Entre Sem Bater - Aristóteles - A Democracia

Entre Sem Bater – Aristóteles – A Democracia

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. “Democracia” deveria ser algo que desse igualdade para todos. Contudo, desde Aristóteles e seus tempos de escravos, isso é uma baita e insana utopia.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Aristóteles

Aristóteles, ou Aristotle em outros idiomas, foi um filósofo que estaria em apuros atualmente. Em outras palavras, são tantas frases que algumas ficam muito difíceis de cravar a autoria. Desse modo, é um alívio quando usamos as licenças poéticas de aforismos e paráfrases, de terceiros. Certamente, o grego estará sempre no rol das maiores citações do planeta e desta civilização moderna. Ainda bem que Aristóteles era um polímata e podia dar palpite em tudo, o que é quase um crime hoje em dia, mesmo numa democracia.

Aristóteles ( 384–322 a.C.) foi um filósofo e polímata grego antigo. Seus escritos abrangem uma ampla gama de assuntos abrangendo as ciências naturais, filosofia, linguística, economia, política, psicologia e artes. Como fundador da Escola peripatética de filosofia no Liceu de Atenas, ele iniciou a tradição aristotélica, para o desenvolvimento da ciência moderna. Ele nasceu na cidade de Stagira, no norte da Grécia, durante o período clássico. Seu pai, Nicômaco, morreu quando Aristóteles era criança, e ele foi criado por um guardião. Aos dezessete ou dezoito anos ingressou na Academia de Platão em Atenas e lá permaneceu até os trinta e sete anos ( 347 a.C.). Pouco depois da morte de Platão, Aristóteles deixou Atenas e, a pedido de Filipe II da Macedônia, foi tutor de seu filho Alexandre, o Grande, a partir de 343 a.C. Ele estabeleceu uma biblioteca no Lyceum que o ajudou a produzir muitas de suas centenas de livros sobre rolos de papiro.

Fonte: Wikipedia (Inglês)

Democracia

Em primeiro lugar temos que reconhecer que democracia está presente em 11 das 10 frases mais célebres sobre o tema. Contudo, na prática, em seu conceito básico e simples, não podemos comprovar em onze das dez nações democráticas(*). Em outras palavras, muita verborragia, interpretações, mas que faz prevalecer são as adjetivações ao substantivo. Temos, por exemplo, frases com democracia relativa(1), democracia guiada e uma infinidade de jeitinhos “democráticos”.

Como se não bastasse, existem ironias, falácias, afrontas, sarcasmo e um amplo leque de opções, para cada filósofo fazer prevalecer sua opinião. As frases sobre o tema são centenas ou milhares, algumas apenas adaptações, aforismos e paráfrases. Talvez, algum dia destes, se já não houver, existirá um livro, quase um dicionário de frases famosas sobre o tema. Com toda a certeza, é impossível passar uma opinião sobre o tema em um texto pequeno como este. E, surpreendentemente, as pessoas que vivem com pressa não possuem a paciência necessária para ler textos com mais de 300 palavras. Preferem vídeos engraçadinhos, piadas de stand-up e legendas que alinham-se com a superficialidade de suas concepções.

Enfim, se por um lado é fácil escrever um texto sobre democracia, por outro lado é impossível obter a compreensão de todos leitores. Desse modo, queremos abordar somente algumas frases interessantes, que provoquem o debate e a troca de ideias entre as pessoas. É preciso, em algum momento, que os grupos e redes sociais deixem o comportamento dos estultos de lado e valorizem a troca de ideias.

Top 5 – Frases sobre democracia

A escolha de 5 frases sobre conceitos de democracia e suas interpretações é de uma complexidade imensa. A realidade de cada nação, o momento histórico de cada uma tem um peso na frase que deveria ser objeto de análise. Por exemplo, falar de democracia na Grécia Antiga ou na França antes de sua revolução, tem pesos e dimensões diferentes.

A democracia muitas vezes significa o poder nas mãos de uma maioria incompetente.” George Bernard Shaw

Democracia é a forma de governo em que o povo imagina estar no poder.” Carlos Drummond de Andrade

A diferença entre uma democracia e uma ditadura consiste em que numa democracia se pode votar antes de obedecer às ordens.” Charles Bukowski

Se começássemos a dizer claramente que a democracia é uma piada, um engano, uma fachada, uma falácia e uma mentira, talvez pudéssemos nos entender melhor.” José Saramago

A democracia é como a tesoura do jardineiro, que decota para igualar; a mediocridade é o seu elemento.” Marquês de Maricá

Fonte: Citações.In

As frases acima são, quase que totalmente, irônicas ou críticas ao modo de como as pessoas dizem, praticam e vivem suas democracias. Desse modo, é compreensível que a maioria dos usuários de tecnologias e mídias digitais não gostem de debater estes temas. Assim sendo, um pequeno texto, como este, atua na linha de mostrar que pode existir um pouco de inteligência, até nas redes sociais.

Dēmokratía

Vivemos, atualmente, numa sociedade em vertigem(2), onde a velocidade da informação supera a capacidade humana de assimilá-la. Como se não bastasse, a forma profunda e crítica, necessária para essa assimilação, perde-se na generalização e superficialidade. Nesse contexto, conceitos fundamentais como democracia, justiça, liberdade, entre outros, se perdem de suas concepções originais.

A sociedade contemporânea, sem dúvida sob influência das redes sociais, novas tecnologias e mídias tradicionais e digitais, perdeu-se. É, cada vez mais, notória a inclinação da sociedade em abraçar uma postura imediatista, deixando para trás a reflexão e o debate.

Essa mudança na forma de consumir e interagir com a informação tem efeitos profundos e perversos e, raramente, perceptíveis. As redes sociais, em particular, promovem um ambiente onde a quantidade de informações, opiniões e conteúdos se multiplica de forma exponencial. No entanto, essa multiplicação não possui uma maior profundidade ou qualidade na discussão. Ao contrário, o que se observa é uma banalização dos discursos e a predominância de uma cultura de manchetes e slogans pueris e memes. Enfim, o que importa na sociedade “moderna” é o impacto imediato, e não a veracidade ou a profundidade das mensagens.

Certamente, um demagogo(3) fala tanto a palavra democracia que as pessoas até podem pensar que ele a pratica.

Meios de Comunicação

Esse fenômeno não é exclusivo das redes sociais, mas intensifica-se através delas e dos meios de comunicação. As mídias tradicionais, em sua tentativa de competir com a velocidade e a instantaneidade das novas plataformas, também sucumbem à superficialidade. Programas de notícias, artigos de opinião e debates televisivos muitas vezes optam por simplificar questões complexas. Desse modo, evitam o aprofundamento necessário para que o público compreenda plenamente o que está em jogo. Como se não bastasse, a incompetência de muitos que se dizem jornalistas é assustadora. Dessa forma, a sociedade acaba por formar suas opiniões e tomar suas decisões com base em fragmentos de informação. E, surpreendentemente, as pessoas não se importam com estes fragmentos fora de contexto, com distorções ou mentirosos.

A superficialidade, no entanto, não se limita apenas à forma como a informação tem seu consumo com açodamento. A maneira como as pessoas se expressam e interagem entre si é um dos grandes problemas da comunicação. Discussões nas redes sociais frequentemente se resumem a trocas de ofensas, insultos e polarizações extremas. Em outras palavras, o objetivo não é construir um diálogo, mas sim vencer uma disputa de egos e tolices. Esse comportamento reforça a ideia de que a complexidade das questões reduz-se a uma dicotomia simplista. Em suma, só existem dois lados opostos, uma polarização cartesiana, superficial e não uma pluralidade de perspectivas.

Superficialidade

Os efeitos dessa superficialidade são avassaladores, reais e preocupantes. Em primeiro lugar, a falta de um debate consistente e sério impede que a sociedade avance em direção a soluções reais para seus problemas. Quando as discussões se restringem a slogans e simplificações, perde-se a oportunidade de explorar as complexidades das questões. Inquestionavelmente, isso é essencial para a formulação de políticas públicas eficazes e justas numa democracia. Além disso, a falta de reflexão crítica facilita a disseminação de desinformação, teorias da conspiração e discursos de ódio. Estas atitudes, em alta nas redes sociais, encontram terreno fértil em uma sociedade que prefere respostas fáceis a perguntas difíceis(4).

Outro efeito perverso desse comportamento é o enfraquecimento das instituições democráticas. A democracia, por definição, requer um eleitorado bem-informado e capaz de participar de debates racionais e com fundamentos. Quando as pessoas optam por consumir informação de forma superficial, elas se tornam mais suscetíveis à manipulação e à propaganda. Por isso, a erosão dos valores democráticos que vivenciamos é uma realidade que parece não ter volta. O resultado é a polarização da sociedade, onde o diálogo e o consenso inexistem, e onde o extremismo e a intolerância ganham força.

Essa superficialidade tem, com toda a certeza, um impacto negativo na vida pessoal e nas relações humanas. Os anseios hedônicos dos usuários e a pressão por se manterem relevantes num mundo de mudanças, acirram o estresse e a ansiedade. As pessoas passam a viver de forma superficial, focando em aparências e em conquistas efêmeras, em vez de cultivar atitudes mais racionais.

Perdemos ?

Podemos dizer que estamos em completo envolvimento e interação com uma causa perdida?

Embora a maioria das pessoas possa estar presa a esse comportamento superficial, ainda existem raras exceções que dizem que não.  Essas pessoas nadando contra a correnteza, buscando informações de qualidade e um entendimento mais próximo  da realidade. Elas refletem criticamente sobre o mundo ao seu redor e engajando-se em debates construtivos. Desta forma, elas compreendem que o verdadeiro conhecimento exige tempo, esforço e paciência, e que a superficialidade é inimiga da sabedoria.

Portanto, é fundamental que a sociedade recupere a capacidade de refletir e debater de forma séria e consistente. Isso exige um esforço consciente para desacelerar, para resistir às tentações do imediatismo e valorizar a troca de ideias.

Enfim, a frase de Anísio Teixeira exprime o conceito do que precisa o país para avançar numa democracia.

Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da escola pública.” Educação para a Democracia” (1936, p. 247).

 

Amanhã tem mais …

P. S.

(*) Tenho uma forte convicção que as nações e governantes que mais falam a palavra democracia são os que mais a escondem de verdade. Talvez seja porque os privilégios e prerrogativas de poucos sejam uma forma de democratização para poucos, longe do povo.

(1)Entre Sem Bater – Ernesto Geisel – Democracia Relativa

(2) “Entre Sem Bater – Paulo Freire – Sociedade em Vertigem”

(3) “Entre Sem Bater – James Fenimore Cooper – Um Demagogo”

(4) “Entre Sem Bater – Rubem Alves – Perguntas e Respostas

 

Imagem: Entre sem bater – Aristóteles – A Democracia

Nota do Autor

Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.

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