Entre sem bater - Eduardo Dias Gontijo - Desastroso Equívoco

Entre sem bater – Eduardo Dias Gontijo – Desastroso equívoco

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. O Prof. Eduardo Gontijo é um mestre em várias áreas do conhecimento, e identifica um “Desastroso Equívoco” rapidamente.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Eduardo Dias Gontijo

Conheço, pessoalmente, o Prof. Eduardo Gontijo, uma raridade quando se trata de autores de frases aqui neste espaço. Entretanto, não aprecio somente a sua capacidade profissional naquilo que se especializou (psicanálise). Sou fã incondicional da sua fotografia, que consegue capturar muito mais do que um desastroso equívoco ou reações imprevisíveis.

Em suma, confesso que sou um apaixonado pelas ideias e imagens que o professor dissemina.

Eduardo Dias Gontijo é graduado em Psicologia pela UFMG. Fez doutorado em Psicologia na United States International University (1980) e pós-doutorado em Filosofia pela Pontificia Universidad Comillas, em Madrid (2000). Leciona cursos na área da Psicanálise, da Ética Profissional e da Bioética, bem como orienta dissertações, publica artigos e livros. Além disso, é pesquisador, nas áreas de psicanálise e cultura, psicanálise e moralidade, psicanálise e religião, antropologia cultural, antropologia filosófica e história da ética. Cultiva a paixão pelo desenho e fotografia.

Fonte: Lattes / Flickr

Desastroso Equívoco

A princípio, o Estado possui o monopólio do uso da força e tem a responsabilidade de garantir a segurança e o bem-estar da sociedade. Por outro lado, a sociedade são os indivíduos que possuem suas próprias e diferentes crenças, valores e interesses. Desse modo a confusão entre Estado e Sociedade gera um desastroso equívoco, um ciclo repetitivo e cruel para o cidadão.

O Estado e a Sociedade

O Estado e a Sociedade são conceitos diferentes, mas estão intimamente relacionados e interdependentes. Certamente, aqui consideramos somente regimes democráticos ou pretensamente democráticos, em tese.

Embora o Estado seja uma parte importante da sociedade, ele não é a sociedade como um todo. Esses indivíduos que estão em grupos e instituições são autônomos e têm a capacidade de influenciar as decisões do Estado. Desta forma, seja por meio de diferentes mecanismos, como eleições, pressão política, lobby, manifestações, etc. a sociedade intercede.

Reformas ou Mudanças

Em texto recente(1), escrevi sobre o que os indivíduos querem fazer com nossa sociedade e com a humanidade, mas não fazem consigo mesmo. Além disso, são vários os textos que tenho escrito e que corroboram que o nosso desastroso equívoco é contumaz.

Contudo, infelizmente, o equívoco que confunde Estado e sociedade é bastante comum e, às vezes, repete-se à exaustão pelo mesmo indivíduo. É provável que não seja somente um equívoco ou ato falho, vejo premeditação em muitos dos casos. Surpreendentemente, as pessoas pensam que o Estado é a única instância capaz de promover mudanças sociais significativas. Por isso, pensam que a sociedade é impotente para transformar a realidade em que vivem.

De fato, essa visão é terrivelmente problemática por várias razões e nem conseguimos entender a diferença entre reformas e mudanças.

Movimentos Sociais

Em primeiro lugar, a sociedade ignora o papel histórico dos movimentos sociais e das organizações da sociedade civil na promoção de mudanças. A história nos mostra a luta pelos direitos civis, o movimento feminista, o movimento LGBT, as ações ambientalistas, entre outras não foram espontâneos. Esses movimentos foram capazes de mobilizar grandes grupos de pessoas em torno de causas comuns. Desse modo, é possível pressionar o Estado a mudar suas políticas e práticas.

Sociedade Civil

Como se não bastasse a indiferença pelos movimentos de base, reformas recentes no Brasil estão destruindo as representações da população.

A visão que subestima a importância das instituições da sociedade civil na promoção do bem-estar e da justiça social é cruel. Organizações como as OSCIPs, ONGs, as associações de bairro, os sindicatos, as cooperativas são hostilizadas até pela mídia. O cidadão ainda não se deu conta que, como partícipe da sociedade, deve se organizar na sua base e não somente “eleger” representantes. Utilizar programas de TV noticiosos como palanque de suas reivindicações traz resultados parciais e efêmeros. Com toda a certeza, são os efeitos que atendem mais aos desejos de pequenos coletivos ou grupos, em detrimento da maioria.

Um grande problema deste desastroso equívoco está nas instituições religiosas que deveriam prestar serviços sociais e de aconselhamento. Essas instituições que deveriam realizar ações para coletividade, tornaram-se palanques eleitorais para introdução de famílias na política. Sendo assim, tornaram-se parte do aparelhamento do Estado, e é um grave erro misturar esta representação com o  Estado.

Desequilíbrio

Enfim, esta confusão entre Estado e Sociedade acarreta a perda de responsabilidade individual e criam-se “despachantes” políticos. Portanto, se parcela da sociedade acredita que é responsabilidade do Estado dá-se início a um profundo e desastroso equívoco, irreversível. Com toda a certeza, teremos uma sociedade apática, incapaz de trabalhar, de forma comunitária, para resolver problemas sociais.

Inquestionavelmente, outra consequência perversa desta confusão é a perda quase total da liberdade individual e independência do pensamento(2). Mesmo que as pessoas passem a usar a ideia de liberdade de expressão, comum nas redes sociais, há um equívoco total.

Contudo, o Estado ao assumir todos os problemas sociais, pode tomar medidas autoritárias para garantir a implementação de políticas públicas. Se bem que isso pode levar à restrição de liberdades individuais e à violação de direitos humanos, o que é um desvio criminoso e tirânico. Além disso, a intervenção excessiva do Estado pode criar uma cultura de dependência, em que as pessoas veem o Estado como um “paizão”.

Com o propósito de resolver os problemas da sociedade, o cidadão deve exercer seus direitos, organizadamente e com suas representações. É, da mesma forma, um desastroso equívoco esperar pelo Estado ou pela pressão da mídia/mercado por soluções coletivas.

 

(1) “Entre sem bater – Léon Tolstói – Mudar a humanidade

(2) “Entre sem bater – Mark Twain – Segunda mão

 

Imagem (autorretrato) : Entre sem Bater – Eduardo Dias Gontijo – Desastroso Equívoco

Nota do Autor

Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.

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Agradeço a todos e compreendo os que acham que escrevo coisas difíceis de entender, é parte do “jogo”.

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