Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Lília Schwarcz tem qualificação excepcional para dissertar sobre o que é ser “Conservador“, entretanto, suas frases não podem ficar soltas.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Lilia Schwarcz
A melhor frase que conheço de Lília Schwarcz é: “… a minha geração falhou !“. Desse modo, assim como a minha frase favorita, existem muitas outras que têm aplicação em diversas situações. Contudo, é muito pouco recomendável o uso de algumas delas em contextos gerais ou inespecíficos. Destarte, é mais do que necessário, a abertura para o debate, com todas as suas perspectivas, acima de tudo e de todos.
Lilia Katri Moritz Schwarcz é uma historiadora e antropóloga brasileira. É doutora em antropologia social pela Universidade de São Paulo, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da mesma instituição. É também professora visitante (Global Scholar) da Universidade de Princeton. Suas principais áreas de estudo são a antropologia e a história do Brasil do século XIX, com foco no Império Brasileiro, identidade social, escravidão e relações raciais entre povos brancos e afrodescendentes. É cofundadora da editora Companhia das Letras. É curadora do Museu Arte de São Paulo.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
País Conservador
O termo “conservador” no contexto político refere-se a uma ideologia que valoriza as tradições, instituições e valores culturais existentes numa sociedade. Um país conservador, do ponto de vista político, é uma generalização a partir da maioria que defende e pratica esta ideologia. Desse modo, em tempos de redes sociais pueris e rasteiras, quem grita mais alto ou rosna com mais compartilhamentos, torna-se “maioria”. Entretanto, isso não significa que a maioria da população apoie políticas e abordagens do conservadorismo.
Assim sendo, as redes sociais e a mídia criaram um desequilíbrio nas mudanças significativas das estruturas políticas, sociais e econômicas. Em outras palavras, muitas pessoas atribuem a pecha de país conservador pelo barulho(1) das redes sociais e não pelas concepções da maioria.
Desta forma, a frase de Lília Schwarcz surge como uma apropriação indevida para uma generalização que agrada a poucos, como uma verdade.
Frases
Excepcionalmente, este texto traz outras frases de Lília Schwarcz, que considero bastante representativas de nossa situação atual.
Embora não seja tão famosa por frases ou pensamentos específicos, como outros filósofos ou escritores, ela conhece muito a sociedade brasileira. A seguir, algumas ideias e pensamentos, com base em seu trabalho e suas entrevistas, que merecem destaque:
“A história do Brasil é intrinsecamente ligada à sua diversidade étnica e cultural, e é essa diversidade que torna o país tão rico e complexo.”
“O estudo da cultura afro-brasileira é essencial para compreender a identidade do Brasil, pois a influência africana está profundamente enraizada em nossa sociedade e cultura.”
“A história do Brasil é uma história de encontros e desencontros, de diferentes grupos étnicos e culturais que se entrelaçaram ao longo dos séculos.”
“A questão racial é uma das questões mais urgentes e complexas do Brasil, e é fundamental abordá-la com sensibilidade e empatia.”
“A busca por uma identidade nacional no Brasil é um desafio constante, pois somos um país de muitas vozes e perspectivas.”
“A história do Brasil não pode ser contada apenas a partir da perspectiva eurocêntrica; é preciso incluir as vozes e experiências das populações indígenas e afrodescendentes.”
“A cultura brasileira é uma mistura de influências de todo o mundo, e essa diversidade cultural é o que nos torna únicos.”
“A história não é apenas uma narrativa de eventos passados, mas também uma ferramenta poderosa para entender o presente e moldar o futuro.”
Essas frases e pensamentos refletem as preocupações e interesses acadêmicos de Lilia Schwarcz. Desse modo, suas obras e entrevistas oferecem uma visão riquíssima de suas ideias para a compreensão do Brasil contemporâneo. Assim sendo, justifica-se a frase-chave em qualquer debate sobre o estrago feito pelo governo federal e em curso em alguns estados e cidades.
Conjuntura
A frase da antropóloga foi uma resposta a uma pergunta específica, numa entrevista altamente didática, com nenhuma repercussão midiática. Contudo, a mesma pergunta poderia ter uma sequência se tivesse base comparativa com outras culturas e tradições.
A pergunta(2):
Bolsonaro extinguiu o Ministério da Cultura pouco depois de assumir e costuma criticar a Lei Rouanet. Por que a cultura é alvo de tantos ataques?
A resposta, que teve finalização com a frase-chave deste texto, é lapidar, para o caso. Deste modo, encerra qualquer perspectiva de falta de entendimento ou tergiversações. Contudo, estes tempos estranhos das redes sociais permitem tudo, desde atribuição imprópria de autoria, aforismos e paráfrases pueris. Como se não bastasse, temos uma profusão de memes e gracinhas que a maioria dos usuários das redes não se preocupa com os efeitos.
Por isso, é necessário darmos aqueles “dois centavos” de contribuição, mas que a total preguiça mental(3) para o debate, às vezes, inibe.
Conservadores em ação
Para o termo conservador ter uma aplicação correta e um debate sadio, é necessário repassarmos alguns pontos.
Características
Um país ou uma pessoa conservadora tem, muitas características, nem todas presentes ao mesmo tempo. Assim sendo, podemos identificar que um país conservador é uma generalização, pelo comportamento de pessoas mais ou menos conservadoras. Portanto, algumas características devem ter destaque, quais sejam:
- Respeito pelas tradições: As pessoas em um país conservador geralmente valorizam e respeitam as tradições culturais, religiosas e sociais. Praticam a resistência às mudanças, radicais ou não, que podem ameaçar essas tradições.
- Ênfase na ordem e estabilidade: Um país conservador tende a priorizar a ordem e a estabilidade social, econômica e política. Outrossim, resistem a qualquer reforma que perturbe a estabilidade de grupos, máfias e congregações.
- Valores familiares e morais: A política em um país conservador sofre influência dos valores familiares, éticos e morais. Existe uma ênfase na proteção da família e de normas éticas específicas, mesmo as mais hipócritas.
- Papel limitado do governo: Os conservadores políticos tendem a apoiar um governo limitado, defendendo a ideia de que o Estado deve intervir o mínimo possível. Para estas pessoas, a vida deles deve ter pouca intervenção, mas a vida daqueles fora de seus grupos deve ter intervenção máxima.
- Conservadorismo cultural: Um país conservador é resistente a mudanças culturais. Novos arranjos familiares, casamento entre pessoas do mesmo sexo e liberdades individuais devem ser a que eles pregam. Enfim, tudo aquilo que ameace os dogmas, crenças, mitos e valores “tradicionais” deve ter eliminação na raiz.
- Nacionalismo e patriotismo: Um país conservador muitas vezes promove o orgulho nacional, o patriotismo e a defesa dos interesses nacionais como ideologia. Por isso, tomam de assalto símbolos, slogans e se apropriam até do ideário fascista para justificar suas práticas.
Pessoas Conservadoras
É notória a perspectiva de que vivemos numa sociedade conservadora, por natureza e pela manipulação de massas. Um influencer com milhões de seguidores, se estiver em flagrante mentira ou crime, terá mais seguidores a acompanhá-lo. Chamam de efeito manada, aquilo que leva as pessoas a seguirem o que a maioria faz, para não serem “diferentes”.
Desse modo, destaco duas frases de pessoas conservadoras, da extrema-direita, que conseguem inebriar muitos seguidores.
- “O Brasil é conservador, reacionário. As pessoas são de esquerda quando estão na oposição. No poder, são todos conservadores.” Cláudio Lembo
- “O povo brasileiro é profundamente conservador. Sobretudo no aspecto social. É maciçamente contra o aborto, o feminismo radical, as quotas raciais, o gayzismo (sic) organizado. No entanto, não há político que fale em nome do povo: estão todos comprometidos com os lobbies bilionários que protegem esses movimentos.” Olavo de Carvalho
Pessoas conservadoras, no contexto político, adotam uma abordagem ideológica de preservação das tradições, valores e instituições existentes, ao seu modo. Eles tendem, com toda a certeza, a impedir as mudanças e a favorecer políticas que mantenham a estabilidade e o status quo.
Reflexão e Ação
Desde que as redes sociais ganharam o acesso de “dedinhos nervosos”, ansiosos por respostas rápidas e imediatistas, nunca mais seremos os mesmos. É provável que se a pequena parcela da população, que pára e reflete antes de agir via teclado, se rebelar, nada mudará significativamente.
O conservadorismo político varia em termos de sua intensidade e posições específicas em diferentes países e culturas. E, desse modo, as redes sociais e grupos não têm imunização, o que prolifera é o conservadorismo individual. Certamente, não existe uma única definição, e é imprópria a generalização do que é conservador, para um indivíduo, cidade ou país. Assim sendo, o estereótipo do conservadorismo, deve merecer uma reflexão e debate com maior qualidade.
Por exemplo, individualmente, posso ser defensor do uso medicinal e recreativo da maconha, pouco importa. Coletivamente, sou a favor de ambos os usos para quem quer que precise ou queira. Entretanto, basta eu defender a criação da Maconhabrás(4), mesmo com ironia, que um monte de idiotas aparece para criticar a minha pessoa. A partir da falácia ad hominem fazem generalizações, as mais absurdas, e amealham seguidores.
Lílian, nós não somente falhamos, parimos hordas de hedonistas(5), enfim, perdemos !
Em suma, essas generalizações são impróprias, e desconsideram perspectivas e ideologias diferentes, que merecem o debate em qualquer espaço. A nossa sociedade, desde a aldeia até a maior das nações, precisa aprender a decifrar símbolos e culturas, ou retrocederemos recursivamente.
(1) “Entre sem bater – Magaly Reinaldo – Meu Barulho”
(2) “Portal Geledés”
(3) “Entre sem bater – Liz Hurley – Preguiça Mental”
(4) “Maconhabrás – A Redenção Tupiniquim”
(5) “A geração do hedonismo oco”
Imagem: Entre sem bater – Lilia Schwarcz – País Conservador
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
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