Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Nem em plena Era da “Informação” é possível acertar como se escreve e pronuncia o nome do jornalista Ryszard Kapuściński.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Ryszard Kapuściński
Certamente, pronunciar o nome de Ryszard Kapuściński deve ser mais fácil do que a maioria das pessoas da atualidade, entender a Era da Informação. Os textos de Ryszard, com efeito, faziam uma mistura de reportagem com literatura que impressiona até hoje. Por isso, vários trechos daquilo que ele escreveu são tão atuais e avassaladores.
Ryszard Kapuściński ( 4 de março de 1932 – 23 de janeiro de 2007) foi um jornalista, fotógrafo, poeta e autor polonês. Recebeu muitos prêmios e foi considerado candidato ao Prêmio Nobel de Literatura. Os diários pessoais de Kapuściński em forma de livro atraíram controvérsia e admiração por confundir as convenções da reportagem com a alegoria e realismo mágico da literatura. Ele foi o único correspondente da Agência de Imprensa Polonesa da era comunista a descolonização da África. Também trabalhou na América do Sul e na Ásia. Entre 1956 e 1981, ele relatou 27 revoluções e golpes de estado, até ser demitido por apoiar o movimento pró-democracia Solidariedade em seu país natal.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
Era da informação
Alguns pensamentos de Ryszard são especialmente interessantes e bastante atuais. Surpreendentemente, mesmo que seu falecimento ocorreu antes da explosão das redes sociais, suas ideias são disruptivas.
Por exemplo, a consideração que ele fez sobre a preguiça mental(1) é lapidar e une-se à ideia de verdade e informação como negócio.
“Não existem muitos entusiastas assim nascidos. A pessoa comum não é especialmente curiosa sobre o mundo. Ele está vivo e, sendo de alguma forma obrigado a lidar com essa condição, sente que quanto menos esforço for necessário, melhor. Considerando que aprender sobre o mundo é trabalhoso, e muito trabalhoso. Na verdade, a maioria das pessoas desenvolve talentos bastante antitéticos – olhar sem ver, ouvir sem ouvir, principalmente para preservar-se dentro de si mesmo.”
Ryszard Kapuściński (2009). “Viagens com Heródoto”, p.267, Vintage
Assim sendo, fica fácil fazermos um diagnóstico sobre a babel de tecnologia e (des)informação em que vivemos. As frases de Ryszard, mais do que nunca, são para se pensar e agir.
Informação e Verdade
Ao longo da história, a humanidade sempre buscou o conhecimento. Desde os primeiros filósofos gregos até os cientistas modernos, o esforço é para compreender o mundo. Neste século XXI as tecnologias e a Era da Informação prometeram democratizar o acesso ao conhecimento. Entretanto, o que era para tornar as pessoas com mais conhecimento e informação, não está funcionando.
Em vez de uma Era de Conhecimento, vivemos uma era de desinformação e de ausência de verdade. A informação está disponível em abundância, mas ela está fragmentada, com graves distorções e, na em muitos casos, falsa.
Essa situação é uma combinação de vários fatores, incluindo a preguiça mental das pessoas que reinam nas redes sociais. Como se não bastasse, seguindo o pensamento de Ryszard a exploração das tecnologias com interesses comerciais, elevou-se sem controle.
Na Era da Informação, as pessoas recebem as informações “prontas” e fáceis de digerir, sempre atendendo interesses outros. Estas pessoas não se esforçam na pesquisa e em compreender as coisas(2) que ouvem ou vêem. Elas querem apenas uma informação rápida, não se importando se a informação é falsa ou incompleta.
Essa preguiça mental é um obstáculo para a busca do conhecimento e evolução da humanidade. Quando as pessoas não estão dispostas a se esforçar para aprender, as informações falsas avançam e a verdade não aparece.
Exploração Comercial
A Era da Informação está se notabilizando pela exploração das tecnologias com interesses comerciais e mercadológicos. Por outro lado, a educação formal perde espaço para tecnologias e aproveitadores a ignorância coletiva. Como se não bastasse, as empresas de tecnologia, em sua maioria, estão interessadas em vender publicidade e oferecer suas gôndolas. Por isso, cada vez mais, plataformas coletam dados pessoais sobre os usuários. Assim sendo, cria-se a oportunidade de algoritmos segmentarem as pessoas de acordo com seus interesses e informações.
Esses algoritmos, no entanto, espalham desinformação ou comercializam dados que não deveriam das pessoas. As empresas de tecnologia e aqueles que pagam para elas, criam notícias falsas ou distorcem informações, criando a opinião de segunda mão(3). Essa manipulação de massas provoca, atualmente, a disseminação da ignorância com aparência de atualização informacional.
O resultado é uma era de desinformação e de ausência de verdade ou da possibilidade de verificar a consistência de qualquer texto. Em suma, as pessoas estão cada vez mais expostas a informações falsas, e menos capazes de discernir versões de fatos.
Banquete de Consequências
Desse modo, com o início da era da ausência da verdade, inicia-se o banquete de consequências(4) para a sociedade. Uma das nefastas consequências é a dificuldade na tomada de decisões e formação de opinião. Além disso, como no caso recente do Brasil, a polarização política insana abriu caminho até para a violência física.
Em um mundo onde as pessoas não sabem diferenciar a verdade da mentira, é impossível construir consensos e resolver conflitos. As pessoas apegam-se em torno de seus dogmas, de suas crenças, e isso impede o diálogo e a cooperação.
Enfim, quando as pessoas acreditam em informações falsas, elas colocam em risco a si mesmas e a outras pessoas sem nenhuma racionalidade.
Era da Informação vs. Era da Ausência da Verdade
A princípio, para combater a era da ausência da verdade (puta eufemismo!), é preciso superar a preguiça mental das pessoas. Contudo, a maioria dos usuários de redes sociais se julgam ciosos de tudo. E, como se não bastasse, as plataformas digitais exploram as pessoas utilizando as tecnologias por interesses comerciais.
Surpreendentemente, estas pessoas precisam estar dispostas a questionar as informações que recebem, mas não estão, tudo é “verdade” pronta. Adicionalmente, elas também precisam ser conscientes dos riscos da desinformação e da propaganda, o que provoca sérias divergências.
Não basta as empresas de tecnologia receberem responsabilização jurídica pelo conteúdo que distribuem ou deixam de distribuir. Elas deveriam criar mecanismos para combater a desinformação, com algum controle da sociedade. Deveriam ainda, garantir que as pessoas tenham acesso a informações confiáveis e verificáveis.
O combate à era das mentiras e falácias é um desafio complexo, mas é essencial para a construção de uma hipotética sociedade mais democrática.
Faça sua parte
Em suma, pode parecer que é pouco, mas se cada um fizer sua parte, pequenos grupos podem mudar, e evoluir, causando um bom efeito demonstrativo.
Algumas dicas para combater a preguiça mental e a desinformação
- Seja crítico com as informações que recebe. Não acredite em tudo o que lê ou ouve, inclusive com emissores de “confiança”.
- Pesquise as fontes das informações, verifique se elas (sites, portais, influencers etc.) são confiáveis, mas busque uma segunda opinião.
- Questione as informações, peça detalhes, fontes que possam corroborar e não aceite tudo como verdade.
- Seja curioso, busque aprender e compreender o mundo ao seu redor, antes de sair repetindo tudo que recebe, não seja papagaio.
- Procure refletir sobre tudo que lê e ouve antes de compartilhar, melhor ser sábio depois do que ignorante de forma açodada.
- Cuide de seus dados pessoais (todos) de maneira como se a sua vida dependesse desse cuidado e proteção.
- Não acredite em nada que seja muito fácil ou promova alguma vantagem que seja “imperdível”, golpes sempre começam assim.
- Evitem dar dinheiro, mesmo que centavos, para personagens e subcelebridades do mundo digital, sejam inteligentes.
Em suma, temos uma oportunidade de termos mais informação, conhecimento e consciência do mundo ao seu redor. No entanto, essa oportunidade só será eficiente se as pessoas tiverem disposição para superar a preguiça mental e combater a desinformação.
(1) “Entre sem bater – Liz Hurley – Preguiça Mental”
(2) “Entre sem bater – Upton Sinclair – Compreender as Coisas”
(3) “Entre sem bater – Mark Twain – Segunda Mão”
(4) “Entre sem bater – Robert Stevenson – Banquete de Consequências”
Imagem: Entre sem bater – Ryszard Kapuściński – A Era da Informação
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
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