Entre sem bater - Thomas Paine - Um Homem Morto

Entre sem bater – Thomas Paine – Homem Morto

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. “Um Homem Morto” ou irracional é nulo em todos os sentidos, como previu Thomas Paine.

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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Thomas Paine

Em primeiro lugar, podemos afirmar que Thomas Paine foi um revolucionário, no seu tempo. Sua ideia de comparar um homem morto a um homem que não usa a razão, é lapidar. Surpreendentemente, após 200 anos da morte de Paine, e com brasileiros adoradores dos pensamentos estadunidenses, a ideia prosperou.

Thomas Paine (nascido Thomas Pain (9 de fevereiro de 1737 – 8 de junho de 1809) foi um fundador americano nascido na Inglaterra. Ativista político, filósofo, teórico político e revolucionário. Ele foi o autor de Common Sense (1776) e The American Crisis (1776-1783), dois dos panfletos mais influentes no início da Revolução Americana, e ajudou a inspirar os Patriotas em 1776 a declarar independência de Grã Bretanha. Suas ideias refletiam as ideias da era do Iluminismo e os ideais de direitos humanos.

Fonte: Wikipedia (Inglês)

Um Homem Morto

O uso da analogia de Paine, sobre a racionalidade, religião e a ideia de que a um homem morto não adianta receber remédios, é atualizadíssima. Por exemplo, a guerra que Israel e a Palestina travam há anos, explodiu recentemente e nada mudou nos últimos 50 anos(*). Como se não bastasse, o barril de pólvora sob as areias do Oriente Médio nunca teve espaço para a razão.

Desse modo, os remédios que um homem morto (religiosos que são inflexíveis) têm efeito nulo, não passam de placebo.

Alguns pensamentos de Paine vão de confronto a tudo que temos como “motivo” para todas as guerras que acontecem no Oriente Médio.

De todos os sistemas de religião que já foram inventados, não há nenhum mais depreciativo para o Todo-Poderoso, mais pouco edificante para o homem, mais repugnante para a razão e mais contraditório em si mesmo do que esta coisa chamada Cristianismo(1). Absurdo demais para acreditar, impossível demais de convencer e inconsistente demais para a prática, torna o coração entorpecido ou produz apenas ateus e fanáticos. Como motor de poder, serve ao propósito do despotismo; e como meio de riqueza, a avareza dos sacerdotes; mas no que diz respeito ao bem do homem em geral, isso não leva a nada aqui ou no futuro.

Thomas Paine (A Era da Razão – Parte II – 1795)

A Era da Razão

Nas últimas três décadas, o mundo é palco de um conflito constante no Oriente Médio, região onde as guerras religiosas são a realidade. É provável que alguns historiadores e estudiosos tenham razão ao dizer que esta guerra tem ao menos uns 10000 anos. Esses conflitos, levantam questionamentos profundos sobre o alcance real da razão e do pensamento lógico em nossa sociedade.

Apesar de muitos argumentarem que vivemos na “Era da Razão”, é crucial explorar se essa afirmação é válida ou se a irracionalidade é invencível. Por isso, a ideia de Paine sobre um homem morto tem relação direta com a irracionalidade de se debater com mentes doentes(2).

A ascensão da razão como um ideal começou a tomar forma na Europa durante os séculos XVII e XVIII, marcada pelo Iluminismo. Filósofos como Voltaire, Rousseau e Kant promoveram o pensamento crítico e a liberdade de expressão como valores essenciais para nossa evolução. No entanto, apesar desses avanços, a Era da Razão não é uma narrativa simples ou convergente. Em outras palavras, a racionalidade humana é um conceito complexo, multidisciplinar, e que requer uma análise crítica sóbria.

Ciência e Razão

Uma das características mais notáveis da Era da Razão é a busca pelo conhecimento científico. O método científico, com uma observação objetiva, experimentação e evidência empírica, trouxe avanços para a compreensão do mundo natural. A revolução científica e as contribuições de figuras como Galileu Galilei e Isaac Newton abriram mentes e corações. Contudo, mesmo que proporcionem uma compreensão mais precisa e quantitativa do universo esbarraram nos dogmas das religiões. Desse modo, esses conhecimentos desviam-se dos objetivos para uma irracionalidade, como a busca pelo poder e a dominação.

O século XIX testemunhou a Revolução Industrial, com rápido avanço científico e tecnológico. A industrialização trouxe inúmeras melhorias materiais, mas também criou desigualdades sociais e degradação ambiental. Assim sendo, a busca desenfreada pelo progresso negligencia as considerações éticas e humanas.

A Era da Razão está, cada vez mais, em convergência com a lógica capitalista-liberal, em detrimento da qualidade de vida e do bem-estar humano. Um exemplo interessante foi a manifestação do ex-presidente e de pessoas próximas às ideias dele sobre Direitos Humanos(3).

Guerras-Santas

A persistência de conflitos violentos, como as guerras religiosas no Oriente Médio é a demonstração de que o diálogo não existe. Apesar dos avanços intelectuais da Era da Razão e estarmos na era da informação, não existe diálogo. No conflito, que teve início algumas horas atrás, os discursos agressivos superam qualquer tentativa de armistício.

Com toda a certeza, as diferenças religiosas são um catalisador para o conflito, o ódio e a intolerância. Desta forma, é impossível, qualquer eficácia da razão em mitigar os preconceitos e as crenças. Certamente, a fé e a irracionalidade são protagonistas em questões geopolíticas cruciais, mesmo em uma época em que a razão deveria prevalecer.

A mídia tem como pauta, hoje, o conflito Israel-Palestina. Destarte, Paine foi preciso: “… mas no que diz respeito ao bem do homem em geral, isso não leva a nada aqui ou no futuro…” 

Quantas mais guerras-santas serão necessárias? Sem dúvida, um homem morto não tem a mínima condição de receber nenhum remédio.

Negacionistas

Inquestionavelmente, a Era da Razão não está imune a movimentos anti-intelectuais, negacionistas e irracionais.

O século XX, sobretudo, testemunhou um ressurgimento do obscurantismo em várias partes do mundo. Neste início de Século XXI, a negação da ciência e o ataque às instituições educacionais erodiram a confiança na razão.

Movimentos que questionam o consenso científico sobre mudanças climáticas, vacinação e outras questões críticas têm oposição dos negacionistas. Essa tendência revela uma desconexão alarmante entre o avanço da ciência e a compreensão pública da mesma. Como se não bastasse, pessoas como Olavo de Carvalho se transformam em gurus de milhões, e as seitas destes gurus avançam.

Tecnologia Isenta

Os absurdos não param de surgir e com a explosão midiática da tecnologia de nome “Inteligência Artificial(4) (IA) a coisa degringolou. Qualquer tecnologia é sempre isenta e seu uso é que determina se é para o bem ou para o mal. Desta forma, quem a usa é que nunca é isento, ou a usa sem saber como funciona e para que serve de fato. Analogamente ao uso de uma arma de fogo, é impossível determinar se é para o bem ou para o mal a sua utilização. Os exemplos e analogias são inúmeros, mas a preguiça mental(5) das pessoas não permite que vejam a isenção de todas as tecnologias.

Surpreendentemente, para poucos, a própria tecnologia é uma extensão do pensamento racional e também apresenta desafios cognitivos. A automação e a IA geram desigualdades econômicas perversas e, assim sendo, ampliam as diferenças de percepção mental das pessoas

A dependência excessiva da tecnologia pode levar ao isolamento social e à falta de empatia. O avanço tecnológico não alinha-se com a ideia de uma sociedade mais racional e justa e os indivíduos se distanciam.

Avanços

Por outro lado, a ciência e a razão têm um papel fundamental no desenvolvimento de tratamentos médicos. Adicionalmente, a expansão do conhecimento sobre a mente humana e as ideias de igualdade de gênero, direitos civis avançaram massivamente. A erradicação de doenças, o avanço nas questões sóciocomportamentais mostram como a razão é uma força positiva na sociedade.

Entretanto, esses avanços sofrem desprezo e ataques por causa de dilemas éticos complexos que déspotas e pregadores ignoram.

Espiritualidade

Uma dimensão complexa e que dificulta qualquer diálogo é a coexistência da razão com a espiritualidade e a religião para a maioria dos humanos.

A religião é uma parte intrínseca da experiência humana, e muitas pessoas “encontram” seus propósitos em suas crenças religiosas.

A Era da Razão não suprimiu a religião, mas, por outro lado, levantou questões sobre a relação entre fé e razão.

Um teólogo argumentou que “… a fé sem a razão é cega, e a razão sem a fé é vazia…”. Isso sugere, provavelmente, que a razão e a espiritualidade não são mutuamente exclusivas, mas podem coexistir. No que, atualmente, poderíamos afirmar com um sonoro e gritante #SQN !

Outro pensador já disse que a questão da ciência (razão) e irracionalidade () já teve solução quando igrejas instalaram para-raios.

Perdemos !

A eclosão do conflito Israel-Palestina nas últimas horas é, com toda a certeza, a definição que a humanidade se perdeu.

A ideia de que a Era da Razão e da Informação teria uma abordagem holística, racional e crítica, não vingou.

A racionalidade trouxe inúmeros avanços e melhorias para a humanidade, contudo, escancarou dilemas éticos e desafios persistentes. Conflitos religiosos e negação da ciência, por exemplo, só estão crescendo e pipocando no planeta inteiro.

Podemos afirmar categoricamente que vivemos em uma era de intolerância e ignorância. Estamos em uma era onde a razão (impura) coexiste com várias outras forças e influências, algumas racionais e outras nem tanto. Qualquer proposta de chamamento á reflexão recebe o rótulo de “… coisa de gente de esquerda…”, ou pior.

Não existe, sem dúvida, nenhum remédio ou possibilidade de diálogo para um homem morto ou para quem se fecha na irracionalidade e em dogmas.

Água e Óleo

Em suma, para avançar em direção a um futuro mais promissor, é essencial a abertura para o pensamento lógico e a busca pelo conhecimento. No entanto, enquanto valores como empatia, compaixão e ética, na teoria se perpetuam nas redes sociais, nenhum avanço acontecerá. Os neófitos que ficam com “bom dia” etc. nestas redes e vão para um clube de tiro à tardinha, não são nem gente. A busca por um mundo, um grupo de rede social, uma casa, um condomínio etc. mais racional e justo passa pela abertura da mente.

A Era da Razão é uma jornada contínua, retrocedemos ao invés de avançarmos. A razão e a humanidade que deveriam coexistir e se complementar, por um futuro melhor, são como água e óleo. Definitivamente, um homem morto racionalmente é nulo em todos os sentidos e não tem remédio que cure sua estupidez mental.

 

P. S.

(*) A situação é tão absurdamente irreal que posso receber a classificação de antissemita ou de apoiador dos judeus. Inacreditavelmente, receberei o rótulo a partir da opinião de cada leitor, de forma inapelável. Sem dúvida, a ordem do ministro de Israel para liberar armamento para civis(6) é que deve ser racional e um “remédio”. O cara falha, miseravelmente, na sua atribuição ministerial e coloca armas nas mãos de civis. Perdemos !

 

(1) “Entre sem bater – Ludwig Feuerbach – O Cristianismo

(2) “Entre sem bater – Tito Lívio – Mentes Doentes

(3) “Diploma de Direitos Humanos

(4) “Entre sem bater – Stephen Hawking – Inteligência Artificial

(5) “Entre sem bater – Liz Hurley – Preguiça Mental

(6) “Israel emite ordem para armamento de civis

 

Imagem: Entre sem bater – Thomas Paine – Um Homem Morto

Nota do Autor

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