Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. O “Território Indígena“, conforme descrição de Márcia Wayna Kambeba, vai muito além de um espaço geográfico.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Márcia Wayna Kambeba
Márcia Wayna Kambeba tem uma história de muitas lutas, pessoais e coletivas. Como se não bastasse, possui formação e qualificação naquilo que mais lhe apetece, falar sobre o território indígena e tudo mais. É uma legítima representante destes povos, que sofrem até hoje por estarem no lugar que sempre foi da nação indígena.
Pertencente à etnia Omágua/Kambeba, a poeta e geógrafa Márcia Wayna Kambeba nasceu na aldeia Ticuna, em Belém do Solimões (1979). Aos oito anos, mudou-se com a família para São Paulo de Olivença, onde estudou até o ensino médio. Recebeu influência positiva da avó, que era professora, poeta e lecionou por mais de 40 anos numa aldeia. Compartilhando toda sua vivência ribeirinha, Marcia Kambeba começou a escrever seus primeiros versos aos 14 anos. Mais tarde, a representante indígena fez nova mudança para Tabatinga, também no Amazonas, onde se graduou em Geografia pela UEA. Concluiu seu mestrado, abordando a identidade e o seu território indígena (Povo Omágua/Kambeba). Transformou o seu trabalho em poesia e, assim sendo, nasceram “Ser indígena, ser Omágua” e “União dos povos”. Escreveu seu primeiro livro, “Ay kakyri Tama”, que significa “eu moro na cidade”, nome também de um dos poemas que o compõe. Em suma, geografia, arqueologia, antropologia e história estão presentes na sua escrita e nas suas frases, sempre sob um viés educativo.
Fonte: Mulheres de Luta
Território Indígena
Existem muitas mulheres indígenas que podem representar e têm o que dizer sobre este dia dos povos indígenas. Conheço várias e trabalhei como uma destas mulheres. A escolha de uma frase de Wayna Kambeba representa as vozes de todas e todos e todas neste inóspito território indígena.
Dia dos povos indígenas
Em primeiro lugar, uma repetição do que afirmo desde que comecei este Blog, ou muito antes. Sou contra “celebrar” dia disso e daquilo, as razões são muitas, abro exceções para exaltar a data e chamar atenção de seu perigo. Desta forma, a mudança de “Dia do Índio” para “Dia dos Povos Indígenas” tem relevância, mas a ideia de “comemoração” é cruel.
De acordo com a minha linha de pensamento, vamos aproveitar a data para falar a real sobre o que é um território indígena. Não se trata, com toda a certeza, de um espaço geográfico, mas sim de uma ideia e concepção de mundo.
Os povos originários sofrem com o desrespeito desde a época do descobrimento até este exato momento. Todos os brasileiros que não têm em seu sangue algum resquício do povo indígena se calam neste momento. Ficam quietos para não serem sofrerem por posicionamentos politicamente incorretos. Contudo, nos bastidores, nos grupos de segregação e nos guetos de genocidas, os comentários são racistas e estúpidos.
Enfim, exaltemos as frases e pensamentos dos Kambeba, Krenak, Guajajara e tantas outras nações.
Sabedoria Milenar
A frase de Márcia Kambeba carrega mais do que um pensamento, carrega toda a sabedoria desses povos que aqui estavam muito antes dos colonizadores. Eles (povos originários) não estavam preocupados em fazer demarcação do território indígena. Do mesmo modo que outros povos (Aborígenes, Indígenas norte-americanos, Andinos etc.) eles não avançaram sobre outras áreas.
Estes povos foram vítimas da ganância e sede de poder e riquezas dos povos não-originários. Analogamente, podemos dizer que nossos povos não fizeram como Vikings e Bárbaros que atacavam os outros. Ao mesmo tempo, muitos povos africanos eram escravos de outros povos originários e ainda brigam entre si. Os indígenas americanos não resistiram e ainda sofrem com o desprezo. Enquanto isso os povos andinos (Maias, Incas etc.) sucumbiram à colonização e desrespeito.
Povos originários
Os povos originários das Américas continuam, até hoje, vítimas de genocídios e crueldades como a demarcação de territórios de maneira unilateral.
Até na história eles não recebem convite para dar a sua versão, nunca tiveram respeito dos colonizadores. E, como se não bastasse, nem a miscigenação presente no Brasil, dá sabedoria para os descendentes de brancos, indígenas e negros.
Enfim, a história está começando com 523 anos de atraso, e parece que não terá correção de rumo com um “Dia dos Povos Indígenas“.
Índio não quer apito e nem espelhinho, indígena quer respeito à sua sabedoria e aos nossos ancestrais.
Imagem: Entre sem bater – Márcia Wayna Kambeba – Território Indígena
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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Agradeço a todos e compreendo os que acham que escrevo coisas difíceis de entender, é parte do “jogo”.