Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Escrever sobre os pensamentos de filósofos/pensadores, como Arthur Schopenhauer, é, inegavelmente, mais difícil e complexo. Ainda mais quando uma expressão como “As Religiões” levam cada leitor a interpretações muito diferentes.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Arthur Schopenhauer
Assim como escrevi na introdução, não se pode escrever muito sobre um pensamento como o de Schopenhauer. A ideia de que as religiões adquirem muitos sentidos e nuances é real, mas Schopenhauer acertou na principal concepção. Desse modo, temos que ser simples e instigar o leitor a pensar três vezes mais do que em outras situações.
Gosto de Schopenhauer pois a maioria das pessoas o tem como um pessimista. Eu, por outro lado, reputo como uma grande realista, em quase todos os seus pensamentos. A fama deste grande filósofo é de que ele seria impopular, mas ele é o que fala, sem dúvida, as verdades com maior clareza.
Arthur Schopenhauer ( 22 de fevereiro de 1788 – 21 de setembro de 1860) foi um filósofo alemão. Ele é mais conhecido por seu trabalho de 1818, The World as Will and Representation (ampliado em 1844), que caracteriza o mundo fenomenal como o produto de uma vontade numenal cega. Com base no idealismo transcendental de Immanuel Kant (1724-1804), Schopenhauer desenvolveu um sistema metafísico e ético ateu que rejeitava as ideias contemporâneas do idealismo alemão. Ele foi um dos primeiros pensadores da filosofia ocidental a compartilhar e afirmar princípios significativos da filosofia indiana, como o ascetismo, a negação do eu e a noção do mundo como aparência. Seu trabalho foi descrito, sobretudo, como uma manifestação exemplar de pessimismo filosófico.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
As Religiões
A frase-chave, título de autoria de Schopenhauer, tem inserção num contexto maior. Na tradução de “Religião: Um diálogo e outros ensaios” (1910), de Thomas Saunders (p. 106), duas frases se destacam:
“O mal de todas as religiões é que, em vez de poderem confessar a sua natureza alegórica, têm de ocultá-la“;
“… devemos reconhecer o fato de que a humanidade não pode viver sem uma certa quantidade de absurdo.”
Assim sendo, não somente o cristianismo, mas outras religiões como o judaísmo e o islamismo pregam crenças e certa quantidade de absurdos.
As religiões desempenham, ao longo dos últimos séculos, ou milênios, um papel preponderante na história da humanidade. Influenciam, desse modo, culturas, moldando sociedades e fornecendo um senso de significado e propósito para muitos.
No entanto, as duas frases de Schopenhauer, dentro de um contexto, sugerem uma dualidade intrínseca nas religiões. A princípio, revela suas perversidades ao mesmo tempo em que reconhece a necessidade humana de absurdos e crenças fantasiosas.
Defendo a teoria de que misturar religião e política(1) não é um bom caminho para a racionalidade. Nos últimos cinco ou seis anos, no Brasil, esta mistura explosiva afastou até familiares e amigos. Não tem mais volta para a situação de hipocrisia anterior, de alguma forma, foi um bom caminho.
Dualidade
A primeira assertiva destaca a crítica de que as religiões, incluindo o cristianismo, islamismo e judaísmo, ocultam sua natureza alegórica. Por isso, no lugar da compreensão de narrativas simbólicas com ensinamentos éticos e filosóficos, as religiões apresentam interpretações literais.
Essa interpretação literal e o ocultamento de perspectivas diferentes leva a uma compreensão irreal e até prejudicial dos textos sagrados. Desse modo, prevalecem as interpretações fundamentalistas, que resultam em conflitos e discriminação.
No cristianismo, por exemplo, ocorrem interpretações diversas da Bíblia, proporcionando o sectarismo pelas leituras literais de passagens específicas.
Certamente, a inquisição e as guerras religiosas históricas são exemplos de como uma interpretação sectária provoca conflitos. Em outras palavras, as interpretações particulares resultam até em atos cruéis e intolerância, em nome da fé e de Deus. Os casos de cristão, como no Brasil, pregando com a Bíblia numa mão e uma arma para matar na outra, viraram coisa “normal”.
Da mesma forma, o islamismo, com interpretações peculiares, leva a manifestações extremistas, que causam conflitos violentos.
Alegorias
As alegorias existem, de forma comprovável, muito antes das religiões monoteístas ocidentais. Alegorias e símbolos estão presentes desde a antiguidade, nos vários rituais de sacrifícios para os diversos deuses.
Por outro lado, as perversidades resultam da falta de reconhecimento da natureza alegórica dessas narrativas religiosas, monoteístas e politeístas.
Se as religiões pudessem confessar abertamente que seus textos sagrados são ricos em simbolismo não teriam O apelo que possuem. Com toda a certeza, muitos dos males das interpretações errôneas poderiam nem existir.
As alegorias são veículos poderosos para transmitir lições morais e éticas. Entretanto, quando têm absorção ao pé da letra, tornam-se fontes potenciais de fanatismo e intolerância.
Absurdos
Se as alegorias e a dualidade são uma constante nas interpretações de cada religião, por outro lado, a segunda afirmação mostra-se pragmática. A frase sugerindo que a humanidade não pode viver sem uma certa quantidade de absurdos advindos das religiões é real.
Por isso, é possível reconhecer a realidade de que as crenças fantasiosas oferecem conforto emocional, estabilidade social e um senso de pertencimento.
As religiões, surpreendentemente, oferecem explicações para questões existenciais complexas. E, como se não bastasse, prestam-se como muletas e uma bússola moral para muitos. São vários os exemplos de seguidores destas religiões que pregam uma coisa e fazem outras diferentes intramuros. Estes sintomas mórbidos(2) e seus efeitos demonstram a hipocrisia atual da humanidade, principalmente de certos “religiosos”.
O cristianismo, por exemplo, fornece a seus seguidores um sistema ético a partir dos ensinamentos de Jesus Cristo. No entanto, quando essa ética tem interpretação dogmática e inflexível, acontecem julgamentos moralistas e até a exclusão social. O islamismo, por sua vez, promove valores como a compaixão e a caridade, mas quando mal interpretado, pode resultar em extremismo e terrorismo.
O judaísmo, com sua rica tradição moral e ética, também enfrenta desafios quando suas narrativas têm interpretação literal. Desse modo, explica-se, por exemplo, a guerra santa que ocorre na Palestina e resulta em divisões sectárias e conflitos históricos.
Ao reconhecer que uma certa quantidade de absurdos é necessária para o funcionamento humano, atingimos algo desumano. Assim sendo, torna-se possível entender que grupos de pessoas agarram-se a essas crenças e mitos. Em suma, nem importa se estas crenças, em algum momento, apresentam contradições lógicas e reais.
Reflexão e Crítica
É provável que a maioria das religiões e seus pregadores, não incentivem seus seguidores à reflexão. Contudo, cada um em sua crença, segue defendendo alegorias e fantasias, como se fosse a única verdade. Sem dúvida, não é nenhuma verdade(3), muito menos única, e as religiões continuam avançando em número de seguidores.
As necessidades dos humanos faz com que absurdos sejam aceitos, em nome de uma possível salvação após a morte. E picaretas e pregadores de púlpito vão se locupletando e destruindo muitas vidas.
Em suma, o grande desafio reside em encontrar um equilíbrio entre a necessidade humana e a capacidade de reflexão e crítica das pessoas.
Certamente, a partir de crenças fantasiosas e de narrativas são alegóricas, a transmissão de lições reais inexiste, o que eles veem como heresia(4).
As religiões podem desempenhar um papel valioso na vida das pessoas, desde que a capacidade de pensar e refletir de maneira crítica avance. Reconhecer a natureza alegórica das religiões pode ser o primeiro passo para mitigar as perversidades e o fundamentalismo. Somente assim a espiritualidade e a reflexão ética poderão florescer na maioria das mentes fracas que abundam no planeta.
“As religiões, assim como a luz, necessitam de muita escuridão para brilhar“. Schopenhauer
(1) “Religião e Política – Uma mistura perigosa”
(2) “Entre sem bater – Gramsci – Sintomas Mórbidos”
(3) “Entre sem bater – Osho – Nenhuma Verdade”
(4) “Entre sem bater – Graham Greene – Uma Heresia”
Imagem: Entre sem Bater – Arthur Schopenhauer – As Religiões
Nota do Autor
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