Somos mais de 200 milhões
Brasileiro é conhecido pela paixão irracional, como se existisse alguma paixão racional, que nutre pelo futebol. Existem pesquisas recentes(1) que indicam que somos mais de 200 milhões de técnicos de futebol. A recente eliminação do Brasil na Copa do Mundo expôs, mais uma vez, a ideia de que todos os torcedores são “técnicos” de futebol. Com toda a certeza, esta é uma força de expressão que não reproduz a realidade. O técnico Vanderlei Luxemburgo, um técnico de futebol qualificado, disse que era um técnico “Mané”.
Pode isso, Arnaldo?
Técnico “mané”
A resposta de Vanderlei Luxemburgo precisa ser contextualizada. Foi a manifestação do vitorioso treinador no Brasil para a sua pífia passagem na Europa. Perguntado porquê não deu certo no Real Madrid, mesmo com apoio de diversos jogadores, respondeu: ” Eu era um Mané…”.
Em primeiro lugar, admiro a sinceridade de Luxemburgo para algumas coisas. Entretanto, fora das quatro linha acho-o um péssimo exemplo de pessoa. Como não quero ele para integrar minha família, posso relatar do que acompanhei nas coisas relativas ao futebol. Eu não queria ele treinando meu time de futebol, eu o chamava de “Luxemburro” até treinar o Cruzeiro em 2003. Desde que ele chegou para treinar o Cruzeiro, parei com o apelido e passei a apoiá-lo, sempre fiz assim com técnicos e jogadores. O ano de 2003 mostrou que ele tem qualidades, mas que as jogou no esgoto com a forma que saiu em 2004(*).
Aprecio e aprendi muito algumas explicações de Luxemburgo, relativas ao futebol, na relação com jogadores e adversários. Por outro lado, isto não significa que eu esteja qualificado para ser um técnico de futebol. Adicionalmente, acredito que comentaristas de futebol não estão qualificados para fazer o que vêm fazendo.
Os “manés”
Discordo completamente da frase “somos 200 milhões de técnicos de futebol”, até mesmo porque o Brasil deve ter pouco mais do que isso de população.
Logo depois da eliminação do Brasil na Copa do Mundo 2022 o portal UOL fez uma enquete interessante:
“Quem deve assumir a Seleção Brasileira após a saída de Tite ?”
Eu participei e divulguei a minha opinião e, com toda a certeza, acho uma piada este tipo de enquete.
Torcedor mané
Escrevo sobre futebol desde o início da Internet denominada “.com.br” no Brasil. Deixei de ser torcedor da Seleção logo após a Copa do Mundo de 1982. Em suma, completaram-se 40 anos que deixei de ser um torcedor de técnico, de jogador no geral, e de Seleção. Não foi a eliminação naquela Copa do Mundo que me fez “virar” a chave, certamente foi um dos fatores, mas muitos outros foram decisivos. Um deles foi a não convocação de jogadores de qualidade técnica indiscutível em benefício dos cabeças-de-bagre.
Desde então, venho acompanhando a repetição da história e de como os torcedores se repetem nos equívocos, a cada quatro anos. Como se não bastasse, a explosão das redes sociais vai expondo o imediatismo e a superficialidade de opiniões.
Escrevi, logo após o rebaixamento do Cruzeiro para a Série B, sobre esta relação de torcedor(2) com técnicos e jogadores.
Uma das frases aplica-se com perfeição ao momento atual:
- “Torcedor de teclado acha que time de futebol real é igual ao seu fantasy game, mó sem noção ! …”
E, com toda a certeza, estes torcedores não percebem que os comentaristas profissionais só reproduzem o que eles querem ouvir.
Torcedores técnicos
Pouco antes do início dos preparativos para a Copa de 2018, publiquei um texto sobre o futebol brasileiro(3). Desde então, tivemos duas copas do mundo e parece que, no geral, o torcedor brasileiro piorou muito. Seria somente efeito das redes sociais superficiais e rasteiras?
É provável que sim, as redes sociais e os tais influencers, como o “caso Casimiro”, fazem furor, com pouco ou nenhum conteúdo.
TV Cazé
A modinha da vez nesta Copa foi o Casimiro, da TV Cazé, com seus milhões de visualizações e recordes questionáveis. Vi todos os jogos da Seleção Brasileira pela TV Cazé e observei atentamente os comentários. Para quem gosta de futebol é, surpreendentemente, uma decepção.
Os comentários aproveitáveis vinham de um ex-jogador. A estrela da atração, senão pelas obviedades, é o típico torcedor mané de mesa de boteco.
O sucesso do canal tem questionamentos sobre a audiência e sobre os efeitos que pode provocar na mídia tradicional. Os recordes “batidos” não podem nem ser questionados numa mesa de boteco que logo dizem: “isto é inveja“.
O Mané
Voltando ao “mané”, o técnico e os torcedores brasileiros. Temos, enfim, um quadro que demonstra que o torcedor brasileiro não passa de um “manézão“. Se bem que, recentemente um ministro do STF fez referência (Perdeu, mané !) ao mané como eleitor. Além disso, se reunirmos algumas ideias que associam futebol e política, podemos acreditar que somos 200 milhões de manés.
Significado
A palavra Mané tem sua origem indefinida, existem diversas acepções e usos na língua portuguesa, especialmente no Brasil. Pode ser um nome próprio, bem como um adjetivo, com a conotação pejorativa ou depreciativa, ou apelido familiar carinhoso.
Embora existam apelidos carinhosos, a maioria dos torcedores e eleitores ainda não entendeu. Por exemplo, em Santa Catarina, existe o “manezinho da ilha”, e até o Guga (tenista) fica orgulhoso. Este mesmo manezinho representa o estado em que o atual presidente mais obteve apoio.
Certamente, no caso dos torcedores aqui referenciados e do ministro do STF o significado é inquestionável.
Uma vez que os significados podem ser muito diferentes fico com a minha concepção aplicável a torcedores de futebol.
É o torcedor-eleitor tolo; menos inteligente ou com pouca capacidade intelectual. É, portanto, um sujeito desleixado e displicente com as suas ideias ou consigo mesmo. Chamei esses torcedores de teleguiados pois é o mais aplicável à exposição das mídias digitais. As redes sociais aceleraram a capacidade deste torcedor que quer se manter “IN” e busca likes. Do mesmo modo que sou “stalkeado” quando usei teleguiado posso ser perseguido por constatar que é tudo “mané”.
Reconheço que misturar política e futebol numa mesma discussão é péssimo. Por outro lado, o alinhamento que a maioria dos torcedores faz com a política, não pode ser deixado de lado.
Mais adiante, assim como aconteceu com o texto de 2017, minhas teorias serão provadas, e o torcedor e eleitor mané continuarão os mesmos, ou muito piores.
Que falta que faz uma boa educação de base e de berço !
(1) “200 milhões de técnicos”
(2) “Torcedor Cibernético – A ficha não caiu”
(3) “Futebol brasileiro e o fundo do poço”
(*) Acompanhei muito de perto a saída dele e estava na Toca 2 no dia que ele brigou com a diretoria (véspera de um clássico). Entretanto, esta não é a história a ser relatada aqui neste texto.
Imagem: Amarildo.Com.br
Nota do Autor
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