Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Churchill foi, no seu tempo, o imperador do maior “Império” colonizador do planeta e soube controlar a mente de seus súditos.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Winston Churchill
É provável que Winston Churchill seja uma das personalidade contemporâneas com o maior número de atribuições de citações falsas(*). São dezenas de frases e pensamentos que ele nunca sequer cogitou verbalizar. Por outro lado, muitos de seus discursos tiveram a intenção de manter seu império sob controle. Desta forma, a frase de um de seus discursos têm uma confirmação, reafirmação e premonição.
Sir Winston Leonard Spencer Churchill (30 de novembro de 1874 – 24 de janeiro de 1965) foi um estadista, soldado e escritor britânico que serviu duas vezes como primeiro-ministro do Reino Unido, de 1940 a 1945 durante a Segunda Guerra Mundial, e novamente de 1951 a 1955. Foi Deputado ao Parlamento (MP) de 1900 a 1964 e representou um total de cinco círculos eleitorais. Ideologicamente adepto do liberalismo econômico e do imperialismo, foi durante a maior parte da sua carreira membro do Partido Conservador, que liderou de 1940 a 1955. Foi membro do Partido Liberal de 1904 a 1924.
Fonte: Wikipedia (inglês)
Império
Em primeiro lugar, não gosto de impérios, monarquias absolutistas e regimes autocráticos e ditatoriais. Desse modo, minha simpatia pelos pensamentos de Churchill, uma espécie de déspota de um império global, é diminuta. Certamente, Winston Churchill, foi um dos mais célebres estadistas do século XX e proferiu inúmeras frases verdadeiras, até nos dias atuais.
Por exemplo, em um discurso em Harvard, ele fez uma afirmação profética: “O império do futuro será o império da mente.” Esta frase, ao mesmo tempo simples e profunda, destaca a importância do domínio psicológico e intelectual no mundo da informação. Certamente, a persuasão das pessoas sobre as pessoas, menos pelas ideias, são poderosas ferramentas de controle das massas.
Nos tempos atuais, o advento das redes sociais trouxe à tona uma nova forma de império. Uma forma de governo sem as fronteiras físicas, mas sim o domínio pelas ideias, crenças e narrativas que dominam a mente das multidões. Este império moderno forma-se e perpetua-se através de dogmas e crenças que se disseminam de maneira sutil e insidiosa nas plataformas digitais.
O poder de moldar opiniões, comportamentos e até mesmo identidades está agora nas mãos dos donos do império da mente.
Império da Mente
As redes sociais, como Facebook, Twitter, Instagram e Tik Tok, certamente são as arenas principais das batalhas ideológicas. Estas plataformas são os novos campos de influência, com seus algoritmos sofisticados que decidem o que aparece no feed de cada um. Desse modo, reforçam-se as crenças preexistentes e cria-se bolhas de informação. O fenômeno, que as redes chamam de câmara de eco, é um dos pilares do império da mente contemporânea.
Dentro destas bolhas, as pessoas recebem, repetidamente, conteúdos que reforçam aquilo que elas querem ouvir e concordar. Desta forma, fortalecem dogmas e absurdos desumanos, impossibilitando a abertura para perspectivas divergentes.
Os dogmas e crenças que dominam o cenário global variam amplamente, mas alguns se destacam pela sua penetração e impacto. Um verdadeiro império da mente forma-se, por exemplo, com a crescente crença em teorias da conspiração. Movimentos como o QAnon nos Estados Unidos ou os antivacina ganham milhares de adesões nas redes sociais, instantaneamente. Certamente, alimentam-se da desinformação e desconfiança nas instituições tradicionais, inclusive da mídia séria e investigativa. Estas teorias não apenas distorcem a realidade, mas criam uma base sólida de seguidores fanáticos. Estes integram um império de pessoas que é mais uma massa de manobra e agem, muitas vezes, com consequências perigosas para a sociedade.
Século do Ego
Como se não bastasse, um profissional de convencimento, que agora chamam de publicitário ou marqueteiro, colocou fogo no mundo. A influência que a propaganda exerce sobre as pessoas ainda determina comportamentos como o egocentrismo e o consumismo(1). Temos, nos últimos cem anos, um consumismo além das necessidades e capacidades das pessoas. Adicionalmente, a promoção incessante de desejos inalcançáveis para a maioria, através da publicidade nas redes sociais, é cruel.
Em outras palavras, através do monitoramento constante do comportamento dos usuários, as empresas tornam-se um império do mal. As mídias atuais podem oferecer produtos e serviços com uma precisão assustadora, incentivando um ciclo interminável de consumo. Este comportamento agrava-se na posição dos influenciadores digitais, servos que recebem as migalhas do império. Eles, notadamente, recebem recompensas para promover um estilo de vida ideal, materialista e Distópico. O resultado é uma cultura onde o valor pessoal mede-se, frequentemente, pela posse de bens materiais.
Além disso, as redes sociais têm sido um terreno fértil para o crescimento do extremismo político, o que é maravilhoso para os imperadores modernos. Movimentos populistas e nacionalistas encontram nessas plataformas um meio eficaz para difundir suas mensagens e recrutar súditos. A capacidade de atingir um público global instantaneamente, e sem mediação, permite que ideologias extremas floresçam ou renasçam. Desse modo, não é surpresa que ocorra uma polarização crescente nas sociedades ao redor do mundo, digital e real.
Este fenômeno recrudesce com as campanhas de desinformação, sob coordenação de atores estatais e não estatais. A exploração da situação é, sem dúvida, uma forma de aproveitar das vulnerabilidades das plataformas para semear discórdia e desconfiança.
Meritocracia
Nesse ínterim, um termo que surgiu após o auge de Churchill na política, aparece com força em qualquer império. Podemos afirmar que a crença na meritocracia, inclusive digital, também merece destaque e não é por motivos nobres. Muitos acreditam que a Internet, as tecnologias e as redes sociais democratizaram as oportunidades. Assim sendo, seria possível que qualquer pessoa, independentemente de sua origem, alcançasse o sucesso e reconhecimento.
No entanto, esta visão frequentemente ignora as desigualdades estruturais que persistem e até se ampliam no império digital. O acesso desigual à tecnologia e à educação digital cria um fosso entre a burguesia digital e a plebe. Surpreendentemente, conceitos como direita e esquerda, dignos de revoluções monarquistas, ganham falsa dicotomia na polarização.
Um dos dogmas mais insidiosos, com toda a certeza, é o culto à imagem e à perfeição, que déspotas e pregadores de púlpito disseminam. A pressão para se conformar a padrões irreais de beleza e sucesso promove uma crise de saúde mental(2), especialmente entre os jovens. A constante comparação com vidas, aparentemente perfeitas, causam ansiedade, depressão e baixa autoestima. A falácia da meritocracia amplifica-se pelos filtros e pelas ferramentas, que criam uma realidade virtual inatingível para a maioria.
Império dos Dogmas e Crenças
Nesse cenário, dogmas, mitos e crenças se erguem como os novos senhores no império digital, comandando as mentes e corações de milhões. Ideologias fixas e imutáveis se espalham como vírus, alimentando a polarização e o extremismo. A verdade cede espaço à fé cega, e o debate construtivo se transforma em guerra de narrativas.
Narrativas
Desse modo, destacamos as temáticas em que as narrativas auxiliam na formação de impérios da mente.
- Religiões: As crenças religiosas, por vezes dogmáticas e excludentes, encontram nas redes sociais um terreno fértil para disseminação e recrutamento. Discursos de ódio e intolerância se camuflam sob a capa da fé, alimentando conflitos e divisões.
- Ideologias Políticas: Partidos políticos e líderes populistas manipulam as redes sociais para propagar suas agendas. Podemos citar, por exemplo, ideias que se baseiam no nacionalismo extremo, xenofobia e preconceito. A informação se torna uma arma política, que aplica-se para demonizar o “outro” e consolidar o poder.
- Teorias da Conspiração: O medo e a insegurança encontram nas redes sociais um espaço propício para o florescimento de teorias da conspiração. Informações falsas, versões e fantasias se propagam rapidamente, alimentando a desconfiança nas instituições e na realidade.
Sem Controle
Por outro lado, as consequências são nefastas para a maioria da população e fogem ao controle de todos.
- Polarização: A fragmentação da sociedade em grupos cada vez mais homogêneos e com visões divergentes impede qualquer diálogo. Desse modo, a polarização política e social se intensifica, criando um clima de tensão e instabilidade.
- Violência: A difusão de discursos de ódio e intolerância traduzem-se na violência real, com ataques a minorias e o consenso inexiste. A desinformação e a manipulação da opinião pública contribuem para a radicalização de indivíduos e grupos.
- Erosão da Democracia: O império das mentes ameaça, inquestionavelmente, os pilares da democracia. A liberdade de expressão se choca com a proliferação de discursos de ódio e a manipulação da informação. A confiança nas instituições e nos processos democráticos sofre corrosão pela desinformação e pela polarização.
Rompendo o ciclo
Churchill, em sua sabedoria, reconheceu que o futuro seria daqueles que conquistassem as mentes e os corações. É provável que ele jamais defenderia, abertamente, a tirania dos dogmas e crenças, menos para o império que ele manteve. Desta forma, para romper o ciclo da manipulação e da polarização, é necessário:
- Educação Crítica: Incentivar o pensamento crítico e a capacidade de questionar informações, combatendo a desinformação e a proliferação de dogmas.
- Alfabetização Midiática: Ensinar as pessoas a navegar pelas redes sociais de forma consciente e crítica, reconhecendo vieses e manipulações.
- Promoção do Diálogo: Criar espaços para o diálogo construtivo entre diferentes grupos e visões de mundo, combatendo a polarização e o extremismo.
- Regulamentação das Redes Sociais: Estabelecer regras para combater a proliferação de discursos de ódio, a manipulação da informação e a disseminação de notícias falsas.
A conquista do futuro, como preconizava Churchill, está acontecendo pela imposição de dogmas. Por outro lado, a liberdade de pensamento, abertura do diálogo e a disseminação da verdade são um império obscuro. Para resistir a esse domínio, é necessário um esforço consciente de educação, crítica e, acima de tudo, compreensão das experiências alheias. Somente assim poderemos aspirar a um futuro onde a escravidão mental(3) inexista e seja um campo de liberdade e não de opressão.
“Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) Acredito que as frases de Churchill eram hipócritas e tinham objetivo de enganar seus súditos. Se ele era assim com os seus, o que diria para outros povos? Lamentável !
(1) “Entre Sem Bater – Noam Chomsky – O Consumismo”
(2) “Os Alienistas e a Saúde Mental”
(3) “Entre Sem Bater – Bob Marley – Escravidão Mental”
Imagem: Entre sem Bater – Winston Churchill – Império da Mente
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
- Sugestões, indicações de erro e outros, uma vez que tenham o propósito de melhorar o conteúdo, são importantes. Basta enviar e-mail para pyxis at gmail.com, página do Facebook, associada a este Blog, ou perfil do Twitter, Threads, Koo etc.
- Alguns textos sofreram revisão, outros ainda apresentam erros (inclusive ortográficos) e sofrerão correção à medida que se tornam erros graves (inclusive históricos).
- Algumas passagens e citações podem parecer estranhas, mas fazem parte ou referem-se a textos ainda inéditos.