Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Dizem que o “Tempo” é senhor da razão, mas o Provérbio Chinês explica o que muitos não sabem.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Provérbio Chinês
Provérbios chineses, como a maioria dos provérbios cuja origem são culturas milenares, são excepcionais formas de reflexão. Contudo, a interpretação de um provérbio não pode se contaminar ou deteriorar com o tempo. Desta forma, a vulgarização de um provérbio como “… o tempo é senhor da razão …” cria muitas falácias e paralogismos. Provérbios chineses são, sem dúvida, expressões que podem, a partir de um grupo de ideogramas, ter significações com muitas diferenças e abordagens.
Existem muitos provérbios chineses, alguns dos quais entraram na cultura de vários idiomas ao longo do tempo. A cada cultura as formas que são introduzidas apresentam diferentes graus de fidelidade, compreensão, interpretação e até autoria. Um exemplo notável é “Uma jornada de mil milhas começa com um único passo”, do Dao De Jing, atribuído a Laozi. Provérbios chineses abrangem todos os aspectos da vida e são amplamente usados na fala cotidiana, em contraste com o declínio do uso de provérbios nas culturas ocidentais. A maioria é distinta de formas literárias elevadas, como Xiehouyu e Chengyu, e são ditados comuns de autoria geralmente anônima, originários de “pequena tradição” em vez de “grande tradição”.
Fonte: Wikipedia (inglês)
O Tempo
Em primeiro lugar, é preciso diferenciar provérbios que originam-se da cultura milenar dos povos originários(*) do capítulo provérbios da Bíblia. A cada texto da série “Entre Sem Bater”, quando a autoria tiver atribuição de provérbio, terá a referência a qual cultura se refere ou originou-se. Desse modo, quando se tratar de algum provérbio com origem em alguma religião, outras referências terão aplicação. Por outro lado, é muito comum que em livros como “Provérbios” da Bíblia, existam referências a diversos traços culturais dos provérbios. Por isso, torna-se muito difícil saber a origem e a interpretação de provérbios culturais. Em outras palavras, um provérbio sobre o tempo, pode ter pequenas variações de uma cultura para outra. Adicionalmente, poderá ter adaptações que perdem a essência da ideia e da cultura original.
O Tempo, Senhor da Razão
A ideia do provérbio original diz respeito, sobretudo, ao caráter de um homem e a distância que ele percorreu na vida. Ao contrário do que um ditado popular que se espalhou no Brasil, por exemplo, alguns anos atrás, não é sobre fatos e versões. Aliás, no caso de um ex-presidente tupiniquim, o tempo mostrou o péssimo caráter dele.
O passar do tempo não mostra, com toda a certeza, a verdade do fato(1). Mostra, outrossim, o caráter dos que se relacionaram com um fato, expõe peculiaridades das versões para um mesmo tema e realidade. Assim sendo, aqueles que ficam repetindo expressões popularescas deveriam abaixar a bolinha pois o caráter de cada um está em jogo.
Inquestionavelmente, o provérbio chinês oferece a oportunidade de uma profunda reflexão de tudo em nossas vidas. Em outras palavras, mais do que nunca a perseverança e a paciência são vitais na avaliação do verdadeiro valor de um ser humano. Para compreender plenamente este provérbio, é necessário dividi-lo em partes e analisar as analogias que se apresentam. Desse modo, podemos contextualizá-lo aos tempos modernos, onde a impaciência e a pressa obscurecem nossos julgamentos.
A Força de um Cavalo
A primeira parte do provérbio sugere que a verdadeira resistência de um cavalo só pode ter uma avaliação ao longo de uma longa jornada. Em uma corrida curta, um cavalo pode demonstrar velocidade e vigor, mas nas grandes distâncias a sua resistência, força e sua superação se revelam. Analogamente, devemos considerar as qualidades necessárias para enfrentar longos desafios, como perseverança, resiliência e adaptabilidade.
Atualmente, a paciência para observar e avaliar ao longo do tempo muitas vezes falta a qualquer ser humano. Vivemos um tempo da gratificação instantânea, onde mede-se o sucesso e o caráter por conquistas rápidas e imediatismos. Aplicativos de redes sociais, por exemplo, promovem uma cultura de feedback instantâneo. Surpreendentemente, julga-se postagens pelo menor tempo como mais comentários desconexos ou “curti” e “compartilhei”.
Esse ambiente pode distorcer nossa percepção da verdadeira habilidade e valor, só mostra uma força que, muitas vezes, é inútil para o coletivo. Desta forma, valorizamos mais a aparência de sucesso do que a substância que ao longo do tempo deveria emergir.
O Tempo e o Caráter
A parte importante do provérbio chinês, como numa conclusão à analogia, é a mais significativa e essencial. Aqui, o tempo é o teste que revela as qualidades internas e o verdadeiro caráter de uma pessoa. Assim como a força de um cavalo verifica-se pela distância, o caráter(2) humano revela-se através do tempo e das experiências de vida.
No calor do momento, alguém pode demonstrar paciência, gentileza, honra ou integridade. Entretanto, a consistência dessas qualidades e a coerência, ao longo de muitos anos, que realmente definem o caráter.
A apreciação pelo desenvolvimento gradual do caráter submerge, hoje em dia, na busca por resultados rápidos. Certamente, a velocidade das comunicações e a rapidez das mudanças sociais e econômicas influenciam comportamentos e reflexões. Subestimamos a importância do tempo na formação e avaliação do caráter e raramente fazemos reflexões diante de alta tecnologia.
A pressão para alcançar sucesso imediato leva as pessoas a adotarem atitudes que prometem ganhos rápidos. Desse modo, fica impossível sustentar valores éticos a longo prazo ou de maneira consequente. As redes sociais, de fato, exemplificam esse fenômeno, onde a construção de uma imagem pública fugaz é prioritária em relação à integridade e respeito.
Mutatis Mutandis
Tecnologias e modernidades alteram, significativamente, nossa relação com o tempo. Agravam, notadamente, a nossa capacidade de avaliar a verdadeira força e caráter com a qualidade que cada situação exige. A impaciência tornou-se uma característica comum em uma cultura que valoriza a velocidade e a eficiência imediatista, acima da consistência e da durabilidade.
Esse fenômeno tem impactos profundos, não apenas em como percebemos os outros, mas também em como percebemos a nós mesmos. É o que Maistre denominou como a cegueira dos homens(3), que não enxergam a si próprios.
A pressa e o tempo escasso nos leva a julgamentos superficiais, tanto sobre nossa própria capacidade quanto sobre o caráter dos outros. Isso resulta em decisões impulsivas e relacionamentos superficiais, onde a profundidade e a resistência ficam de lado. Em contrapartida, redescobrir o valor do tempo e da paciência permitirá que avistemos as qualidades que realmente importam a longo prazo.
Em suma, o provérbio chinês nos ensina uma lição valiosa sobre a importância do tempo na avaliação da verdadeira força e caráter. É preciso traduzir a sabedoria desse provérbio para pensarmos e valorizarmos a paciência e os critérios de julgamentos. Desse modo, podemos cultivar um entendimento mais profundo e uma apreciação mais verdadeira das qualidades que realmente importam.
“Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) Povos originários são grupos de pessoas habitaram uma determinada região antes de qualquer intervenção de outros povos. O tempo na História mostrou que esses povos sofreram o domínio cultural nas invasões de seus espaços.
(1) “Entre Sem Bater – Cesare Beccaria – Verdade do Fato”
(2) “Entre Sem Bater – George Elliot – Caráter”
(3) “Entre Sem Bater – Joseph de Maistre – A Cegueira dos Homens”
Imagem: Entre sem bater – Provérbio Chinês – O Tempo e o Caráter
Nota do Autor
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