Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” (← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória”). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento de muitos, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Para entender a ideia de “Espírito Infecundo“, que Tobias Barreto imprimiu através de seu pensamento, tem que ter muita calma.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Tobias Barreto
Tobias Barreto é o patrono da cadeira 38 na Academia Brasileira de Letras. Um nordestino filósofo para merecer essa honraria, com toda a certeza, tinha muitas qualidades. Assim sendo, podemos dizer que Graça Aranha, como fundador, a ocupar o assento do patrono, indicava que não seria infecundo aquele espaço. Entretanto, atualmente, a cadeira tem como ocupante o infecundo, sob todos os aspectos, José “Marimbondos de Fogo” Sarney. Nada mais decepcionante para o patrono que criticou a forma tacanha que até os iniciados tupiniquins atuam.
Tobias Barreto de Menezes (Vila de Campos do Rio Real, 7 de junho de 1839 – Recife, 26 de junho de 1889) foi um filósofo, poeta, crítico e jurista brasileiro e fervoroso integrante da Escola do Recife, um movimento filosófico de grande força calcado no monismo e evolucionismo europeu. Foi o fundador do condoreirismo brasileiro. Com apoio de seu conterrâneo Sílvio Romero, foi designado Patrono da cadeira 38 da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Fonte: Wikipédia (português)
O Espírito Infecundo
Este texto é, sem dúvida, um daqueles que serve para muitos enterrarem a carapuça até o umbigo. Por outro lado, em tempos de redes sociais estultas e até pueris, a maioria acusa o golpe e sai praticando o paralogismo. Termos e palavras não usuais, como infecundo, exigem um pouco mais da maioria. E, certamente, os portadores de preguiça mental(1) não possuem uma atividade intelectual para compreender Tobias Barreto.
Vivemos, inquestionavelmente, no milênio da escuridão mental(*), após um século do alerta de Tobias Barreto. É provável que, além de infecundo, iniciamos no Século XXI, uma era estéril e que muitos se gabam de serem assim.
infecundo
adjetivo. Que tende a não produzir; que é improdutivo; infértil. Etimologia (origem da palavra infecundo). Do latim infecundus.a.um.
Sinônimos: estéril, maninho, improdutivo, infértil, infrutífero
Antônimos: Infecundo é o contrário de: produtivo, fértil, frutífero
Fonte: Dicio.Com
Um Século de Escuridão
A frase de Tobias Barreto, escrita há quase um século, sobrevive com uma atualidade e intensidade inquietantes. O autor já denunciava, em outras palavras, uma limitação no pensamento crítico e filosófico no Brasil. No entanto, o que era uma crítica circunscrita à filosofia expandiu-se, com o avanço das tecnologias e das redes sociais. Como se não bastasse, tornou-se um fenômeno ainda mais grave: a superficialidade e a escuridão do pensamento humano.
As redes sociais, ao invés de potencializar a reflexão e o debate intelectual, promovem ambientes de efêmeros e com polarização. O espaço que deveria fomentar o pensamento crítico transformou-se em um palco de opiniões sem o mínimo fundamento. Com toda a certeza, um espaço de reações instantâneas, opiniões rasas e consumo superficial de informações.
A cultura do imediatismo digital reduziu a paciência e a capacidade de aprofundamento nos temas mais complexos. Assim sendo, observa-se este fenômeno no modo como as discussões online se travam. Por isso só vemos manchetes apelativas, recortes descontextualizados e paralogismos. Desta forma, surge o desestímulo pela busca por fontes confiáveis e análises mais robustas.
Debate Infecundo
Um exemplo claro dessa afirmação é o quão infecundo são os debates políticos-eleitorais contemporâneos. Em vez de promoverem discussões com argumentos(2), as redes sociais incentivam a formação de bolhas ideológicas. Nestas bolhas, os usuários consomem apenas conteúdos que confirmam suas crenças pré-existentes.
O pensamento crítico, essencial na democracia e o progresso social, dá lugar a discursos inflamados e pensamentos obtusos. São espaços em que a desinformação, a manipulação emocional e as falácias predominam. Por isso, aprofunda-se a polarização, impossibilitando o diálogo construtivo e a síntese entre diferentes perspectivas.
Adicionalmente, nas áreas de produção cultural e acadêmica essa nova dinâmica exerce um efeito devastador. O consumo de literatura, por exemplo, fragmenta-se e mede-se por venda de livros e não pelo aumento de leitores.
New Generation
As novas gerações com o vício do formato dinâmico e veloz das redes sociais, não se dedicam à leitura de textos longos e densos. No universo acadêmico, há uma crescente pressão para publicação de pesquisas em formatos mais acessíveis ao mundo digital. Desse modo, sacrifica-se a profundidade e o conteúdo em prol da popularidade e da forma. Isso se reflete até mesmo na maneira como compartilhamos, mecanicamente, os artigos científicos. Ao invés de terem uma leitura integral, dão lugar a resumos em pequenas pílulas de conhecimento . Prevalece, outrossim, a opinião de quem leu tudo ou se apresenta como um leitor atento, até mesmo distorcendo a realidade.
A arte, enquanto manifestação intelectual, também está sob ameaça da lógica do consumo rápido e superficial. No passado a contemplação artística exigia tempo e dedicação. Atualmente, a valorização de qualquer arte se restringe à sua capacidade de gerar engajamento em plataformas digitais.
O fenômeno do “hype” nas redes sociais determina quais produções artísticas merecem nossa atenção . Em outras palavras, cria-se uma dependência da viralização para que uma obra ganhe relevância. Isso compromete a experimentação artística e a autenticidade das expressões culturais. Privilegia-se, desta forma, apenas o que é facilmente digerível e comercializável. E, como se não bastasse, coisas que nem arte são estão enriquecendo “influencers”, “Youtubers” e similares, sem conteúdo.
E se autodenominam, na maioria dos casos, artistas que pagam 8 Milhões de reais numa Ferrari para passear na favela.
Infecundidade x Conhecimento
Um agravante para esta polaridade de conhecimento ante o espírito infecundo passa pela desvalorização do conhecimento. É assustador o quanto os ignorantes atacam aqueles que demonstram conhecimento, e recebem remuneração para isso.
A Internet, como disse Umberto Eco, deu voz até ao idiota da aldeia. O que, por um lado, é positivo em termos de democratização da informação, por outro lado, abriu as portas do inferno. A ascensão de discursos anticientíficos e negacionistas tomou conta do planeta nos últimos anos.
O desprezo pelo saber formal e pela pesquisa acadêmica evidencia-se nas rejeições às evidências científicas. Como se não bastasse, as redes sociais promovem teorias da conspiração e fake news que não se apagam. Esse fenômeno, com toda a certeza, afeta áreas como a saúde e a educação. Desta forma, ressurgem doenças cuja erradicação era motivo de comemoração global. A desconfiança na ciência em momentos críticos como, por exemplo, durante a pandemia de COVID-19.
A ignorância e estupidez dos que são contra as vacinas atingiu o ápice da estultice humana.
Plataformas Digitais
A situação se agrava pelo fato de que as plataformas digitais visam a maximização do tempo de permanência do usuário. Priorizando, adicionalmente, conteúdos que geram reações emocionais intensas nas pessoas. Algoritmos determinam o que é destaque e tem compartilhamento intenso. Desta forma, favorece informações falsas ou sensacionalistas em detrimento de análises e críticas.
A lógica do clickbait e do compartilhamento rápido privilegia a polêmica e a controvérsia. Desta forma, torna-se inviável a disseminação de conteúdos que exijam ceticismo e raciocínio crítico.
Em suma, diante desse panorama, é difícil vislumbrar uma recuperação da racionalidade e pensamento fecundo a curto prazo. A cultura digital moldou uma nova forma de interação com o conhecimento. A gratificação instantânea determina o espírito infecundo e a superficialidade.
Certamente, reverter essa tendência exigiria um esforço coletivo de revalorização da leitura e da paciência intelectual. Estas atitudes, hoje em dia, parecem cada vez mais distantes da realidade cotidiana. Sem essa transformação, a advertência de Tobias Barreto permanecerá não apenas válida, mas em expansão. Enfim, todo o espectro da atividade intelectual, sinaliza para um futuro frívolo e estéril como norma, e não como exceção.
Perdemos !
“Amanhã tem mais …
P. S.
(*) A maioria das pessoas quando se deparam com expressões como espírito infecundo têm muita dificuldade de parar e pensar. Só querem reagir, como cães reagem quando ouvem fogos de artifício.
(1) “Entre Sem Bater – Liz Hurley – Preguiça Mental”
(2) “Entre Sem Bater – Anonymous – Os Argumentos e a Fé”
Imagem: Entre sem bater – Tobias Barreto – O Espírito Infecundo
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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