revolucionárias extremas, o indesejado por todos é o colapso. Neste sentido, um possível rebaixamento no futebol para a segunda divisão é o nosso colapso da vez. Aqueles apaixonados cegamente, ou mais preocupados com zoações e memes de redes sociais, são os mais aterrorizados. Contudo, afirmo que este não é o colapso verdadeiro, é apenas uma parte da crise que está sendo exposta como uma ferida aberta.
Príncipe Azul Maquiavélico
A frase ´O tempo é Senhor da Razão` foi usada na política alguns anos atrás, não era um “Príncipe Azul” mas na minha avaliação, #DeuRUIM e estamos pagando por isso. Depois veio o colapso para quem a usou. Quem viveu naquela época vai entender o contexto que estou analisando. Vivemos tempos difíceis, retomamos à Idade Média em muitos setores da sociedade e algumas práticas são puro rastilho de pólvora.
Nossa linha de tempo (Cruzeiro), representada na figura, é simples e direta, e a nossa história real. Cada torcedor, sócio do clube, sócios torcedores, conselheiros, colaboradores, dadas as suas respectivas peculiaridades, responsabilidades e conhecimento de cada causa, saberão interpretar o que tento mostrar.
Nesse ponto, faço uma restrição àqueles açodados que tem informação exclusivamente pelas mídias, especialmente, redes sociais. Participo de grupos e sou profissional de tecnologia há muito tempo. As redes de influência e o que se tornaram as redes sociais, nestes tempos de necessidade de estar “bem informado”, promove o senso comum do não ter discernimento para separar fatos de opiniões.
Nem Ódio, nem Ira
Dos textos que escrevi na trilha denominada ´Príncipe Azul`, estava tudo preconizado, tipo Maktub. Muitos que são denominados profissionais, no meio do futebol, não atuam para o engrandecimento do clube e time. Conheço muitos sócios, conselheiros e torcedores que agem com correção e colocam, muitas das vezes, o time acima de questões pessoais e particulares, são minoria. Em resumo, é o nosso quadro da crise, e não adianta contratar coach, influencers ou gestor de crise que não seja honesto e conhecedor da causa azul e hostes palestrinas.
E revisitando Toletino Miraglia (Hino ao Palestra Itália),
´… e se, porventura na luta perdemos é justo sabermos sorrindo calar. Fazendo desporto não temos em mira nem ódio, nem ira mas sim prosperar ...`
(*) Este texto é do conhecimento de alguns jornalistas. Tentei publicá-lo em algum portal ou órgão da mídia acreditando que seria de interesse geral. Não obtive nenhum retorno sobre uma possível publicação, talvez por entenderem que o assunto não esteja à altura do torcedor guiado pelas opiniões de próceres e influencers modinhas.
Imagem: Reprodução Internet
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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Agradeço a compreensão de todos e compreendo os que acham que escrevo coisas difíceis de entender, é parte do “jogo”.