Entre Sem Bater _ Provérbio UTE - Caminhar Juntos

Entre Sem Bater – Provérbio UTE – Caminhar Juntos

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória”). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento de muitos, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. “Caminhar Juntos” e não à frente ou atrás, é uma ideia que o povo da “nação Ute” não conseguiu defender.

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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Nação UTE

A cultura dos povos originários, como da nação UTE, traduz o conhecimento do passado e transforma em sabedoria no presente e no futuro. Alguns provérbios e pensamentos dos povos originários têm apropriação pelos seus descendentes ou estudiosos. É provável que paráfrases e aforismos tenham origem na sabedoria milenar destes habitantes originais das nações, caminhar juntos é um destes pensamentos. As diversas tribos e nações(*) destes povos, estarão aqui neste espaço para mostrar que o conceito de civilização começou com eles.

Ute é um povo indígena da Grande Bacia e do Planalto do Colorado, no atual estado de Utah, oeste do Colorado e norte do Novo México. Historicamente, seu território também incluía partes de Wyoming, leste de Nevada e Arizona. O dialeto Ute é uma língua Numic do Rio Colorado , parte da família de línguas Uto Astecas. Os Utes pertenciam a quase uma dúzia de bandos nômades, que se reuniam para cerimônias e comércio. Eles também negociavam com tribos vizinhas, incluindo os povos Pueblo. Este povo se estabeleceu naquela região por volta de 1500 d.C. O primeiro contato dos Utes com os europeus foi com os espanhóis no século XVIII. Os Utes adquiriam cavalos de tribos vizinhas no final do século XVII. Eles tinham contato direto limitado com os espanhóis, mas participavam do comércio regional. As relações com os euro-americanos começaram em 1847 com a chegada dos Mórmons ao oeste americano e a corrida do ouro por volta de 1850. Os Utes lutaram para proteger suas terras natais dos invasores. Entretanto, Brigham Young convenceu o presidente dos EUA, Abraham Lincoln, a remover à força os Utes de Utah para uma reserva indígena em 1864. Os Utes do Colorado foram forçados a entrar em uma reserva em 1881. Atualmente, existem três tribos do povo Ute reconhecidas pelo governo estadunidense: a) Tribo indígena Ute do Sul da Reserva Ute do Sul (Colorado); b) Tribo indígena Ute da reserva Uintah e Ouray (Utah); e c) Tribo Ute da Montanha Ute (Colorado). Essas três tribos mantêm reservas: Uintah-Ouray no nordeste de Utah (3.500 membros); Southern Ute no Colorado (1.500 membros); e Ute Mountain, que fica principalmente no Colorado, mas se estende até Utah e Novo México (2.000 membros). A origem da palavra Ute é desconhecida; ela apresentou-se pela primeira vez como Yuta em documentos espanhóis. A autodesignação dos Utes é Núuchi-u, que significa ‘o povo’.

Fonte: Wikipedia (inglês)

Caminhar Juntos

Inquestionavelmente, provérbios que se originam ou tem atribuição às filosofias de tribos de povos originários são um exemplo para os que se dizem civilização. Como se não bastasse, as lições de cada um destes provérbios têm aplicações em nosso confuso cotidiano das redes sociais. Atualmente, a ideia de caminhar juntos perde de goleada para o “… siga o mestre …” ou a ideais do “… não te sigo, pois não quero aprender nada com você …”.

Seria o fim dos tempos? Certamente, ainda não e as barbaridades que vemos no cotidiano ainda vão nos mostrar que não aprendemos nada sobre igualdade(1)?

É provável que o leitor esteja se perguntando porquê nesta data, Dia do Índio (no Brasil), estou colocando uma frase de uma tribo estadunidense. A compreensão é simples, o que os povos originários do planeta têm a nos ensinar é universal e eles estão certos.

Sabedoria

A sabedoria ancestral da nação é, sem dúvida, de uma simplicidade assustadora, e que deveria ser orientação para caminhar rumo à evolução civilizatória. Entretanto, o que deveria ser um ideal de colaboração e respeito mútuo perdeu-se em meio ao tsunami da nossa era digital. É como se a promessa de conexão das redes sociais afastasse, paradoxalmente, a essência desse “caminhar juntos”.

Razões para não acreditar

Em primeiro lugar, a própria natureza das redes sociais, com seus algoritmos e métricas de engajamento, fomenta uma cultura de individualismo e competição. A busca incessante por curtir, compartilhar, seguidores e validação é a antítese do pensamento Ute. A lógica das plataformas recompensa a polarização, o sensacionalismo e a criação de “bolhas” de pensamento homogêneo. Nesse ambiente, a ideia de andar ao lado, com abertura para diferentes perspectivas, torna-se um desafio intransponível. As pessoas querem construir suas “tribos” e seus “templos” de seguidores leais e cegos. O mais importante, surpreendentemente, é defender a própria opinião, em vez de dialogar com a diversidade de ideias que enriquece o crescimento coletivo.

Essa dinâmica se intensificou com a ascensão de “influenciadores” e a busca por “liderança” nas redes, uma afronta à ideia de caminhar juntos. Muitos constroem suas plataformas em torno de uma persona cuidadosamente falsa, que dita regras e espera por seguidores incondicionais. A relação se assemelha mais a um pastor, suas ovelhas e um cão a guiá-los do que a um vizinho(2) de jornada. Aquele que se atreve a questionar ou apresentar uma visão divergente corre o risco de bloqueios e isolamento, além da possibilidade de um linchamento virtual. A sutileza do “talvez eu não saiba liderar” ou “talvez eu não queira segui-lo” perdeu-se no mundo digital. Nesse ínterim, a necessidade de afirmar uma posição de superioridade ou de encontrar um líder para idolatrar, prevalece.

Tempos Modernos

Além disso, a cultura da instantaneidade e da superficialidade, é uma barreira intransponível para construção de relações genuínas. O tempo e a disposição para ouvir o outro, para considerar diferentes pontos de vista e construir consensos são raros. As discussões se polarizam e somam-se aos ataques pessoais, sem nenhuma ou com pouca argumentação construtiva. A complexidade do mundo reduz-se a manchetes e posts curtos de malditos 280 caracteres. Certamente, as redes sociais simplificam demais questões importantes e impedem uma compreensão com mais nuances e colaborativa.

Outro fator importante que joga a ideia de caminhar juntos no lixo é o medo da vulnerabilidade. Andar ao lado implica em se colocar em um nível de igualdade. É, outrossim, reconhecer que não temos todas as respostas e que podemos aprender com o outro. Na sociedade contemporânea, há uma pressão constante para exibir uma imagem de perfeição e sucesso. Admitir dúvidas ou incertezas recebe a interpretação – cruel e errática – de fraqueza. Desse modo, fica impossível a criação de espaços seguros para o diálogo e o crescimento mútuo. É mais fácil se esconder atrás de uma fachada de autoconfiança inabalável e atrair seguidores que buscam dar ilusão de certeza.

Mundos Divergentes

Como se não bastasse, a polarização política e ideológica contribui significativamente para o afastamento do ideal de “caminhar juntos”. As redes sociais se tornaram palcos de debates cuja tônica é a intolerância e a desqualificação do “outro lado”. Em vez de buscar o entendimento e a colaboração, as energias se voltam para a defesa ferrenha de opiniões questionáveis. Portanto, para estes donos de bolhas, partir para o ataque a quem pensa diferente é essencial.

Em suma, a aplicação do provérbio Ute na sociedade contemporânea esbarra em uma série de desafios estruturais e culturais. A cultura do individualismo, a superficialidade das interações, o medo da vulnerabilidade e a polarização ideológica são determinantes. Assim sendo, cria-se um ambiente onde a ideia de caminhar lado a lado, em respeito e colaboração, inexiste. No entanto, a sabedoria deste provérbio continua relevante e nos convida a uma reflexão sobre a forma como construímos uma sociedade.

É provável que, em meio ao ruído digital, seja hora de resgatarmos a beleza e a força desse “caminhar juntos“. Por outro lado, os exemplos e, notadamente, os grupos de redes sociais com seus áulicos administradores, não quer isso. Admiro todos os administradores de grupos e influenciadores que se colocam no nível do provérbio Ute.

Parabéns aos povos originários neste Dia do Índio tupiniquim !

Amanhã tem mais … 

P. S.

(*) A designação do que a sociedade convencionou chamar de índios evoluiu na compreensão geral. Entretanto, os que se autodenominam civilizados têm dificuldade de aceitar os termos nação, povo ou povos originários.

(1)Entre Sem Bater – Graciliano Ramos – Igualdade

(2) “Entre Sem Bater – Povos Originários – Seu Vizinho

 

Imagem: Entre sem bater – Provérbio UTE – Caminhar Juntos

Nota do Autor

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