Beagá - 125 anos

125 anos – Parabéns, Beagá !!!

Belo Horizonte

Nesta data, assim como em outras datas “comemorativas” a temática de ao menos um texto é fixa e se repete, anualmente. Hoje, a cidade de Belo Horizonte completa 125 anos de sua fundação. É aqui que nasci e vivo, lugar melhor não há. Se bem que estas datas comemorativas e o desrespeito com a história da cidade, inclusive pelos que aqui nasceram e estão na cidade, é enorme.

Sou de uma rara “terceira geração” na “Cidade de Minas”. Minha avó materna, minha mãe e eu nascemos aqui. Meus filhos e meu neto nasceram aqui também. Cinco gerações de mineiros do Curral Del Rei não é normal para muitos.

Enquanto todos, principalmente a mídia, falam só das coisas boas, eu fico imaginando o quanto a cidade tem perdido de sua história. É provável que a ideia de “cidade aberta que recebe a todos” não tenha sido assimilada por muitos.

Com toda a certeza, fico assustado com a pouca memória afetiva de muitas pessoas na cidade. Fiz tentativas em várias frentes para resgatar ou manter algumas memórias, sempre esbarrando na indiferença ou nos interesses difusos.

Vejo, com muita tristeza, os 125 anos de história avançando rápido demais e, de certa forma, apagando décadas passadas. Contudo, existem “ilhas” de lucidez, com bravos personagens que tentam manter a “Cidade de Minas” viva.

125 anos

Diz a lenda que a história de Beagá começou em 1701, e somente em 1901, duzentos anos depois, passou a se chamar Belo Horizonte.

Já escrevi nesta mesma data, todos os anos, desde que iniciei este Blog. Alguns textos estão sendo revisados porque ficaram muito ruins ou desconexos com o momento. Por exemplo, em 2017 no “Beagá – 120 anos“, abordei alguns personagens e fatos mais contemporâneos.

Por outro lado, a cidade está presente em textos publicados em datas diferentes do aniversário da cidade.

No texto “A Gentrificação e ´Os do Barro Preto`”, certamente geraram mais visualizações que outros específicos. Neste texto eu expliquei uma parte do processo de gentrificação que leva à especulação. Do mesmo modo como acontece com diversas cidades do planeta, algumas com séculos de história.

Alguns bairros e regiões de Belo Horizonte sofrem com a gentrificação e com a especulação imobiliária, com requintes de crueldade.

Assim sendo, nesta data, vou falar de coisas que ninguém fala e que caíram no esquecimento das pessoas. Alguns prédios históricos merecem a preservação em qualquer cidade do planeta, mas se perdem na história.

Palácio dos Correios

Palácio dos Correios - BH 125 anos

Reprodução Internet

Localizado no “triângulo” composto pela Avenida Afonso Pena e as ruas da Bahia e Tamoios. É provável que tenha sido o primeiro exemplo concreto de como a especulação imobiliária da “nova capital” seria predominante. Não durou cinquenta anos de pé. Deu lugar ao conjunto denominado “Sulacap/Sulamérica” , existente até os dias atuais.

O “Palácio dos Correios” tem similares em várias cidades do mundo e, além disso, era a referência dos cidadãos de qualquer cidade. Surpreendentemente, após 125 anos e as tecnologias, é anacrônico falar em correios e suas finalidades.

Teatro Municipal

Teatro Municipal - Beagá 125 anos

Reprodução Internet

Bem como o “Palácio dos Correios”, outro espaço, localizado na Rua da Bahia, foi construído com um propósito específico e bastante louvável. O Teatro Municipal de Belo Horizonte foi erguido entre 1906 e 1909 e teve suas atividades transformadas em 1946. Um grande especulador imobiliário obteve a posse e transformou-o em cinema em 1941 (Cine Metrópole). Ainda que mantivesse características originais, teve destinação desvirtuada. Algumas décadas depois deu lugar a uma agência bancária, com a conivência do Poder Público Municipal.

Com toda a certeza, dos prédios públicos do início da cidade, foi o que teve duração mais curta pela sua finalidade, nestes 125 anos.

Feira de Amostras

Feira de Amostras - Beagá 125 anos

Reprodução Colorizada Internet

Um dos prédios mais icônicos de Belo Horizonte, destruído na primeira metade dos anos 1960. Teve inauguração tardia, em relação a outros prédios históricos como o “Palácio dos Correios” e o “Teatro Municipal”. Sua  substituição por um amplo espaço vazio com pessoas que têm pressa, é completamente incompreensível. A inauguração se deu em 1935, no espaço em que funcionava o Mercado Municipal. A Rádio Inconfidência, certamente, era sua grande referência, além, é claro, dos eventos da Feira Internacional de Amostras.

Nos 125 anos de Beagá, é provável que tenha sido o ambiente mais ativo e mais democrático. Os estúdios e auditório da PRI-3 (depois PRK-5 e PRK-9) recebiam a todos sem distinção. A Feira permanente era uma referência nacional.

Grupo Escolar Juscelino Kubitscheck

Grupo Escolar JK - Beagá 125 anos

Foto: Evandro Oliveira

Sem dúvida, o Grupo Escolar Juscelino Kubitscheck de Oliveira está no rol das raras obras de Niemeyer destruídas. E, como se não bastasse, pode entrar na lista de monumentos e estruturas arquitetônicas derrubadas para não se construir nada no lugar. Nem a especulação imobiliária conseguiu ou teve interesse em se apropriar deste espaço.

Atualmente, o lugar em que era para ser uma construção, é um imenso vazio, cercado por dois aglomerados resultante da expansão urbana.

Até imagens desta antiga construção, destruída com o propósito de construir o Anel Rodoviário, são raras. A escola teve rápida desocupação, e as construções ao redor tiveram destruição sumária e inexplicável (inclusive a igreja católica). Posteriormente, abrigou uma instituição de ensino superior na área de arte e design.

A escola ainda existe, noutro bairro, com a mesma denominação e até no próprio Grupo Escolar a história se perdeu. Uma página/grupo da rede social Facebook, vez por outra apresenta relatos e histórias de ex-alunos e moradores do bairro.

Aqui abro um espaço de explicação, uma vez que a criança na foto sou eu, com um ano de idade. O registro foi feito pelo meu pai, e estou posicionado em cima do atual e ainda existente, viaduto São Francisco, sobre a Av. Antônio Carlos.

Viva Beagá

Indiscutivelmente, quando estamos diante de questões do passado “esquecidas”, é impossível pensar no futuro. Acompanhei publicações e matérias sobre os 125 anos de Beagá na mídia. Surpreendentemente, até por não ser um feriado municipal, a repercussão foi quase nula entre o povo.

É possível que algumas frases de filósofos e pensadores provoquem algum sentimento na população que vive nas redes sociais?

Frases sobre o passado

  • Se queres prever o futuro, estuda o passado. (Confúcio)
  • A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente. (Albert Einstein)
  • As pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo. (Epicuro)
  • O passado serve para evidenciar as nossas falhas e dar-nos indicações para o progresso do futuro. (Henry Ford)
  • O passado é uma cortina de vidro. Felizes os que observam o passado para poder caminhar no futuro. (Augusto Cury)
  • Nesse grande futuro, não podemos esquecer do nosso passado. (Bob Marley)
  • Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro. (Heródoto)
  • Presente, passado e futuro? Tolice. Não existem. A vida é uma ponte interminável. Vai-se construindo e destruindo. (Darcy Ribeiro)
  • O futuro mais brilhante tem base num passado intensamente vivido. (Clarice Lispector)
  • Quem domina o passado, domina o futuro. E quem domina o presente, domina o passado. (George Orwell)

Jubileu

Ainda que eu tenha nascido em Belo Horizonte, sempre gostei de festas de Jubileu, em comemoração aos aniversários das cidades. De maneira geral, estas cidades comemoram junto com a festa do(a) padroeiro(a) da cidade. Em Belo Horizonte é esquisito pois a padroeira é de 8 de dezembro, um feriado municipal, e o aniversário da cidade (hoje) é dia comum.

Em suma, outras cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, têm no dia de seus aniversários comemorações e eventos marcantes.

Atualmente, o evento mais significativo de Belo Horizonte, é a “Volta Internacional da Pampulha“, que quase nunca ocorre de acordo com o aniversário da cidade.

Pobre memória dos que habitam esta roça iluminada. A cidade recebe a todos, nos últimos 125 anos ou mais, com carinho e hospitalidade típica dos mineiros-raiz. Entretanto, a reciprocidade da cidadania não tem equilíbrio e muitos belo-horizontinos ainda não se deram conta da nossa história.

Enfim, este texto é somente uma forma simplória de desagravo pelas belas histórias que poucos narram. Por outro lado, é o desejo de que as histórias ocultas deveriam ter tratamento dignos por cidadãos natos e naturalizados.

125 anos – Parabéns, Beagá !!!

 

P. S.

Desde que as redes sociais se popularizaram, alguns gaiatos resolveram chamar Belo Horizonte de “Belzonte“. Assim sendo, fico com a responsabilidade de avisar que não falem deste termo perto de alguém que gosta de Beagá. Certamente, não estará agradando ninguém.

 

Imagem: Reprodução Internet

Nota do Autor

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