Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Estou na linha de Harlan Ellison, “Foda-se o Natal” e todos os hipócritas que aparecem em dezembro.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Harlan Ellison
Harlan Ellison era aquele cara que poderia ser dizer um ponto fora da curva. Se, é claro, existisse curva para determinar padrões de comportamento. Do mesmo modo, os padrões de comportamento das pessoas no mês de dezembro são completamente fora da curva. Assim sendo, um foda-se o Natal em dose dupla.
Harlan Jay Ellison (27 de maio de 1934 – 28 de junho de 2018) foi um escritor americano, conhecido por seu trabalho prolífico e influente em New Wave, ficção especulativa e por sua personalidade franca e combativa. Seus trabalhos publicados incluem mais de 1.700 contos, novelas, roteiros, roteiros de histórias em quadrinhos, dentre outros. Ellison ganhou vários prêmios pelos seus polêmicos trabalhos. Ele escreveu um livro sobre a experiência que incluiu seu roteiro original em Star Trek“, considerado por alguns como o melhor episódio de 1967 da série. Uma participação mais conhecida é um episódio da animação “Os Simpsons“.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
Foda-se o Natal
Desde que tive as minhas primeiras decepções no mês de dezembro, comecei a associar o mês inteiro e o Natal com coisas ruins. Como se não bastasse, algumas tragédias começaram a acontecer, sempre no tal mês do feriado longo. Quando chega o “E então… é Natal“(1) a angústia e desolação reinam soberanas. Atribuem a Charles Dickens a transformação deste mês em algo como o que vivemos hoje. Dickens viveu na segunda fase da Revolução Industrial e seu “Conto de Natal” representou um pouco da hipocrisia da época.
Escreveu Dickens, hipocritamente:
“… Então não escolha o mais alegre dos trezentos e sessenta e cinco para suas tristes lembranças, mas aproxime sua cadeira do fogo ardente – encha o copo e envie a canção – e se seu quarto for menor do que era há uma dúzia de anos , ou se o seu copo estiver cheio de ponche fedorento, em vez de vinho espumante, faça uma cara boa para o assunto, e esvazie-o imediatamente, e encha outro, e cante a velha cantiga que você costumava cantar…”
in Personagens, cap. 2 : Um Jantar de Natal
Ora… ora… ora… diria o trabalhador de antes ou de agora, foda-se o Natal, quero o meu 13o salário. E se vierem a participação nos resultados e um feriadão, melhor ainda.
Feriadão
Vivemos em uma era em que as redes sociais moldam e ditam muitos aspectos de nossas vidas. Do mesmo modo que Dickens influenciou muita gente com seu “Conto de Natal” e suas adaptações eternas.
Certamente, sou um dos que gostam dos feriadões, mas não nutro nenhuma simpatia por datas comemorativas. Desse modo, “Dia das Mães” e similares só não são piores do que o Natal e o seu mês inteiro de hipocrisia. Este fenômeno peculiar, que ganhou destaque nos últimos anos, transformando uma única data em mais de um mês de tortura.
Anteriormente, era um pouco pior, pois imediatamente após o Dia das Crianças, a maldição do marketing de Natal começava. Entretanto, criaram outra maldição que nomearam como Black Friday e que dura mais de um mês. E a patuleia nem se dá conta da manipulação que sofre durante o ano inteiro. Como se não bastasse no período que outrora trazia alguma cultura do cristianismo, agora é uma caricatura: um “feriadão” hipócrita. E, surpreendentemente, qualquer um que tocar um “foda-se o Natal“, sofrerá críticas vorazes.
Marketing na Veia
O que era para ser, a princípio, um momento de reflexão, celebração e, em alguns casos, devoção, para os cristãos, perdeu o sentido. Enfim, o evento tornou-se uma espécie de paródia de si mesmo, uma vítima da voracidade das redes sociais e da manipulação do marketing.
Certamente, o mês de dezembro caracteriza-se por um frenesi consumista, de hipocrisia cristã(2) e que degrada até os propósitos originais do cristianismo.
Num passado distante, o “feriado” de um mês tinha rituais que celebravam o ciclo natural da vida, conectando as pessoas no cristianismo. Atualmente, essas tradições sucumbiram a overdoses de promoções, publicidade incessante e uma corrida maluca aos centros comerciais. É como se a essência do mês significasse aproveitar descontos e ofertas relâmpago que a Black Friday não ofereceu.
Enfim, o Natal agora é uma desculpa para gastar dinheiro em excesso e também revela a hipocrisia que se acumulou ao longo do ano. O consumismo exacerbado contrasta com discursos sobre sustentabilidade e consciência ambiental que vivemos nos outros onze meses. É como se, durante esse período específico, a ética fica de lado em nome de um prazer imediato e efêmero.
E nem um foda-se o Natal, sequer,
A coisa é tão estranha que as pessoas utilizam o mês de dezembro para praticar a hipocrisia em grau máximo.
Inferno Astral
A transformação do “feriado” em um espetáculo comercial atingiu seu ápice com a ascensão das redes sociais. O mês de dezembro é, para mim, como um inferno astral(3) (meu astrólogo de estimação confirmou !), e fica cada vez pior. Se fosse possível, eu dormiria e acordaria somente no momento da abertura das lojas para a troca de presentes.
Plataformas como Instagram e outras tornaram-se os palcos virtuais onde a competição pela ostentação do “melhor” hipocrisia atinge níveis alarmantes. Fotos de viagens exóticas, banquetes suntuosos e presentes extravagantes inundam os feeds. Assim sendo, cria-se uma narrativa utópica que mascara a realidade muitas vezes mais cruel e mais solitária.
Enquanto o frenesi consumista ganha as redes sociais e compras online, as pessoas afastam-se dos problemas reais que provocam. Ao mesmo tempo que fotos e mensagens inundam as redes sociais, não se pensa no custo ambiental da produção em massa de produtos. Adicionalmente, aumenta-se o consumo de energia, a geração de resíduos e o desperdício é enorme em dezembro.
O que deveria ser a celebração da vida e da natureza, transformou-se num rosário de boas intenções que esgotam-se após 25 de dezembro.
Surpreendentemente, a voracidade das pessoas pelos bens de consumo, cada vez mais descartáveis, é uma triste ironia. Enquanto as redes sociais perpetuam a busca por uma felicidade superficial da abundância, as futuras gerações podem sofrer com a escassez.
E nas redes sociais, nem um foda-se o Natal,
Estoicismo
Se os filósofos estoicos, como Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio, vivessem nos dias atuais, surtaria. A diversidade religiosa entre cristianismo, judaísmo e islamismo(4) em relação ao Natal é um enigma. Os estoicos aceitariam, contudo reforçariam a busca pela tranquilidade interior, independente das crenças ao seu redor.
Certamente, não é aparente dicotomia entre as ideias estoicas sobre o Natal e a prevalência de frases vazias de felicidade e hipocrisia. Atualmente, os estoicos devem ver estas atitudes como manifestações erráticas por prazeres efêmeros e superficiais.
Os filósofos estoicos, portanto, ofereceriam uma perspectiva crítica sobre as festividades natalinas, inclusive incentivando um foda-se o Natal. Seria uma contraposição a falsa alegria diante das atrocidades que a humanidade vivencia. A guerra entre representantes do judaísmo e islamismo, no Oriente Médio deveria servir de chamamento à realidade.
Em suma, não precisa ser um estoico para repensarmos o significado do “feriadão” de um mês e suas hipocrisias. A influência das redes sociais e o domínio do consumismo, decerto, fazem parte de nosso cotidiano. Entretanto, temos que buscar um equilíbrio entre a celebração e a responsabilidade social.
É preciso que as pessoas entendam que o foda-se o Natal é para o que aí está, com redes sociais e tudo. Por isso, no Natal adoro a brincadeira do inimigo oculto, melhor não há !
(1) “E então… é Natal”
(2) “Hipocrisia Cristã e as Redes Sociais”
(3) “Inferno Astral e o mês de dezembro”
(4) “UOL – Natal de judeus, budistas, islâmicos e Cristãos”
Imagem: Entre sem Bater – Harlan Ellison – Foda-se o Natal
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
- Sugestões, indicações de erro e outros, uma vez que tenham o propósito de melhorar o conteúdo, são importantes. Basta enviar e-mail para pyxis at gmail.com, página do Facebook, associada a este Blog, ou perfil do Twitter, Threads, Koo etc.
- Alguns textos sofreram revisão, outros ainda apresentam erros (inclusive ortográficos) e sofrerão correção à medida que tornam-se erros graves (inclusive históricos).
- Algumas passagens e citações podem parecer estranhas mas fazem parte ou referem-se a textos ainda inéditos.