Cruzadas
Por mais incrível que possa parecer, atualmente, podemos identificar o quanto as pessoas estudaram e evoluíram, pelo conhecimento de História. As cruzadas foram o movimento que iniciou o que podemos chamar de guerra mundo afora. Assim, quem cabulou as aulas de história e geografia e foi mal acostumado com a própria história, tornou-se um negacionista da própria vida.
Surpreendentemente, estamos em pleno Século XXI e vivenciando comportamentos e movimentos do início da era cristã.
Senão vejamos:
Cruzada é um termo utilizado para designar qualquer dos movimentos militares de inspiração cristã que partiram da Europa Ocidental em direção à Terra Santa e à cidade de Jerusalém com o intuito de conquistá-las, ocupá-las e mantê-las sob domínio cristão.
Fonte: Wikipedia
Desse modo, percebemos que mudaram os “pastores”. A Guerra Santa, que tinha como objetivo o domínio dos povos, ainda está mantida em várias partes do planeta. Destarte, não seria no Brasil que seria diferente. Entretanto, como não poderia deixar de ser, aqui cada movimento ganha peculiaridades e nuances inimagináveis.
Cruzadas antifamília
Algumas frases de pensadores e filósofos, com toda a certeza, encaixam na situação atual do país e da “nossa” cruzada.
Se bem que, uma delas (“Política, Futebol e Religião não se discute“) vem da sabedoria popular e não tem nada de democrático. É uma frase preconceituosa, separatista, misógina, reacionária. Deve-se discutir tudo, principalmente política, independente de sexo, gênero, raça, classe social. As cruzadas pela prevalência de cada opinião ou dogma estão acabando com a pátria, a família e a sociedade.
Política
Anteriormente, ainda no século passado, quando assumiu o “Caçador de Marajás“, uma legião de fiéis ao moralismo aderiu prontamente. Com poucos dias de governo, as ações do moralista começaram a aparecer e nem seus apoiadores se mantiveram firmes. Demorou algum tempo para que a maioria da população visse a propaganda enganosa. O processo foi doloroso e a geração que deveria ter aprendido com aquele contexto voltou mais radical na última década.
Certamente, as eleições de 2018 expuseram todas as mágoas e ódio daqueles “Colloridos” dos anos 1990. Com a inflação galopante, a classe média aderiu ao “Caçador de Marajás” em massa. Numa dura eleição contra o Partido dos Trabalhadores, venceram e o governante fez o que quis. Desagradou até seus apoiadores de primeira hora, como a mídia.
Eleito o atual presidente (Jair Messias Bolsonaro) os mesmos que aderiram ao Collor, unindo-se aos evangélicos mostraram a cara. Unindo-se a setores como a Maçonaria e com lemas e símbolos nazistas, tomaram o poder pela força. O Executivo Federal nunca teve tantos militares em seus gabinetes. Nem mesmo durante o regime de ditadura militar – de 1964 a 1984 – tantos oficiais estavam no Poder Executivo. E, inquestionavelmente, não era sinal de eficiência, como provou um militar no exercício das funções de Ministro da Saúde.
Religião
Como dito sobre as cruzadas, o foco era a religião, mas o objetivo era o poder. Brizola vaticinou, quando enfrentou um evangélico pelo governo do Rio de Janeiro, que eles dominariam o país. Certamente, o velho Leonel, sabia do que estava falando, mas não imaginava a virulência com que chegaram ao poder.
Assim sendo, não foi surpresa quando o presidente sincretista, político e religioso, começou a nomear evangélicos para os Ministérios. Em alguns casos, os absurdos e desatinos mostraram-se na primeira hora, como aconteceu com a Damares. Uma vergonha mundial ter uma senhora daquelas como Ministra para assuntos de família e cidadania.
Mas, como nada é tão ruim que não possa piorar, a indicação de ministros “terrivelmente” evangélicos para o STF só criou animosidades. E o Congresso Nacional, de elevada influência evangélica, rasgou a parte “Estado Laico” da Constituição.
As denúncias de corrupção na Saúde e na Educação, feitas por políticos que não aceitavam certos procedimentos, gerou o caos nestes setores.
Enfim, o Estado deixou de ser laico e a mistureba de política e religião, provocou uma confusão mental na cabeça do cidadão comum. Neste sentido, nem é bom misturar o futebol pois os problemas são insolucionáveis, pelo contrário, ficarão mais graves. Dessa forma, em todas as famílias, as preferências políticas, religiosas e futebolísticas deixaram de ser aceitas.
Família
Entendo que, desde a antiguidade, a reunião de grupos e suas afinidades, faziam a evolução. A instituição família mudou muito com o capitalismo. Família é um conceito de grupo social primário. Entretanto, origina-se da adoção de escravos sob o mesmo “teto”. A sociedade romana evoluiu para conceitos de proximidade e exclusão dos escravos. Como dito anteriormente, as Revoluções Francesa e Industrial nos trouxeram até os conceitos atuais.
De acordo com dogmas e preconceitos, a maioria de cunho religioso, a família tem um padrão. Até recentemente, convivia-se em aparente harmonia, mesmo com diferentes escolhas religiosas e políticas. A evolução indicava que mesmo aquelas famílias criadas sob o catolicismo, por exemplo, poderiam ter pessoas budistas, espíritas e neopentecostais.
Uma vez que a disputa de 2018 acirrou os ânimos e aflorou algumas rusgas, o radicalismo religioso mostrou sua força. As pessoas passaram a defender seu ódio e não suas ideias. Ambientes que se diziam cristãos passaram a defender armas contra outros seres humanos. Vemos filhos de pastores evangélicos com fuzis e armas de grosso calibre em casa, com o pretexto de serem “caçadores”.
Grupos de família
Os grupos de mensagens instantâneas (Whatsapp, Telegram etc.) viraram verdadeiras praças de guerra. A estupidez da geração do hedonismo oco(1) atingiu o mais baixo nível do milênio. As redes sociais contribuem, sobremaneira, para este comportamento.
Se, anteriormente, era possível discutir ou comentar futebol e política nos almoços de domingo entre familiares, agora é impossível. Nas reuniões de final de ano, onde o “arroz com passas” e o “tio do pavê” eram as grandes polêmicas, tudo mudou. É “normal” numa reunião na casa de um parente, quando surge o assunto política, alguém gritar: “não se fala de política na minha casa“. A minha reação é levantar e ir embora, o que já aconteceu e as pessoas ainda nos chamam de mal educados.
Educação
Aprendi que a minha educação depende da sua. Fui agraciado com uma ótima educação que não precisava da escola. Hoje em dia temos absurdos em que professores são responsáveis por dar a educação que os pais da Geração Z não conseguiram oferecer. E estes professores sofrem ataques, e a escola recebe bombas, como se fosse algum covil ideológico. A má formação da geração do hedonismo oco não vem da educação defendida por Paulo Freire. A deformação da nossa sociedade vem dos que ficaram escondidos desde Collor e seus seguidores “Colloridos“.
Odeiam a educação, a saúde pública, odeiam nordestinos, como se todos estes fossem responsáveis pela incompetência em educar.
Perdemos tudo?
É lamentável e deplorável ver a que ponto chegaram as famílias. Não tem nada que une os familiares (nem suas cruzadas), é claro que não foi a opção política pós-2018 que provocou esta espécie de “diáspora”. Digo que cada um já estava com este vírus dentro de si, o ódio. Bastou uma pandemia para que ele viesse à tona e, parafraseando Voltaire, depois do cérebro gangrenado, não tem cura.
Em suma, alguns conhecidos, mais otimistas, dizem que vamos voltar ao normal. Estou no meio do caminho, sendo realista e com tendência ao pessimismo.
Estamos num caminho das cruzadas sem volta, de recrudescer as animosidades, o ódio, o rancor e as brigas, se não perdemos tudo, estamos perto de perder.
Lanço um desafio para cada um que leu o texto, avalie a sua família (irmãos, primos, pais, filhos). As posições e escolhas políticas, religiosas e até futebolísticas deveriam ter respeito de todos? E nem ouso entrar nas questões de violência, opções sexuais, racismo e outras, é briga na certa. Estou errado?
Enfim, perdemos tudo e por quê tanto ódio?
Será que os apoiadores do déspota de plantão conseguirão se manter firmes, até quando?
(1) “A geração do hedonismo oco”
(*) Revisado e atualizado em novembro de 2022
Imagem: Reprodução Internet
Nota do Autor
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