Independence Day
O dia da independência dos EUA é algo que, a princípio, chama a atenção do mundo inteiro. Naquele país, as comemorações da independência são algo que desvela o espírito nacionalista nos estadunidenses. Interessei-me pela história deles em 1976, quando eles comemoraram o bicentenário da independência. Curiosamente, estamos, em 2022, comemorando o nosso bicentenário e a minha análise passa por uma crítica severa. Diga-se de passagem, estas críticas não têm a compreensão dos patriotas e nacionalistas de Pindorama.
Em suma, este texto não é comemorativo e serve apenas para uma chamada aos verdadeiros interessados em História para a falácia que esta data representa. Surpreendentemente, muitos brasileiros ainda chamam o acordo feito para a nossa independência de “guerra” e endeusam a independência norte-americana.
Bicentenário da Independência
Em primeiro lugar, até pelo meu interesse despertado a partir de 1976 com o bicentenário da independência dos americanos, é impossível não fazer comparações. Desse modo, as comparações e analogias ficam agravadas pelo aprofundamento no estudo das brigas pela independência dos EUA e do Brasil.
Por outro lado, a história da metrópole e colônia coloca o Brasil numa posição única. Sem dúvida, com total ausência de parâmetros para comparar com qualquer outra independência de nação no planeta.
Reino Unido
Existe um Reino Unido, cuja rainha mais se parece com um Highlander – seja o escocês dos anos 1500 ou a inglesa do Século XX. No início do Século XIX, Dom João (que viria a ser o sexto) fugiu das guerras Napoleônicas para o Brasil. Assim sendo, transferiu a capital da metrópole para o Rio de Janeiro. Entre 1815 e 1822 incluiu o Brasil em seu Reino Unido.
O pomposo nome do fujão: “Príncipe-Regente de Portugal, Brasil e Algarves, d’aquém e d’além-mar em África, senhor da Guiné, e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia“.
Desse modo, estabeleceu um regime jurídico semelhante ao do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda. Entretanto, não existe nenhum similar do Reino Unido que mudou seu centro de poder político para uma das colônias. Era algo como, por exemplo, se a Inglaterra, para fugir de uma guerra, mudasse sua capital para Bombaim ou a França para a Guiana Francesa.
Esta condição de Reino Unido de Portugal, Brasil, Algarves e etc. foi, da mesma forma, a fase preliminar para a independência fake.
Independência
O retorno de Dom João à Europa transferiu a metrópole para a península ibérica e ficamos à deriva. Levaram muitas coisas que tínhamos de bom e, acima de tudo, deixaram muitas coisas ruins. É provável que a partir desta época o anedotário da relação luso-brasileira tenha começado.
Cronologia
Em linhas gerais, a cronologia da nossa Independência tem o seguintes marcos
1807 – Fuga da Corte Portuguesa para o Brasil
1808 – Abertura dos Portos às nações amigas
1815 – Elevação à Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves
1821 – Retorno da Corte Portuguesa
1822a – Dia do Fico (9 de janeiro)
1822b – Proibição de desembarque de tropas portuguesas (14 de julho)
1822c – Independência ou Morte – 7 de setembro)
1822d – Coroação e aclamação do Imperador do Brasil (1 de dezembro)
1823 – Reconhecimento do Império do Brasil pelo Reino do Daomé e Províncias Unidas do Rio da Prata
1823 – Reconhecimento do Império do Brasil pelos Estados Unidos (dezembro) via Doutrina Monroe.
1825 – Reconhecimento do Império do Brasil (29 de agosto) por Tratado de Amizade e Aliança
Tratado de Amizade e Aliança
O “Tratado”, assinado em agosto de 1825, a partir de uma recompensa em dinheiro, que o Brasil passou a Portugal, é o preço da “independência”. O Brasil, antiga metrópole, transformou-se num império e contraiu dívida junto ao Reino Unido (Grã-Bretanha). Em outras palavras, Grã-Bretanha e Portugal selaram um “Tratado” com o propósito de manter o Brasil domesticado e devedor.
Atualmente, alguns chamam isso de independência e comemoram como bicentenário, com três anos de antecipação.
Falácias e Estórias
A história e sua cronologia, retratada aqui, será, certamente, cheia de surpresas para muita gente. Fico assustado quando professores de História e até pessoas com boa formação acadêmica escrevem sandices nas redes sociais. Por outro lado, é assustador quando vemos a distorção de fatos comprovados e documentados numa comemoração de bicentenário por motivações eleitoreiras.
Enfim, eu, nascido em um 9 de janeiro, defendo, há muito tempo, que estas datas servem para enganar muita gente. Sobre Dom João VI, já escrevi muito e comemorei o bicentenário(1) da volta dele para Portugal ano passado. Recebi algumas críticas de quem não se deu ao trabalho nem de conferir a fundamentação da minha opinião. Desse modo, nem estou preocupado com a indiferença de alguns leitores ou a ausência de comentários.
Estou, com toda a certeza, cumprindo meu dever cívico de alertar aos habitantes de Pindorama que este bicentenário é mais uma farsa histórica.
Quem me desculpem (#SQN) os historiadores, especialmente os que gostam de reproduzir os livros sem nenhuma pesquisa ou estudo. É provável que a preguiça mental de muitos tenha obscurecido a capacidade de pensar. A educação no Brasil nunca vai evoluir se não revisarmos toda a nossa história.
Infelizmente, estamos perdendo a batalha da educação, da cultura e da sanidade coletiva de uma sociedade moribunda.
Em suma, nunca fomos a democracia que muitos apregoam, e o aculturamento do brasileiro mediano segue de vento em popa.
Quer saber mais sobre o tema, pergunte ao seu professor de História favorito ou estude muito por conta própria.
P. S.
Fui lembrando por um leitor sobre o escárnio que se constitui o Hino da Independência. O brasileiro é tão “ingênuo” que conhece o refrão e nem imagina o quão servil é inserido no hino. Deliciem-se em “Hino da Independência” completo, que não foi escrito por Pedro I (hino fake).
(1) “Duzentos anos sem Dom João VI“
Imagem: Reprodução quadro de Pedro Américo
Nota do Autor
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