De Mário Amato a Luciano Hang - 1989 a 2022

Eleições 2022: de Mário Amato a Luciano Hang

De Mário Amato a Luciano Hang

Em primeiro lugar, este texto (“De Mário Amato a Luciano Hang”) é apenas uma tentativa de resgatar a história das eleições presidenciais. No Brasil de 1989, a palavra redemocratização, não passava de uma farsa. Com toda a certeza, nunca fomos uma democracia para se falar em redemocratização.

O mundo mudou muito desde que votamos para presidente em 1989. A Geração Z, que deve ser a maioria dos eleitores de hoje, se não tiveram bons professores, não deve ter entendido muita coisa. Por outro lado, a deterioração do discernimento desta geração foi a má educação política dada pelos pais (sou um pai desta Geração Z).

Desse modo, chegamos a 2022 com uma eleição presidencial que passa longe de uma democracia e, como se não bastasse, mostra sinais de tragédia.

1989

Naquele ano, o país vivia a efervescência de uma eleição para presidente da república. Logo após a euforia do movimento ” Diretas Já ” vivenciamos uma “pacificação” com a Assembleia Constituinte. Contudo, a nova Constituição gerou novos políticos, propostas, direitos para o cidadão e as mazelas que acompanham tudo isso.

Uma das grandes novidades era a eleição para presidente, depois do coito interrompido de alguns anos antes que resultou num mandato esdrúxulo de José Sarney.

Muitos diziam que não podia ser pior do que Sarney; e olha que nunca no país tivemos uma quantidade de candidatos presidenciais de qualidade. Entrávamos, certamente, na era do pluripartidarismo e da mixórdia política.

Mário Amato

O ex-presidente da FIESP, falecido em 2016, ficou conhecido no Brasil, pelo eleitor comum, nas eleições de 1989. Apoiador de primeira hora do candidato Fernando Collor (Caçador de Marajás) declarou que “… 800 mil empresários sairão do país …” caso Lula vencesse. Uma declaração deste porte, vinda da cúpula da FIESP e da Avenida Paulista, tinha um peso enorme nas eleições.

O eleitor brasileiro, em sua maioria esmagadora, trabalhador e sobrevivente, ficou impressionado. Como se não bastasse a ajuda da mídia (Editora Abril/Veja e Rede Globo) este tipo de declaração repercutiu contra a campanha do petista.

Até hoje, ninguém ousou explicar de onde Mário Amato tirou este número de empresários que “fugiriam do país”. Naquele tempo, nenhum jornalista ousava perguntar como estes empresários sairiam, o que não acontece até hoje.

Passados trinta e três anos, o discurso e o eixo mudou. Enquanto a FIESP (ou parte dela) apoia Carta(1) em defesa da democracia, outro grupo de empresários, capitaneados por Luciano Hang, prega um golpe.

Luciano Hang

O mundo evoluiu com as tecnologias dos últimos 30 anos, que nos tiraram do atraso dos telefones fixos direto para o 5G, IoT etc.

Era de se esperar que o empresariado também evoluísse(2).

Empresários como Luciano Hang cresceram a partir de benefícios obtidos em governos pós-1989. Este representante do empresariado recebeu financiamento do BNDES, e utilizou em patrimônio pessoal como jatinhos. Como se não bastasse, arrasta o pagamento de impostos, além da sonegação tradicional e descaminho.

Do mesmo modo que nada não é tão ruim que não possa piorar, Luciano Hang ameaçou se candidatar somente para chamar a atenção. As práticas que perpetrou durante os últimos anos, em relação aos seus funcionários, foram alvo até de processo trabalhista de assédio moral.

Os negócios do empresário, se esmiuçados pela Polícia Federal, Receita Federal e Ministério do Trabalho, seriam passíveis de questionamento.

O empresário, sob a bandeira do nacionalismo, representa o que de novo temos no cenário político-empresarial do país(*).

1989 a 2022

Logo após as eleições de Collor, o país mudou e modernizou-se. Deixamos, por decreto, de andar em “carroças” e passamos a andar de automóveis. A indústria prosperou, nenhum empresário saiu do país e avançamos, inquestionavelmente. #SQN.

Inegavelmente, o discurso de Mário Amato não estava alinhado com as ações do novo governo. A fantasia do “caçador de marajás” rasgou-se com facilidade e o “salve-se quem puder” imperou. Desde o impeachment de Collor temos problemas e as sequelas ainda permanecem até hoje em dia.

A implementação do Plano Real, já no governo FHC, deu mostras de que a economia e o empresariado brasileiro são determinantes para a estabilidade política. Vivenciamos uma pseudodemocracia até os dias atuais.

2002

O ano de 2002 foi um marco nas relações dos empresários com os candidatos. Mesmo concorrendo contra um candidato simpático à FIESP, um pacto tornou-se público e teve sua importância.

A Folha de São Paulo publicava em 17 de outubro de 2002:

PT e Fiesp esquecem 1989 e selam acordo de confiança

O lançamento hoje do documento elaborado pelo PT em conjunto com a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) serviu para selar um pacto de confiança entre o setor empresarial e o partido, e para apagar as divergências da campanha de 1989.

Com efeito, era uma sinalização clara de que a economia e o empresariado da Av. Paulista queria conviver com os “trabalhadores”.

Pode-se dizer que, para muitos empresários e trabalhadores, foi um bom pacto.

2022

Enfim, ao chegarmos em 2022, nas mesmas eleições presidenciais, era de se esperar que a evolução fosse natural, de parte a parte.

Entretanto, não constatamos nada disso, empresários em grupos fechados defendem que exista um golpe, caso Luís Inácio Lula da Silva seja eleito. Pior do que proclamou Mário Amato em 1989 não pode existir.

Retrocedemos tanto assim?

Quais seriam as motivações para tamanho retrocesso?  Ou, por outro lado, seria algum tipo de evolução que nos foge a compreensão?

Tem sido bastante assustador ver o posicionamento dos eleitores da geração Z, no tocante a temas que ficaram incompreensíveis por décadas. Questões como a violência contra a mulher e a falta de civilidade, ante as opções de outras pessoas como nós, recrudesceram.

Vemos professores defendendo instrução militar como forma de resolver o problema da educação. Enquanto alguns empresários fogem do país com seus bens e capitais, outros ficam e defendem um golpe.

Eleições 2022

Constato que de todas as eleições que votei e participei, esta é a de mais baixo nível. É provável que alguns fatores e modernidades tecnológicas venham propiciando este rebaixamento. Redes sociais como o Twitter e Whatsapp rebaixam qualquer discussão a um bate-boca de boteco sobre futebol.

Existe uma frase, muito usada por políticos autoritários que diz: “Política, Futebol e Religião não se discute“. Com toda a certeza, esta falácia é preferência de muitos, para esconder a própria ignorância no assunto. Deveríamos debater tudo, mas as redes sociais não permitem e acabamos por nos tornar meros “torcedores” de futebol de quinta divisão.

Democracia em Vertigem

Nunca fomos uma democracia e não nos tornaremos uma com os debates que se sucedem nas redes sociais. Virou “crime capital” enviar um texto imparcial sobre qualquer assunto para quem não quer ouvir nada de pessoas que não gostam.

Carl Sagan tem uma frase sobre o tratamento que devemos destinar aos fanáticos; sim, estamos lidando com fanáticos que nem sabem porque são fanáticos.

Desde que a frase de Mário Amato foi dita numa campanha eleitoral, nunca retrocedemos tanto em tão pouco tempo. Alguns setores da nossa sociedade não aceitaram pacificamente uma mulher como Presidente da República. Fico imaginando, por exemplo, se aceitariam um presidente negro.

Se bem que, parece que  a “Carta pela Democracia” não conseguirá aplacar alguns ânimos e empresários.

A notícia do UOL(3) que reproduz conversas e opiniões de empresários em grupos de redes sociais é assustadora. É muito mais do que retrocesso. Significa que estes empresários não querem sair do país, querem continuar usufruindo de tudo que conseguiram. Poder, dinheiro, direito de explorar.

Em síntese, no Brasil nunca fomos uma democracia, e, mesmo assim, ela está em vertigem acelerada e até golpe os empresários planejam.

 

(1) “Leia carta da Fiesp pela democracia que une de Febraban a Sindicatos

(2) Quando escrevo empresariado, refiro-me aos de verdade e não à falácia do empreendedor ou MEI – “Empreendedor despreparado – A fronteira final” – que estamos presenciando no país. Escrevi muitos textos sobre o tema que, com toda a certeza, separam esta categoria.

(3)Empresários bolsonaristas defendem golpe em caso de eleição de Lula

 

(*) Importante ressaltar que o Partido Novo, embora tenha uma linha liberal de empresariado, não se alinha com empresários da estirpe de Luciano Hang. Portanto, o novo empresariado fica muito distante da linha de Mário Amato.

 

Imagem: Montagem reprodução Internet

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