Madrastas
Sujeito e verbo têm sido ignorados solenemente nas narrativas e textos das redes sociais e portais da mídia tradicional. O que era ruim e tendencioso, agora ficou péssimo e aterrorizante. Sou, declaradamente, fã da Letícia Sallorenzo ( “madrasta do texto ruim” ) e fico imaginando que ela poderia ter uma irmã gêmea, a “madrasta da narrativa ruim”.
É provável que o leitor menos conectado não tenha entendido nada do que escrevi neste parágrafo inicial. Literalmente, leitores mais conectados significa, em outras palavras, aqueles que não sabem o que é texto, principalmente com mais de 280 caracteres. O planeta Terra foi invadido por pequenos textos, vídeos e áudios chamados de narrativa ruim.
Assim sendo, a madrasta do texto ruim deveria, IMNSHO, migrar a crítica da ruindade, e os exemplos do que outrora foi jornalismo e hoje é simplesmente narrativa ruim.
Narrativa ruim
Antes que alguém se sinta mais perdido, vou usar um exemplo bem didático e que toda a fauna de perfis de redes sociais entenda.
Podemos, grosso modo e, analogamente ao que já escrevi num texto sobre BBB(1), traçar um paralelo para explicar como migramos dos textos ruins para as narrativas da #esgotosfera. Naquele texto fui até bonzinho com o apresentador que julgo ser o culpado de todas estas narrativas ruins.
Tiago Leifert
O ex-apresentador da Rede Globo, Tiago Leifert, envolveu-se, por exemplo, numa polêmica recente que foi, de certa forma, motivadora para este texto (ruim; viu madrasta !).
Estava tudo bem, até o pai do gajo entrar no circuito de fofocas e “caça likes” para sair em defesa de seu rebento. Que horror se constituem estas narrativas ruins e, navegando na onda do ibope, muita gente entra no “debate” hipócrita, pueril e vazio.
Certamente, Tiago Leifert tem muitos méritos ao destruir a postura sisuda que os apresentadores do padrão “Globo” de qualidade sempre tiveram. Foi como um direto no queixo dos “medalhões”, imprimiu uma leveza que estava se fazendo necessária. Entretanto, deveria ter parado por ali, mesmo que algumas defecções tenham sido verificadas pois jornalista e até repórter sério não se presta a determinadas “macaquices”.
Por outro lado, a fauna de profissionais (???) da mídia que se aventuraram naquele estilo de apresentação despojado, deve ter agradado muito aos editores e anunciantes.
Mídia ruim
Parafraseando a minha musa ( Madrasta do texto ruim ), as redes sociais produzem textos ruins de gente sem conteúdo e que se justifica com um “tô zoando”. E, em muitos casos, empresas de comunicação agora nem se dão ao trabalho de publicar um “Erramos” (saudades do ombudsman da Folha).
Enfim, como não tem nada tão ruim que não possa piorar, e como os textos ruins deveriam ser limitados a 280 caracteres (limite cognitivo dos leitores de textos ruins), constatamos que o fundo do poço ainda está longe.
Agora é a vez da narrativa ruim, aquela que agrada milhares ou milhões de teleguiados, de gente com altíssima incapacidade cognitiva e preguiça mental insuperável. Aquela turma do hedonismo oco(2) venceu, resta-nos consolar com a perspectiva de que tenhamos uma legião de madrastas. Com toda a certeza, desta vez, temos que formar um exército Brancaleone contra a narrativa ruim por toda a nação de Pindorama.
#BDMG
A mídia, anteriormente denominada grande, se apequenou ao trocar textos ruins por narrativas ruins. O exemplo mais bem acabado é dos telejornais da Rede Globo, anteriormente conhecidos por um padrão de qualidade razoável. Atualmente, qualquer repórter mediano vira apresentador medíocre e sem conteúdo. Jornalistas de qualidade buscam seus canais de informação pois acabam sendo melhor remunerados e sem aqueles editores estúpidos a controlá-los.
O programa jornalístico “Bom Dia Minas” é o exemplo acabado e lapidar do que estou afirmando. Acompanho, há muitas décadas, a história deste telejornal e, por ter residido fora de Minas Gerais, consigo traçar um paralelo na mesma emissora e nas concorrentes. Ao modo de Umberto Eco, eu diria que as redes sociais, a Internet e canais de comunicação deram vez e voz para qualquer imbecil e seus editores de estimação.
O #BDMG ganha, cada vez mais, tempo e falta de conteúdo, não se mostram dignos nem na representação das necessidades de reportagens investigativas. Os apresentadores e repórteres são de uma desqualificação ímpar e os telespectadores ficam preocupados com a opinião ao invés dos fatos.
Com toda a certeza, sou de uma geração que tem como lema algo dito por um dos poucos e bons jornalistas da Globo:
– do apresentador e do repórter, quero apenas o relato dos fatos.
Fundo do Poço
Em suma, a Rede Globo “dos Leifert” não é única e nem culpada pelo estado de coisas que vivenciamos. Nós somos os culpados por dar audiência a todo este lixo midiático, não importa se dando dinheiro para influencers de redes sociais ou comprando produtos dos patrocinadores.
E o fim do mundo, cantado em verso e prosa, ocorrido em 2012 ( os Maias estavam certos !), ainda tem muita narrativa ruim para apresentar e enfrentarmos.
A esgotosfera é pródiga e, afinal, não pára de crescer e multiplicar-se. Após os textos ruins, surge a narrativa ruim, que fala o que a patuleia gosta de ouvir e tem preguiça de ler. Muito além do texto e da narrativa ruim presenciamos o preconceito, o proselitismo, as fake news se sobrepondo ao relato dos fatos, perdemos !
Enfim, que venha 2022, “com STF e TUDO” !
(1) BBB 2021 – Não aprendemos nada !
(2) A Geração do hedonismo oco
Imagem: Charge Quinho
Nota do Autor
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