Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Virgílio viveu vários infernos e fez deles um poema épico, atualmente temos um “Inferno Digital” para cada um, impossível poetizar.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Virgílio
É provável que Virgílio teve das raras oportunidades de presenciar marcos fenomenais da história da humanidade e fazer suas considerações. Certamente, estar presente no centro do Império Romano, vivenciar a morte de Júlio César e as tretas com Cleópatra é instigante. Como se não bastasse, o maior inferno do poderoso império se deu exatamente no auge de sua vida. Ave, Virgílio, quem viu, viu, quem não viveu admira seus relatos.
Publius Virgilio Marone, conhecido simplesmente como Virgílio ou Vergílio, nascido em Andes, 15 de outubro de 70 a.C. – Brindisi, 21 de setembro de 19 a.C., foi um poeta romano, autor de três obras, entre as mais famosas e influentes da literatura latina: as Bucólicas ( Bucólicas ), as Geórgicas ( Georgica ), e a Aeneis ( Eneida ). Também é atribuída ao poeta uma série de composições juvenis, cuja autenticidade é objeto de dúvidas e complicadas polêmicas, que costumam ser indicadas em uma única coleção, conhecida como Apêndice Vergiliana. Virgílio, pelo seu sublime sentido da arte e pela influência que exerceu ao longo dos séculos, foi o maior poeta de Roma, bem como o mais completo e franco intérprete do grandioso momento histórico que, desde a morte de Júlio César, leva à fundação do principado e do Império por Augusto. A obra de Virgílio, tomada como modelo e estudada desde a antiguidade, teve profunda influência na literatura e nos autores ocidentais, em particular em Dante Alighieri e na sua Divina Comédia, na qual Virgílio também atua como guia do Inferno e do Purgatório.
Fonte: Wikipedia (Italiano)
O Inferno Digital
O poema épico “A Divina Comédia“, Dante Alighieri, tem como guia a ideia alegórica de inferno, purgatório e paraíso de Virgílio.
Facilis descensus Averno:
Noctes atque morre patet atri ianua Ditis;
Sed revocare gradum superasque evadere ad auras,
Hoc opus, hic labor est.As portas do inferno estão abertas noite e dia ;
Suave a descida, e fácil é o caminho:
Mas retornar e ver os céus alegres,
Nisto reside a tarefa e o poderoso trabalho.Linhas 126–129 (tradução de John Dryden )
A estrofe descreve as portas do inferno, abertas dia e noite, convidando ao acesso fácil e rápido. Entretanto, o destaque é a dificuldade de retornar e contemplar os céus límpidos e alegres. Esta metáfora, sem dúvida, nos remete à nossa experiência nas redes sociais, onde cada clique nos leva mais fundo no labirinto e inferno digital.
Inferno digital particular
A frase-chave em destaque, ecoa de uma forma perturbadora na paisagem digital onde, atualmente, temos um inferno a cada post.
As redes sociais, que deveriam ser plataformas de conexão humana, se transformam em espaços onde criamos nossos próprios desafios e problemas.
Certamente, a analogia entre o inferno de Virgílio e o princípio de liberdade(1), de Dante, alinham nosso perfil nas redes sociais de hoje.
Profundezas
Decerto, o convite suave e poético para descermos às profundezas do inferno é comparável ao apelo das redes sociais.
A facilidade com que nos conectamos, compartilhamos e nos envolvemos pode ser mais do que sedutora.
As portas abertas são representativas da acessibilidade constante, disponível a qualquer hora do dia ou da noite. Desse modo, recebemos convites para mergulhar nas infinitas atualizações, postagens e interações. Analogamente à descida ao inferno de Virgílio e Dante, a entrada é tentadora, mas o retorno pode se tornar uma jornada árdua.
E, como se não bastasse, o isolamento(2) de mentes inquietas não estão a salvo das provocações baratas e estultices coletivas.
Diversidade
Ao explorar as redes sociais, nos deparamos com um ecossistema diversificado, em outras palavras, a diversidade plena da fauna e flora humana. Ainda que soubéssemos como é o meio ambiente além do purgatório, é provável que as redes sociais sejamos círculos do Inferno.
Enfim, existem alguns são espaços de convívio ameno (os 20% de Pareto), enquanto outros revelam hostilidades e desafios (80% de Pareto)(3).
A liberdade de expressão, inicialmente celebrada como uma conquista digital, muitas vezes se transforma em uma faca de dois gumes.
O caminho fácil de compartilhar pensamentos transforma-se em fake news, cria haters e trolls digitais e passa longe de debate inteligente. Em suma, a diversidade e a liberdade de expressão são um verdadeiro inferno de interações negativas.
O Retorno
A tarefa hercúlea de retornar e contemplar os “céus alegres” na era das redes sociais é a busca pela autenticidade e positividade online.
A superficialidade permeia a maioria das experiências no mundo digital, queiramos ou não. Certamente, as pressões externas e aparências(4) irreais só fantasiam e dificultam o retorno à normalidade.
O retrato pintado em nossos perfis dissocia-se da realidade, criando uma máscara que obscurece a verdadeira essência de quem somos.
Aqui, o “poderoso trabalho” refere-se à necessidade de equilibrar a autenticidade com a aceitação social.
A busca por validação nas redes sociais é uma jornada exaustiva, muitas vezes estéril. O retorno aos “céus alegres”, a princípio, tem relação com a aceitação de quem somos. Como se não bastasse, a dificuldade das pessoas em ficar longe das expectativas e padrões digitais é um inferno pessoal.
O desafio reside em encontrar uma voz autêntica no meio da confusão e do tumulto online e manter a clareza de propósito.
Armadilhas Cruéis
O inferno digital, por outro lado, também se manifesta em muitas formas de armadilhas que travestem-se de recompensas.
A avalanche de informações e atualizações das coisas geram sentimentos de inadequação, comparando nossas vidas com outras vidas. Essa comparação insana e incessante alimenta de forma cruel a ansiedade e cria um ciclo de insatisfação constante. Por isso, a tal “ascensão de volta aos céus alegres” nunca existiu, abriu a porta do inferno digital, que tranca-se assim que passamos.
Surpreendentemente, a liberdade de expressão, um dos pilares fundamentais da democracia digital, se depara com desafios intransponíveis. A felicidade dos céus de quem não interage nas redes sociais é uma ilusão. A liberdade de expressão, como tantos outros “direitos” nas redes sociais são uma espécie de felicidade perigosa(5).
O anonimato nas redes sociais permite que as opiniões mais negativas e prejudiciais se proliferem, criando um ambiente hostil. Desse modo, o inferno digital se assemelha às trevas do lado de lá da “porta”. Decerto, a imagem de muitas vozes, gritos e todo tipo de rugido ensurdecedor indicam a confusão mental(6) de cada um.
As armadilhas são infinitas, obscurecem a nossa capacidade de discernir entre a verdade e a mentira, e só fomentam as profundezas da irracionalidade.
É possível ter equilíbrio?
A busca por equilíbrio nas redes sociais é uma jornada constante.
Assim como os pensadores enfrentaram obstáculos e desafios reais e imaginários em seu caminho, enfrentamos os algoritmos. Vivemos na era da ditadura dos códigos binários.
Ainda não conseguimos, e dificilmente conseguiremos uma “Liga da Justiça Algorítmica“(7). Em outras palavras, retiraram as portas do inferno ou colocaram uma porta giratória só de entrada.
Desta forma, mesmo filtrando o que consumimos e equilibrando a expressão individual com o respeito pelo outro, o inferno é aqui. O retorno aos “céus alegres” representa uma utopia online onde exista empatia, compreensão e cooperação.
Em suma, o inferno da poesia e o ambiente de nossos perfil nas redes sociais comprovam a complexidade das experiências digitais. Navegamos por um labirinto quente e hostil de interações, desafios e pressões. De fato, a constante dualidade entre a facilidade de descida e a dificuldade de retorno ao inferno é nossa decisão.
O trabalho de encontrar um equilíbrio entre entre as forças malignas e benignas parecem não conviver neste inferno digital em expansão.
O inferno é aqui, muito além de digital, está em cada um de nós e ainda temos que nos submeter a infernos alheios. #Quefase !
Lero-Lero
Existe uma ferramenta, precursora das tais regenerações de texto por IA, que ainda faz textos puro lero-lero. Por exemplo, ao solicitarmos um pequeno parágrafo sobre o inferno, segundo Virgílio, sai esta pérola.
“A infinita diversidade da realidade única representa a essência das condições epistemológicas e cognitivas exigidas. Por outro lado, a complexidade dos estudos efetuados cumpre um papel essencial na formulação da fundamentação metafísica das representações. Assim mesmo, a estrutura atual da ideação semântica não sistematiza a estrutura do sistema de conhecimento geral.
No entanto, não podemos esquecer que o novo modelo estruturalista remete à experiência efetiva das posturas dos filósofos divergentes. Sendo assim, em relação às atribuições conceituais o nosso inferno é aqui mesmo, na Terra.
Do mesmo modo, a indeterminação contínua de cada inferno pessoal garante a uma contribuição efetiva na determinação das novas teorias.
Enfim, a dúvida sobre o inferno ser exotérmico ou endotérmico para chegar ao fim, o calor na minha cidade é a prova inconteste.“
P. S.
Inferno é uma palavra/termo que possui muitas acepções, nos mais diversos idiomas. Todas as acepções têm relacionamento com mitologia e religião, com apresentação figurativa e alegórica.
(1) “Entre sem bater – Dante Alighieri – O Principio da Liberdade”
(2) “Isolamento e uma mente inquieta”
(3) “Princípio de Pareto – Wikipedia”
(4) “Entre Sem bater – Epicteto – As Aparências”
(5) “entre sem bater – George Bernard Shaw – Felicidade Perigosa”
(6) “Confusão em tempos de redes sociais”
(7) “Coded Bias e a Liga da Justiça Algorítmica”
Imagem: Entre sem Bater – Virgílio – O Inferno Digital
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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