Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. A “Barbárie” afeta as pessoas de várias formas, certamente, Antonio Muñoz Molina percebeu algumas delas.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Antonio Muñoz Molina
Muñoz Molina deve ter rica experiência quando o tema é barbárie. Inquestionavelmente, suas atividades de jornalista, nos últimos vinte anos, referendam a frase-chave deste texto. Se seus textos atraem atenção em jornais de prestígio na Europa, o conteúdo de seus pensamentos merece uma reflexão. Assim sendo, a contraposição entre bárbaros, civilizados e neutros, tem seu espaço.
Antonio Muñoz Molina (nascido em 10 de janeiro de 1956) é um escritor espanhol que nasceu na localidade de Úbeda , na província de Jaén. Estudou história da arte na Universidade de Granada e jornalismo em Madrid. Ele começou a escrever na década de 1980; seu primeiro livro publicado, “El Robinsón urbano“, uma coletânea de seu trabalho jornalístico, foi publicado em 1984. Suas colunas têm aparecido regularmente no El País e no Die Welt. desde 8 de junho de 1995, membro titular da Real Academia Espanhola. Recebeu o Prémio Planeta de 1991 , o Prémio Jerusalém de 2013. Agraciado com o Prémio Príncipe das Astúrias de literatura de 2013. Muñoz Molina é casado com a escritora e jornalista espanhola Elvira Lindo. Atualmente reside na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos, onde atuou como diretor do Instituto Cervantes de 2004 a 2005.
Fonte: Wikipedia (Espanhol)
A Barbárie
Barbárie tem lugar e vez em muitos lugares no mundo e, de acordo com a frase de Muñoz Molina, sempre quando os bárbaros vencem. Seja na covardia contra os Armênios em Nagorno-Karabakh(1) bem como nas comunidades de Salvador. Com toda a certeza, os bárbaros têm lá seus defensores e aqueles que colocam armas nas mãos destes e desprezam aqueles.
Quando pensamos nos conflitos de cada região na África, pelos mais diferentes motivos, nos deparamos com algum tipo de barbárie. E a humanidade, que se esconde atrás de religiões e políticas econômicas, faz cara de paisagem.
Assim sendo, temos a categoria dos bárbaros e seus senhorios, dos civilizados e vítimas e dos neutros. Pode parecer absurdo, mas, surpreendentemente, uma maioria se faz de neutra, ante os crimes no mundo.
Certamente, a frase-chave nos remete a uma reflexão profunda sobre o estado do mundo e os conflitos atuais em todos os continentes.
Os Neutros
É provável que no planeta não exista a figura dos neutros(2), que de certa forma, estão ao lado dos mais fortes e opressores.
Comecemos pela posição neutra, que representa a imparcialidade e a busca pelo entendimento equilibrado. Os indivíduos que adotam essa posição buscam, aparentemente, soluções pacíficas para os conflitos e defendem a cooperação global.
Com toda a certeza, eles acreditam que a humanidade deve encontrar maneiras de resolver suas diferenças sem recorrer à violência ou à barbárie. É provável que existam neutros e humanistas que entendem ser possível a pacificação sem estar de um lado ou de outro.
Na frase em questão, a neutralidade implica uma crítica à inação ou à complacência daqueles que poderiam impedir o triunfo da barbárie. Contudo, como uma minoria opta por não agir, por diversos motivos, a neutralidade parece que uma capa de proteção egocêntrica..
Os Bárbaros
Surpreendentemente, a posição dos bárbaros, neste contexto, representa aqueles que promovem a violência, o extremismo e a destruição. Contudo, estes que praticam a barbárie podem estar garantindo sua sobrevivência, à serviço de tiranos e déspotas. Desse modo, eles podem ser grupos terroristas, mercenários ou qualquer instância que recorre à violência brutal pelos seus objetivos.
A frase sugere que, embora os bárbaros sejam poderosos, seu triunfo não se deve à sua força bruta, mas a diversos fatores. Estes fatores podem ser, por exemplo, a impossibilidade das vítimas terem as mesmas armas dos bárbaros. Por outro lado, pode ser decorrência da fraqueza moral e psicológica dos que se opõem a eles. Desta forma, a maioria das lutas não consegue romper ou impedir a barbárie, e daí ocorrem chacinas e genocídios, com aplausos da patuleia.
Civilizados
Pode parecer alguma espécie de proselitismo(3), ou presunção de queremos nos colocar na posição de vítimas e de civilizados(4). Entretanto, os dilemas e a nossa sociedade confusa, coloca estes civilizados em posições antagônicas, dependendo da pauta. A pandemia serviu para mostrar como funcionam estes conflitos. Chegamos ao ponto de pessoas não receberem vacina pelo fato de o guru ou “mito” de estimação assim sugerir.
A posição dos civilizados refere-se àqueles que prezam pelos valores da civilização, como a democracia, os direitos humanos, a paz e o respeito mútuo. Eles representam a ordem, a justiça e a cooperação internacional. A frase sugere que, quando a barbárie triunfa, é porque os civilizados falharam em manter esses princípios fundamentais.
E, nesse ínterim, muitos deixaram a proposta civilizatória e se bandearam para o lado dos bárbaros e da barbárie.
Conflitos
Desse modo, é importante mencionar alguns conflitos recentes, que aparentemente, nos deixam numa posição de neutralidade. E a barbárie triunfa, por exemplo, quando uma nação não aceita refugiados ou não chora por ver extermínios dos bárbaros. Certamente, os conflitos encheriam livros e mais livros, e estarão em histórias do nosso cotidiano.
Conflito na Síria
O conflito na Síria é um exemplo complexo que envolve várias partes, incluindo o governo sírio, grupos rebeldes e atores internacionais. A posição neutra aqui seria a busca por uma solução diplomática e o fim da violência que devastou o país. Os bárbaros são os grupos extremistas que cometem atrocidades sem limites o tempo todo. Por outro lado, os civilizados representariam aqueles que defendem a paz e os direitos humanos.
A frase indica, de fato, que a inação da comunidade internacional pode permitir que a barbárie prospere ainda mais e nunca termine.
Conflito no Sudão do Sul
Surpreendentemente, leio conjecturas e ilações sobre a entrada de países africanos no BRICS(5) e o potencial econômico do continente africano. Hipocritamente, desprezam que algumas das mais ricas nações africanas, mesmo depois de suas independências, vivem em eterno conflito.
No caso do Sudão do Sul, o conflito envolve rivalidades étnicas, disputas de poder e recursos naturais. A posição neutra seria a mediação de conflitos e o apoio à reconciliação entre as partes. Os bárbaros são grupos com armas e força, que perpetuam a barbárie contra os seus semelhantes e conterrâneos. Por outro lado, os civilizados, minoria sem armas, seriam aqueles que trabalham para alcançar a estabilidade e o desenvolvimento.
Sem dúvida, a capitulação dos civilizados, em vez da força dos bárbaros, é responsável pelo prolongamento do conflito sem boas perspectivas.
Conflito no Afeganistão
O conflito no Afeganistão envolveu uma longa guerra com a presença de grupos insurgentes, incluindo o Talibã. Aparentemente, até os esforços internacionais para promover a estabilidade tinham uma posição e interesses escusos. A posição neutra seria a busca por um acordo de paz duradouro. Os bárbaros têm no Talibã sua representação mais autoritária e cruel, com ajuda de outros grupos extremistas. Por outro lado, os civilizados tentam defender uma democracia, que nunca existiu, os direitos das mulheres e a estabilidade da vida.
A ideia ressalta que, em alguns momentos, a capitulação, os acordos de cessar fogo e desocupação permitem que a barbárie se fortaleça. Desta forma, no Afeganistão, fatores religiosos e tribais expulsam as pessoas e cometem barbáries inomináveis contra os oprimidos.
Perdemos !
A sociedade que representa a civilização do Século XX e XXI está perdendo de goleada para os bárbaros, com a obsequiosa ajuda dos neutros.
Os conflitos em várias partes da África, como Sudão, Somália e República Democrática do Congo, vão além da teoria da barbárie contra a civilidade.
Como se não bastasse, grupos armados, milícias, déspotas e os ditadores arregimentam muitos bárbaros mundo afora. Desde que acompanhamos a conjuntura global, até nas nações civilizadas, a barbárie se faz presente.
Aqueles que defendem os direitos humanos, a governança democrática e o desenvolvimento, os civilizados, sofrem hostilidades diuturnas. Um país como o Brasil, que nunca fez, por exemplo, uma reforma agrária, tenta criminalizar quem defende a terra para todos com uma CPI.
Estas barbáries avançam e multidões ou fazem vista grossa ou manifestam apoio incondicional.
Em suma, temos exemplos para uma perspectiva e reflexão profunda sobre os conflitos atuais no Brasil e no mundo.
A frase-chave nos leva a defender os valores da civilização, para evitar que a barbárie prevaleça. A posição neutra, que busca a paz e a solução pacífica de conflitos, na maioria dos casos é utópica e inútil.
É responsabilidade de todos nós, como cidadãos do mundo, trabalhar para garantir que a força dos civilizados prevaleça sobre a barbárie. Enquanto isso, nenhuma revolução-civilização(6) será possível sem que os neutros desçam do muro para o lado da civilização.
(1) “Azerbaijão e representantes Armênios, da região de Nagorno-Karabakh, iniciaram conversações”
(2) “Entre sem bater – Chico César – Os Neutros”
(3) “Entre sem bater – Pietro Ubaldi – Proselitismo”
(4) “Entre sem bater – James Baldwin – Os Civilizados”
(5) “Entre sem bater – Vladimir Putin – Os BRICS”
(6) “Entre sem bater – Victor Hugo – Revolução-Civilização”
Imagem: Entre sem bater – Antonio Muñoz Molina – A Barbárie
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
- Sugestões, indicações de erro e outros, uma vez que tenham o propósito de melhorar o conteúdo, são importantes. Basta enviar comentários via e-mail para pyxis at gmail.com, página do Facebook, associada a este Blog, ou perfil do Twitter.
- Alguns textos sofreram revisão, outros ainda apresentam erros (inclusive ortográficos) e sofrerão correção à medida que tornam-se erros graves (inclusive históricos).
- Algumas passagens e citações podem parecer estranhas mas fazem parte ou referem-se a textos ainda inéditos.