Blockchain - Tecnologia

Blockchain – A última fronteira?

Última Fronteira

O título ” Última Fronteira”, via de regra, tem a intenção de chamar atenção das pessoas para a possibilidade de algo definitivo, a fronteira final para alguma coisa. Desse modo, o risco de denominar a tecnologia conhecida como blockchain como a “última fronteira” é arriscado e perigoso.

Uma opção bastante compreensível para este título seria, por exemplo, a do episódio ” Star Trek V – The Final Frontier “. Por outro lado, filmes com o nome ” A Última Fronteira ” ( Drama-2017 e Western-1940 ) não possuem a mínima alusão às aplicações de fronteira ( Border ) que os tempos tecnológicos que se avizinham.

Muito além das viagens de discussão de títulos de filmes e o mundo real, é necessário aproximar a tecnologia e seu funcionamento  dos usuário. Enfim, usuários de tecnologias, ávidos por aquilo que querem ver, ignoram o que está por detrás de uma telinha amigável e emoticons. Analogamente, ao contrário da propaganda de refrigerante, sede e tecnologia não são tudo, segurança e atenção é o que importa.

Blockchain

A princípio, toda tecnologia, e blockchain não é exceção, exige um conjunto de definições e padronizações para que seja considerada um padrão de fato e de direito. Sem dúvida, as tecnologias consideradas definitivas e que deixaram de ser a ” fronteira final ” são inúmeras. É necessário só exemplificar com os termos comerciais ou marcas como Betamax, VHS, Xerox etc.

Assim sendo, o que faz com que muitos profissionais especializados comecem a  predizer que blockchain é a fronteira final da tecnologia?

A associação, em certa medida equivocada, de blockchain com o Bitcoin produz no imaginário popular e até mesmo na mídia alguns desejos que podem ser frustrados. Decerto, a tecnologia conhecida como blockchain é uma base importante para centenas de criptomoedas e não somente o Bitcoin.

Num texto sobre as perspectivas do Bitcoin(1) após o boom de 2017, foi sugerida a redução das expectativas sobre a criptomoeda para 2018. Entretanto, se em 2018 provou-se que não era a fronteira final enquanto criptomoeda, o Bitcoin mostrou que tem muito futuro e ainda vai fazer milionários e possibilitar ampliação das decepções e golpes.

Multidisciplinar

A grande vantagem de algumas tecnologias, e que fazem com que elas projetem sempre avançar sobre as fronteiras, é que elas podem ter utilização em diversas áreas. Desta forma, o blockchain tem muito mais aplicações e utilizações do que ser a base de quase todas as criptomoedas.

Por outro lado, entender que uma tecnologia baseada noutra tecnologia ( criptografia assimétrica ) será a base de tudo é igualmente assustador. Em tempos de desejo das pessoas que a Internet seja um sistema justo com todos os usuários é utopia. Os eventos protagonizados pelo escândalo Cambridge Analýtica ainda deveriam estar ecoando na cabeça de todos eleitores no mundo.

A ideia representada por uma cadeia de blocos ou numa analogia bastante clara, uma corrente onde cada elo depende e está ligado ao próximo é importante. Desse modo, podemos entender que tudo que conhecemos deve ser melhorado como uma corrente fortalecida, apropriando da tecnologia blockchain. Contudo, como a tecnologia não é feita de analogias e nem tem garantias de que vá funcionar exatamente como nossos desejos, talvez questões de segurança coloquem em risco esta “fronteira final”.

Segurança

Comecei a trabalhar com a questão de criptografia assimétrica  ( tecnologia base do blockchain ) logo após estudos acadêmicos sobre segurança da informação(2). Dei uma pausa entre 2010 e 2015 e retomei o debate preocupado com a segurança destas tecnologias que se apoiam em algoritmos criptográficos.

Atualmente, com a introdução de normativos como a LGPD, muitas expectativas estão sendo depositadas em tecnologias como blockchain, certificação digital e criptografia assimétrica. É provável que estejamos ultrapassando aquilo denominado como fronteira final sem os devidos cuidados.

Mais e mais casos de quebra de segurança, sem que as vítimas de ataque saibam sequer como foram atacados e o que foi roubado chega a ser aterrorizante.

Imaginem, por exemplo, se um atacante conseguiu, de alguma forma, a tabela de identificadores e suas senhas de autenticação de um importante arquivo de sua organização. Este invasor hostil não fez defacement no seu site, deixou tudo como era, só copiou e levou alguns dados para fora de seu ambiente. Por outro lado, este tipo de ataque pode ter sido realizado por alguém de dentro, um funcionário com acesso ao arquivo criptografado que copia no seu “pen drive” e o vende no mercado negro.

Parece inútil que alguém copie um dado criptografado? #SQN

Criptografia Assimétrica

É possível que o algoritmo que criptografou as senhas no seu ambiente ou sistema que funciona há muitos anos, tenha sido quebrado. Ou, em outras palavras, com pouco poder de processamento pode ser possível quebrar as senhas e utilizá-las para outros ataques “silenciosos”.

Mas o que o blockchain tem a ver com tudo isso?

As comunicações entre dois objetos (pessoas, computadores, redes, organizações etc.) na Internet estão sendo feitas em canais e tecnologias baseadas em criptografia assimétrica. Desse modo, se um ou mais blocos que são a parte da “corrente” do blockchain puderem ser ” decriptados ” hoje ou amanhã, significa que tudo que você fez está sob risco.

Blockchain não é Fronteira Final

Em suma, blockchain não é nenhum tipo de fronteira final, ou como disse Bruce Schneier:

 

If you think technology can solve your security problems,

then you don’t understand the problems

and you don’t understand the technology.

A tecnologia Blockchain não está limitada às criptomoedas, pelo contrário, a preocupação com segurança e a fronteira final deve ser em função da tecnologia que sustenta todas estas soluções.

A pandemia recrudesceu o uso e expôs vulnerabilidade que ainda não temos conhecimento amplo. A cada segundo surgem novas ameaças e algumas estão acontecendo sem que nem mesmo profissionais dedicados ao assunto segurança da informação tenham controle.

Com toda a certeza, é necessário que tenhamos uma estabilidade e opções mais amplas do que colocar nossas vidas virtuais e reais nas mãos de uma única tecnologia e pensarmos numa fronteira final. Isso non ecziste !

E uma palavrinha final, não acredite em ninguém com menos de trinta anos ( Geração Z ) que despeje verborragia com algo que contenha tecnologia e expressões como ” fronteira final “.

 

(1) Bitcoin – O hype de 2017 tem futuro?

(2) Senhas – Identificação e Autenticação para Redução de Vulnerabilidades na RMI – 2000 – Verificado em julho 2021

(*) Revisado e atualizado em julho de 2021

 

Imagem: Reprodução Internet

Nota do Autor

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Agradeço a compreensão de todos e compreendo os que acham que escrevo coisas difíceis de entender, é parte do “jogo”.

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