Entre sem bater - LF Veríssimo - Fundo do Poço

Entre sem bater – Luís Fernando Veríssimo – Fundo do Poço

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. É provável que, ironicamente, Luís Fernando Veríssimo disse que o “Fundo do Poço” no Brasil é diferente; será?

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Luís Fernando Veríssimo

LF Veríssimo tem sobre seus ombros a autoria de um monte de frases e pensamentos que não são dele. Contudo, algumas frases, mesmo as mais curtas, revelam uma grande ironia e qualidade do pensamento do escritor. Seus personagens e suas crônicas representam o brasileiro “puro sangue”. Desse modo, ele consegue mostrar toda a sua capacidade que, humildemente, ele não se vangloria. Filho de um grande escritor, teve o privilégio e contato com as letras desde a infância, embora não admita esta vantagem.

Luis Fernando Verissimo (Porto Alegre, 26 de setembro de 1936) é um escritor, humorista, cartunista, tradutor, roteirista de televisão, autor de teatro e romancista brasileiro. Já foi publicitário e revisor de jornal. É ainda músico, tendo tocado saxofone em alguns conjuntos. Com mais de 80 títulos publicados, é um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos. É filho do também escritor Érico Verissimo.

Fonte: Wikipedia (Português)

Fundo do Poço

Se este texto estivesse numa mídia com vídeo, a escolha do roteiro, até mesmo pelo LF Veríssimo seria como fez o Capitão Nascimento(*).

Seria algo mais ou menos assim …

Fundo do poço, do grego “στον πάτο του φρεατίου” – pronuncia-se  “ston pátο tu freátíu“; “rock bottom” do inglês e “toucher le fond” do francês. A ladainha seguiria com outros idiomas, e o mesmo sentido que exprime grande dificuldade ou desespero de uma pessoa. Existem muitas maneiras de se ver o “fundo do poço“.

Certamente, nenhuma delas é agradável ou desejo de qualquer ser humano.

Pindorama tem algumas peculiaridades interessantes além da jabuticaba. Por exemplo, a expressão “fundo do poço” existe em vários países, mas algumas outras são peculiares. Como se não bastasse, “O Brasil é um destruidor de heróis” e tem milhões de doentes do Complexo de Vira-Latas(1).

Entretanto, quando se trata de um país, como o Brasil, é possível usar como licença poética numa referência a épocas ou situações específicas. De qualquer maneira, é importante ressaltar que esta condição nas pessoas é cruel e devastadora.

Sem dúvida, muitos dirão que estou pessimista e não é para tanto, mas as ilhas e exceções não diminuem a profundidade do poço.

Brasil – O fundo do poço

É provável que LF Veríssimo tenha feito sua ironia pois são o fundo do poço no país são etapas por setor. Em outras palavras, vivemos uma montanha-russa do alto a baixo na educação, saúde, política e economia.

O Brasil, uma nação rica em recursos naturais e diversidade cultural, enfrenta desafios devido à condição de decadência em várias áreas. Não somente nas áreas que mais tem exposição, mas a cultura, educação, arte e meio ambiente padeceram nos últimos anos. Sem dúvida, alguns destes setores passaram por momentos desesperadores e cruéis para a maioria da sociedade. Em três tópicos fundamentais (educação, saúde e política) podemos dizer que o fundo do poço é íntimo da maioria da população. Como se não bastasse, todo o país vai a reboque de uma área que atende a poucos para coisas boas: a economia brasileira.

Educação: O Abismo

Em primeiro lugar, a educação é a base para qualquer nação que busca o progresso, o crescimento e o desenvolvimento. No entanto, o brasileiro luta consistentemente para oferecer uma educação de qualidade aos seus cidadãos. É provável que o modelo de educação fundamental pública não seja o melhor. E não quer dizer que a educação privada vale o que cobra dos pais nas escolas particulares.

Se por um lado, o desempenho dos estudantes brasileiros em testes internacionais parece desanimador, em muitos momentos é glorioso. Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), por exemplo, mostram que o Brasil fica muito atrás de nações. Entretanto, em algumas áreas como matemática, leitura e ciências, temos resultados pontuais interessantes.

O “fundo do poço” da educação brasileira evidencia-se pela falta de investimentos, infraestrutura precária nas escolas e desrespeito aos professores. A desigualdade regional é um grande problema, com disparidades entre as escolas nas regiões ricas e pobres, até mesmo no mesmo estado.

Assim sendo, o resultado é uma geração de jovens que enfrenta dificuldades no mercado de trabalho devido a várias deficiências. A feia verdade(2), como diria Darcy Ribeiro, é que “no Brasil destruir a educação é plano de governo.”

Saúde: O Colapso

A saúde é um direito fundamental de todos os cidadãos, mas no Brasil o sistema de saúde pública enfrenta crises graves. O Sistema Único de Saúde (SUS), muitas vezes, não consegue atender às necessidades da população. Embora seja um dos maiores exemplos de saúde pública para o mundo capitalista, sofre o achaque da iniciativa privada. Como se não bastasse, em muitos casos, os planos de saúde têm atendimento pior e jogam pessoas no SUS de maneira perversa.

Inquestionavelmente, a falta de infraestrutura, a superlotação de hospitais públicos, a escassez de profissionais de saúde é constante. Surpreendentemente, a corrupção dentro do SUS, inclusive por muitos que fizeram o Juramento de Hipócrates, contribui para o colapso do serviço.

O Brasil chegou ao “fundo do poço” em saúde quando surgiu a pandemia da COVID-19. O sistema de saúde teve uma sobrecarga, faltaram leitos, respiradores e medicamentos, e muitas vidas tiveram um fim trágico. Inacreditavelmente, colocaram um militar para comandar uma guerra e perdemos mais de 700 mil vidas de civis. Devido à falta de preparo e gestão ineficazes o país ainda viu uma CPI falaciosa e a corrupção por causa de vacinas saírem incólumes. Por isso imaginou-se, equivocadamente, que reformas profundas no SUS são necessárias, mas os governantes não querem nem pagar o piso da enfermagem.

Do mesmo modo que ocorre na educação, a desvalorização dos profissionais é uma causa central da falência do sistema.

Política: A Falsidade

A política brasileira, não raramente, enfrenta crises de confiança e ética, que afetam a governança do país em todas as esferas e Poderes. Escândalos de corrupção, desvio de recursos públicos e falta de transparência tornaram-se comuns na vida política brasileira. Por isso, a confiança e fé da população no governo e nas instituições democráticas praticamente inexiste.

Além disso, a polarização política tem se intensificado, e o diálogo e a cooperação entre as facções políticas é praticamente impossível. Como se não bastasse, todas as ações políticas para benefício da população passam por acordos de cargos e maracutaias (outra jabuticaba!). Isso se reflete em impasses no Congresso Nacional e na incapacidade de aprovar reformas essenciais para o país. Nesse ínterim, reformas como a trabalhista, são céleres, enquanto a reforma previdenciária prejudica a maioria e a tributária patina.

O Brasil chegou ao “fundo do poço” na política – se é que chegou – quando políticos vendem o patrimônio público para benefício próprio.

É compreensível que a população esteja com seu universo em desencanto, com os políticos e o sistema político como um todo. É provável que a reforma política não ocorra nunca, especialmente pela manipulação de massas(3) feita pela mídia e a ignorância do cidadão.

Economia: A Montanha-Russa

Um tema que move o país e vive como numa montanha-russa é a economia. Os assuntos são muitos e, numa crítica irônica, podemos dizer que o Brasil tem 210 milhões de economistas. Hoje, basta ter uma chave PIX (daqui a pouco DREX) e todo mundo entende de economia. Golpes do tipo de pirâmide financeira se expandem e a maioria dos cidadãos se defendem como um sonoro “não é pirâmide!“.

A economia brasileira no seu constante sobe e desce, caracteriza-se por uma volatilidade que desafia a estabilidade econômica e mental do brasileiro. Nos últimos anos, o país enfrentou uma série de crises, incluindo recessões e altas taxas de desemprego. A falta de políticas econômicas de base e de reformas estruturais contribuem para essa instabilidade.

Como se não bastasse, o sistema financeiro que sempre lucrou e ajuda os ricos, e a classe média se vira com golpes e aparências(4).

No entanto, o Brasil também tem potencial econômico, com uma agricultura robusta e uma indústria exploratória consistente. A exportação de commodities, como soja e minerais de ferro, desempenha um papel importante na economia brasileira. Entretanto, faz vistas grossas para aquilo que torna os países independentes, como a tecnologia e outros avanços correlatos.

A montanha-russa evidencia-se com os altos e baixos nas taxas de crescimento do PIB, na inflação e na valorização da moeda. Essa volatilidade afeta a vida dos cidadãos, tornando difícil o planejamento financeiro e a garantia de estabilidade econômica. Se o país não criar a cultura da educação econômica e financeira, teremos 300 milhões de economistas de PIX e sem dinheiro.

Mitos e Lendas

Da mesma forma que destruímos nossos heróis, somos especialistas em criar mitos e lendas. Podemos, analogamente às teorias sobre tratamentos com seres humanos, nos apropriar da ideia para desmistificar algumas coisas.

Existe um grande equívoco no tratamento destes problemas no Brasil. As “ilhas” e exceções não chegam a todos e as ambiguidades dos diagnósticos são cruéis e podem matar.

Como na história da diferença do remédio e do veneno está na dose ou no tratamento, podemos afirmar:

  • Devemos esperar chegar ao fundo do poço para desejarmos o tratamento.
  • O fundo do poço é igual para todos.
  • Inexiste esperança de recuperação após chegar no fundo do abismo.
  • Depois de chegar ao limite da doença ela nunca mais se manifestará.

Mitos e falácias reais quando, por exemplo, autoridades governamentais, sem ética e moral, recomendaram até a contaminação da manada.

Em resumo, o Brasil enfrenta desafios importantes em educação, saúde, política e economia. Embora o país tenha um grande potencial devido aos seus recursos naturais e capital humano, o fundo do poço é aparente.

A falta de investimentos, a má gestão, a corrupção e a polarização política impedem a compreensão da população sobre nossos problemas.

Para superar esses desafios exige-se reformas estruturais, investimentos em infraestrutura e educação. Além disso, deve-se tentar um resgate (se é que já existiu) da ética e da responsabilidade na política.

Só então o Brasil poderá começar a se levantar do “fundo do poço” e alcançar todo o seu potencial como nação. E poderemos ter algumas explicações do porquê a nação não consegue produzir ganhadores de prêmios Nobel.

Até quando teremos o Brasil cumprindo etapas e dando voltas sem que as pessoas comecem a compreender as coisas(5)?

P. S.

(*) Capitão Nascimento é o personagem do filme “Tropa de Elite(6) em que ele explica a palavra democracia para seus “aspiras”.

 

(1) “O Complexo de Vira-Lata em 2018

(2) “Entre sem bater – Darcy Ribeiro – Feia Verdade

(3) “Hegel e a manipulação de massas

(4) “Entre sem bater – Epicteto – Aparências

(5) “Entre sem bater – Upton Sinclair – Compreender as Coisas

(6) Tropa de Elite 2 – O sistema é ´phoda`

 

Imagem: Entre sem bater – Luís Fernando Veríssimo – Fundo do Poço

Nota do Autor

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