Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. É provável que seja muito difícil, para profissionais da mídia, não fazerem algum “Barulho“, Magaly Reinaldo sabe disso.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Magaly Reinaldo
A jornalista Magaly Reinaldo, a Meg, também poetisa, consegue expressar através de suas frases o que muitos desejam dizer. Desse modo, uma de suas frases que mais me diz respeito é sobre o silêncio e o barulho. Uma frase simples, mas que ganha contornos relevantes em função de contextos peculiares.
Magaly Pereira Reinaldo (Magaly Reinaldo) nasceu em 22 de setembro de 1960 em Belo Horizonte, Minas Gerais. Escritora, jornalista, assessora de imprensa, atua como comunicadora da rádio Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Formada em Magistério/Jornalismo pela UFMG, teve os primeiros contatos com universo literário entre os 16 e 18 anos. Recebeu premiações em concursos de poesia e slogan. Escreve textos, frequentemente, em colunas literárias de publicações impressas e mídias digitais. Aos 21 anos lançou o livro “Também” de crônicas e poesias, em coautoria com 3 escritores. Nos anos seguintes teve inúmeras participações em antologias poéticas. Desde o avanço das redes sociais, faz a divulgação de suas poesias, crônicas, frases e textos nestes canais de comunicação. Atuou em várias atividades voluntárias de cunho humanitário. Foi professora de educação infantil, de ensino fundamental e médio. Como jornalista, sempre atuou em rádio com redação, edição e eventualmente com locução.
Fonte: Magaly Reinaldo
Meu Barulho
Em primeiro lugar, cabe um esclarecimento sobre alguns pensamentos e a proposta desta trilha ( Entre sem bater) deste Blog. Alguns pensamentos, ideias e frases são uma espécie de biográficos, passam mensagens que eu tomo por “empréstimo”. Assim sendo, esta frase sobre silêncio e, especialmente sobre o barulho de cada um de nós é quase um lema para mim.
Certamente, os neófitos interpretam a frase literalmente, como a acepção inicial de um dicionário. Ah!, dirão, barulho é aquele som alto que incomoda, o que consiste num grande equívoco. Desta forma, para esta abordagem e pensamento, barulho é tudo aquilo que se contrapõe ao nosso silêncio em determinado tema.
Por exemplo, num grupo de rede social, daqueles que os “donos” só gostam de conversas no nível deles, qualquer desvio é barulho. Por outro lado, neste mesmo grupo, o silêncio diante de algumas polêmicas pode incomodar e suscitar provocações, algumas baratas e pueris.
Enfim, silêncio e barulho, no mundo moderno das redes sociais, podem significar presença ou ausência de conteúdo. Atenção, incautos, mimimi, brincadeiras etc. não é conteúdo, pelo menos para quem sabe pensar. Este povo, via de regra, pensa que é um pouco mais(1) do que realmente são.
Excesso de ruído
Desde que explodiram as redes sociais, houve uma revolução nas comunicações e na forma como interagimos com o mundo ao nosso redor. Assim sendo, os conceitos de comunicação clara e ruídos, entre emissor e receptor, sofreram modificações profundas.
Essa revolução, contudo, não veio sem as suas consequências, e uma delas é o excesso de barulho que permeia essas plataformas.
Muitas pessoas se notabilizaram não pela qualidade do conteúdo que produzem, mas sim pela estridência de suas vozes virtuais.
Quando optamos pelo silêncio ou pela moderação, sofremos nas mãos daqueles que “gritam” mais alto. Por isso, questões importantes sobre como a comunicação nas redes sociais e sobre um conteúdo real fica mais obscuro. Por exemplo, uma fake news tem mais impulsionamento do que uma notícia real do mesmo tema. Como se não bastasse, para desmentir ou fazer uma verificação, consome-se recursos que não resultam em nenhum avanço em qualquer conteúdo.
Em suma, o excesso de ruído, com baixíssimo conteúdo, chega a muito mais pessoas pela forma, o que é um retrocesso.
Redes Sociais
As redes sociais, como por exemplo o Twitter, Whatsapp etc. tiveram concepção para serem uma ferramenta de conectar pessoas e suas ideias. Desse modo, compartilhar informações relevantes e promover o diálogo construtivo deveria ser o objetivo principal. Outras plataformas, especializaram-se e deveriam observar suas especificidades, #SQN. O caso da plataforma LinkedIn então é muito peculiar pois, para ganhar audiência, resolveu adotar o barulho da política.
No entanto, ao longo dos anos, testemunhamos uma transformação preocupante, onde a atenção se desviou do conteúdo para a forma. A era da informação rápida e imediatista trouxe consigo a cultura do clickbait(*), do sensacionalismo e da polarização.
Nesse cenário, a quantidade de seguidores e curtidas é mais importante do que a qualidade do conteúdo que está sendo compartilhado.
O resultado é, sem dúvida, uma cacofonia de vozes que competem freneticamente pela atenção de milhões de pessoas sem rumo.
O silêncio, muitas vezes, sofre derrotas monumentais para o estrondo ensurdecedor do conteúdo superficial e efêmero.
Enfim, questões importantes, que merecem reflexão e debate, perdem espaço para memes e brincadeiras estúpidas. E, como se não bastasse, com a complacência dos “donos” dos espaços virtuais.
Divergentes
Nesse ínterim, quando alguém opta por ser um dissidente desse cenário ruidoso, sofre com as falácias, por ser um divergente.
Aqueles que “gritam” mais alto, muitas vezes, não desejam ouvir vozes discordantes e nem conseguem trabalhar com ideias opostas(2). O espaço para o diálogo construtivo tem limites crescentes, à medida que aumentam as polarizações. Em vez de encorajar a diversidade de opiniões, as redes sociais muitas vezes promovem a intolerância e a prática do cancelamento dos dissidentes.
Além disso, os algoritmos por trás das redes sociais favorecem o conteúdo sensacionalista e a convergência só para os iguais. Assim sendo, amplifica-se ainda mais o ruído, em detrimento do conteúdo informativo e do debate.
Por isso, aumenta o círculo vicioso em que quanto mais barulho, maior é a recompensa, enquanto o silêncio e a reflexão ficam na marginalidade. Marginalidade que, na maioria dos casos, aparece nas falácias como a “argumentum ad hominem”.
Ad Hominem
Uma das maneiras pelas quais aqueles que “gritam” mais alto silenciam vozes dissidentes é através de ataques pessoais e de difamação. Em vez de debater ideias e argumentos, muitas pessoas optam por desacreditar seus oponentes, recorrendo a insultos e calúnias. Isso cria um ambiente tóxico em que a retórica e narrativas prevalecem sobre o julgamento lógico e racional de qualquer tema.
Além disso, a vigilância policialesca nos torna vulneráveis à intimidação, aos conchavos, conspirações e à pressão social. Aqueles que expressam suas opiniões ou fazem questionamentos divergentes enfrentam retaliações e ataques pessoais cruéis pelos opositores.
Isso cria, nos grupos e plataformas, um ambiente de autocensura, onde as pessoas têm medo de falar a verdade por medo de represálias. E, desse modo, surgem personagens como os capatazes do mundo digital(3).
Meu Silêncio
É importante considerar, sobretudo, que o silêncio não é necessariamente um sinal de fraqueza ou falta de conteúdo. Muitas vezes, é o resultado da escolha deliberada de não se envolver no caos e na polarização que caracteriza as redes sociais. O silêncio pode ser uma forma de resistência, uma declaração de que não sucumbiremos ao frenesi da multidão.
Por outro lado, as redes sociais vêm privando-se da presença de pessoas que as abandonam, por não aguentarem contrapor ao barulho. Não devemos confundir o silêncio de muitos, que abandonam as redes, com o silêncio obsequioso de hordas que buscam a aceitação.
O meu silêncio, não é, inquestionavelmente, em nenhum momento, obsequioso ou condescendente. Em outras palavras, não abandono o barco e se fico em silêncio, é para não fazer nenhum barulho para ouvidos moucos.
Entretanto, devemos considerar a importância de fazer nosso próprio barulho, quando necessário, ao nosso modo. Desta forma, prevalece a frase da Meg, como um aviso aos incautos que não possuem conteúdo para fazer frente ao nosso barulho.
O silêncio perpétuo não é uma solução para os problemas das redes sociais, por isso, respeitem nosso silêncio temporário. Certamente, defendemos a elevação do conteúdo de qualidade, promover o diálogo construtivo e resistir à cultura do barulho rasteiro e pueril.
Pedras no caminho
É provável que buscar alianças com pessoas que compartilham valores semelhantes seja muito mais difícil do que o ideal. A possibilidade de trabalharmos juntos para amplificar vozes autênticas e importantes deveria ser um ponto para reflexão de cada um.
O ditado de que “a união faz a força” pode resultar em coisas positivas, em meio a este tsunami de hedonistas ocos(4). Sem dúvida, quando várias vozes se unem em torno de um objetivo comum, podem causar um impacto relevante.
Também é importante, com toda a certeza, educar as pessoas sobre a importância de discernir entre o conteúdo de qualidade e o sensacionalismo. Promover a alfabetização midiática e o pensamento crítico ajudam na capacidade das pessoas para fazer escolhas com fundamentação.
Barulho vs. Silêncio
Por fim, as próprias plataformas de redes sociais têm um papel fundamental para tentar equilibrar o barulho e o silêncio.
Os algoritmos que, atualmente, favorecem o sensacionalismo e a polarização precisam de revisão e monitoramento. Além disso, as empresas de redes sociais e plataformas devem se posicionar contra o assédio online e a difamação. Desse modo, criarão um ambiente mais seguro e honesto para vozes dissidentes, debates profícuos e o fim da escravidão mental.
Vivemos num excesso de barulho que sufoca, sem dúvida, conteúdos verdadeiros, opiniões originais e o diálogo construtivo.
O silêncio, sofre com o desrespeito e a intolerância, por parte de mentes fracas que se julgam inteligentes somente pela destreza com um smartphone. A marginalização de opiniões com fundamentação, em favor da retórica, das narrativas e do sensacionalismo está em vantagem. No entanto, é importante lembrar que o silêncio não é necessariamente uma limitação, mas sim uma escolha consciente, ante o caos das redes sociais.
Comunicação em vertigem
Enfim, deve ser possível o equilíbrio entre o silêncio e a expressão de opiniões, resistindo à cultura do barulho superficial. Isso requer, sem dúvida, um esforço tanto dos usuários quanto das próprias plataformas de redes sociais. Só assim poderemos restaurar a qualidade na comunicação e garantir que vez e voz para todos.
A frase de uma profissional da comunicação como a Meg é merecedora de uma reflexão de todos, em silêncio. Que não nos ataquem em nosso silêncio pois podemos fazer muito barulho, a despeito dos conspiradores e “bloqueadores” das redes sociais. Comportamentos de cancelamento só atendem à ignorância e imbecilidade humana, que, eventualmente, produzem influencers e afins.
A resistência deve começar nos respeitarem; a guerra verdadeira ainda nem começou, não mexam como nosso barulho e nem nosso silêncio. Meg, parabéns e #TMJ !
P. S.
(*) Clickbait é, em suma, o nome da enganação no mundo moderno das mídias digitais. É a busca por cliques para “conteúdos” de carácter sensacionalista, polémico ou chamativo. Possui, como principal objetivo, atrair a atenção, a partir de uma manchete vazia e especulativa, e levar quem lê a abrir um link.
(1) “Entre sem bater – Cecília Meireles – Um Pouco Mais”
(2) “Entre sem bater – Scott Fitzgerald – Ideias Opostas”
(3) “As redes sociais e o capataz digital”
(4) “A geração do hedonismo oco”
Imagem: Entre sem bater – Magaly Reinaldo – Meu Barulho
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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