Entre sem bater - Montesquieu - A Intolerância

Entre Sem Bater – Montesquieu – A Intolerância

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória”). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Montesquieu cantou a pedra sobre o paradoxo entre a tolerância e a “Intolerância” muitos séculos atrás.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente. Uma adaptação textual, com redução, pode ter publicação em sites e outros blogs, como o “Recanto das Letras“.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Montesquieu

Já escrevi textos em que defendo as ideias de Montesquieu de forma incisiva. Em “Revisitando Montesquieu…”(1), coloco algumas frases que, certamente, são de autoria dele e, mesmo na tradução, são realidade em Pindorama. Suas frases tem reprodução ou adaptação em diversas culturas e através de pensadores de diversas tendências políticas e filosóficas.

Charles Louis de Secondat, Barão de La Brède et de Montesquieu (18 de janeiro de 1689 – 10 de fevereiro de 1755), geralmente referido como simplesmente Montesquieu, foi um juiz, homem de letras, historiador, filósofo e pensador político francês. Seus pensamentos e escritos são a principal fonte da teoria da separação de poderes. Ele também é conhecido por fazer mais do que qualquer outro autor para garantir o lugar da palavra despotismo no léxico político. Seu trabalho The Spirit of Law (1748), publicado anonimamente, e que foi bem recebido na Grã-Bretanha e nas colônias americanas, sendo a base para várias constituições democráticas em todo o mundo.

Fonte: Wikipedia (ingles)

A Intolerância

A história está repleta de guerras religiosas; mas, devemos ter o cuidado de observar, não foi a multiplicidade de religiões que produziu estas guerras, foi o espírito intolerável que animou aquela que pensava ter o poder de governar.” Nº 65. ( Usbek )

Os cristãos perceberam que o zelo pelo avanço da religião é diferente do devido apego a ela; e que para amá-lo e cumprir os seus mandamentos não é necessário odiar e perseguir aqueles que se opõem a ele.” Nº 60. ( Usbek )

A princípio, um dos pensadores que ampliou a questão do pensamento de Montesquieu, sobre a intolerância, foi Karl Popper.

Karl Popper, e o “Paradoxo da Tolerância“, são mais relevantes do que nunca no contexto contemporâneo. Certamente, considerando os eventos recentes que marcaram a história brasileira, podemos dizer que somos um excepcional estudo de caso.

Vivemos, recentemente, um período em que a intolerância, narrativas macabras, mentiras e até mesmo o terrorismo de estado. Analisar os limites da tolerância(1) e intolerância e da irracionalidade daqueles déspotas é necessário. Insatisfeitos em somente ganhar a eleição, recusaram as ideias divergentes e partiram para propostas de extermínio dos contestadores.

A questão-alvo é classificar ou não esses intolerantes como criminosos, e não receberem qualquer tipo de tolerância ou flexibilidade.

Dilema

Do mesmo modo que Montesquieu utilizou o exemplo da religião, Popper defendeu que é necessário ser intolerante com a intolerância.

Em outras palavras, quando ideias que buscam suprimir a liberdade e promover a exclusão ganham espaço, a sociedade deve agir para contê-las. O Brasil, infelizmente, testemunhou um período em que a intolerância não apenas se manifestou, mas também se consolidou. Desse modo, as narrativas, mentiras, acusações sem provas e afins continuam nas redes sociais e manifestações públicas.

Por outro lado, a frase de Montesquieu apresenta-se viva na Guerra da Palestina e na intolerância entre as partes. É notório, pelas tentativas de pacificação, que as parte refutam qualquer ato de racionalidade, como Montesquieu e Popper preconizam.

Como se não bastasse, a eleição recente do presidente da Argentina, expõe que governantes de linhagem fascista possuem muitos adoradores. O dilema de tolerar os intolerantes ganha espaço e as “guerras” não conseguem encontrar soluções de paz.

Intolerável

A intolerância, em muitos contextos, não é apenas a discordância saudável de ideias, mas sim a recusa em aceitar a diversidade de pensamento.

A disseminação de narrativas falsas, mentiras e desinformação, cria um terreno fértil para a intolerância prosperar.

A sociedade perde-se entre aqueles que buscam construir pontes e promover a coexistência pacífica. O senso comum(2) e falsas analogias dos que insistem em impor suas visões de mundo, vencem a verdade e a justiça.

O terrorismo de estado, como se não bastasse, com sua face mais brutal, criou raízes no pior da história brasileira recente. O uso da máquina estatal para perseguir, silenciar e até mesmo eliminar dissidentes políticos demonstra um grau extremo de intolerância. Na contramão de todos os princípios fundamentais de uma sociedade democrática e do Estado de Direito.

Esse período sombrio serviu como um lembrete doloroso de como a intolerância, sem contenção, transforma as instituições. Ao invés de servir à população, sofrem com o aparelhamento tornando-se instrumentos de opressão e favorecimentos.

Enfim, quando parte da população apoia situações intoleráveis é porque esta parcela é intolerante, extremista e sectária.

Racionalidade

Montesquieu usou a expressão razão humana para não deixar a intolerância eclipsar a tolerância. Por outro lado, Popper fala do uso de argumentos racionais para combater os intolerantes.

Decerto, ao analisar as manifestações de intolerância, devemos classificar aqueles que perpetuam suas posições criminosas.

Desta forma, identificamos que não se trata apenas de uma diferença de opinião política ou liberdade de expressão. Desde que existe o desrespeito pelos valores fundamentais que sustentam uma sociedade justa e democrática é um crime. Por exemplo, quando uma deputada, eleita pela população, corre atrás de um cidadão de arma em punho, ela é criminosa. Não existe tolerância para criminosos, principalmente os que praticam a intolerância extrema.

Aqueles que promovem ativamente a irracionalidade e participam de ações que atentam contra os direitos humanos devem receber punições.

A intolerância, que origina-se de um fanatismo irracional é a mesma que se recusa a reconhecer a legitimidade de ideias divergentes.

Sociedade em vertigem

A sociedade brasileira ainda não entendeu os efeitos do impeachment de Dilma Rousseff e as eleições de 2016, 2018 e 2020. A intolerância digital(3) avançou e coloca em risco nosso futuro, como aconteceu em outros tempos, o avanço civilizatório.

Esses intolerantes estão tão mergulhados em suas convicções que se tornam impermeáveis ao diálogo e às soluções coletivas. Escondem-se atrás de seus grupos de interesses convergentes que atendem somente aos mesmos.

Ao rejeitar ideias divergentes de maneira inflexível, esses grupos atacam a estabilidade social e comprometem a capacidade da sociedade de progredir e evoluir.

Tolerar a intolerância, como alertava Popper, é permitir que as sementes do autoritarismo e da opressão prosperem. No pensamento de Montesquieu, as guerras por causa da religião, continuarão a perseguir e propagar o ódio(4), como forma de se afirmar.

Ontem, Hoje e Amanhã

Em uma democracia saudável, a diversidade de opiniões é um elemento vital para as pessoas e a sociedade avançarem. Contudo, quando a intolerância se torna a norma ou é prática da maioria, a sociedade deteriora-se em seus princípios mais fundamentais.

Portanto, é necessário estabelecer limites claros para a tolerância da intolerância. Com toda a certeza, devemos denunciar aqueles intolerantes pelos crimes que atentam contra a coletividade.

Em outras palavras, essa postura não é uma negação do direito à liberdade de expressão. É, sobretudo, o reconhecimento de que essa liberdade não é uma desculpa para disseminar discursos de ódio, desinformação e violência.

Em suma, o “Paradoxo da Tolerância” de Karl Popper ressoa fortemente no contexto brasileiro contemporâneo. É impossível definir, reconhecer e colocar em prática a tolerância e seus limites.  Quando até mesmo o terrorismo de estado fica a serviço dos intolerantes, e se tornam parte da narrativa nacional, o sinal vermelho acendeu.

Reconhecer os limites da intolerância e confrontar a irracionalidade daqueles que não aceitam ideias divergentes urge. Classificar os intolerantes como criminosos, não merecedores de qualquer tolerância, com transparência, é necessário. A sociedade brasileira precisa se curar da enfermidade recente e avançar em direção a um futuro mais inclusivo e respeitoso.

Deveríamos, portanto, reivindicar, em nome da tolerância, o direito de não tolerar os intolerantes.” ( Karl Popper )

 

(1) “Revisitando Montesquieu no Século XXI

(2) “Senso Comum e a manipulação de massas

(3) “A intolerância digital não é uma coincidência

(4) “Ódio – Um sentimento mesquinho

 

Imagem: Entre Sem Bater – Montesquieu – A Intolerância

Nota do Autor

Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.

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