Amigos Azuis - RIP

Os amigos azuis e o desespero

Cruzeiro

Este ano do centenário do Cruzeiro Esporte Clube, de Belo Horizonte, talvez seja o ano de centenário de um clube de futebol mais aterrorizante do planeta. Já escrevi muito sobre o Cruzeiro, tem décadas que faço isso e quando nos tornamos repetitivos, acabamos por nos passar por chatos. Seja aqui, meu Blog pessoal, ou em sites e espaços específicos, a intensidade e fixação de algumas opiniões tem sido marcante neste 2021. Entretanto, alguns acontecimentos recentes, especialmente envolvendo amigos azuis, me levaram a escrever este texto, mais próximo de uma crônica.

Anteriormente, já escrevi sobre como o mês de dezembro não me agrada. Por exemplo, no texto “Inferno Astral e o mês de dezembro” tento justificar as minhas insatisfações com o mês. Especialmente, neste dezembro de 2021, perdi dois amigos azuis, aliás, um amigo e uma amiga. Eram, de fato, cruzeirenses da mais alta linhagem, que se juntaram à querida Salomé, à turma dos ilustres que estão noutra dimensão azul.

Amigos Azuis

O que torna estes dois amigos azuis que nos deixaram tão especiais neste momento?

Eram, com toda a certeza, dois dos maiores opositores às minhas ideias em relação a quase todas as áreas do conhecimento. Debati com eles sobre política, futebol e religião. Se, eventualmente, convergimos nas coisas relativas ao Cruzeiro, divergimos em tudo o mais, com brigas e debates (malditas redes sociais!) acalorados. Certamente eu preferiria debater com eles durante um almoço ou experimentando um vinho, mas a loucura que o mundo se tornou nos afastou em tempos recentes. Em outras palavras, os raros encontros que tive com os dois nos últimos dois anos foi muito aquém do necessário.

Dois amigos que me abandonaram no momento mais difícil, está ficando impossível debater sobre assuntos diversos sem perder a razão. Sandra Meira Starling e João Chiabi Duarte vocês se foram muito recentemente, mas estão fazendo muita falta. Surpreendentemente, como costumamos fazer em finais de ano, fiz uma revisão, ouvi algumas pessoas e resolvi que não retiro uma vírgula de nossas discussões. Afinal, se amigos não são para isso – mostrar, escrever, falar o que pensa de diferente – são para quê mesmo?

Sandra Starling

Em “O destino numeroso de torcer para o Cruzeiro”(1), Sandra Starling escreveu uma das mais belas crônicas sobre a sua paixão. Quando começava citando Pascal – “O coração tem razões que a própria razão desconhece, ensinava Pascal.” – e prosseguia referenciado Homero, definia que a paixão do cruzeirense era um pouco diferente.

Em um dos seus últimos posicionamentos sobre o Cruzeiro, já sob a égide de uma permanência dolorosa na Série B, Sandra gravou um podcast e escreveu texto para o “Páginas Heroicas Digitais(2). Assim como a guerreira incansável Salomé, Sandra Starling já faz muita falta e não estará entre nós no bicentenário. Certamente, a ítaca eterna e azul de Homero vai ressoar para sempre na sua alma.

João Duarte

Outro amigo azul que nos deixou, no início deste dezembro nefasto, foi o otimista mais azul da face da Terra. João Duarte foi dos muitos exemplos de cruzeirenses que conheci, em primeiro lugar, virtualmente. Nos longínquos tempos das listas de discussão por e-mail, provavelmente um tipo de tataravô dos atuais grupos de discussão via Whatsapp.

Nem sei bem como aquele mineiro, cruzeirense apaixonado, que morava no Espírito Santo, descobriu a lista de discussão no Yahoo!. A interação dele foi intensa, sempre com o propósito de elevar o nome e a história do Cruzeiro, que ele tão bem conhecia. Era muito otimista e, como sempre, discutimos mais reservadamente, do que em público.

Com a criação do site Cruzeiro.Org e a abertura de espaços para colunistas, ele era um candidato natural por suas qualidades para escrever as crônicas. Eu o convidei e ele, depois de relutar, aceitou e mostrou sua aptidão. Curiosamente, alguns dos que participavam da lista de discussão queriam ser o “pai da ideia” e outros se contrapunham àquela posição sempre otimista.

Da sua primeira coluna, em 2006, “Um elenco de boa qualidade” até a última publicada no Cruzeiro.Org “Nasce o Cruzeiro de 2019“, sua visão otimista era predominante. A maioria de suas posições otimistas, não se confirmava, ele sempre achava que sim, se confirmavam e que desígnios diversos era o que atrapalhava.

Queria poder debater com o João Duarte, que estava na posição de conselheiro suplente deste Cruzeiro vendido para a Tara Sports. João Duarte não pode exercer seu direito a voto, sua visão otimista indicava que aprovaria a venda de 90%, nunca saberemos, mas seu otimismo continuará ressoando.

Eternamente campeão e os amigos azuis

A estes dois amigos azuis que nos deixaram, tornando o torcedor cruzeirense mais órfão de exemplos da paixão azul, muitos outros nos deixaram, alguns até especiais e que já foram homenageados.

Este texto deve ser estendido a todos os cruzeirenses os quais nos deixaram e não tive a oportunidade de longos, calorosos e acirrados debates. Valorizo muito mais estes cruzeirenses legítimos do que aqueles frequentadores das redes sociais que limitados às suas incapacidades vão logo “bloqueando” à primeira manifestação contrária.

Vejo o desespero que cai sobre os ombros dos cruzeirenses com as notícias e versões da mídia e influenciadores e penso nestes dois otimistas apaixonados.

Em suma, reafirmo que amigos azuis, como Sandra e João, com quem era prazeroso debater nas arquibancadas, nos botecos e até mesmo nas redes sociais, fazem muita falta. Reafirmo que, vou continuar ranzinza e mais realista do que vocês, é necessário pois as redes sociais não são a verdade azul que merecemos.

R.I.P. (*)

 

(1) “A ítaca eterna e azul de Homero
(2) “Páginas Heroicas Destroçadas

(*)#SQN – Estarei discutindo com vocês eternamente, não os deixarei em paz, taoquei?

 

Imagem: Adaptação Internet

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