Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Alguns pensadores, como John Locke, sabiam diferenciar “Conhecimento” de informação à disposição, e fazem muita falta atualmente.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
John Locke
Com toda a certeza, John Locke é mais uma das provas irrefutáveis de que pensadores e filósofos da era do obscurantismo, tinham muita visão. O pensamento deste texto reflete a ideia de que as pessoas preferem apontar seus dedinhos ignorantes do que adquirir conhecimento. Enfim, influenciar no trabalho de Voltaire, Immanuel Kant, David Hume e Jean-Jacques Rousseau e outros iluministas é relevante.
John Locke ( 29 de agosto de 1632 – 28 de outubro de 1704 ) foi um filósofo e médico inglês, amplamente considerado um dos mais influentes pensadores do Iluminismo e comumente conhecido como o “pai do liberalismo “. Foi um dos primeiros empiristas britânicos, seguindo a tradição de Francis Bacon. Locke é igualmente importante para a teoria do contrato social. Seu trabalho contribuiu com o desenvolvimento da epistemologia e da filosofia política. Seus escritos influenciaram Voltaire e Jean-Jacques Rousseau, muitos outros pensadores do Iluminismo escocês, bem como os revolucionários americanos. Os princípios político-jurídicos de Locke exercem uma influência na teoria e na prática do governo representativo limitado e na proteção dos direitos e liberdades fundamentais sob o Estado de Direito. A Teoria da Mente de Locke referencia a origem das concepções modernas de identidade e de si mesmo, figurando com destaque no trabalho de filósofos posteriores como Jean-Jacques Rousseau, David Hume e Immanuel Kant.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
O Conhecimento
Algumas ideias exigem, a princípio, um pouco de informação ou ao menos uma base de conhecimento e nivelamento de conceitos. As redes sociais colocaram a possibilidade de acesso ilimitado às informações de forma inimaginável até pouco tempo atrás. Entretanto, este vasto mundo de informação não serve de referência quando tratamos de conhecimento.
Vivemos a era das informações abundantes, onde a Internet nos proporciona acesso a uma infinita quantidade de dados, ideias e opiniões. Contudo, essa quantidade de informações nos leva a uma superficialidade perigosa em relação ao conhecimento e à qualidade da informação.
Podemos dizer, afinal, que vivemos na era da preguiça mental(1), dos dedinhos ágeis e neurônios inertes.
Século XVII
John Locke e seu pensamento, do século XVII, mostra-se mais relevante do que nunca em nossa era de redes sociais. Tempos estranhos onde as pessoas preferem causar e lacrar aqueles que expressam opiniões divergentes em vez de buscar conhecimento. É provável que superar a ignorância em relação a determinados assuntos seja algo que provoca muita dor nas mentes fracas.
John Locke, no ensaio “Ensaio sobre o Entendimento Humano“, escreveu sobre o conhecimento sólido e a razão na formação de opiniões e crenças. Desse modo, ele nos alertou sobre a tendência humana de acreditar em coisas com base em motivos frágeis ou sem fundamentação. Sem dúvida, quando as pessoas agem em um estado de emoção e cegueira, nenhum conhecimento tem recepção na mente com bloqueio.
Em suma, essa ideia ressoa fortemente e replica-se sem controle, com a dinamicidade atual das redes sociais. Por isso, as fake news se espalham rapidamente e a verdade ou explicações nunca conseguem acompanhar.
Redes Sociais
Nas redes sociais, as pessoas emitem opiniões e compartilham informações, sem a devida pesquisa ou entendimento de qualquer tema. Desde que se popularizaram, as pessoas falam de COVID-19, Hamas, política, terra plana, como se fossem especialistas. Como se não bastasse, déspotas vão para a mídia dizer: “… dá um Google, aí…“, como se isso provasse alguma coisa. Se bem que tem muito imbecil que sai repercutindo automaticamente, igual a um robô com adestramento defeituoso.
Desse modo, crenças, mitos e fake news prosperam, por vezes, com extrema polarização e debates estéreis e absurdos. Ao mesmo tempo, a atmosfera das redes sociais favorece reações emocionais em detrimento da reflexão e do conhecimento.
O fenômeno das “bolhas de filtro” nas redes sociais é um exemplo notável da convicção dos que debatem sem noção do tema em pauta. As plataformas de mídia social frequentemente apresentam a seus usuários conteúdo que se alinha com suas opiniões e interesses. Desse modo, cria-se uma realidade paralela onde a exposição a perspectivas divergentes sofre bloqueio. Por isso, a crença de que suas opiniões são as únicas corretas e perpetua-se a imposição dos homens ignorantes(2) sobre visões diferentes.
Locke argumentaria, atualmente, que essa tendência de acreditar sem conhecimento aprofundado é preocupante e fatal. Em vez de se preocupar em informar-se e entender os fundamentos de suas opiniões, as pessoas preferem constranger ou silenciar os divergentes. Por outro lado, existem aqueles que, sem fundamento, atuam para provocar o isolamento, e mascarar sua ignorância. Esses comportamentos raramente levam a qualquer tipo de diálogo construtivo ou avanço no verdadeiro conhecimento.
Debates
O debate e a troca de ideias são essenciais para o avanço do conhecimento e a formação de sociedades saudáveis mentalmente. Entretanto, as redes sociais se transformaram em campos de batalha onde o objetivo não é buscar a verdade ou entender o outro lado. Assim sendo, ganhar discussões estéreis, inflar o ego, lacrar e apontar dedinhos sujos, virou o objetivo da maioria das pessoas.
Com toda a certeza, isso está na contramão do espírito do pensamento de Locke. Inquestionavelmente, buscar o conhecimento para fundamentar nossas crenças e opiniões deveria ser objetivo de todos.
Desta forma um alinhamento com o pensamento de Locke envolveria um compromisso na busca de informações para compreender perspectivas divergentes. Isso não significa, com toda a certeza, que todos devem concordar, mas sim que as opiniões devem ter fundamentos e não achismos. Por outro lado, deve-se combater, principalmente, as opiniões de segunda mão(3), rasas e superficiais. Locke diria, outrossim, que ao buscar ativamente o conhecimento evitaríamos a armadilha de reações impulsivas às ideias contrárias.
Além disso, Locke destacaria que a busca do conhecimento é uma responsabilidade individual e intransferível. Nas redes sociais, existe a tendência de culpar as plataformas ou outros usuários por disseminar informações errôneas. Por isso, cada um de nós tem a responsabilidade de verificar as informações que consumimos. Se a ideia de que o que produzimos vem a partir do que consumimos, se temos informações falsas ou ruins, não produziremos nada de bom. Em outras palavras, ser cioso naquilo que disseminamos não é apenas um dever cívico, mas também uma forma de empoderamento pessoal.
Aprendizado Contínuo
Embora estejamos vivenciando o “Século do Ego” e as redes sociais são a afirmação definitiva desta condição, temos que ter atenção. A necessidade (#SQN) de aparentar conhecimento ou ter rapidez para responder ou se posicionar é uma atitude nefasta. A cegueira coletiva que vivemos, transforma as pessoas em robôs humanos dignos da distopia do “Admirável Mundo Novo“(4) de Huxley.
Entretanto, é possível mudarmos senão o mundo, a nós mesmos, e nem é necessário divulgar isso nos perfis pessoais. As pessoas mais inteligentes saberão reconhecer quando você pratica as mudanças comportamentais.
Para aplicar o pensamento de Locke em nossa era de redes sociais, é importante adotar uma mentalidade de aprendizado contínuo e de questionamento.
Conhecimento em Ação
Sem dúvida, algumas ações simples nos ajudam a buscar o conhecimento em vez de ceder à crença cega e embotamento mental:
- Verificação de fontes: Sempre verifique a fonte de informações antes de acreditar ou compartilhar. As redes sociais são um terreno fértil para notícias falsas e desinformação. Ao verificar a credibilidade da fonte, você pode evitar a propagação de informações enganosas.
- Diversidade de fontes: Busque informações em várias fontes diferentes, especialmente aquelas que têm perspectivas divergentes. Isso ajuda a obter uma visão com equilíbrio de um tópico.
- Diálogo construtivo: Em vez de constranger ou ridicularizar aqueles com os quais você discorda, busque o diálogo. Isso envolve ouvir atentamente, fazer perguntas e fornecer argumentos. O objetivo deve ser o entendimento mútuo, não uma vitória de Pirro(5).
- Autoconsciência: Esteja ciente de suas próprias limitações, crenças e preconceitos. Todos nós temos tendências a acreditar em coisas com base em nossos próprios filtros cognitivos. Reconhecer essas tendências e questioná-las é um passo importante em direção ao conhecimento.
- Aprender constantemente: Encare o conhecimento como uma jornada contínua e infinita. Esteja disposto a mudar de opinião à medida que aprende mais e aprofundar seu entendimento de um assunto. O conhecimento não é estático; é dinâmico e em constante evolução.
- Promover a educação: Apoie e promova iniciativas educacionais e o acesso à informação confiável. A educação é uma ferramenta poderosa para combater a ignorância e construir sociedades mais humanas.
Era da Informação
Em suma, o pensamento de John Locke sobre a necessidade de acreditar com base no conhecimento é altamente relevante. Vivemos em uma era de informações abundantes, mas também de desinformação e polarização.
Em vez de ceder à tentação de tentar lacrar ou causar constrangimentos, para quem discordamos, devemos buscar abordagens críticas, com fundamento.
Ao invés de ironizar termos como #IMNSHO, #MAKTUB, #CQD e outros, procure fundamentar suas discordâncias com outras ideias. A postura de que atacar a pessoa, desconsiderando as ideias, como disse um filósofo, é coisa de gente tola. Surpreendentemente, as pessoas ainda enterram a carapuça quando divergem e não conseguem contrapor ideias. Assim sendo, quando citamos pensamentos falaciosos ou impróprios, os estultos preferem a ofensa pessoal ao debate.
Com efeito, como disse Locke, a mente humana é uma lousa em branco, verdadeira tábula rasa, que se evapora a cada compartilhamento. A falta de noção e de princípios do empirismo está direcionando a nossa sociedade de volta ao obscurantismo
Enfim, a era da informação não é a mesma coisa da era do conhecimento e nem a inteligência artificial ajudará os neófitos. #FicaaDICA !
“… Pelo menos, aqueles que não examinaram minuciosamente todos os seus próprios princípios devem confessar que são incapazes de prescrever a outros; e são irracionais ao impor isso como verdade à crença de outros homens, que eles próprios não investigaram, nem pesaram os argumentos de probabilidade, nos quais deveriam recebê-la ou rejeitá-la…”
John Locke – Livro IV, cap. 16, seg. 4
P. S.
É impressionante a empáfia e estupidez de incultos e lacradores. As experiências se acumulam na vida real e no mundo digital. Desta forma, quando alguém questiona o nosso conhecimento, a partir dele, o risco de vermos tolos se exibindo é enorme. E os protagonistas do obscurantismo nem se envergonham do que dizem ou fazem.
(1) “Entre sem bater – Liz Hurley – Preguiça Mental”
(2) “Entre sem bater – Bertrand Russel – Homens Ignorantes”
(3) “Entre sem bater – Mark Twain – Segunda Mão”
(4) “Distopia Tupiniquim e o admirável mundo novo”
(5) “Pirro e as vitórias contemporâneas”
Imagem: Entre sem bater – John Locke – O Conhecimento
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
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