Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” (← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória”). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento de muitos, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. É bom observar que Nietzsche disse sobre os “Fracos” ou Inseguros, o que se agrava quando o sujeito é as duas coisas, simultaneamente.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Friedrich Wilhelm Nietzsche
De acordo com a proposta desta trilha de publicações, Nietzsche, será uma das presenças mais constantes. Desse modo, temos outro pensamento, emblemático, e que exige dos leitores mais do que somente uma rápida leitura. Se o fanatismo(1) é um comportamento que explode atualmente no mundo, outros comportamentos são peculiares aos fracos de espírito(2).
Friedrich Wilhelm Nietzsche ( 15 de outubro de 1844 – 25 de agosto de 1900) foi um filósofo alemão, poeta em prosa, crítico cultural, filólogo e compositor. Inquestionavelmente, seu trabalho exerceu uma profunda influência na Filosofia Contemporânea. Ele começou sua carreira como filólogo clássico antes de se voltar para a filosofia. Tornou-se a pessoa mais jovem a ocupar a cadeira de Filologia Clássica na Universidade de Baselem, aos 24 anos. Nietzsche renunciou em 1879 devido a problemas de saúde que o atormentaram a maior parte de sua vida. Em 1889, aos 44 anos, sofreu um colapso e, posteriormente, perdeu as faculdades mentais, com paralisia e, provavelmente, demência vascular. Desse modo, viveu os anos restantes de sua vida sob os cuidados de sua mãe, até a morte dela em 1897. Logo após, sua irmã Elisabeth Förster-Nietzsche cuidou de suas enfermidades. Nietzsche morreu em 1900, após sofrer com uma pneumonia e múltiplos derrames.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
Os Fracos e Inseguros
Nos últimos dez anos, o Brasil tornou-se palco de uma transformação drástica no comportamento social. Desde que as redes sociais explodiram, certamente pela facilidade de acesso à Internet e inclusão digital, tudo mudou. Esta mudança não apenas potencializou a comunicação entre indivíduos, mas também deu origem a uma nova espécie de fenômeno. A ascensão de um contingente significativo de fanáticos, por exemplo, frágeis em termos cognitivos, rebaixou qualquer debate. Como se não bastasse, estes personagens fracos e inseguros de suas identidades, transformaram-se em massa de manobra(*). Assim sendo, fracos e inseguros se tornaram instrumentos para a propagação de desinformação e discursos de ódio.
Em suma, o grupo de manipuladores encontrou nas redes sociais um palco ideal para suas ações covardes. Esses influenciadores do mal se apresentam, frequentemente, como líderes religiosos, políticos de caráter duvidoso e golpistas. É o preço alto que a sociedade está pagando pela chamada inclusão digital.
Inclusão Digital
A acessibilidade digital permitiu que vozes, antes em silêncio ou com vergonha, tivessem a chance de se manifestar publicamente. Muitos foram os que reivindicaram acesso universal que, certamente, resultou em privilégios diferentes, por classes. Esta democratização do acesso à informação também revelou um grande abismo entre grande parte da população. É provável que, por falta de educação crítica ou educação digital igualitária, a maioria se rendeu a narrativas simplistas. Essa vulnerabilidade agrava-se pela incapacidade de distinguir fatos de opiniões ou de reconhecer manipulações numa simples mensagem.
No Brasil, a atuação de líderes religiosos e políticos contribuiu significativamente para esse quadro. Durante a última década, viu-se um crescimento do uso de redes sociais como ferramenta de manipulação em massa. Grupos religiosos e movimentos políticos perceberam o potencial das plataformas digitais para mobilizar seguidores, disseminar ideologias e, mais alarmante, espalhar desinformação. Uma tática comum tem sido o apelo emocional, que muitas vezes explora medos e preconceitos profundamente enraizados na sociedade brasileira.
Adicionalmente, é notável o impacto das fake news, que, em muitos casos, surgem com deliberação e organização criminosa. O que ocorreu durante as eleições presidenciais de 2018, com vídeos e mensagens falsas, sem dúvida, foi surpreendente. Os textos que circulavam amplamente em grupos de WhatsApp e em outras plataformas não possuíam nenhum controle. Essas peças de desinformação geravam medo, raiva ou simpatia a bem prazer de candidatos ou pautas escusas. Por isso, a polarização extrema do debate público, com consequências graves para a coesão social, ainda assola a nação.
Fanatismo
O papel dos líderes religiosos e influenciadores digitais, inquestionavelmente, merece atenção especial. Utilizando-se de sua influência sobre grandes comunidades, muitos pregadores transformaram os cultos em plataformas para discursos de ódio. Como se não bastasse, misturaram assuntos religiosos com política e eleições. Em vez de promoverem reflexão e solidariedade, alimentaram a divisão e o fanatismo em nome de utopias, mitos e lendas. Essa estratégia tem como alicerce a manipulação de crenças religiosas, como forma de legitimar ideologias excludentes e antidemocráticas.
O fanatismo nas redes sociais manifesta-se de diversas formas, mas é possível identificar algumas características recorrentes. Em primeiro lugar, existe uma predisposição à agressividade contra todas as vozes dissonantes. Em espaços virtuais, o anonimato ou a distância física reduzem as consequências imediatas das ações e omissões. Desse modo, tornou-se “normal” que esses indivíduos adotem comportamentos hostis, atacando aqueles que discordam de suas visões. Essa hostilidade direciona-se, frequentemente, a jornalistas, artistas, cientistas e outros que representam a racionalidade e a fundamentação.
Além disso, o compartilhamento compulsivo de desinformação é outra marca do fanático digital que transformou-se num influenciador. Em outras palavras, sem verificação das informações, eles atuam como multiplicadores de mensagens falsas e enganosas. Instalou-se a confusão e o descrédito nas pessoas sérias e nas instituições. A insistência em “compartilhar para o bem” ou “avisar os outros” reflete tanto na distorção da boa fé como na incapacidade de análise crítica.
Vazio Cognitivo
Por trás desse comportamento, há um vazio cognitivo, prato cheio para déspotas e líderes autoritários de um rebanho. Políticos que inflamam discursos inflamados e que prometem soluções fáceis, tornam-se ídolos e mitos para os fracos e inseguros. Surpreendentemente, até pessoas com alguma cultura rechaçam provas científicas sobre vacinas. Os enganadores de púlpito e das redes sociais consolidam um público fiel, que cresce à base de desinformação e do medo de um inimigo comum. Esta é, com toda a certeza, uma estratégia tirânica contra um partido político, um grupo social ou mesmo a ciência.
Algoritmos Dominantes
A evolução desse fenômeno também está intrinsecamente ligada à arquitetura das redes sociais. Se por um lado avançamos nas tecnologias e velocidade de comunicação, por outro lado retrocedemos enquanto sociedade humanista. Plataformas como Facebook, Twitter e Instagram, com seus algoritmos, maximizam o engajamento e a monetização. Assim sendo, privilegiam conteúdos sensacionalistas e polarizadores, para consumo dos fracos e dos inseguros. Cada algoritmo favorece, certamente, a geração de emoções fortes, sejam elas positivas ou negativas. Desta forma, cria-se bolhas informacionais onde os fanáticos e fracos mentalmente encontram reciprocidade nas próprias crenças.
A resistência a esse fenômeno requer uma abordagem multidimensional e multidisciplinar que não está ao nosso alcance.
Retrocessos
Em primeiro lugar, é necessário investir em educação midiática e digital, capacitando as pessoas a analisarem criticamente as informações que consomem. Programas educacionais que ensinem a identificar fontes confiáveis e a verificar fatos para reduzir a vulnerabilidade à desinformação.
Em segundo lugar, as plataformas digitais precisam assumir maior responsabilidade por seu papel na propagação de conteúdos nocivos. Isso inclui implementar políticas de moderação mais rigorosas e transparentes em relação às regras dos algoritmos. Já há iniciativas nesse sentido, mas elas precisam de adaptações à realidade brasileira.
Por fim, deveria existir um debate público que valorize o pluralismo e o respeito às diferenças. Isso significa dar espaço a vozes diversas e fomentar o diálogo construtivo, em vez de perpetuar a dinâmica de confronto e exclusão. Contudo, estas ações, que caracterizam as interações digitais racionais, dão lugar a todo tipo de ação contrária. Os retrocessos em todos os setores e segmentos da sociedade brasileira são visíveis.
A evolução do fanatismo nas redes sociais no Brasil é um reflexo das fragilidades de nossa sociedade. Além disso, servem de alerta para a necessidade de mudanças que sejam impactantes e com atuação além da legislação estéril. É provável que, apenas com educação, regulação e diálogo não conseguiremos reverter o quadro aterrorizante que se avizinha.
Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) A manipulação de massas, que a mídia conseguiu manter durante décadas, deu lugar à manipulação de massas pelas redes sociais. Mensagens simples como “compartilhem ao máximo” tornaram-se a chave para fracos e inseguros se sentirem parte de alguma coisa.
(1) “Entre sem bater – George Santayana – O Fanatismo“
(2) “Entre Sem bater – Giordano Bruno – Os Espíritos Fracos“
Imagem: Entre sem Bater – Friedrich Nietzsche – Os Fracos e Inseguros
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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