Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Certamente, o professor Renato Janine Ribeiro prefere comemorar mais do que uma “Vitória Relativa“, eu prefiro ficar alerta.
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Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Renato Janine Ribeiro
O professor Renato Janine tem currículo e atividades que o qualificam para atuar e falar em vários segmentos na sociedade. É provável que sua comemoração, dizendo sobre a vitória relativa, faça sentido para muitas pessoas. Entretanto, em alguns temas, como em relação a pandemia, que suscitou a comemoração dele, creio que os efeitos ainda perduram.
Renato Janine Ribeiro (Araçatuba, 9 de dezembro de 1949) é um professor de filosofia, cientista político, escritor e colunista brasileiro. Foi ministro da Educação do Brasil, entre abril e setembro de 2015. Eleito presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência em junho de 2021. É Professor-titular da cadeira de Ética e Filosofia política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura em 2001, graças à obra “A Sociedade Contra o Social” (Editora Companhia das Letras). Foi condecorado com a Ordem Nacional do Mérito Científico, em 1998, e com a Ordem de Rio Branco, em 2009. Atualmente trabalha como colunista do jornal Valor Econômico.
Fonte: Wikipedia (Português)
Vitória Relativa
Em primeiro lugar, vivemos de vitória relativa em vitória relativa, como migalhas que os comensais das oligarquias nos dão a cada dia. Chamei, anteriormente, numa generalização com fundamento, de vitórias de Pirro(1). O brasileiro criou (ou teve gurus proselitistas o induzindo) o péssimo hábito de “comemorar” até uma liminar no Judiciário. Em outras palavras, direto e reto, o brasileiro comemora avanços numa batalha sendo que vai perder todas as batalhas
O professor Janine Ribeiro escreveu um livro sobre o tema onde fundamenta sua ideia de vitória relativa nas ideias filosóficas de Rousseau e Karl Marx. Certamente, ao pegar as ideias sobre compaixão e ética, o professor devia estar com a cabeça num mundo utópico, não no Brasil.
Vitória de Pirro
A ideia do professor Janine adquire visões singulares quando o debate é sobre a vacinação durante uma pandemia e suas decorrências. A vitória relativa daqueles que defendem a vacinação diante dos “contrários” lembra a famosa expressão “vitória de Pirro”. Desse modo, assim como a batalha da vacinação, durante a pandemia, foi apenas uma batalha, travamos muitas outras.
Vacinação
Vacinas e coberturas vacinais são muito mais amplas do que foi o tema durante a pandemia. A vitória relativa a que se refere o professor foi uma derrota para outras campanhas e a cobertura vacinal no país. Surpreendentemente, os índices de cobertura estão em queda e até falsificação de cartão de vacina virou “moda”.
A sabedoria, entendida como a capacidade de tomar decisões sensatas e prudentes, era para ter um papel crucial no debate da vacinação. Sem dúvida, os que defendem a vacinação e confiam na comunidade científica e seguem as orientações dos especialistas em saúde pública. Desse modo, é possível entender que a vacinação é uma das ferramentas mais eficazes para conter a propagação do vírus e outras ameaças. Por outro lado, os que são contrários, baseiam suas decisões em informações imprecisas, crendices e teorias conspiratórias. Assim sendo, revelam uma ignorância e falta de humanidade na avaliação das evidências científicas.
Ciência
O conhecimento que tem como base a teoria e a prática, nos habilitam para discernir informações confiáveis das falsas. A vitória relativa sobre aqueles que não apoiaram a vacinação não convenceu a todos e a cobertura vacinal, só diminui, inclusive da COVID-19. Como se não bastasse, os opositores não sucumbiram e continuam propagando informações enganosas. Deste modo, em um ambiente digital de desinformação plena, a vitória relativa apresenta-se como uma enorme derrota da ciência.
Inquestionavelmente, os que apoiam todas as campanhas de vacinação praticam a ética solidária. Esta atitude, com efeito, permite que sua decisão de se vacinar não afetaria apenas sua própria saúde, mas também a saúde coletiva. Eles compreenderam a responsabilidade moral de proteger as pessoas mais vulneráveis e contribuir para a imunidade do rebanho. Os opositores hedonistas(2) colocam, sempre, seus interesses pessoais à frente do bem comum. Assim sendo, confrontam a ética por trás das vacinas e recusam-se a colaborar na luta contra a pandemia e outras doenças.
Guerras e Batalhas
A princípio, é possível considerar a questão da vacinação ampla como uma guerra sem fim, feita de batalhas. A Poliomielite foi uma guerra que teve bem próximo de um desfecho, assim como o Sarampo. Surpreendentemente, a doença está retornando em alguns países, inclusive no Brasil – neste caso, ainda não tem a classificação de epidemia.
A ciência e a tecnologia desempenham papéis cruciais na vitória relativa aos defensores da vacinação e contra os negacionistas(3). A rápida pesquisa e desenvolvimento de vacinas eficazes contra a COVID-19 revelaram o poder da ciência e da inovação. Aqueles que confiaram na ciência reconheceram que as vacinas tiveram bases sólidas e ensaios clínicos rigorosos. Os opositores, por outro lado, ainda desconfiam da ciência por trás das vacinas e subestimam o papel da tecnologia no desenvolvimento humano.
A analogia com a “vitória de Pirro” torna-se evidente quando consideramos o custo humano e social da batalha pela vacinação. Sem dúvida, os defensores da vacinação conquistaram uma vitória relativa ao controlar a pandemia, mas o preço foi alto. Milhões de vidas se foram pela hesitação, má-fé, malversação, desídia e pela recusa em se vacinar.
A polarização social e política em torno da vacinação também deixou cicatrizes profundas na sociedade, uma espécie de derrota moral.
Polarização
A derrota moral e ética, assim como o hedonismo dos negacionistas supera qualquer ganho de qualquer vitória relativa neste e em outros assuntos. Os detratores das vacinas estão em todos os segmentos e não abandonaram suas campanhas insanas e criminosas.
Além disso, a vitória relativa daqueles que apoiaram a vacinação não é completa e está muito longe de ser a vitória numa batalha. Ainda persistem desafios, como a desigualdade no acesso às vacinas em todo o mundo e a resistência contínua de certos grupos à imunização. Esses desafios lembram que, mesmo nas vitórias parciais e relativas, existe a necessidade de continuar a lutar por ética e solidariedade.
Os déspotas de plantão, como se não bastasse falsificar cartões de vacina e dar declarações falsas nas redes sociais, estão na ativa. Uma outra doença, o HPV, que eleva a proteção através de vacinação, teve sua cobertura vacinal com alta redução nos últimos anos. Deputadas do estado de São Paulo propuseram um projeto, que teve aprovação no Legislativo paulista, nesse sentido. Surpreendentemente, o governador daquele estado, seguindo dogmas partidários e de seus correligionários religiosos, vetou na íntegra.
Estamos perdendo de 7 a 1
Enquanto a sociedade não entender tudo que diz respeito a ela, nenhuma vitória será real e nem ao menos relativa.
A frase do professor Renato Janine ilustra a batalha da vacinação durante uma pandemia de forma notável.
Contudo, a vitória relativa a que ele se refere não passou de uma “vitória de Pirro”, pelo alto custo humano e social que persiste.
No entanto, essa analogia também nos lembra que, mesmo nas vitórias relativas, pode haver espaço para melhorias no pensamento da sociedade.
Enfim, chamar todos à reflexão sobre como podemos aprender com cada experiência e fortalecer nossa resposta às futuras ações de déspotas. Naquele momento, foi prudente o professor a dizer sobre a vitória relativa. Contudo, um dos preços que estamos pagando tem relação com a ideia de que comemoramos muito vitórias relativas, vitórias de Pirro, liminares etc. Passou da hora de a sociedade civil se organizar e aproveitar os poucos espaços que conquistou recentemente.
O risco de retrocesso é iminente e grave, decisões do Judiciário para crimes com tipificação inequívoca não devem ter comemoração.
(1) “Pirro e as vitórias contemporâneas”
(2) “A geração do hedonismo oco”
(3) “Negacionismo – A maldição dos milênios”
Imagem: Entre sem bater – Renato Janine Ribeiro – Vitória Relativa
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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