Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. É difícil compreender as ações humanas(1) que determinam a “Filosofia de Ódio“, entretanto Mary Heaton Vorse apresentou uma teoria interessante.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Mary Heaton Vorse
Mary Heaton Vorse foi uma jornalista-ativista como poucas no planeta Terra. Como se não bastasse, enfrentou barreiras inimagináveis nos tempos em que trabalhou. Atuou por meio século num momento difícil no planeta – entre a 1a Grande Guerra e o auge da Guerra Fria. Visitou a União Soviética logo após a Revolução Russa e, enfim, foi daquelas jornalistas militantes aguerridas.
Mary Heaton Vorse (11 de outubro de 1874 – 14 de junho de 1966) foi uma jornalista e romancista americana. Nasceu na cidade de Nova York, filha de Ellen e Hiram Heaton. Seu pai era um hoteleiro de sucesso, e sua mãe uma rica viúva do capitão Charles Bernard Marvin, um magnata da navegação e comerciante de bebidas alcoólicas. Ela estabeleceu a sua reputação como jornalista que reportava os protestos laborais de uma força de trabalho maioritariamente feminina e imigrante na indústria têxtil da costa leste. Sua ficção posterior baseou-se neste material que traça o perfil das lutas sociais e domésticas das mulheres trabalhadoras. Não querendo ser uma observadora desinteressada, ela participou em protestos trabalhistas e civis e foi durante um período objeto de vigilância regular do Departamento de Justiça dos EUA.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
Filosofia de Ódio
O pensamento de Mary Heaton Vorse (MH Vorse), do qual retiramos a frase-chave do texto, tem aplicação direta, com agravantes, na atualidade.
O ódio(2), as diversas formas de intolerância, as mais perversas manifestações de preconceito, tomaram conta da nossa sociedade. A população do planeta cresceu demais, os meios de comunicação tomaram conta e tornaram a Terra uma aldeia global. Contudo, os avanços em setores como saúde, educação, alimentos e educação, não permitem o avanço civilizatório.
O que MH Vorse imaginava como resistência ao avanço da filosofia de ódio e toda sorte de perversidades, sucumbiu.
A evolução da tecnologia das comunicações, com as redes sociais, recrudesceu o ódio, preconceito e intolerância. Certamente, não é prerrogativa dos brasileiros, mas as sociedades imersas nas redes sociais abandonaram a civilidade.
Redes Sociais no Brasil
A relação complexa entre as forças libidinais e a filosofia do ódio é um tema intrigante que as redes sociais vilipendiaram. Surpreendentemente, filósofos, psicólogos e sociólogos e outros pensadores sofrem com o alijamento do debate por influencer e coaches. No Brasil, com toda a certeza, três vertentes fundamentais desse embate: o ódio, a intolerância e o preconceito, ganharam vida real e virtual.
O que, anteriormente, era restrito à aldeia, como preconizou Umberto Eco, ganhou limites planetários e deu voz a sociopatas e psicopatas.
Ódio
O ódio é uma emoção intensa e destrutiva que surge a partir de uma série de fatores, inclusive as forças libidinais opostas. As forças libidinais obnubilam a mente das pessoas numa forma de manipulação eficaz. Os desejos e impulsos emocionais afetam o pensamento racional e a tomada de decisões formando um rebanho de escravos(3). Assim sendo, ganha-se aliados autômatos e joga para os opositores a ideia e prática do ódio. E quem tem o ódio como resposta, sem dúvida, perde o controle sobre as próprias emoções e desejos, tornando-se irracional.
A filosofia do ódio surge como uma resposta equivocada a essa estratégia de dominadores dos espíritos fracos(4). Aqueles que se deixam consumir pelo ódio tentam eliminar o objeto de seu ódio, para recuperar o controle sobre suas próprias emoções. Esta abordagem é um erro, uma vez que o ódio perpetua o ciclo de negatividade e impede uma resolução construtiva de conflitos.
Intolerância
A intolerância é outra consequência da obnubilação das forças libidinais. Quando as pessoas se sentem ameaçadas por desejos ou opiniões que divergem das suas, ocorre a intolerância aos divergentes. Por exemplo, sulistas, no Brasil, como forma de proteger sua própria identidade e moral , faz discursos contra nordestinos. Desse modo, a discriminação, perseguição e até mesmo violência contra grupos ou indivíduos torna-se “natural”.
A intolerância não é somente social ou religiosa, ela manifesta-se através de qualquer diferença entre “tribos”. A filosofia de ódio alimenta a intolerância pelos mais diversos canais de comunicação, as redes sociais e plataformas digitais são um éden. A hostilidade em relação a um grupo específico leva à desumanização e à justificação de ações perversas. No entanto, a intolerância não resolve os conflitos subjacentes associados às forças libidinais e pode acirrá-los.
Um casal que espanca uma babá, por ela ser babá, no Amazonas, choca as pessoas num átimo. Por outro lado, cai no esquecimento em cinco minutos, se bem que muitos nem devem saber do que se trata. Desse modo, a normalização e a teoria do cancelamento são a válvula de escape para reforçarem a intolerância. Indiscutivelmente, as redes sociais perpetuam a divisão e a alienação, tornando ainda mais difícil encontrar convergência e civilidade.
Preconceito
O preconceito é outra manifestação prejudicial para qualquer avanço civilizatório que deveríamos experimentar. A princípio, Freud identificou estes comportamentos anômalos e preconizou que não teríamos nenhuma evolução. O preconceito manifesta-se através de estereótipos negativos sobre indivíduos ou grupos com base em raça, gênero, orientação sexual ou religião. Esses preconceitos são frequentes pela ignorância, pelo medo e pela insegurança do indivíduo, que se esconde entre os “iguais”.
O preconceito surge porque os indivíduos adotam essa postura para seu ódio por meio de estereótipos negativos e generalizações injustas. Assim sendo, cria-se um ciclo de discriminação e marginalização que prejudica não apenas os grupos alvos, mas toda a sociedade.
Poder
O debate entre a filosofia do ódio e as forças libidinais é um desafio complexo e ambíguo. De um lado, tiranos usam das forças para unir os seus iguais do outro, opositores não conseguem nem identificar o inimigo. Desse modo, déspotas difundem mentiras e falácias, de forma que seus opositores fiquem dispersos e com alvos de ódio diferentes. Essa estratégia afeta mortalmente as vítimas de ódio, preconceito e intolerância.
Por isso, não apenas os indivíduos envolvidos entre os lados, mas também a sociedade como um todo sofre os efeitos indesejados. É necessário reconhecer que a hostilidade e a intolerância não resolvem nenhum problema em qualquer conflito. Entretanto, os manipuladores no comando, tiranos, líderes de seitas e até autoridades, continuam a ter o poder(4).
Perdemos !
Destarte, é fundamental buscar abordagens mais construtivas para lidar com essas questões. Isso pode incluir a educação e o diálogo aberto para promover a compreensão mútua e a empatia, coisa inexistente nas redes sociais. Além disso, as pessoas devem aprender a lidar de maneira saudável com seus desejos e emoções. Debater sempre, sobre ideias e coisas, é possível e poderia reduzir a necessidade de recorrer ao ódio e à intolerância.
Enfim, o entendimento e racionalidade das pessoas exige uma abordagem de crescimento pessoal, com aceitação da diversidade e o respeito mútuo. A filosofia do ódio apenas perpetua o ciclo de destruição e alienação que estamos vivenciando. Enquanto isso, a busca por soluções cooperativas se perde na comunicação veloz e rasteira da atualidade.
Em suma, a sociedade mais inclusiva e harmoniosa que temos como utopia só surgirá com um novo modelo e mudança de comportamento nas redes sociais.
MH Vorse escreveu: “… a filosofia de ódio é inimiga da democracia …”; estamos dentro de uma democracia sob domínio da hipocrisia e ódio explícito. Perdemos !
(1) “Entre sem bater – Baruch de Spinoza – Ações Humanas”
(2) “´Ódio – Um sentimento mesquinho”
(3) “Entre sem bater – Emiliano Zapata – Rebanho de Escravos”
(4) “Entre sem bater – Giordano Bruno – Espíritos Fracos”
(5) “Entre sem bater – Alfredo Yabrán – Ter o Poder”
Imagem: Entre sem bater – Mary Heaton Vorse – Filosofia de Ódio
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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