Educação Familiar - Pais Superprotetores

Educação familiar: Pais superprotetores

Pais superprotetores

Uma vez que atingimos a condição de sermos pais, passamos a ver o mundo de uma forma diferente. Desse modo, o pai e a mãe podem assumir a posição de pais superprotetores instintivamente. Não é uma situação natural e a educação familiar recebida pelos pais pode afetar de maneira crítica esta função.

A função de criar filhos apresenta mais dificuldades em função de vários fatores como a diminuição da faixa de gerações ou tecnologias em uso. Por exemplo, existem estudos sobre o consumidor e a geração que ele se encaixa(1). Certamente para induzir as pessoas pela idade, como se consumidores não tivessem direito a consumir qualquer coisa.

No texto “A verdadeira Geração Raiz”(2) alguns tópicos deste processo de aprendizagem que passamos quando nos tornamos pais. Em suma, qualquer que seja a editoria (política, futebol, religião etc.) perdemos, definitivamente, o bonde da história.

Origem

A princípio, meio que instintivamente, pelas experiências com a perda pai muito cedo e por minha mãe trabalhando fora, me posicionei de forma distinta. Em relação aos meus filhos, tentei não adotar a posição de pais superprotetores que vi desde adolescente nos outros. Tentei criar meus filhos sem uma superproteção, de maneira um pouco diferente da que vi em amigos e parentes. Quem não pode contar com auxílio profissional especializado em comportamento e relações familiares forja com a vida.

Minha experiência de quase dez anos em Brasília mostrou algumas diferenças comportamentais e culturais interessantes. Talvez por ser a Capital Federal e aglutinar pessoas do mundo inteiro, o caldo cultural é inebriante e arrebatador. Não apenas pelo fato de que a cidade é relativamente nova, mas porque não existe uma cultura de sociedade naquele espaço geográfico. Esta condição provoca alguns comportamentos atípicos e que revelam uma possível origem para pais superprotetores.

Superproteção

Este é um dos comportamentos que mais me assustou em Brasília, pais superprotetores numa micro sociedade heterogênea. Logo quando cheguei, observei nos colegas de trabalho, não importa se pais ou mães, uma atenção absurda para qualquer coisa que dissesse respeito aos filhos. Presenciei, logo no início, uma mãe interrompendo uma reunião de trabalho para discutir com um dos filhos. Surpreendentemente, o motivo era uma briga trivial ( #IMO ) entre irmãos, e a auxiliar da mãe ligou como se fosse uma emergência.

Comecei a compreender que a superproteção dos pais, no caso de Brasília, um extremismo, tem origem no comportamento dos próprios pais. Como a maioria dos moradores de Brasília têm poucos ou nenhum parente na região, o conceito de célula familiar se resume a poucas pessoas. Como se não bastasse, até mesmo os familiares se distanciam de forma absurda mesmo estando no DF. A distância geográfica e inversão da realidade dos familiares é uma das atitudes dos pais mais preocupantes.

Casos absurdos

Desse modo, relatar dois casos merecem análise, e parecem suficientes para eliminar uma generalização.

Caso 1

Adolescentes queimaram um índio vivo pelo simples prazer de vê-lo agonizando. A notícia ganhou o país e o mundo, e os pais responsáveis cuidaram de defender seus filhos . Com efeito, nem se importaram em avaliar onde cada parte errou e o quanto erraram. Ficou no ar uma espécie de “… o que um índio fazia dormindo num bando de ponto de ônibus …” A sociedade candanga ficou, surpreendentemente, em dúvida sobre a questão e os autores estão livres e trabalhando no serviço público. Contam com a cumplicidade não somente dos pais superprotetores, mas dos amigos dos seus pais. Acreditem !

Caso 2

Duas meninas de quinze anos foram alvo de uma reportagem interessante do Correio Braziliense. Uma que nasceu e vivia num setor luxuoso de Brasília e nunca havia visitado as cidades satélites. Entretanto, conhecia a “Disneylândia” e outros estados e países. Por outro lado, outra menina que nasceu e vivia numa cidade-satélite e nunca visitou o plano piloto. Esta adolescente pediu à mãe, como presente de quinze anos, visitar Brasília (Plano Piloto) onde nunca foi. A história revelou, por exemplo, que a menina do luxo não imaginava que existiam vendedores de picolé nas ruas. Ela pensava que só nas praias e sorveterias de shopping tinha esse tipo de pessoa. Uma amiga da adolescente pobre escreveu para o jornal pedindo ajuda, pois a mãe da garota pobre não teria dinheiro para a passagem de ônibus. Assim sendo, um “presente” de aniversário transformou-se numa matéria com a “belíndia” que vivemos.

Características da superproteção

A geração que está sendo alimentada pelos pais superprotetores tem as seguintes características:

Imediatismo

São extremamente intolerantes ao planejamento, análise e cooperação. Querem tudo a tempo e a hora, e esperam respostas como os computadores respondem aos seus comandos de busca.

Impaciência

São pouco receptivos a respostas negativas ou barreiras aos seus desejos. Pais superprotetores têm dificuldade em dizer a palavra não para a maioria dos pedidos. Transferem a responsabilidade para professores e serviçais que querem agradar os patrões. Qualquer coisa que não saia como no ideário do filho impaciente vira motivo de insatisfação.

Desinteresse

Crianças e adolescentes tratados com obtenção de tudo que querem sem qualquer esforço manifestam desinteresse pelo resto que não conseguem. Não se interessam no custo de cada coisa que lhes é ofertada pois não precisam se esforçar para conseguir. Assim sendo,  cresce o desinteresse e o menosprezo por tudo que exija esforço mental e físico.

Ignorância seletiva

Como recebem tudo sem esforço, estas crianças e adolescentes são capazes de muitas coisas, desde que lhes traga prazer. Podem falar dois ou três idiomas, praticar esportes de alto nível, mas não conseguem ir de um lugar para outro sem ajuda. Não sabem, por exemplo, nem qual transporte público usar em caso de necessidade, mesmo com acesso a esta informação. Desconhecem como funcionam os serviços públicos de sua cidade, mesmo que estejam todos em seu smartphone de última geração. Esta ignorância seletiva apresenta-se como o mais grave desvio de comportamento. Tudo que não é agradável para o educando e os educadores, passa por mecanismos de contorno pouco honestos.

Rebeldia

Insatisfeitos ao terem seus desejos sem a concretização completa e efetiva, começam a se rebelar. Ainda que seja aquela birrinha em público na infância, sem repreensão, serve de causa a um filho rebelde.  E, posteriormente, surgem efeitos mais perversos como uso de drogas ou álcool. Enfim, tudo para mostrar aos pais que eles rejeitam qualquer não.

Transtornos

Neste contexto, os chamados transtornos começam ( na realidade, já tomaram conta ) a ficar na pauta de cada pai e mãe. Não conseguem resolver e identificar estes transtornos nas crianças, tem dificuldade de tratá-los na adolescência. Destarte, temos hoje adultos com vários atributos destes transtornos trabalhando nas organizações ou nas faculdades.

Redes Sociais

A explosão tecnológica com os celulares na década de 1990 e das redes sociais a partir de 2000, provocou o recrudescimento deste comportamento de superproteção. A permissividade, falta de autonomia, egocentrismo, vitimização e outras características estão aí pulando nos perfis das redes sociais. Pais que permitem filhos menores de 12 anos terem perfis em redes como Facebook e outras. São, inquestionavelmente, pais criminosos, negligentes e irresponsáveis e não pais superprotetores.

Em suma, as crianças começam a herdar características dos pais superprotetores e despreparados. Desse modo, até mesmo se estes pais possuem educação formal e cultural, dinheiro e acesso a ajuda profissional gera-se um problema social.

Qual o limite da proteção dos pais na criação dos filhos?

Qual é a melhor educação ou melhor orientação para os nossos filhos?

As crianças, adolescentes e muitos adultos não estariam demonstrando a educação que receberam na vida familiar nas redes sociais de hoje?

Repensando a educação familiar

As ocorrências que vemos nas redes sociais são reflexo da nossa sociedade que não dá mostras de evolução. Com acesso universal a redes sociais, onde basta um equipamento móvel, os  comportamentos começam a se acirrar.

A sociedade brasileira e os pais superprotetores das diferentes gerações não têm preparação para este mundo “novo”.

Como se não bastasse, não adianta ser um Perennial Gen e se “enturmar” pois o ranço e rancor dos conflitos permanecem.

Em suma, ou se muda a educação familiar, elimina-se a superproteção ou teremos uma ou mais gerações de gente com qualificação até para ter filhos. Se bem que neste mundo de maluquices, de repente pode aparecer algum “messias” de alguma religião com a solução de muitos destes problemas. Alguns casos como o da criminosa Flordelis(3) podem dar uma direção sobre o que é e como deve ser uma educação familiar exemplar.

 

(1) Geração Baby Boomer, X, Y ou Z: Veja onde você se encaixa

(2) “Perennial Gen – A verdadeira geração raiz

(3) “Flordelis não é uma flor que se cheire

P.S.

Este é um texto escrito, originalmente, em 2016 com experiências de 1984 a 2016. Desde então, o mundo deu voltas e capotou e, assim sendo, teve que ter uma atualização para não ficar anacrônico. É provável que muitos pais e filhos entendam pouco do que escrevi, talvez o tamanho da carapuça seja maior ou menor.

 

(*) Revisado e atualizado em abril de 2023

 

Charge: Renato

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