Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Milton Friedman tem muitos fãs pelo mundo afora, certamente a maioria não entende o que significa “Almoço Grátis“.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Milton Friedman
Milton Friedman teve reconhecimento e premiações que não cabe a nenhum relés mortal discutir. Afinal, quem sou eu, ou algum comediante de stand up para discutir como o economista? Contudo, quando utilizamos algumas frases e citações, temos por obrigação fazer algumas pesquisas mínimas. Surpreendentemente, a expressão “almoço grátis”, cuja atribuição muitos economistas fazem a Friedman, não é dele. Desse modo, mirando nos comentários que recebi do texto “Nanoeconomia Feudal“(1), não falarei das ideias de Friedman.
Milton Friedman ( 31 de julho de 1912 – 16 de novembro de 2006 ) foi um economista e estatístico americano que recebeu o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas de 1976 por sua pesquisa sobre consumo, história e teoria monetária política de estabilização. Com George Stigler, Friedman estava entre os líderes intelectuais da escola de economia de Chicago, uma escola neoclássica associada ao trabalho do corpo docente da Universidade de Chicago que rejeitou o keynesianismo em favor do monetarismo até meados da década de 1970. Quando se voltou para a nova macroeconomia clássica fortemente baseada no conceito de expectativas racionais. Vários estudantes, jovens professores e acadêmicos que foram recrutados ou orientados por Friedman em Chicago se tornaram economistas importantes em muitas nações.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
O Almoço Grátis
Em primeiro lugar, quando um escritor brasileiro utilizou a expressão em sua antologia de citações venenosas(2), estava bem a propósito da obra. Entretanto, durante a utilização de algumas destas citações aqui na trilha “entre sem bater“, percebemos realidades diferentes.
Em outras palavras, descobrimos que Friedman utilizou uma expressão que nunca foi sua e tem espaço em uma tradição dos EUA, há muito. Certamente, ele soube se apropriar da ideia e encontrou outros disseminadores da expressão ao longo dos anos. Enfim, é um aforismo que não tem graça nenhuma, mas que faremos como Ruy Castro, trataremos como humor ruim.
Um estadunidense, no final do século XIX observou que donos de bares ofereciam comida grátis para quem pagasse pela bebida. Desse modo, os alimentos eram que tinham muito sal, para que o consumo da bebida aumentasse. A curiosidade aumenta quando fomos protagonistas desta ação num bar que frequentávamos e recebíamos amendoim de graça. Com toda a certeza, o chinês da cervejaria nem imaginava quem foi Milton Friedman ou de onde veio a tradição.
Desde que a ocorrência mais antiga teve registro ( pouco antes de estourar a Segunda Grande Guerra) a frase original se consolidou. Assim sendo, “There ain’t no such thing as a free lunch” ganhou o mundo e o acrônimo TANSTAAFL popularizou-se. O que não tem graça nenhuma é a repetição da frase sem eira nem beira, mundo afora, por neófitos e até economistas com graduação. E, como se não bastasse, ainda ouvimos desaforos e piadinhas e aprendizes de déspotas de Chicago.
Humor ruim
Em primeiro lugar, a frase de Friedman ganhou destaque num evento em 1993 quando disse:
- “A ascensão do socialismo é absurda e não existe almoço grátis“
Certamente, a plateia adorou e a repercussão foi enorme. Ele apenas inseriu uma crítica à ascensão do socialismo ao título de um dos seus livros anteriores. É provável que ele estivesse defendendo a ideia do capitalismo ou dos traficantes de drogas que oferecem “amostras grátis”. Logo após as pessoas se viciarem ou ficarem dependentes, chega a conta.
Ora… ora… ora, diria o filósofo popular, Friedman usou uma frase do império liberal capitalista para criticar o socialismo?
Sem dúvida, é a mesma escola que ensina a pescar pessoas(3), e depois escolhe como vão levá-las à mesa.
A Conta
Anteriormente, como alertamos, a expressão era sinônimo da astúcia por trás da oferta de algum tipo de comida gratuita. Sem dúvida, o ardil funcionava e as pessoas gastavam mais dinheiro com cerveja e outras bebidas. Outrossim, podemos estender essa ideia para uma série de situações modernas em que nos oferecem “amostras grátis”. São situações e coisas que, analogamente, podemos traduzir como almoço grátis e que, no final das contas, saem caríssimas.
Por exemplo, aplicativos gratuitos em nossos smartphones podem ser maravilhosos, ou verdadeiras arapucas. Com toda a certeza, eles prometem revolucionar nossas vidas, só que não dizem se para melhor ou pior. No caso de games, quando menos esperamos, estamos comprando “créditos” para partidas que “nos dá” vidas extras.
Desse modo, quem pode afirmar que nunca teve certa abdução por um teste grátis de um serviço de streaming?
E desse modo, esquecemos de cancelar a assinatura e nos vemos pagando por conteúdo que nem assistimos. Ou, por outro lado, caímos em armadilhas e dificuldades de cancelamento que nem nos damos conta dos custos e tempo que se perde.
Ricos modernos
Outro exemplo hilariante (#SQN) é, inquestionavelmente, as tais “entregas grátis” que muitas lojas, principalmente virtuais, oferecem. Surpreendentemente, eles conseguem nos convencer de que estamos economizando dinheiro. Entretanto, na maioria das vezes, estamos gastando mais, comprando coisas que nem precisamos.
Poucos resistem a um “frete grátis” em troca de uma compra acima de um valor exorbitante que pode ser de uma “black fraude“.
Existem muitos exemplos como o clássico “coma tudo o que puder por um preço fixo” em restaurantes. Você pode até comer e não aguentar mais, contudo a conta final fará você questionar se realmente valeu a pena. Pagar por mais comida do que poderia comer é muito comum em ofertas “miraculosas” que reforçam a ideia de que não existe almoço grátis.
Então, sim, vivemos em uma época em que recebemos doses generosas de ofertas “gratuitas”, mas no final, a conta sempre chega.
É como se estivéssemos todos em uma grande festa, onde o almoço pode até ser grátis, mas a ressaca financeira é real.
Lembrem-se: não existe almoço grátis, a menos que você tenha disposição para pagar o preço de sobra – e às vezes, ele tem muito sal.
O socialismo não oferece nenhum almoço grátis e nem precisa de comediantes tentando explicar piada de mau gosto. #MAKTUB
(1) “Nanoeconomia feudal no século XXI”
(2) “O melhor do mau humor”
(3) “Entre sem bater – Dale Carnegie – Pescar Pessoas”
Imagem: Entre sem bater – Milton Friedman – Almoço Grátis
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
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