Entre sem bater - Hannah Arendt - Capacidade de Agir

Entre sem bater – Hannah Arendt – Capacidade de Agir

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Inquestionavelmente, Hannah Arendt identificou muitas causas que provocam deterioração na “Capacidade de Agir” dos humanos.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente. Uma adaptação textual, com redução, pode ter publicação em sites e outros blogs, como o “Recanto das Letras“.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Hannah Arendt

Podemos afirmar, sem dúvida, que Hannah Arendt viveu à frente de seu tempo. Também sabemos que ela não viveu o suficiente para constatar que o seu pensamento é mais do que pertinente com a explosão das redes sociais. É inacreditável como a manipulação mental(1) obstrui a capacidade de agir dos seres humanos.

Hannah Arendt , (nascida em 14 de outubro de 1906, Hannover , Alemanha – falecida em 4 de dezembro de 1975, Nova York , Nova York, EUA), foi cientista política e filósofa americana nascida na Alemanha, conhecida por seus escritos críticos sobre assuntos judaicos e seu estudo do totalitarismo. Arendt cresceu em Hannover, na Alemanha, e em Königsberg, na Prússia (atual Kaliningrado, na Rússia). Com 18 anos ela iniciou estudos de filosofia e recebeu o título de doutora com 22 anos. Em 1933, Arendt, que era judia, fugiu para Paris e com a 2a. Grande Guerra fugiu dos nazistas em 1941, imigrando para os Estados Unidos. Naturalizou-se americana em 1951 e desenvolveu trabalhos relacionados ao antissemitismo, imperialismo, racismo e totalitarismo.

Fonte: Britannica (Inglês)

Capacidade de Agir

Vivemos, com toda a certeza, em uma era em que a informação flui constantemente por meio de diversos canais. Desse modo, a informação, correta ou errada, molda nossas perspectivas e influencia nossas opiniões. No entanto, por trás desse aparente livre fluxo de informações, há uma perturbação que assola a todos: a manipulação mental.

Esta prática sutil, muitas vezes imperceptível, compromete a liberdade de pensamento e das pessoas entenderem as coisas(2) como elas são. Por isso, aceitar ideias opostas e participar de debates construtivos tornou-se uma raridade. Assim sendo, a capacidade de agir, a partir de ideias consistentes e resultantes de debates sérios, inexiste.

O Poder da Manipulação Mental

Em primeiro lugar, a manipulação mental não é uma situação nova, contudo sua disseminação e sofisticação na era digital está sem controle. Ela ocorre, sempre, quando informações, opiniões de segunda mão(3) e ideias apresentam-se de maneira tendenciosa, parcial ou enganosa. Por isso, o objetivo de intervenção no pensamento e no comportamento das pessoas sofre acesso direto com as redes sociais. Isso pode acontecer em muitos contextos, desde na política e nos meios de comunicação, até em atividade de marketing e propaganda.

Uma das maneiras mais insidiosas de manipulação mental é a polarização, que cria uma divisão clara entre representantes de ideologias distintas. Desse modo, nossa sociedade perdeu a capacidade de agir, pensar e considerar perspectivas diferentes. Esta situação tornou-se recorrente para consolidar o poder de grupos ou indivíduos que se beneficiam da falta de debate e do diálogo.

A Ilusão da Liberdade

A manipulação mental muitas vezes mascara-se como liberdade de escolha(4), e é um dos motivos que limita a capacidade de agir das pessoas. Desse modo, as pessoas acreditam que têm o controle total sobre suas opiniões e decisões, mas sofrem influências no  subconsciente.

Por exemplo, algoritmos personalizam o conteúdo que aparece no feed de notícias e atualidades de cada usuário, e a maioria não percebe. Desta forma, cria-se uma “bolha de filtro“, na qual as pessoas recebem informações que confirmam opiniões e não fatos.

Essa personalização, aparentemente benigna, reforça a polarização e inibe a divulgação de perspectivas opostas. E, como se não bastasse, essa bolha provoca efeitos colaterais ao limitar as possibilidades de entender coisas diferentes.

Limitações de Compreensão

Estas atividades em conjunto limitam a capacidade das pessoas entenderem as coisas como elas realmente são. Depois de sofrermos o bombardeamento de informações tendenciosas e parciais, é impossível separar os fatos de opiniões.

Além disso, os algoritmos alimentam estereótipos e preconceitos através de narrativas que alinham-se com a visão de cada indivíduo. Assim sendo, se uma pessoa tem um viés de racismo, ela terá dificuldades ou nunca conseguirá ouvir a defesa de alguém que sofre racismo. Esta falta de empatia revela-se, por exemplo, quando vemos vítimas de uma enchente, negros e pobres, sofrendo e não nos mexemos para ajudar.

Esta limitação de compreensão da dor alheia cria um ambiente comum de pessoas que menosprezam outro ser humano. Vivenciamos isso recentemente no Brasil quando um ex-presidente disse que “… não sou coveiro...” por ocasião da morte de milhares de brasileiros. A declaração correu a mídia, e milhões de brasileiros reproduziram tal comportamento, até que a morte chegou a alguém próximo.

Com toda a certeza, as pessoas são mais propensas a adotar estereótipos sobre grupos ou indivíduos que pensam de maneira diferente. E, surpreendentemente, em vez de buscar um entendimento genuíno e mais amplo, escondem-se atrás de opiniões de manipuladores.

Cancelamento de Ideias

Uma sociedade saudável depende do debate aberto, da troca de ideias e da aceitação do contraditório. No entanto, as redes sociais criaram mecanismos e subterfúgios que colocam as possibilidades de avanço pelas ideias no limbo.

Desse modo, alguns termos ganham notoriedade e significação, como justificativa ao “… não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe… “.

Cancelamento, mimimi, “tô zoando” e tantas outras são válvulas de escape de pessoas sem conteúdo e pueris. Estes teleguiados, vivem de cancelar ideias a partir de memes e figurinhas, pois não conseguem articular mais de 280 caracteres. E, desse modo, em seus grupelhos de relações sociais, promovem o cancelamento de ideias de forma inescrupulosa.

Certamente, a exposição apenas às informações que confirmam suas opiniões, nunca acarretam debates construtivos e úteis.

Como se não bastasse, a prática do cancelamento cria um clima de hostilidade em relação às opiniões opostas. Ao invés de buscar um terreno comum e entender as perspectivas divergentes, as pessoas muitas vezes se fecham em bolhas ideológicas. E, desta forma, desqualificam as pessoas, as coisas e rejeitam qualquer ideia diferente, seja ela de quem for.

Combate à Manipulação

Até mesmo a falácia do apelo à autoridade e outras passam por uma vulgarização que inibe a capacidade de pensar e de agir das pessoas. Desse modo, superar a manipulação mental e suas consequências requer esforços conscientes em várias frentes.

Teoricamente, algumas atitudes poderiam ajudar a mitigar esse problema sociológico, mas a maioria das pessoas diz que faz e não faz.

  • Educação para a Mídia e Alfabetização Digital : Ensinar as pessoas a avaliar criticamente as informações que consomem é essencial. A alfabetização digital deve fazer parte do currículo educacional para capacitar os indivíduos a discernir entre fontes confiáveis ​​e tendenciosas.
  • Promoção da Diversidade : As plataformas de mídia social e os meios de comunicação deveriam destacar a promoção da diversidade de perspectivas. Por meio de algoritmos, a ideia é expor as pessoas a uma variedade de opiniões e por um jornalismo responsável e imparcial.
  • Incentive o Debate Construtivo : A sociedade deve promover um ambiente em que as pessoas se sintam confortáveis ​​em debater ideias sem medo de retaliação. Desse modo, cria-se o envolvimento e o respeito mútuo e tolerância ao diferente. Superando as vitórias ideológicas que reinam nas redes sociais e plataformas digitais.
  • Transparência nas Fontes de Informação : As fontes de informações devem ser transparentes sobre seus interesses e opiniões. Isso permitiria que um público educado avaliasse a substituição das fontes com base em informações comprováveis.
  • Desenvolvimento da Empatia : A empatia é fundamental para entender os problemas e as perspectivas alheias. A promoção da empatia por meio da educação e do diálogo pode ajudar a superar a polarização.

Vida Digital

Enfim, algumas atitudes apresentam sérias consequências que provocam o afastamento das ideias e das pessoas da vida digital.

As ações de correção do rumo para uma sociedade digital com maior civilidade exigem mais de cada pessoa. Romper as bolhas em que nos metemos não é tarefa fácil e nem atingirá níveis aceitáveis com um clique ou a leitura de um texto.

A manipulação mental é um desafio complexo e insidioso que afeta a liberdade de pensamento e a capacidade de entender e debater ideias. A zona de conforto da maioria das pessoas, que alinha-se com as perspectivas de atração das plataformas digitais é cruel.

Para combater esse problema, é necessário um esforço conjunto da sociedade, das instituições educacionais e das empresas de mídia. Contudo, esta mudança de comportamento não está acontecendo no mundo real e afasta cada vez mais as pessoas das comunidades.

Só com mudanças e tolerância é que poderemos restaurar a verdadeira liberdade de pensamento e manifestação. A criação de um ambiente propício para o entendimento mútuo e o debate construtivo de ideias divergentes é difícil, mas possível.

Costumo dizer que, sob este ataque de déspotas e seus seguidores, perdemos ! Entretanto, as saídas são possíveis e devem ter uma busca constante como objetivo final para tirar os limites da capacidade de agir das pessoas.

Inquestionavelmente, como disse Hannah Arendt:

E um povo que já não consegue acreditar em nada não consegue decidir-se. É privado não só da sua capacidade de agir, mas também da sua capacidade de pensar e de julgar. E com essas pessoas você pode fazer o que quiser.

(1) “Entre sem bater – Aldous Huxley – Manipulação Mental

(2) “Entre sem bater – Charles Bukowski – Entender as Coisas

(3) “Entre sem bater – Mark Twain – Segunda Mão

(4) “Entre sem bater – Dante Alighieri – O Princípio da Liberdade

 

Imagem: Entre sem bater – Hannah Arendt – Capacidade de Agir

Nota do Autor

Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.

  • Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
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