Ler ou não ler – O problema
Minha mãe era professora de Escola Pública, depois diretora em tempo integral. Assim sendo, lia muito pouco ou quase nada para mim e para meus irmãos, educava os filhos de outras pessoas. Entretanto, era um exemplo e passados muitos anos, ex-alunos fazem questão de reconhecer como a “Dona Luzia, minha professora“. Depreendi que, para ela e todas as minhas outras professoras, ler ou não era o âmago da educação.
Por outro lado, a leitura era uma das coisas que meu pai fazia que me marcou muito. Embora tenha falecido cedo, mas que não me sai da mente, era quando tinha seus momentos de leitura. Ficava parado lendo aqueles livrinhos de faroeste, gibis, jornal, palavras cruzadas … Tenho, até hoje, algumas relíquias de leitura nas quais meu pai era viciado. Por exemplo, uma revista Seleções do Reader´s Digest de 1942 e dois exemplares do Almanaque ” Eu Sei Tudo “ de 1943 e 1958. E o que mais me atraía, alguns livretos de faroeste que eu lia escondido(1) quando ainda estava me alfabetizando.
Educação Básica
Muito se discutiu sobre a causa básica dos problemas do Brasil, certamente não é somente uma, são várias e todas elas importantes. Fala-se em educação e pais jogam na escola a responsabilidade sobre cultura, ensino, experiência de vida. Depois reclamam das escolas, dos professores, do modelo de ensino e outras coisas que eles próprios não conhecem.
Com toda a certeza, as crianças carregam para as escolas o que os pais ensinam, e o que demonstram de exemplo. Impossível uma criança gostar de ler livros se o pai sequer lê um jornal ou uma revista em quadrinhos.
Portanto, é completamente impossível transmitir um bom hábito sem exemplo e ler ou não ler é a questão.
Você que lê este texto, e chegou até este ponto, sinta-se uma exceção, leu muito além da média que as pessoas leem hoje em dia. Como se não bastasse, e tempos movimentados e ágeis das redes sociais, de textos com 280 caracteres determinam ” verdades “. Assim sendo, ler três parágrafos é, para a maioria das pessoas nas redes sociais, um martírio.
Se você chegou até aqui, as chances de educar seus filhos a ler e a conhecer as coisas com substância é grande.
Aos que não leram nada além da fase inicial, só tenho a lamentar, não por eles, mas pelos seus filhos e pelos filhos deles.
Conjuntura
Desde que comecei a escrever em listas de discussão e na Internet, recebo críticas pela severidade nos ” julgamentos ” que faço das pessoas. Os textos escritos e o que eu avalio como crítica, não são bem aceitos pelas pessoas quando feitos com mais de um ” ouvinte “. Corro alguns riscos, como por exemplo a possibilidade de cometer erros com a falácia da Generalização Apressada. Entretanto, entendo que às vezes é necessário generalizar para arregimentar aqueles que ficam num estado de letargia quando ao ” mudar o mundo “.
É um absurdo que um professor não incentive a leitura de todos os assuntos, e não somente da disciplina que ele professa. #IMNSHO
Leituras Apropriadas
Enfim, não basta ler ou ler de qualquer jeito. Tem que aprender a dominar a arte da leitura. Não é o gênero da leitura, é como se lê. Desse modo, é dificílimo ensinar o hábito da leitura em tempos de games, redes sociais, individualismo e outras distrações mundanas.
Ler apressadamente, é só para aqueles que dominam a técnica de leitura dinâmica com altíssimo grau de absorção de conteúdo. Aquela leitura passiva, típica do mau aluno, que lê somente para outras pessoas pensarem que ele está estudando.
Não importa o gênero do livro, ler tem que ser com atenção, tem que ter compreensão, caso contrário, não faz diferença ler ou não ler.
Certamente, para se fazer uma boa leitura, deve existir noção e preparação do tema da leitura. Desse modo, mapas mentais, analogias com a vida real, descanso, prática de raciocínio abstrato e espacial servem de referência. Tudo com o propósito de exercitar a teoria de que “ ler é viajar para onde você quiser “. Se bem que, se não for assim, a leitura fica passiva demais, perde-se tempo e o leitor vai reler parágrafos ou páginas. Assim sendo, perde-se tempo em devaneios e distrações, o que afugenta muitos da geração que não gosta de livros.
Por exemplo, se a leitura é sobre filosofia, ter uma noção dos nomes de alguns filósofos, é importante. Surpreendentemente, muitas vezes entramos em grupos e redes sociais sobre filosofia, geografia, história etc. e muita gente é ignorante. Como se não bastasse, muitos não leem nada fora dos grupos e querem ver comentários rápidos para suas estultices.
Incentivo
Se esta é, em tese, a causa principal dos problemas do país, porque não conseguimos fazer com que as pessoas leiam mais?
Nas culturas mais avançadas, a relação entre jornais e livros impressos e a população é altíssima. No Brasil, por vários motivos, é muito baixa e um privilégio de poucos. Nem ” gibi ” o pessoal lê mais e, desse modo, o vocabulário das pessoas fica cada vez mais limitado e reduzido.
Percebo que se cada pai, mesmo que sem a vocação para a leitura, deveria ler uma revista, gibi, tabloide, como exemplo para os filhos. Sei que a maioria das crianças não gosta de ganhar livros, isto vem do mau exemplo dos pais. Com efeito, virou ofensa e motivo de beicinhos quando se presenteia uma criança, e principalmente adolescentes malcriados, com algum livro.
Experimente Ler
Experimente, ao menos uma vez na sua vida, ler um livro com a temática que seu filho mais gosta, em seguida comente sobre a leitura. É provável que você se surpreenda com as ideias de seu filho(a) e isto pode mudar o país. Um portal dedicado à educação diz que é dever de todo professor de ensino básico incentivar a leitura. E eu afirmo que é dever de todo pai deixar seu filho ávido por leitura e conhecimento.
Com toda a certeza, para as gerações mais novas não tem dilema algum. Resolveram tudo com smartphones, ou com respostas dos grupos e redes sociais. Ler ou não ler não é uma questão de debate para eles, aliás, nunca foi e talvez nunca seja. Atualmente, o importante é estar “in” quanto as fofocas, postagens, games, nas redes sociais e no vernáculo de cada tribo.
(*) Revisado e atualizado em maio de 2021
(1) Um conhecido, ao ler este texto, motivou-me a revisá-lo, e citou a ” Banca do Baixinho “, na Rua Tupinambás com Av. Paraná, onde meu pai comprava e trocava centenas de livros de faroeste escrito por brasileiros com nomes estrangeiros.
Imagem: Reprodução Nova Escola
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