Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” (← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória”). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento de muitos, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. A maioria das frases que têm sua atribuição ao personagem Anonymous podem ser aforismos ou até mesmo uma paráfrase de alguém. Após “Nove Anos” de muito sofrimento e luta, até os Anonymous, vítimas do crime de Mariana, estão sem rumo.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Anonymous
Este é o nome do perfil (Anonymous) que usarei na trilha “Entre sem bater” para atribuir a autoria de algumas frases-chave de cada texto. O principal motivo é não identificarmos a origem, autoria ou primeira referência de cada pensamento. É, também, uma forma de reconhecer o valor dessas citações, que não fazem parte da lista de hoaxes, fake news e mentiras. Estes nove anos da tragédia de Mariana produziu muitas vitimas anônimas com histórias e sofrimento para contar.
Excepcionalmente, este perfil terá utilização para muitas frases e, a princípio, representará um personagem, conforme cada acepção.
Acepção 1 – Anonymous (anônimo em português ) é a forma adjetiva de anonimato derivada da palavra grega anonymia, ou “sem nome”. Geralmente se refere ao estado da identidade pessoal de um indivíduo, ou informações de identificação pessoal, não públicos.
Acepção 2 – Anonymous é um movimento ativista internacional descentralizado e coletivo. É um movimento hacktivista conhecido principalmente por seus vários ataques cibernéticos contra instituições governamentais e corporações empresariais/sociais. Teve origem em 2003 ao representar o conceito de muitos usuários de comunidades na Internet. Os membros anônimos ( conhecidos como anons ) às vezes se apresentam com máscaras de Guy Fawkes, como na história em quadrinhos. Alguns anons também optam por mascarar suas vozes por meio de trocadores de voz ou programas de conversão de texto em fala.
Fonte: Wikipedia (inglês).
Nove Anos
Uma barragem da mineradora Samarco localizada no município de Mariana (MG), rompeu-se no dia 5 de novembro de 2015(*), deixando um rastro de 19 mortos. O maior desastre ambiental, não natural, do Brasil, quiçá do mundo, nos últimos tempos. Com toda a certeza, não foi somente pela força da natureza ou acidente natural evitável. Era a crônica de um sinistro que se anuncia a cada dia e a cada omissão, logo, não foi acidente, foi crime. Após 9 anos, podemos dimensionar o que aquela população sofreu, contudo um “Anonymous” resumiu tudo na frase-chave.
Este evento trágico evidencia um problema que não se limita ao acaso, mas que emerge de negligências e irresponsabilidades. Adicionalmente, os interesses corporativos que priorizam o lucro sobre a segurança ambiental e humana são o objetivo de muitos acionistas. Desde que essa perspectiva é predominante, muitos especialistas e a sociedade em geral indicam que o ocorrido foi um crime.
Enfim, são 9 anos com mais do que um decálogo de impunidade(1). Certamente para tristeza de muitos e omissão criminosa de outros tantos.

Bento Rodrigues – Mariana – Foto: Rodney Costa
Os Sobreviventes
A frase de uma das vítimas do desastre ambiental em Mariana (MG), expressa de maneira contundente uma sensação de abandono e desalento. O rompimento da barragem, nove anos atrás, deixou um rastro de destruição sem precedentes, e ainda assombra as vítimas. O desastre não se limita apenas à dimensão ecológica; ele é um crime humanitário e social. Assim sendo, as consequências reverberam na vida de centenas de famílias que perderam seus filhos, seus trabalhos e a própria história.
Ao longo desses nove anos, a morosidade da Justiça é uma constante que agrava ainda mais o sofrimento das vítimas e da sociedade. É vergonhosa, a lentidão no andamento dos processos judiciais e as barreiras para responsabilizar as grandes corporações. As empresas globais contam com a notória falta de vontade política, que contribuem para a sensação de impunidade. Por isso, este sentimento é comum em todos aqueles que continuam a viver com as marcas do desastre. O peso da incerteza é devastador; para muitos, viver o presente já é um desafio, enquanto o futuro é uma incógnita sob abandono e descaso.
Injustiça
A lentidão na Justiça (nove anos sem condenações é muito tempo) se traduz em um cotidiano marcado por lutas e dor. Famílias sem seu teto, terras improdutivas, e a escassez de recursos básicos evidenciam o quão distantes estão os atos justos. A frase do sobrevivente ressoa como um grito que, além de pedir ajuda, relembra a urgência de uma resposta mais célere. Ela deixa claro que, enquanto as pessoas não enfrentarem a realidade de forma empática, jamais compreenderão o antes e o que está por vir.
A impunidade dos responsáveis é um fantasma que paira sobre a situação, alimentando a desconfiança e a desesperança nas comunidades. A impunidade não apenas desacredita o sistema jurídico e político. Sugere também que a vida humana e o meio ambiente possuem um valor secundário frente aos interesses econômicos e políticos.
Grandes corporações como a Vale e a BHP Billiton, responsáveis por desastres, continuam a operar afrontosamente. Por outro lado, as vítimas enfrentam processos longos e desgastantes para obter o mínimo de indenização. A percepção de que a Justiça brasileira e internacional não tem a rapidez necessária para garantir os direitos básicos das vítimas é clara. Desta forma, reforça-se um ciclo de descrença, criando uma barreira invisível, porém concreta, entre as comunidades e a justiça efetiva.
Revelações
O que se revela, no entanto, é que o desastre ambiental em Mariana é também um desastre moral e institucional. Por isso, a vulnerabilidade do sistema jurídico brasileiro diante de interesses corporativos poderosos fica patente. O sofrimento dos sobreviventes não é apenas um dano passado, mas uma condição que se prolonga, aguardando respostas concretas e justas.
“Como vamos viver daqui em diante?” é uma pergunta que resume a angústia da maioria das vítimas. Como se não bastasse, perderem o passado, ainda não conseguiram reconstruir a vida, presos a um presente indefinido e a um futuro incerto.
Diante disso, cabe à sociedade e às autoridades abraçarem a causa dos resultados. É provável que nem acelerando os processos judiciais e exigindo políticas públicas transparentes o problema tenha solução. A sociedade deveria exigir mudança que possam ir além do aspecto jurídico. É necessário criar um futuro onde, finalmente, as vítimas possam recomeçar e viver em paz, livres do peso de um crime de nove anos.
“Amanhã tem mais …
P. S.
(*) A data do rompimento da Barragem de Fundão é apenas o começo da história que chamam de acidente, foi o crime do século(2).
(1) “Não Foi Acidente – Decálogo da Impunidade”
(2) “Não foi Acidente – O Crime do Século”
Imagem: Entre sem bater – Anonymous – Mariana: 9 anos
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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