Maiakóvski - Poesia Reunida

Maiakóvski e a dignidade alimentar

Maiakóvski

Em primeiro lugar, é necessário dizer que a grafia do título e menções ao poeta Vladimir Vladimirovici Maiakovski foi uma decisão difícil. O nome do camarada em cirílico é Маяковский, Владимир Владимирович, o que para nós, é impossível definir ou ler. É provável que esta dificuldade tenha disseminado as várias traduções e grafias diferentes. Assim sendo, resolvi escolher uma delas e utilizá-la neste texto: Maiakóvski.

Tenho um conhecido que adora escritores russos, que escreve textos muito bons(1) e, sobretudo, inspiradores. Espero que esta minha impertinência literária seja perdoada por ele, um emérito estudioso das obras dos russos, cazaques ou literatos cirílicos.

“No caminho com Maiakóvski”

O título acima indicado é de um livro, de autoria do poeta, niteroiense (RJ), Eduardo Alves da Costa. Em seu livro (Poesia Reunida), um dos textos dá nome ao livro. Depois que algum jornalista de pouca leitura citou um trecho do poema, nunca mais Maiakóvski foi o mesmo. Por outro lado, o autor russo “substituiu” Eduardo Alves da Costa na condição de autor do texto. Surpreendentemente, muita gente na mídia e até no cenário cultural, acreditou nisso.

Enfim, existem textos e entrevistas que esclarecem a confusão e o propósito deste meu texto não é esclarecer mais nada.

Escrevo este texto com o propósito de responder a uma provocação e mostrar uma ideia que tive sobre um tema parecido. Em outras palavras, utilizarei uma parte do belíssimo poema de Eduardo Alves da Costa, para demonstrar minha indignação. Uma vez que as redes sociais “normalizaram” tudo e todos, é importante reforçar as palavras do “caminho de Maiakóvski”.

“O Alimento”

Desse modo, como na transliteração do nome de Vladimir Vladimirovici, arrisco a parafrasear o poema do brasileiro. Outrossim, afirmo que é muito importante a leitura de todo o poema, pois diz muito sobre nossas vidas de hoje.

A frase que me estimulou a fazer esta “adaptação” foi de um usuário do Facebook: “… Espírito Natalino é o caraio, eu quero é dignidade alimentar.“.

Eu tenho muitas dificuldades com o mês de dezembro, alguns especialistas chamam de “trauma de Infância”. Pode até ser verdade, entretanto, nossas verdades são definitivas e a frase do usuário me representa. Em outras palavras, no Brasil de hoje, o espírito de coletivo não permite ficar calado ante a hipocrisia que granjeia as redes sociais.

Ver um economista “Top Voice” que fala só merda desejar “feliz natal” em rede social, me lembra algumas frases e ideias mais realistas. Em suma, #VSF hipócritas de púlpito e redes sociais.

Poema adaptado

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história

Na primeira noite eles se aproximam
e aumentam o preço no Ceasa.
E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem:
jogam alimentos fora,
matam nossos idosos e desvalidos de fome,
e não dizemos nada.

Um dia

Até que um dia,
o mais frágil deles e que é um dos nossos
durante sua ceia de Natal não deixa entrar alimento  em nossa casa,
rouba-nos a luz e água, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.

Polêmicas Vazias

O trecho acima foi o estopim para várias polêmicas vazias. Desse modo, até de ser plágio existem acusações.

Um texto sobre judeus, com toda a certeza, pode ilustrar a polêmica vazia.

Quem reclama?

O texto, numa livre tradução, não sei se de fato está escrito assim no original alemão.

“Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.

Como não sou judeu, não reclamei.

No dia seguinte vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.

Como não sou comunista, não reclamei.

No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.

Como não sou católico, não reclamei.

No quarto dia, vieram e me levaram;

já não havia mais ninguém para reclamar.”

A polêmica deveria existir e, desse modo, suscitar reclamações, pelo conteúdo, e não pela forma. No Brasil, atualmente, com a explosão das redes sociais de incultos, vira ofensa escrever o que se pensa.

Comecei esta resposta-provocação pensando em escrever somente sobre uma pequena parte do texto. Inegavelmente, é impossível escrever pouco ou não sentir-se compelido a gritar: É tudo MENTIRA ! Vivemos a era das mentiras ( fake news ) adorada por todos de pouca vontade de ler poemas.

Maiakóvski e Eduardo Alves da Costa, certamente entenderão, a maioria da mídia e seguidores de influencers nunca vão entender.

 

P. S.

Pensei um pouco e resolvi colocar o texto original que proporcionou a construção deste texto.

Você vai envelhecendo e vai tentando se tornar alguém mais maleável, mais compreensivo. Aí vem as pessoa e põe uva passa no arroz, você aceita. Mete maçã na maionese de legumes e tudo bem. Mas as pessoa começa a se soltar demais, e quando você menos espera ela mete um bife de fígado no seu prato. E a culpa é sua que aceitou a primeira uva passa no arroz sem mandar ninguém tománocu. Não aceitem esse negócio de uva passa em tudo, não, é cilada. Da uva passa pra bife de fígado, Dobradinha e pessego em calda no Pernil é um pulinho. Não se calem, a hora da treta é agora. Espírito Natalino é o caraio, eu quero é dignidade alimentar.

Frase de Carolina Maria de Jesus

Frase de Carolina Maria de Jesus

Sem dúvida, é desnecessário dizer que o “debate” era sobre “uva passas no arroz”. Desse modo, o autor do texto-motivador falou muita bobagem para dizer o que importa. Analogamente, ipsis litterisespírito natalino é o caraio” e discordo de todo o resto do texto original.

Dignidade alimentar coletiva JÁ!

 

(1) “O menino e o Rei Pelé” por Carlos “Baiano” Ferrer

 

Imagem: Indica Livros – Poesia Reunida – Editora Geração

Nota do Autor

Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.

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Agradeço a todos e compreendo os que acham que escrevo coisas difíceis de entender, é parte do “jogo”.

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