Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Leibniz foi um dos maiores polímatas da humanidade, e tudo partiu de um simples “Calculemus“, para eliminar dúvidas.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Gottfried Leibniz
Nutro uma grande admiração quando alguém das ciências recebe a identificação de polímata, sobretudo se ele transita da matemática à filosofia. A princípio, no pensamento que sugere o “calculemus” para resolver as dúvidas entre filósofos e matemáticos as pessoas ficam confusas. Desta forma, é natural que até mesmo muitos profissionais de TI e professores de matemática e filosofia não conheçam Leibniz. Como se não bastasse, em plena era binária, é quase um crime perguntar para a geração dos mais novos se eles conhecem o polímata Leibniz. O alemão nasceu pouco depois da morte de Galileu Galilei e é provável que o que sofreu o italiano moldou o alemão quanto a religião. As associações do pensador e cientista, com as causas relacionadas ao Deus que ele estudo são, sem dúvida, enigmáticas.
Gottfried Wilhelm Leibniz ou Leibnitz (1 de julho de 1646 [ OS 21 de junho] – 14 de novembro de 1716) foi um polímata alemão ativo como matemático, filósofo, cientista e diplomata que é, ao lado de Sir Isaac Newton, criadores do cálculo, além de muitos outros ramos da matemática, como aritmética binária e estatística. Leibniz foi chamado de “último gênio universal” devido ao seu conhecimento e habilidades em diferentes campos e porque essas pessoas se tornaram muito menos comuns após sua vida com a chegada da Revolução Industrial e a disseminação do trabalho especializado. Ele é uma figura proeminente tanto na história da filosofia quanto na história da matemática. Ele escreveu obras sobre filosofia, teologia, ética, política, direito, história, filologia, jogos, música e outros estudos. Leibniz também fez grandes contribuições à física e à tecnologia, e antecipou noções que surgiram muito mais tarde na teoria da probabilidade, biologia, medicina, geologia, psicologia, linguística e ciência da computação.
Fonte: Wikipedia (inglês)
“Calculemus“
A frase original de Leibniz apresenta-se em latim e provoca até problemas de interpretação e tradução.
“… quando orientur controversiae, non magis disputatione opus erit inter duos philosophos, quam inter duos computistas. Suficiente enim calamos em manus sumere sedereque ad abacos, et sibi mutuo (accito si placet amico) dicere : calculemus …”
Outra frase de Leibniz que nos remete ao mundo atual é ainda mais instigante.
“… quanto maior a massa de coisas coletadas, menor será sua utilidade. Portanto, não se deve apenas se esforçar para reunir novos bens de todos os lugares, mas deve-se esforçar para colocar na ordem correta aqueles que já se possui …”
Desta forma, podemos dizer que ter acesso ao Google pode não ter muita utilidade, era um gênio. Gênios como Leibniz precisam explicar seus pensamentos e, da mesma forma, o “calculemus” de sua proposta-desafio exige muita leitura.
Mundo Binário
Vivemos num mundo que só foi possível a partir do sistema binário, que Leibniz idealizou mais de trezentos anos atrás. Dizem que a partir da inspiração no “Livro das Mutações” (I Ching) a dualidade na humanidade precisava de uma representação matemática. Se analisarmos cuidadosamente, o cara com o pensamento binário e com orientação a objetos propondo que “calculemus”, não é normal. Atualmente, ele receberia a indiferença ou desprezo. Anteriormente, estaria numa fogueira ou recebendo excomunhão, como Galileu; e os julgadores nem se preocupariam com qualquer paradoxo.
O Paradoxo
Vivemos imersos em um mundo digital que funciona com base na linguagem mais simples concebível: o sistema binário. Para Leibniz, o sistema reduz toda a complexidade dessa “linguagem“, mesmo enquanto ela está em todos os aspectos de nossas vidas.
Assim sendo, surge um questionamento intrigante: por que uma lógica tão básica é tão difícil de obter compreensão da maioria? Notadamente numa Era onde a alfabetização digital se tornou essencial, não seria um paradoxo?
Parte da resposta está no abismo entre a simplicidade do conceito e a complexidade de suas aplicações. Embora o “liga” e o “desliga” sejam fáceis de entender em teoria, as combinações binárias explicam o mundo. Contudo, mesmo processando muita informação e gerando interfaces intuitivas, esconde a sua essência com muito obscurantismo. O que vemos na tela do celular ou do computador são abstrações que mascaram a simplicidade subjacente (WYSIWYG)(*). Assim, a simplicidade binária se torna uma espécie de “magia” para o usuário comum, que consome tecnologia sem entender seus fundamentos.
Como se não bastasse, a inteligência artificial (IA) e seus poderosos algoritmos, colocou todos conceitos WYSIWYG abaixo. Por isso, quando alguém se acha em plena conexão com o mundo por ter um adestramento “diamante” nas redes sociais, é um perdedor.
Desconexão
Essa desconexão gera um paradoxo perigoso: as pessoas dependem cada vez mais de sistemas que não compreendem. Em um mundo onde decisões importantes surgem a partir de algoritmos e inteligência artificial, isso Pode ser fatal. A falta de compreensão leva, com toda a certeza, a uma aceitação passiva de tecnologias que não conhecemos. Em outras palavras, estas tecnologias e processos, impactam profundamente nossa privacidade, economia e sociedade. Estamos delegando poder a máquinas sem entender seus limites, suas vulnerabilidades ou as intenções de quem as programou. A raiz da ideia do “calculemus” de Leibniz perdeu-se muito tempo antes do primeiro computador.
Sistema Binário
Além disso, o sistema binário também simboliza uma visão reducionista da realidade. Ele (o sistema) exige que tudo tenha uma tradução para “sim” ou “não”, “1” ou “0”. Mas será que isso reflete a complexidade do mundo humano? Em nossas decisões, emoções e relações, raramente algo é tão simples. O esforço de reduzir nossa experiência a um esquema binário pode criar perspectivas tecnológicas que ignoram nuances fundamentais, reforçando a desconexão entre humanos e máquinas.
A compreensão do binário é mais do que uma questão técnica; é um passo necessário para que a sociedade participe ativamente do futuro digital. O desafio está em como traduzir essa lógica simples em uma pedagogia acessível, que capacite as pessoas a enxergar além das interfaces. Matemática é uma disciplina espinhosa, propor que, para pensar e filosofar devemos usar o “calculemus” é surreal. Atualmente, as pessoas usam e abusam da preguiça mental(1) e querem tudo pronto e nas mãos rapidamente. E, finalmente, entender o coração da tecnologia que tanto dependemos parece não ter a mínima importância.
Afinal, como podemos confiar em algo que não conseguimos compreender? Não conseguimos compreender pequenas coisas, como vamos conseguir utilidade para a enormidade de informações que dispomos?
Compreender as coisas(2), e as pessoas, não parece estar na pauta da maioria dos neófitos e usuários das redes sociais. #MAKTUB !
“Amanhã tem mais …
P. S.
(*) WYSIWYG é um termo que significa, grosso modo, aquilo que você vê é o que você terá. Aplicável a uma tela de computador ou dispositivo informático. Contudo, o que você vê não significa que é a realidade por trás de uma tela digital e recursos de HW e SW. Atualmente, aquilo que você e sistemas informáticos “veem” pode não corresponder à realidade dos fatos.
(1) “Entre Sem Bater – Liz Hurley – Preguiça Mental”
(2) “Entre Sem Bater – Upton Sinclair – Compreender as Coisas”
Imagem: Entre sem bater – Gottfried Leibniz – “Calculemus”
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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