Entre sem bater - Eurípedes- O Outro Lado

Entre sem bater – Eurípedes – O Outro Lado

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Filósofos e pensadores antigos, como Eurípedes, teriam dificuldades, certamente, com a ideia de ouvir o “Outro Lado” para formar opinião.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Eurípedes

Eurípedes era um filósofo que teve trabalhos interessantes e frases que se aplicam, atualmente, nas redes sociais e na vida.

Vejamos, por exemplo, algumas delas:

Esperteza não é sabedoria. E não ter pensamentos mortais é ver poucos dias.

Fale com bom senso com um tolo e ele te chamará de tolo.

O tempo explicará tudo. Ele é um falador e não precisa de questionamento antes de falar.

Um começo ruim gera um final ruim.

A característica mais valiosa do homem é um senso criterioso daquilo em que não acreditar.

Fonte: Wikiquote (Inglês)

Algumas destas frases vemos através de algumas pessoas como paráfrases ou aforismos e nem nos damos conta da importância delas. Estes pensamentos aplicam-se à maioria de nossas vidas e nossas intervenções nas redes sociais e no cotidiano.

Eurípides, em grego: Εὐριπίδης viveu entre 480 a.C. a 406 a.C. Foi um dramaturgo grego, da Atenas clássica. Junto a Ésquilo e Sófocles, ele é um dos três trágicos gregos antigos com muitas peças que sobreviveram na íntegra. Alguns estudiosos antigos atribuíram-lhe a autoria de noventa e cinco peças. Destas, dezoito ou dezenove resistiram mais ou menos completas. Existem muitos fragmentos ( alguns substanciais) da maioria de suas outras peças de tragédias. Suas peças que sobreviveram intactas eram em maior quantidade do que as de Ésquilo e Sófocles juntos, em parte porque sua popularidade cresceu à medida que a deles declinou. Eurípedes tornou-se, na Era Helenística, uma pedra angular da educação literária antiga, junto com HomeroDemóstenes Menandro.

Fonte: Wikipedia (Inglês)

O outro lado

Em primeiro lugar, fico pensando como seriam as tretas entre filósofos antigos, como Eurípedes e Sófocles. Imaginem, por exemplo, um grupo de Whatsapp com Eurípedes e Sófocles. De um lado, Eurípedes defendendo a ideia de “ouvir o outro lado“, para julgar. Do lado contrário Sófocles dizendo que “… desenho os homens como eles devem ser, desenho Eurípedes como eles são…”.

Nesse ínterim, “cairiam pra dentro” Ésquilo, Homero e outros, com o admin bloqueando algum deles; já imaginaram?

Voltando ao mundo real, os tempos modernos indicam que as pessoas estão trocando o “ouvir o outro lado” pelo “já tenho opinião formada“… E, como se não bastasse, as pessoas preferem até mesmo uma opinião de segunda mão(1) do que o relato de fatos.

A dificuldade da escuta ativa na era digital e certamente a opinião formada, leva a julgamentos, preconceitos e polarização sem limites.

Mundo Moderno

Atualmente, a ascensão das redes sociais, cria problemas graves, um dos principais é a dificuldade das pessoas em ouvir o outro lado. Desse modo, estas pessoas se posicionam fazendo escolhas com julgamentos, sem dar espaço para a ponderação e o diálogo. Essa falta de escuta ativa, conforme Eurípedes preconizou, mina a capacidade de entendimento, aprendizagem e evolução.

A revolução digital e a onipresença da Internet abriram caminho para uma enxurrada avassaladora de informações não confiáveis. Embora isso seja potencialmente bom – o acesso a uma riqueza de perspectivas – paradoxalmente dificulta o avanço coletivo. Esta condição contribui para o avanço e crescimento de bolhas de informação e a polarização.

As redes sociais, que deveriam ser plataformas de interação e debate, muitas vezes se tornam câmaras de eco de opiniões e não de fatos. Desse modo, “outro lado” sofre o descarte ou o ataque, de maneira a não ter nem oportunidade de defesa e o contraditório.

Falha de Comunicação

Uma das razões para essa falta de escuta ativa e responsiva é a velocidade da comunicação digital. Mensagens curtas, como tuítes e posts com imagens e pouco texto, não deixam espaço para a reflexão.

Assim sendo, respostas imediatas e passionais tornaram-se a norma, levando a compreensão precária de qualquer conteúdo. Quando as pessoas respondem rapidamente, é difícil dar ouvidos aos argumentos do outro lado e entender suas perspectivas.

Falhas de comunicação são, na maioria dos casos, piores do que o silêncio.

Como se não bastasse, os apps têm algoritmos que mostram um conteúdo que se alinha com as crenças e mitos de cada usuário. Por isso, criam-se bolhas em que as pessoas recebem somente opiniões semelhantes às suas. Desta forma, consolida-se a mentalidade do “nós contra eles“, onde o “outro lado” é o nosso “inimigo”.

Com toda a certeza, em vez de um interlocutor com potencial para o diálogo construtivo, o “inimigo” será sempre alvo da destruição.

A polarização agrava-se com a tendência de rotular e estereotipar aqueles que têm opiniões diferentes. Em vez de abordar as ideias de alguém com curiosidade e empatia, cria-se rótulos, com base em estereótipos simplistas e preconceituosos. Por isso, a compreensão mútua e a possibilidade de encontrar áreas de concordância ou convergência são escassas.

Psicologia Humana

As redes sociais, sem dúvida, dão a ilusão de que as pessoas estão ouvindo o outro lado em todos os debates, lives e posts. Contudo, na verdade, as pessoas prestam atenção somente ao que é conveniente, e revelam sua hipocrisia.

As bolhas de filtro permitem que ignoremos opiniões divergentes, e as discussões se tornam, frequentemente, debates estéreis. Como se não bastasse, as pessoas preferem falar sobre as outras pessoas , ao invés de falar sobre ideias e coisas.

A arte da escuta ativa, da atenção genuína aos argumentos, vai para o sacrifício, em prol de nossas próprias crenças.

Inquestionavelmente, o contexto político e social também desempenha um papel importante na dificuldade de ouvir o outro lado. Em muitos países, como no Brasil, EUA e outros, a polarização política atingiu níveis alarmantes. Assim sendo, as pessoas se identificam cada vez mais com grupos extremos e se afastam de debates. Por isso, cria-se um ambiente em que o diálogo inexiste, onde as diferenças têm realce, e discordar torna-se uma traição.

A psicologia humana exerce um papel crucial na relutância em ouvir o outro lado e iniciar qualquer debate. Tendemos a buscar informações que confirmem nossas crenças preexistentes, é o fenômeno do viés de confirmação. Quando aparecem as opiniões contrárias, as reações são de resistência, em vez de abertura mental para o diferente.

Desta forma, a superação das barreiras e a construção de pontes entre diferentes pensamentos não evolui. As pessoas experimentam o que teve a denominação de “Século do Ego“, de forma inconsciente ou de manipulação.

 Caminhos impossíveis

Assim sendo, é possível superar essa dificuldade de ouvir o outro lado e evitar julgamentos preconceituosos e cheios de dogmas?

Em primeiro lugar, é essencial cultivar a habilidade de escutar com atenção e a reflexão sobre o que escutamos. Isso envolve dar atenção genuína ao que o outro está dizendo, sem interrupções, pré julgamentos ou a pressa de responder.

É preciso ter disposição para fazer perguntas e entender melhor a perspectiva do outro, com real interesse e atenção.

Além disso, devemos aceitar a diversidade de opiniões como uma coisa positiva, e não uma deficiência ou dificuldade. A pluralidade de perspectivas enriquece o debate público e pode levar a soluções factíveis para os problemas.

Em vez de ver o “outro lado” como inimigo, devemos vê-lo como um parceiro potencial na busca por soluções.

As plataformas e redes sociais deveriam ter um papel na promoção do diálogo, do debate e da capacitação e evolução. Entretanto, devemos observar que os algoritmos tendenciosos merecem atenção e crítica de todos os usuários. Fiscalizações e ajustes nos algoritmos, para expor uma variedade de opiniões e perspectivas, com equilíbrio, é essencial. Além disso, as plataformas deveriam investir em educação digital para qualificar as pessoas a um uso responsável e construtivo nas redes sociais.

A educação e cultura da tolerância são fundamentais na evolução do pensamento crítico após a escuta positiva. As instituições de ensino, desde a educação básica, deveriam incorporar o debate sobre diálogos construtivos e filosofia em seus currículos. Os educadores deveriam incluir debates para combater o viés de confirmação e comportamentos de cancelamento. Dar a capacidade para as pessoas avaliarem criticamente as fontes de informação é essencial.

Polarização sem outro lado

Em suma, a dificuldade de ouvir, os julgamentos, preconceitos e a intolerância nas redes sociais são as principais barreiras a vencer. É provável que o diálogo e o debate, essenciais para uma sociedade saudável, nunca se instalem. Eurípedes disse, “… em caso de dissensão… “, vivemos o tempo todo na dissensão e na discórdia, e os julgamentos e preconceitos imperam.

Por isso, a necessidade(2) é de construir pontes em vez de muros e barreiras, para buscar a compreensão e não o conflito.

Um texto simples como este, que exige dedicação e leitura de poucos minutos e levaria a boas reflexões, não atrai muitas pessoas. E, como se não bastasse, ainda encontra barreiras naqueles que julgam logo após lerem a introdução ou as primeiras frases.

Definitivamente, estamos na era da superexposição de informações e da baixíssima qualidade de absorção do conhecimento. A desvalorização da inteligência das pessoas(3) é pública e notória, e cada vez mais real.

Perdemos !

 

(1) “Entre sem bater – Mark Twain – Segunda Mão

(2) “Entre sem bater – Ésquilo – A Necessidade

(3) “Entre sem bater – Fernanda Young – Inteligência das Pessoas

 

Imagem: Entre sem bater – Eurípedes – O Outro Lado

Nota do Autor

Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.

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