Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Na vida, especialmente nestes tempos modernos, como dizia Dercy Gonçalves, tudo é puro “Interesse“.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente. Uma adaptação textual, com redução, pode ter publicação em sites e outros blogs, como o “Recanto das Letras“.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Dercy Gonçalves
Dercy Gonçalves era uma artista ímpar(*), que dobrou muitos dos preconceitos e preceitos da mídia tupiniquim. Se existe ou existiu algum artista que podemos classificar como “ponto fora da curva“, em primeiro lugar vinha a Dercy. Podem falar o que quiserem dela, entretanto o seu “vai tomar no cu” é um clássico, inimitável.
Dolores Gonçalves Costa, artisticamente conhecida como Dercy Gonçalves (Santa Maria Madalena, 23 de junho de 1907 – Rio de Janeiro, 19 de julho de 2008), foi uma humorista, atriz, autora, diretora teatral, produtora teatral e cantora brasileira. Oriunda dos espetáculos circenses, tornou-se uma das maiores estrelas do auge do teatro de revista na década de 1930 e da produção cinematográfica brasileira a partir da década de 1940. Foi reconhecida pelo Guinness Book como a atriz com maior tempo de carreira na história mundial, totalizando 86 anos. Celebrada por suas entrevistas irreverentes, bom humor e emprego constante de “palavrões“, foi uma das maiores expoentes do teatro de improviso no Brasil.
Fonte: Wikipedia (Português)
Tudo é Interesse
Anteriormente, escrevi sobre o palavrão(1) com a ideia de homenagear Dercy Gonçalves. Entretanto, o mesmo palavrão dito por ela era muito diferente de qualquer um que disser a mesma coisa hoje. Muitas pessoas, especialmente as falsas pudicas, torcem o nariz ao ouvir o nome da brilhante atriz. A quase centenária artista merece muito mais do que homenagens póstumas, é o nosso verdadeiro ícone das artes cênicas.
Suas frases tinham muito mais de realidade e sinceridade do que as pessoas imaginam. Aqueles que riam das suas declarações nem imaginam porque estavam rindo das verdades da Dercy. Nos dias atuais, cada vez mais, tudo é interesse, a maioria escusos e inconfessáveis. Reina a hipocrisia(2) nas redes sociais, com os interesses por trás de tudo e de todos.
Acepções
Interesse. s.m. 1. Proveito, utilidade, conveniência, vantagem. 2. Lucro. 3. Juros. 4. Parte dos lucros que toca a cada sócio. 5. Atenção. 6. Importância, valor. 7. Desejo de ganhos. 8. Cobiça. 9. Empenho. 10. Desejo veemente.
Fonte: Dicionário Priberam
Hipocrisia nas Redes Sociais
As redes sociais têm se tornado uma parte integral de nossas vidas no século XXI. Os impactos e efeitos na forma como nos relacionamos assemelha-se à ideia de que “na vida tudo é um jogo” e “tudo é interesse“. Como se não bastasse, podemos expandir a ideia para a vida real, a vida digital e o mundo virtual.
No contexto das redes sociais, “tudo é interesse” se refere à maneira como elas nos permitem compartilhar nossa vida e paixões.
No Instagram, por exemplo, temos um espaço visual onde podemos mostrar nossas melhores fotos e momentos visuais. Certamente, o conteúdo textual nesta plataforma é somente um lero-lero sobre a imagem, normalmente, falaciosa. No Twitter (me recuso a chamar de X), por outro lado, é um espaço de texto onde podemos compartilhar nossas ideias e opiniões.
Desse modo, essas plataformas nos permitem criar uma identidade pessoal e se conectar com outras pessoas que compartilham o nosso interesse.
E, surpreendentemente, não importa se o que compartilhamos é falso ou verdadeiro, depende das recompensas que oferecemos.
Em suma, nestas plataformas e redes sociais reina a hipocrisia e falsidade.
O Outro Lado
As redes sociais deveriam – pelo menos a ideia inicial era esta – servir para propósitos mais nobres e inteligentes. No entanto, as teorias de Nélson Rodrigues, Umberto Eco, Quintana, Einstein e tantos outros prevalecem e ampliam-se a cada compartilhamento.
Além disso, as redes sociais deveriam ter conteúdos mais criativos e autênticos.
Em um serviço de mídia social, a princípio, a autenticidade atrai muito mais seguidores do que a falsidade e as aparências(3).
Portanto, as redes sociais deveriam mostrar nosso mais puro interesse e paixão de maneira mais pessoal e autêntica.
Contudo, a ideia de que “na vida tudo é um jogo” e a expansão da falsidade, não encontram adversários. Além disso, as redes sociais nos impedem de sermos mais criativos e autênticos.
O outro lado (o do bem) mistura-se com o mal, as fake news, os perfis falsos, e o caos predomina por todos os cantos.
Contraponto
Enfim, as redes sociais são espaços virtuais onde as pessoas se comunicam, compartilham informações e expressam opiniões. Desse modo, durante as interações nas redes sociais, aparecem ambientes onde tudo é um jogo de interesse. Em outras palavras, as pessoas buscam apenas benefícios próprios, como ganhar seguidores, likes, dinheiro ou fama.
No entanto, essa visão muito simplista ignora os aspectos positivos (poucos) e as potencialidades das redes que não aproveitamos.
Uma contraposição racional a essa realidade cruel é a hipótese de que as redes podem ter fins sociais, educacionais, culturais, políticos e humanitários. É provável que se assumirem a função de ferramentas de mobilização, conscientização e participação consigamos evoluir. Adicionalmente, se aplicarmos os comportamentos de solidariedade, diversidade e inclusão, sobrepondo ao interesse individual, teremos sucesso.
Por meio das redes sociais, é possível se informar, nos educarmos, divertirmos e nos engajarmos em causas coletivas e comunitárias. Inclusive apoiando financeiramente projetos de crowdfunding(4) e similares.
Redes Positivas
Alguns exemplos de como as redes sociais podem ter um papel positivo na sociedade são:
– Divulgação e apoio de projetos sociais, ambientais e culturais, como campanhas de doação, preservação, valorização e de incentivo à arte e à cultura.
– Promoção e facilitação no acesso à educação, à informação e ao conhecimento, como cursos online, podcasts, vídeos educativos, livros digitais etc.
– Estímulo e ampliação do debate público e da cidadania, através de fóruns, enquetes, petições, manifestações e outras formas de participação política.
– Ampliação e consolidação do respeito à diversidade e à pluralidade, apoiando páginas, perfis, hashtags e outras formas de expressão cultural e social.
As redes sociais, certamente, não são apenas um jogo de interesse ou conveniência, mas estes fatores estão em alta.
É provável que os espaços de oportunidades, de aprendizagem, de comunicação e de transformação social sejam menores e menos visíveis. A utilização das redes de forma positiva ou negativa, depende das intenções, das escolhas e das atitudes das pessoas que as utilizam.
Cabe a cada um de nós usar as redes sociais de forma consciente, crítica, ética e responsável.
Em suma, você não me dá nada e eu não te dou nada também, e “Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) Resumir Dercy como “artista ímpar” é muito pouco. Como humorista, colocaria no chinelo quase todos os comediantes de stand-up do Brasil.
(1) “Palavrão – aka swear words and blasphemy“
(2) “Hipocrisia no comando”
(3) “Entre sem bater – Epicteto – As Aparências”
(4) “Entre sem bater – Paul Krugman – O Crowdfunding”
Imagem: Entre sem Bater – Dercy Gonçalves – Tudo é Interesse
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
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