Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Um “Gênio” não precisa ser um gênio verdadeiro, sobretudo se for alguém como Jonathan Swift em plena era da informação.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Jonathan Swift
A princípio, é difícil imaginar como era ser um satírico há uns três séculos. Contudo, ao lermos excertos do que eles escreveram, suas frases e seus pensamentos, ideias estranhas surgem de repente. Por exemplo, se existisse Internet trezentos anos atrás, ou se Jonathan Swift vivesse nos dias atuais, ele seria um gênio? Com toda a certeza, estas hipóteses só nos deixam a convicção de que o mundo mudou, e as pessoas estão perdendo a noção.
Jonathan Swift (30 de novembro de 1667 – 19 de outubro de 1745) foi um satírico anglo-irlandês, autor, ensaísta, panfletário político (primeiro para os Whigs, depois para os Tories), poeta e clérigo anglicano que se tornou reitor da Catedral de São Patrício, Dublin, daí seu apelido comum, “Dean Swift”. Swift é lembrado por obras como A Tale of a Tub (1704), An Argument Against Abolishing Christianity (1712), Gulliver’s Travels (1726) e A Modest Proposal (1729). Ele é considerado pela Encyclopædia Britannica como o principal satírico em prosa da língua inglesa. Ele publicou originalmente todas as suas obras sob pseudônimos — incluindo Lemuel Gulliver , Isaac Bickerstaff, MB Drapier — ou anonimamente. Ele era um mestre de dois estilos de sátira, os estilos horaciano e juvenaliano. Seu estilo de escrita irônico e impassível, particularmente em “A Modest Proposal”, levou a que essa sátira fosse posteriormente denominada “Swiftiana”.
Fonte: Wikipedia (inglês)
Gênio Incompreendido
A ideia de ser um gênio incompreendido acomete a maioria das pessoas que não se limita a pensar dentro de limites ou preconceitos. Atualmente, é muito comum um bando de idiotas se insurgir quando alguém mostra alguma coisa que eles não aceitam. Como se não bastasse, existem aqueles que preferem ser um idiota feliz(1) a ter que refletir sobre algo que confronte os seus dogmas.
Assim sendo, se a Internet existisse séculos atrás, e que fosse a invenção que revolucionou o mundo, como a imprensa – tudo seria diferente. É provável que hoje teríamos muitos outros avanços, mas na realidade, estamos precisando de mais pensadores como Swift.
Podemos afirmar ainda que nem precisa ser gênio para receber a incompreensão, rejeição, segregação e preconceito nas redes sociais. Basta ser original ou propor que as pessoas pensem sobre tudo que recebem nas suas timelines que sem dúvida terão oposicionistas.
Século XXI
Com o propósito de estimular sua imaginação: Jonathan Swift, um dos satiristas mais ácidos e mordazes da literatura, surge dos mortos(*). Surpreendentemente, ele se vê imerso nas maravilhas do século XXI. Ele abre sua primeira conta nas redes sociais e, em menos tempo do que leva para digitar “a moderação é para os fracos“. Ele receberia, sem dúvida, a ira dos moderadores que parecem mais capatazes e gente como Elon Musk o demitiria por justa causa. Adicionalmente, receberia ataques uma horda digital de idiotas valentões de teclado, com memes toscos, mentiras e insultos vazios.
Swift, que escreveu a brilhante observação – nossa frase-chave – se encantaria ao ver como suas palavras continuam se aplicando claramente. Nas trincheiras das redes sociais modernas, qualquer expressão de inteligência, originalidade ou reflexão recebe só a hostilidade. Ou seja, é o que resta para um bando de bufões virtuais ou de seguidores sem noção destes bufões.
Navegando pelas águas traiçoeiras de plataformas sociais, onde o valor da opinião mede-se por número de likes isso é o novo normal. Em sua, qualquer pessoa que ouse ir contra a corrente recebe rótulos de elitista, arrogante ou, pior ainda, irrelevante.
A ironia, claro, é que os reais irrelevantes são aqueles que se amontoam para criticar sem refletir. Ao dispararem respostas automáticas e sem substância, prontas para abater qualquer tentativa de discussão sensata, corroboram a teoria de Swift. E não precisa ser nenhum gênio para combater este povo, contudo, como eles são muitos, às vezes cansa.
Cenário Perfeito
Neste contexto de redes sociais sem limites e controle, com a idiotia reinante, temos um cenário perfeito para muitas batalhas.
Swift, sem dúvida, aproveitaria o teatro tragicômico de um gênio ou pensador independente enfrentando uma tropa de usuários fervorosos. Ele certamente apreciaria a fina camada de cinismo que cobre as interações digitais supérfluas e pueris. Inegavelmente, a velocidade e o volume de coisas que substituem a profundidade e a compreensão seriam o palco ideal para Swift. O que Swift, gênio ou não, entenderia instantaneamente é que as redes sociais tornaram a aliança dos idiotas incrivelmente eficiente.
Uma vez que as redes sociais são, simultaneamente, uma dádiva e uma maldição, temos a confusão mental(2) que se abate sobre as pessoas. São palcos onde os gênios modernos podem brilhar, mas também arenas onde os leões estão sempre prontos para devorar. À medida que o algoritmo promove o conteúdo viral, raramente o mais inteligente, ele incentiva a reatividade ao invés de reflexão.
Nesse cenário perfeito, qualquer um que faça um esforço sério para contribuir com algo substancial logo se depara com “gênios” idiotas. Em outras palavras, ele se encontra cercado por uma multidão de críticos ligeiramente mais experientes do que um robot.
Mediocridade em Alta
O dilema não reside apenas na presença dos idiotas, mas na configuração das próprias plataformas. As redes sociais não são um projeto para fomentar o pensamento crítico ou o diálogo respeitoso; são máquinas de eco que amplificam ruídos. Desse modo, recompensam a conformidade, a mediocridade e as aparências. Um gênio moderno se aventurando neste espaço será como um peixe fora d’água, nadando contra uma maré de mediocridade em alta.
Para aqueles poucos que têm a audácia de refletir sobre o mar de banalidades que inunda as redes, o espetáculo é, no mínimo, desalentador. A enxurrada de desinformação, a glorificação da ignorância e a hostilidade em relação a qualquer forma de pensamento profundo são a norma. Tal ambiente seria um tesouro para o sarcasmo afiado de Swift, que encontraria material infinito para suas críticas ácidas.
Enfim, a frase de Swift sobre a união dos idiotas contra o gênio é uma lente perfeita para observar as dinâmicas tóxicas das redes sociais. Sua relevância moderna é inegável e, talvez, um tanto reconfortante na sua previsibilidade que, inquestionavelmente, poucos percebem. Os idiotas, afinal, podem ganhar novas ferramentas e plataformas a cada nova startup. Por outro lado, a essência destes seres permanece a mesma: uma resistência obstinada àquilo que não compreendem. Portanto, a determinação feroz em arrastar para baixo qualquer um que ouse tentar elevar a conversa prevalece.
Se Swift estivesse aqui hoje, é provável que ele ergueria um copo (virtual, é claro) em um brinde sarcástico aos gênios e pensadores independentes. Certamente, somos poucos e vamos continuar a lutar, apesar da implacável tempestade de idiotice que aparece em nosso caminho.
Neste contexto, é a nossa resistência que mantém viva a chama do intelecto em um mundo de um sobrenatural vazio digital. Um gênio incompreendido contra milhões, é muito injusto.
“Amanhã tem mais …” Cheers !
P. S.
(*) Com a Inteligência Artificial e outros recursos para manter o espírito das pessoas vivos na esgotosfera, não será difícil isso acontecer em breve.
(1) “Entre Sem Bater – Tati Bernardi – Idiota Feliz”
(2) “Confusão em Tempos de Redes Sociais”
Imagem: Entre sem bater – Jonathan Swift – Gênio Incompreendido
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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