Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Charles Dickens viveu em tempos em que computadores e redes sociais eram inimagináveis, mas as “Sombras” e as trevas eram reais.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Charles Dickens
É provável que ser crítico social, em tempos de revoluções verdadeiras, poderia provocar a ira de muitas pessoas poderosas. Quando Dickens fez referência às sombras e às trevas em contraposição à luz, fazia muito sentido. O romancista entendia que a verdade(*) era a alternativa para acabar com as trevas das mentiras e dos mitos(1).
Charles John Huffam Dickens ( 7 de fevereiro de 1812 – 9 de junho de 1870) foi um romancista, jornalista, contista e crítico social inglês. Ele criou alguns dos personagens fictícios mais conhecidos da literatura e é considerado por muitos como o maior romancista da era vitoriana. Suas obras desfrutaram de popularidade sem precedentes durante sua vida e, no século XX, críticos e acadêmicos o reconheceram como um gênio literário. Seus romances e contos são amplamente lidos hoje.
Fonte: Wikipedia (inglês)
Sombras
Certamente, os tempos, as ideias e a visão das pessoas mudaram muito, desde que as revoluções (verdadeiras) apareceram na Europa. Dickens viveu, de fato, numa época de trevas, sombras, obscurantismo e muitas perseguições. Fico imaginando o que aconteceria com os propagadores de mentiras da atualidade.
Será que algum influenciador e compartilhador de mentira mereceria a fogueira ou desterro definitivo?
Essa metáfora, potente em seu tempo, ressoa de maneira ainda mais perturbadora no contexto atual. Atualmente, as redes sociais moldam percepções, comportamentos e até a própria noção de realidade. O que vemos hoje não é apenas uma destruição da verdade, mas uma transformação estrutural de nossa sociedade. A luz parece se apagar gradativamente, dando lugar às trevas da ignorância, a falta de discernimento crítico e a debates estéreis.
A Verdade e o Mundo Digital
No mundo digital, a verdade deveria brilhar mais forte do que nunca, #SQN. Com acesso instantâneo a uma quantidade infinita de informações, era de se esperar que bastaria ter uma conexão para ter conhecimento. Porém, o oposto aconteceu, quanto mais informação, a ignorância e a preguiça mental(2) avançam. A supervisão de conteúdos nas redes sociais criou um ambiente em que a verdade não é apenas relativizada, mas frequentemente sufocada por narrativas fabricadas.
As fake news — criadas puramente para enganar — tornaram-se uma arma poderosa para manipular opiniões, disseminar ódio e dividir sociedades. Os algoritmos que alimentam as nossas redes sociais privilegiam o engajamento acima da veracidade. Assim sendo, essas mentiras ganham atração com uma velocidade assustadora. Por outro lado, a verdade, frequentemente mais complexa e menos atraente, luta para obter atenção. Assim, as sombras que Dickens associava à mentira se expandiam, obscurecendo a capacidade das pessoas de entender a realidade.
Vivemos, com toda a certeza, num inferno digital(3) que colocaria Dante completamente sem palavras.
O Impacto nas Gerações Digitais
As gerações que cresceram imersas no mundo digital enfrentam desafios únicos, sem ter noção deles. Certamente, a sobrecarga constante de informações, os desorienta para a alternativa das fontes de conhecimento. Essas gerações, inquestionavelmente, correm o risco de se moldarem pelas mesmas trevas que consomem a sociedade. A atenção superficial — característica de quem consome conteúdo em feeds infinitos — prejudica a capacidade cognitiva e a reflexão mínima.
Além disso, o ambiente digital cria bolhas de informação, nas quais os usuários submetem-se apenas a pontos de vista que reforçam suas crenças. Isso solidifica a ignorância, alimenta a polarização estéril e tornou-se um dos maiores desafios contemporâneos em nossas sociedades digitais. Ao invés de buscar a luz da compreensão e do diálogo, muitos se enclausuram nas sombras convenientes de suas bolhas. Desta forma, rejeitam qualquer possibilidade de questionamento ou aprendizagem, o que é bastante confortável para os espíritos fracos(4).
Democracia em Vertigem
A privacidade da verdade afeta não apenas os indivíduos, mas também as bases de nossas instituições democráticas e da sociedade. As manipulação de eleições, por exemplo, com as campanhas de desinformação é um crime que continua impune. Por outro lado, figuras públicas e autoridades sofrem com o descrédito pelas narrativas falsas. Nesse ínterim, as crises reais passam ao largo dos clickbait em favor de teorias da conspiração que ganham popularidade e compartilhamentos. A confiança na mídia, nos governos e, surpreendentemente, até na ciência perdem para campanhas de mentiras. Por isso, encontramos uma sociedade altamente vulnerável e evidente fragmentação que interessa a pequenos grupos de poder.
Nesse cenário, as sombras e as trevas assumem outra forma e poder: a desesperança e o desalento. Sem dúvida, na verdade, as pessoas perdem a capacidade de agir coletivamente para enfrentar problemas globais. Temas Importantes como as mudanças climáticas, desigualdades e crises de saúde pública não passam de manchete de um dia.
A mentira, com toda a certeza, não apenas obscurece a realidade; ela paralisa a sociedade e as mentes.
O Caminho
Apesar da gravidade do problema, é provável que ainda existam caminhos possíveis para resistir às sombras, às trevas e ao obscurantismo. A educação midiática, por exemplo, é uma ferramenta poderosa, que pode capacitar as gerações digitais a questionar e serem céticas. Entretanto, verificar informações antes de aceitá-las como verdade, parece que não tem boa aceitação entre a maioria. E, por mais estranho que possa parecer, este comportamento não é uma questão etária, assola todos, dos 6 aos 90 anos. Como se não bastasse, não é tampouco, uma questão de gênero, raça, nível cultural e educacional.
Promover o pensamento crítico e a alfabetização digital é essencial para combater a ignorância e reconstruir a confiança na verdade.
Além disso, as plataformas digitais precisam assumir responsabilidade por seus impactos e consequências. Algoritmos que priorizam a desinformação devem mudar, e sistemas de verificação de fatos devem ser mais robustos. Essas mudanças, contudo, enfrentam resistência de interesses externos, e a restauração da clareza de Dickens está distante.
Encruzilhada
Estamos em uma encruzilhada histórica, o avanço tecnológico e o atraso mental de uma grande parcela da sociedade. As redes sociais, em sua busca pela conexão, inadvertidamente abriram caminho para as trevas da desinformação e da ignorância. Desta forma, se nada mudar, caminharemos para um ponto de ruptura irreversível. Em outras palavras, as gerações digitais se apresentarão para a história como as mais iluminadas. No entanto serão as mesmas que, com todas as ferramentas para enxergar, escolheram a cegueira e a ignorância.
Contudo, ainda há tempo para redirecionar esse curso tortuoso, e o trabalho é árduo. Do mesmo modo que Dickens acreditou na luz da verdade, devemos lutar para reacendê-la no mundo digital. Isso exigirá, certamente, confiança, trabalho e comprometimento com uma reavaliação profunda de nossas prioridades enquanto sociedade.
Em suma, se conseguirmos, talvez ainda haja esperança de escapar das trevas e redescobrir a clareza e a transparência que Dickens imaginou.
No escuro, sombras,
monstros de ontem avançam –
crescer não os cala.
“Amanhã tem mais …
P. S.
(*) Considerando que um filósofo disse que a verdade básica é que todo mundo mente, podemos afirmar que as sombras e trevas estão no comando. .
(1) “Entre Sem Bater – John F. Kennedy – Um Mito”
(2) “Entre Sem Bater – Liz Hurley – Preguiça Mental”
(3) “Entre sem bater – Virgílio – O Inferno Digital”
(4) “Entre Sem Bater – Giordano Bruno – Espíritos Fracos”
Imagem: Entre sem Bater – Charles Dickens – Sombras e Trevas
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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