Entre sem bater - Marcelo Bielsa - Os Argentinos

Entre sem bater – Marcelo Bielsa – Os Argentinos

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Marcelo Bielsa, El Loco, certamente deve ter lá seus motivos para falar em nome de todos os “Argentinos“.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Marcelo Bielsa

Quando um jogador de futebol se aposenta com 25 anos de idade e resolve ser treinador, faz sentido ter um apelido de “El Loco“. É um dos poucos técnicos argentinos que fala além do necessário. Faz escola quando vemos os trabalhos e resultados de outro hermano (Sampaoli). Neste texto, usaremos de uma das várias frases de Bielsa para uma analogia com a política argentina, pauta do dia.

Marcelo Alberto Bielsa Caldera, apelidado de El Loco Bielsa, nascido em 21 de julho de 1955) é um técnico de futebol profissional argentino que é o atual técnico da Seleção Uruguaia. Ele é amplamente considerado um dos treinadores mais influentes de todos os tempos. Bielsa é um ex-jogador que atuou como zagueiro no Newell’s Old Boys, Central de Córdoba e Argentino de Rosario. Bielsa se aposentou aos 25 anos para se concentrar como treinador. Bielsa dirigiu vários clubes de futebol e também as seleções da Argentina e do Chile.

Fonte: Wikipedia (Inglês)

Os Argentinos

Em primeiro lugar, é necessário destacar que em várias atividades e relacionamentos, tenho hermanos muito próximos. Conheço a Argentina profissionalmente, a passeio e através das oportunidades do futebol. Foi o primeiro país que conheci, por causa do futebol, algumas décadas atrás.

Desde que visitei aquele país pela primeira vez, percebi que a cultura deles era muito diferente, pela colonização e pela formação de seu povo. Infelizmente, algumas poucas experiências não foram boas e muito da imagem daquele povo tem lá suas explicações.

Por exemplo, eles têm uma veneração pelo doce de leite deles. E, certamente, a iguaria argentina fica devendo para qualquer doce de leite caseiro das tias mineiras. Este caso do dulce de leche(1) quase me rende um incidente diplomático, mas que pude corrigir satisfatoriamente.

Em suma, o vinho é maravilhoso, a carne é de primeira, as ideias são boas (algumas nem tanto), sou bostero(2), mas alguns são loucos.

Não chorem por mim

Na primeira vez que visitei a Argentina, iniciava-se o regime militar. Percebi que a relação da população com a política era diferente do Brasil, mas eu era adolescente. Vivíamos, como a maioria da América Latina, em regimes militares perversos. Muitas décadas depois, com as democracias fake na moda, era de se esperar que estes povos entendessem alguma coisa. Ledo engano, parece que cada povo tem, inquestionavelmente, o governo que merece.

Argentinos, não chorem por mim, só parem para muitos momentos de reflexão, vocês vão precisar, mais do que nós precisamos em passado recente.

Três Atos de uma Paixão

A Argentina, terra de tangos envolventes e carnes suculentas, é também palco de uma intensidade emocional insana. Seja nos campos de futebol, nos corredores políticos ou nas relações pessoais, os argentinos são pura paixão. A exaltação, impulsividade e irracionalidade latina, moldam a identidade nacional dos hermanos. E, assim sendo, influenciam profundamente na percepção do seu povo e daquele país no cenário mundial.

Futebol

No campo de jogo, o futebol transcende o status de mero esporte para se tornar uma paixão que pulsa nas veias argentinas.

A celebração efusiva de uma vitória ou a tristeza profunda diante de uma derrota não são simples reações. Existem torcidas de clubes brasileiros que tentam imitar o comportamento dos argentinos nos estádios, no que tem de melhor e pior.

As expressões de um fervor que une los hinchas é surreal, e meu testemunho não é através da mídia, é presencial.

As rivalidades futebolísticas alimentam o calor das arquibancadas, criando um espetáculo à parte.

Surpreendentemente, muitos pensam que a paixão por clubes como Boca Juniors e River Plate é o maior exemplo. Não é, e somente conhecendo de perto torcidas como do San Lorenzo ou Rosário, podemos perceber a loucura dos argentinos.

Sem dúvida, arrisco a dizer que a paixão no futebol é algo como a devoção religiosa de alguns fanáticos.

Religião

Desde que surgiu a fumaça branca no Vaticano e um Bergoglio assumiu, a ligação entre futebol e religião dos argentinos explodiu. Pope Francis, tem uma relação peculiar com o futebol e os argentinos, quando falam de um compatriota, são insanos. Natural de Buenos Aires, recebe a veneração de muitos argentinos, que se orgulham de sua ascensão ao Vaticano.

Entretanto, essa admiração coexiste com críticas, principalmente no tocante a questões políticas e sociais. Desse modo, evidencia-se que a relação entre os argentinos e o Papa é complexa, oscilando entre a devoção e o questionamento. Neste momento, com a eleição do maluco primaz, Javier Milei(3), que chama o Bergoglio de “demônio”, a coisa vai azedar.

Política

No cenário político, a Argentina traz à tona uma história marcada por momentos turbulentos. Com toda a certeza, durante o regime militar autoritário que vigorou entre 1976 e 1983 os argentinos experimentaram tempos difíceis. Aquele período sombrio deixou feridas profundas na sociedade argentina, e suas cicatrizes ainda refletem nas complexas dinâmicas políticas atuais.

A transição para a democracia teve desafios e instabilidades, refletindo-se em um sistema político que sempre esteve à beira do caos.

As paixões políticas dos argentinos, assim como no futebol, muitas vezes ultrapassam os limites da racionalidade. Debates acalorados, manifestações intensas e uma polarização marcante são marcantes no cenário político argentino.

A polarização das eleições de ontem pode revelar que os argentinos sempre foram mais conservadores do que imagina-se. É provável que a frase “eu sou você amanhã” ganhe novos contornos e interpretações. A polarização política que os brasileiros viveram mostrou suas garras para os argentinos, e eles deram “all In“.

Novos tempos

Bielsa disse que eles são paixão, exaltação, impulsivos e muito mais… devem chorar por vocês mesmos, não chorem por mim,

A relação entre o povo e seus líderes quando tem orientação na paixão e impulsividade, gera irracionalidade. Como se não bastasse, obscurece qualquer debate saudável e a busca por soluções pragmáticas.

O maluco do pedaço quer acabar com o Banco Central deles, dolarizar a economia e utilizar Bitcoin como moeda. Em suma, o cara, como já disseram os lusos, sobre técnicos de futebol, é bestial ou uma besta. O comportamento dos argentinos que elegeram o El Loco II como presidente está muito próximo do que fizeram os brasileiros.

Entretanto, as diferenças culturais e a relação com os militares será determinante para o “sucesso” ou “fracasso” desta aventura. Nossos hermanos terão a difícil tarefa de ultrapassar as relações pessoais e sobreviver. Desse modo, assim como aconteceu no Brasil, as relações familiares e pessoais estarão em vertigem, para sempre.

Pessoas em vertigem

A ideia do termo vertigem diz respeito a quando vemos alguma situação em declínio e nada podemos fazer a não ser nos defendermos individualmente.

A série “El Reino(4) reflete as relações pessoais e políticas, numa ficção argentina que imita a vida.

Nas relações pessoais, a intensidade emocional dos argentinos também deixa sua marca. A expressividade no trato interpessoal é uma característica que pode ser calorosa, mas também impulsiva e irracional. As relações familiares e de amizade são fundamentais na cultura argentina, mas a mesma paixão que vai gerar conflitos intensos.

Com toda a certeza, as rivalidades históricas e as diferenças culturais atuarão de forma prejudicial e insana. Por exemplo, as manifestações racistas e estereótipos dos argentinos, em relação aos brasileiros, recrudescerão.

Tais atitudes, embora não representem o comportamento da maioria dos argentinos, mostrarão uma faceta lamentável de loucos no poder.

Ter o Poder

Enfim, Alfredo Yabrán definiu bem o que é ter o poder(5), agora Milei e seus correligionários libertários e anarcocapitalistas estão no poder.

Afinal, se o comportamento dos argentinos, marcado pela exaltação, impulsividade e emotividade, que continuem assim. Perpassa pelas diversas esferas da vida cotidiana, influenciando tanto as paixões futebolísticas quanto o cenário político e as relações interpessoais.

Essa intensidade, embora seja uma expressão genuína da identidade nacional, deveria suscitar a reflexão(6) e o diálogo. Desse modo, a Argentina pode construir um futuro mais equilibrado e harmonioso (#SQN).

Superar as sombras do passado e abraçar as complexidades do presente exige, sem dúvida, muito mais do que choro, sangue e suor. Vocês estão diante de um destino incerto. Os políticos de centro e centro-direita, certamente, se aliarão ao Milei, resta saber se a extrema-direita se aliará aos militares.

Vai vendo … Não chores por mim, argentinos !

P. S.

A polarização aqui no Brasil chegou a tal ponto que muitos que odeiam os argentinos, comemoram a vitória do Milei. Por outro lado, seguidores do “mito”, estão comemorando uma derrota do Brasil na política externa. E, em breve um “Argentina x Brasil”, pelas eliminatórias, uma guerra política?… Maledicência final… será que os argentinos ganharam a Copa do Mundo de futebol e foi a “última refeição” de alguém a caminho do cadafalso?

 

(1) “Dulce de Leche – Wikipedia

(2) “Bosteros – OK Diario

(3) “Javier Milei – Wikipedia

(4) “Venha nós, Vosso Reino

(5) “Entre sem bater – Alfredo Yabrán – Ter o Poder

(6) “Entre sem bater – Kobe Bryant – Reflexão

 

Imagem: Entre sem Bater – Marcelo Bielsa – Os Argentinos

Nota do Autor

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