Consciência Negra
Em primeiro lugar, reitero a tese de que dia de qualquer coisa, inclusive da “Consciência Negra” é uma forma cruel de domínio. O homem domina outro homem, a princípio, de forma física, depois mental. E, assim sendo, conceder benesses é o mesmo que dar espelhinhos, como fizeram com os povos originários em todo o planeta.
Anteriormente, publiquei textos onde questiono o posicionamento de um jovem negro que é contra as cotas raciais. Como se não bastasse, alguns ainda apoiam genocida e milicianos e muitos que praticam o preconceito. A questão da consciência negra passa longe de sujeitos desqualificados como o tal Fernando Holiday e quejandos(1).
Reservei esta data para tratar o tema pois, pelas minhas observações, a consciência negra coletiva ainda é infanto-juvenil. Certamente, ela enfrenta mais problemas do que obter o reconhecimento do racismo e preconceito e reduzi-los.
Como se não bastasse, políticos e até autoridades prestam um completo desserviço ao movimento de conscientização do problema e na proposta de soluções.
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Nesse ínterim de rebaixamento de vilipêndio da questão do racismo e preconceito, surgem tópicos interessantes com nenhuma divulgação.
Algum tempo atrás, o site Catraca Livre publicou um texto interessante(2). No texto, dezessete nomes de negros que protagonizaram a história do Brasil e “sumiram” dos livros e das escolas.
Surpreendentemente, alguns até aparecem como personagens coadjuvantes, como é o caso de José do Patrocínio. Adicionalmente, alguns deles sofrem uma depreciação completa de suas vidas e protagonismo na história.
Dessa forma, Zumbi dos Palmares, que motiva a data da Consciência Negra, é o personagem que mais sofreu deste preconceito. Até historiadores atribuíram a ele a pecha de ser escravocrata.
Consciência Negra no Brasil
Com toda a certeza, no Brasil, o país “mais miscigenado do mundo“, inexiste a consciência negra. E, surpreendentemente, impera o preconceito racial, social e cultural a tudo que nos remete às origens negras. Muitos negros adotam a ideia de que não precisa de cotas raciais e outros direitos pois se apegam a exemplos raros de pretenso “sucesso”.
No Brasil, o dia 20 de novembro tem a indicação de o “Dia da Consciência Negra”. Portanto, numa data que remete à morte de Zumbi dos Palmares, líder do quilombo de Palmares e símbolo da resistência contra a escravidão.
Essa iniciativa deveria promover a reflexão sobre a importância da luta contra o racismo, a escravidão e o preconceito. Poderia, também, levantar questionamentos sobre a eficácia de dedicar um dia específico a essa causa. Em outras palavras, a persistência da falta de consciência, inclusive de muitos negros, sugere uma data inócua e vazia.
O que era para ser um marco na conscientização da sociedade brasileira sobre a herança histórica da escravidão e suas consequências é uma erro.
Certamente, a data deveria trazer à tona a resistência e a luta do povo negro por liberdade e igualdade. No entanto, é crucial questionar até que ponto essa celebração realmente contribui para uma transformação de conscientização coletiva.
Assim sendo, vamos vivendo de falácia em falácia de luta em luta, e gente tóxica como Holiday vai ganhando espaço e votos.
Daqui a pouco vira um capitão-do-mato, assume ser serviçal das oligarquias, e ainda vai bater no peito e falar sobre meritocracia.
Desigualdade Racial e Social
Desse modo, fico pensando no quão realista é o episódio de Black Mirror(3) ou se já chegamos ao limite da escravidão.
O tratamento que negros e pobres recebem ainda compara-se a brancos pobres ( comparar com brancos ricos é escárnio ). E nem os negros de “sucesso” têm o respeito que merecem, a não ser se forem jogador de futebol ou pagodeiro famoso.
Enfim, o que mais me envergonha é ver negros negacionistas quanto a questão da raça e preconceito.
Em meio a essas reflexões, é importante ressaltar que a falta de consciência entre alguns negros não é geral. Com toda a certeza, muitos negros têm consciência de sua história, lutam diariamente contra o preconceito e honram os que lutaram antes. Muitos contribuem significativamente para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
No entanto, a existência dessa lacuna indica a necessidade de um esforço coletivo para ampliar a conscientização. Desse modo, devemos promover uma compreensão mais profunda das questões raciais. É assustador que estejamos no terceiro milênio e ainda existam negros dizendo que não existiu escravidão. Ou dizem, surpreendentemente, que escravidão é coisa de politicamente correto e não da vida real.
Toussaint Louverture(4), o maior revolucionário das Américas, tinha em Zumbi, uma grande inspiração, mas muitos negros brasileiros o ignoram.
Enfim, meu desejo era nunca mais escrever sobre este tema (consciência negra), mas não passa de uma utopia surreal.
(1) “Movimento Negro e os Beócios”
(2) “17 pessoas negras da História que você não viu na escola”
(3) “Milhões de Méritos – Black Mirror”
(4) “Toussaint Louverture – Wikipedia”
Imagem: Reprodução Internet – Autoria Não-Identificada
Nota do Autor
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